A reentrada do Chang Zheng-5B (Y2)

Nos últimos dias fomos assistindo a um crescendo de especulação e sensacionalismo relativo à reentrada descontrolada do primeiro estágio do foguetão Chang Zheng-5B (Y2).

Muitas das opiniões (desinformadas) que foram sendo formuladas, estavam impregnadas dos habituais sentimentos anti-China que costumam surgir – tal como acontece com o caso dos lançadores Russos – em eventos deste tipo. Basta comparar com o número de reacções que surgiram quando um segundo estágio de um lançador Norte-americano recentemente reentrou de forma descontrolada na atmosfera. Para além da ausência de referências noticiosas do acontecimento, os mais novos fan(ático)s da aventura espacial acabariam mais por vê-lo como um acontecimento a testemunhar nas suas vidas do que algo que normalmente ocorre neste campo (esquecendo-se que, tal como caso do lançador Chinês) algo terá corrido fora do previsto para originar tal ocorrência.

O foguetão Chang Zheng-5B (Y2) foi utilizado para colocar em órbita o primeiro módulo (Tianhe) da estação espacial modular da China, a Tiangong, a 29 de Abril de 2021.

Durante o lançamento e pouco depois de entrar em órbita, surgiram referências ao facto de o estágio levar a cabo manobras para iniciar a sua reentrada controlada. Esta referência foi dita durante a transmissão em directo do lançamento e baseada em informações oficiais. Porém, nada mais foi referido por parte das fontes noticiosas Chinesas e o estágio acabaria por permanecer na sua órbita inicial, iniciando – passe-se o pleonasmo – um «lento» processo que terminaria com a sua reentrada atmosférica a 9 de Maio.

De notar que para realizar estas manobras, o primeiro estágio do Chang Zheng-5B (Y2) necessitaria de estar equipado com um sistema de controlo de reacção independente dos motores YF-77, pois estes não têm a capacidade de reignição após o final da queima. A 30 de Abril o estágio era observado ainda numa órbita com um perigeu a cerca de 170 km de altitude, apogeu a 375 km de altitude e inclinação orbital de 41,5.º, indicando assim que algo teria corrido mal com a manobra que iniciaria a reentrada controlada.

Assim, e por efeito do atrito atmosférico, os parâmetros orbitais do primeiro estágio foram diminuindo, levando a um crescendo de especulação e sensacionalismo que terminaria com a reentrada a ocorrer a 72.47°E 2.65°N segundo informação oficial Chinesa. A reentrada terá acontecido pela 0224UTC.