China inicia nova era da sua exploração espacial com o lançamento do módulo Tianhe

A longa marcha da China na exploração espacial deu um passo de gigante com a colocação em órbita do módulo Tianhe, o primeiro elemento da sua estação espacial modular Tiangong.

O lançamento do Tianhe teve lugar às 0323:15,613UTC do dia 29 de Abril de 2021 e foi levado a cabo pelo foguetão Chang Zheng-5B (Y2) a partir do Complexo de Lançamento LC101 do Centro de Lançamentos Espaciais de Wenchang, província de Hainan.

A construção da estação espacial modular é assim o grande salto no programa espacial tripulado da China e surge após o aperfeiçoamento sucessivo das diferentes técnicas do voo espacial, nomeadamente o lançamento de um veículo tripulado (Shenzhou-5), o lançamento de uma tripulação (Shenzhou-6 com dois elementos e Shenzhou-7 com três elementos), a realização de actividades extraveículares (Shenzhou-7), a colocação em órbita de um módulo laboratorial do tipo Salyut-1 (Tiangong-1 e Tiangong-2), a ocupação de uma estação espacial e voo de longa duração (Shenzou-9 e Shenzou-10) e o lançamento de um veículo de carga (Tianzhou-1) para o abastecimento regular de estações em órbita.

Em poucos anos, e seguindo um programa devidamente faseado, a China passou do voo espacial tripulado de curta duração para a construção de uma estação espacial modular que irá permitir permanências de seis meses em órbita terrestre, atingindo assim o nível e a capacidade da Rússia e dos Estados Unidos.

O final da construção em órbita da estação espacial Tiangong deverá ocorrer em 2022 após a realização de onze missões, incluindo três lançamentos de diferentes módulos, quatro lançamentos de veículos de carga e quatro lançamentos tripulados.

Todas as fases do lançamento decorreram sem problemas (a janela de lançamento decorria entre 0322:30UTC e 0345:50UTC), com o veículo a alinhar-se no respectivo azimute de voo a T+17s. O final da queima dos quatro propulsores laterais teve lugar a T+2m 53,7s, com a separação a ter lugar a T+2m 56,4s, seguindo-se a T+3m 43,4s a separação das duas metades da carenagem de protecção.

A T+8m 6,5s dava-se o final da queima do estágio central e a separação do Tianhe ocorria a T+8m 11,9s (0331:38,5UTC), ficando colocado numa órbita inicial com um perigeu a 171 km de altitude, apogeu a 382 km de altitude e inclinação orbital de 41,5.º. O módulo Tianhe recebeu a Designação Internacional 2021-035A e o número de catálogo orbital 48274.

Após a separação, o último estágio iria levar a cabo uma nova queima para iniciar a sua reentrada destrutiva evitando assim a propagação de detritos orbitais.

O módulo Tianhe

O módulo Tianhe (天和) tem uma massa de 20.500 kg, orbitando a Terra a uma altitude média de 393 km com uma inclinação orbital de 42.º e irá servir de núcleo da estação espacial Tiangong.

Esquema do módulo Tianhe. Imagem: http://shymkent.info

O Tianhe está dividido em duas grandes secções cilíndricas, a maior com um diâmetro de 4,2 metros. O seu comprimento total é de 16,6 metros e o seu volume habitável é de cerca de 50 m3.

O módulo nuclear da Tiangong é ainda composto por uma cabe de recursos, uma secção de acoplagem e uma secção cilíndrica com um diâmetro de 2,8 metros com cinco pontos de acoplagem que irão permitir a junção de novos módulos experimentais. Pode albergar três tripulantes e o seu tempo de vida útil é de 15 anos com manutenção orbital.

O Tianhe está equipado com os sistemas de suporte de vida para os seus tripulantes, bem como com pequenos módulos para a realização de experiências, equipamento de comando e orientação, equipamento para exercício físico e instalações sanitárias. O Tianhe tem uma capacidade de armazenamento de 8.000 kg de propelente para a realização de manobras orbitais, sendo este UDMH/N2O4

A estação espacial Tiangong

A estação espacial modular Tiangong é um laboratório orbital do tipo ‘Mir’, sendo constituída por um módulo central ao qual serão acrescentados outros módulos de forma gradual.

A estação será composta numa primeira fase pelos módulos Tianhe (módulo central), pelos módulos científicos Wentian e Mengtian, e pelo Xuntian (módulo em voo livre). Com uma cápsula Shenzhou acoplada, a massa total do complexo orbital (três módulos) será de 62.000 kg.

Os módulos Wentian e Mengtian serão módulos científicos com uma massa de cerca de 20.000 kg, comprimento de 14,4 metros e um diâmetro de 4,2 metros. Serão módulos pressurizados construídos a partir das experiências obtidas com o módulo orbital Tiangong-2 e serão utilizados para levar a cabo experiências nas áreas das ciências da vida, biotecnologia, física, ciências dos materiais, microgravidade, etc. Para além das experiências localizadas no interior pressurizado, ambos os módulos serão capazes de albergar experiências exteriores tanto e plataforma de exposição ao ambiente espacial, como fixadas nas respectivas fuselagens. Os módulos serão acoplados no porto de acoplagem axial do módulo Tianhe e posteriormente transferidos para um porto lateral utilizando um sistema de manipulação remota operado a partir do interior da estação espacial ou de forma remota a partir do centro de controlo.

A zona habitável no Tianhe é de 50 m3, atingindo os 110m3 se se combinar as áreas habitáveis dos outros dois módulos.

O módulo Wentian terá sistemas de controlo adicionais que poderão ser utilizados caso surja algum problema com o Tianhe. O módulo Mengtian possui funções similares ao Wentian, mas está equipado com uma escotilha especial para permitir as entrada e saída de carga e instrumentos com o auxílio dos tripulantes ou de forma autónoma utilizando o sistema de manipulação remota.

A representação dos módulos Wentian e Mentian (Space Shuttle Almanac)

No total, haverá dezesseis prateleiras experimentais (racks) entre o módulo principal, os dois módulos experimentais e uma plataforma externa de experimentos. As prateleiras experimentais terão cerca de 1,8 metros de altura, 1 metro de largura e 0,9 metros de profundidade, pesando menos de 500 kg.

Um outro módulo experimental, o Xuntian (Cruzador dos Céus), será um telescópio espacial com um espelho de dois metros de diâmetro. O módulo não estará acoplado ao complexo Tiangong, mas orbitando perto da estação, poderá ser acoplado à mesma para operações de reparação. Será usado para estudar o mecanismo de expansão acelerada do universo, para estudos sobre a energia e matéria escura, e a origem e evolução do universo.

 

A estação espacial será regularmente abastecida com os veículos de carga Tianzhou, cujo primeiro foi lançado em Abril de 2017 para a estação espacial Tiangong-2. Após o lançamento do módulo Tianhe, a China irá lançar o veículo de carga Tianzhou-2 que será colocado em órbita por um foguetão Chang Zheng-7.

Os próximos passos

Em órbita terrestre, o Tianhe entra na sua fase de comissionamento e quando tudo estiver verificado, e o módulo totalmente operacional, será lançado o primeiro veículo logístico. O lançamento do Tianzhou-2 está previsto para o dia 20 de Maio e será levado a cabo pelo foguetão Chang Zheng-7 (Y3) a partir do Complexo de Lançamento LC201 de Wenchang. A acoplagem com o Tianhe-1 será feita em modo automático. O Tianzhou-2 transportará combustível, água, mantimentos e experiências que serão utilizadas pela primeira tripulação a visitar o novo laboratório em órbita terrestre.

A primeira tripulação será lançada a bordo da cápsula espacial Shanzhou-12 cujo lançamento está previsto para 10 de Junho. O lançamento será levado a cabo pelo foguetão Chang Zheng-2F/G (Y12) a partir da Plataforma de Lançamento 91 do Complexo de Lançamento LC43 do Centro de Lançamento de Satélites de Jiuquan. A acoplagem com o conjunto Tianhe-1/Tianzhou-2 deverá ter lugar a 12 de Junho.

A primeira tripulação deverá permanecer em órbita até Setembro de 2021, preparando a estação espacial através da realização de várias tarefas de manutenção e com várias actividades extraveículares durante as quais serão colocadas experiências na fuselagem exterior da estação, bem como um braço robótico que no futuro será utilizado para a recolocação dos futuros módulos.

Assim, em Setembro de 2021 a Shenzhou-12 regressa à Terra, deixando o módulo Tianhe-1 a operar em modo automático na órbita terrestre. O veículo Tianzhou-2 irá também separar-se da estação, dando assim lugar para o Tianzhou-3 que será lançado neste mês pelo foguetão Chang Zheng-7 (Y4) a partir do Complexo de Lançamento LC201 de Wenchang

Uma nova tripulação será lançada em Outubro a bordo da Shenzhou-13. O lançamento será levado a cabo pelo foguetão Chang Zheng-2F/G (Y13) a partir da Plataforma de Lançamento 91 do Complexo de Lançamento LC43 de Jiuquan. Esta tripulação deverá permanecer no módulo Tianhe-1 até Março de 2022.

O veículo de carga Tianzhou-4 deverá ser lançado em Março ou Abril de 2022 utilizando o foguetão Chang Zheng-7 (Y5) a partir do Complexo de Lançamento LC201 de Wenchang.

Em Abril de 2022 será feita uma avaliação tecnológica da estação espacial antes do lançamento de uma nova tripulação a bordo da Shenzhou-14. O lançamento será levado a cabo pelo foguetão Chang Zheng-2F/G (Y14) a partir da Plataforma de Lançamento 91 do Complexo de Lançamento LC43 de Jiuquan. Será esta tripulação que irá assistir à chegada dos módulos laboratoriais da Tiangong.

O módulo Wentian deverá ser lançado entre Maio e Junho de 2022, seguindo-se o módulo Mangtian em Agosto ou Setembro de 2022. Ambos serão lançados por foguetões Chang Zheng-5B desde Wenchang.

O veículo de carga Tianzhou-5 deverá ser lançado em Outubro de 2022, seguindo-se o lançamento da Shenzhou-15 em Novembro de 2022. A tripulação da Shenzhou-15 irá permanecer com a tripulação da Shenzhou-14 durante dez dias, antes desta regressar à Terra e neste período estarão seis tripulantes a bordo da Tiangong.

Experiências na Tiangong

No âmbito da cooperação espacial entre a China e várias nações, foram selecionadas nove experiências a serem realizados a bordo da estação espacial Tiangong. O processo de seleção das experiências foi organizado com o Escritório das Nações Unidas para Assuntos do Espaço Exterior (UNOOSA – United Nations Office for Outer Space Affairs).

Essas experiências cobrem as áreas da astronomia, física de fluidos em microgravidade e combustão, ciências da Terra, tecnologia espacial, e ciências e tecnologia da vida espacial.

As experiências na área de astronomia vão estudar explosões de raios gama (Suíça, Polónia, Alemanha e China) e farão investigação espectroscópica do gás nebular (Índia e Rússia). As experiências de física e combustão de fluidos em microgravidade estudarão o comportamento de fluídos parcialmente miscíveis em microgravidade (Índia e Bélgica), usarão um sistema de resfriamento Micro 2-Phase de alto desempenho para aplicações espaciais (Itália e Quénia) e estudarão as instabilidades de chama afetadas por vórtices e ondas acústicas (China e Japão).

Vindo do México, a experiência em ciências da Terra vai usar uma plataforma de infravermelho médio para observações da Terra, e a experiência em tecnologia espacial (Arábia Saudita) vai estudar o desenvolvimento de células solares com multijunções GaAs para aplicações espaciais.

As ciências da vida espacial e as experiências de tecnologia vão estudar tumores no espaço (Noruega, França, Holanda e Bélgica) e o efeito da microgravidade no crescimento e produção de biofilme de bactérias causadoras de doenças (Peru e Espanha).

Como serão as futuras tripulações? 

Nesta altura não será fácil definir como serão compostas as tripulações das próximas missões espaciais Chinesas. Porém, pode-se definir um grupo geral composto der quatro tripulações para voos que terão lugar em 2021 e 2022.

O grupo é composto por Nie Haisheng (que participou nas missões Shenzhou-6 e Shenzhou-10), Deng Qingming, Liu Boming (que participou na missão Shenzhou-7), Liu Wang (que fez parte da missão Shenzhou-9), Zhang Xiaoguang (Shenzhou-10), Chen Dong (que participou na missão Shenzhou-11), Liu Yang (que participou na missão Shenzhou-9), Wang Yaping (Shenzhou-10), Ye Guangfu, Zhang Lu, Tang Hongbo, Cai Xuzhe. Alguns dos taikonautas mais antigos já estarão fora da rotação de voo, mas em reserva ainda se encontram Jing Haipeng (que participou nas missões Shenzhou-7, Shenzhou-9 e Shenzhou-11), Fei Junlong (que participou na missão Shenzhou-6) e Zhai Zhigang (que participou na missão Shenzhou-7).

Já há muito tempo que surge a possibilidade de uma das duas taikonautas (Liu Wang ou Wang Yaping) vir a ser a comandante de uma das missões à estação espacial Tiangong. Por outro lado, o Deng Qingming foi suplente em três missões e possivelmente fará parte de uma das duas missões a ser lançada em 2021, com o lançamento da Shenzhou-12 a ter lugar em Junho de 2021. A missão terá uma duração de 90 dias e durante a permanência em órbita os tripulantes irão realizar várias actividades extraveículares para a instalação de um braço robótico no exterior e outros equipamentos, preparando a estação para novos módulos.

A composição Chen Dong, Wang Yaping e Ye Guangfu, foi referida como podendo vir a ser a tripulação da Shenzhou-12, tendo circulado uma fotografia (cedida por Tony Quine) que mostra Wang Yaping a ingressar na Shenzhou-12 durante uma sessão de treinos.

Se a missão da Shenzhou-12 tiver uma duração de cerca de 90 dias, isso permitirá que a Shenzhou-13 inicie a sua missão em Setembro ou Outubro, tendo uma permanência em órbita mais alargada de cerca de 180 dias e «entregando» a Tiangong à tripulação da Shenzhou-14 a ser lançada em Março de 2022 e assim assistindo à chegada dos novos módulos.

O foguetão Chang Zheng-5B

Tendo como objectivo a capacidade de possuir um lançador espacial capaz de orbitar cargas pesadas para a órbita de transferência geossíncrona (GTO) e para a órbita terrestre baixa (LEO), a China aprovou o desenvolvimento da família de lançadores Chang Zheng-5 em Junho de 2004. A nova família de lançadores deveria ser capaz de garantir as necessidades do futuro mercado de serviços de lançamentos orbitais, seria utilizada para colocar em órbita os módulos de uma grande estação espacial, iria ajudar a manter o desenvolvimento da tecnologia de lançadores espaciais da China, e impulsionar o desenvolvimento de tecnologias e da economia relacionada com o desenvolvimento de novos motores espaciais, novas tecnologias de soldagem, sistemas de controlo melhorados, etc.

O novo programa de desenvolvimento iria projectar uma nova série de veículos em vez de um lançador destinado a uma missão específica, para assim melhorar a capacidade da China para a ceder ao espaço. O novo programa iria aplicar tecnologias avançadas, tais como o desenvolvimento de um estágio de grande diâmetro e de motores mais potentes para aumentar a capacidade de lançamento de forma dramática, com o objectivo de lançar cargas de 25.000 kg para a LEO e de 14.000 kg para a GTO. O novo programa iria também projectar uma série de veículos tendo por base o princípio da generalização, serialização e modularização, com o propósito de suprimir as necessidades de lançar diferentes cargas. Os novos veículos lançadores deveriam utilizar propelentes não tóxicos e não poluentes, devendo ter um baixo custo, alta fiabilidade, e serem convenientes para ensaios e operacionalidade.

O novo sistema de lançamento da China tinha por base um conceito de modular utilizando dois novos motores e três módulos standard. Originalmente, o plano incluía três classes principais com variantes tendo um diâmetro de 5 metros, variantes com um diâmetro de 3,35 metros e uma configuração com um diâmetro de 2,25 metros.

Os três módulos standard eram o módulo H5-1 (5 metros de diâmetro com um comprimento de 31,0 metros e equipado com dois motores de LH/LOX de 50.000 kg, tendo uma massa de 175.000 kg), o módulo K3-1 (3,35 metros de diâmetro com um comprimento de 26,3 metros e equipado com dois motores de querosene/LOX de 120.000 kg, tendo uma massa de 147.000 kg) e o módulo K2-1 (2,25 metros de diâmetro com um comprimento de 25,0 metros e equipado com um motor de querosene/LOX de 120.000 kg, tendo uma massa de 69.000 kg).

Destes conceitos iniciais, derivaram os foguetões CZ-6 Chang Zheng-6 e CZ-7 Chang Zheng-7. Foi proposta uma série de variantes para o lançador de maior capacidade. Utilizando o estágio de 5 metros de diâmetro e diferentes configurações dos propulsores laterais e um estágio superior, foram propostas seis variantes para atingir diferentes capacidades de carga: Configuração A seria capaz de lançar 18.000 kg para a LEO, enquanto que a Configuração B e C seriam capazes de lançar 25.000 kg e 10.000 kg para a LEO, respectivamente. Para a órbita GTO, a Configuração D seria capaz de lançar 10.000 kg, enquanto que a configuração E e F seriam capazes de lançar 14.000 kg e 6.000 kg, respectivamente.

Eventualmente, somente duas variantes foram desenvolvidas: a variante básica do Chang Zheng-5 de dois estágios projectada para missões para a órbita GTO, e a variante de um único estágio (Chang Zheng-5B) para missões para a órbita terrestre baixa. Ambas as variantes estão equipadas com propulsores laterais de combustível líquido com um diâmetro de 3,25 metros. A variante básica do novo lançador é um veículo de dois estágios (5 metros de diâmetro) com quatro propulsores laterais (3,35 metros de diâmetro), sendo capaz de lançar 14.000 kg para GTO. O seu comprimento total é de 56,97 metros, massa de 869.000 kg e desenvolvendo 10.573 kN no lançamento.

O foguetão Chang Zheng-5B é um veículo de um estágio central (5 metros de diâmetro) com quatro propulsores laterais (3,35 metros de diâmetro), sendo capaz de lançar 22.000 kg para uma órbita terrestre baixa. O seu comprimento total é de 53,7 metros, massa de 837.500 kg e desenvolvendo 10.573 kN no lançamento.

Imagem: Junior Miranda

O voo inaugural do CZ-5 estava inicialmente previsto para 2013, mas a Academia Chinesa de Tecnologia de Veículos Lançadores (CALT) e a Academia de Tecnologia de Voo Espacial de Xangai (SAST) tiveram de percorrer um duro caminho para a primeira missão. Enfrentando desafios tecnológicos enormes, o desenvolvimento dos motores YF-77 e YF-100 iria atrasar o desenvolvimento da nova família de lançadores.

O voo inaugural do CZ-5B teve lugar às 10:00:27.092UTC do dia 5 de Maio de 2020 com o veículo Y1 a colocar em órbita o protótipo da futura cápsula espacial tripulada da China (Xinyidai Zairen Feichuan Shiyan Chuan).

Os componentes do lançador são fabricados na cidade industrial de Tianjin e depois transportados para o local de lançamento utilizando dois navios de carga construídos para esse efeito, o Yuanwang-21 e o Yuanwang-22. Os componentes são depois descarregados no porto de Qinglan que serve o Centro de Lançamentos Espaciais de Wenchang.

O primeiro estágio tem um comprimento de 31,02 metros e um diâmetro de 5,00 metros. Está equipado com dois motores YF-77 que consomem LOX/LH. O primeiro estágio tem uma massa de 175.800 kg, tendo uma massa de 17.800 kg sem propelentes.

O motor YF-77, desenvolvido pela Academia de Tecnologia de Propulsão de Lançamentos Aeroespaciais, é um motor de alta performance e altamente fiável projectado para os foguetões Chang Zheng-5. É o primeiro motor criogénico de alta-força desenvolvido pela China, dando um grande passo tecnológico tendo em conta os anteriores motores deste tipo, tais como o YF-75 que é utilizado nos estágios superiores dos foguetões Chang Zheng-3A e Chang Zheng-3B. Cada YF-77 proporciona 700 kN de força no vácuo e 510 kN de força ao nível do mar, tendo um impulso específico de 430 segundos (vácuo) e 310,2 segundos (nível do mar). O tempo de queima é de 520 segundos.

Os propulsores laterais têm um comprimento de 26,28 metros e um diâmetro de 3,25 metros. Cada propulsor está equipado com dois motores YF-100. Cada propulsor tem uma massa de 147.000 kg, tendo uma massa de 12.000 kg sem propelentes. O YF-100 consome querosene e LOX.

O desenvolvimento do YF-100 teve início em 2000 na Academia de Tecnologia de Propulsão Espacial Líquida. O motor foi certificado para Administração Estatal para a Ciência, Tecnologia e Industria para Defesa Nacional em Maio de 2012. É um motor de combustão de ciclo escalonado que desenvolve 1.199,48 kN ao nível do mar (1.339,48 kN no vácuo) com um impulso específico de 300 segundos (335 segundos no vácuo). O motor é também utilizado no foguetão CZ-6 Chang Zheng-6.

O segundo estágio tem um comprimento de 12,00 metros e um diâmetro de 5,00 metros. Está equipado com dois motores YF-75D que consomem LOX e LH. O segundo estágio tem uma massa de 26.000 kg, tendo uma massa de 3.100 kg sem propelentes a bordo.

O motor YF-75D desenvolve 88,26 kN no vácuo e tem um impulso específico de 442 segundos. O seu tempo de queima é de 780 segundos.

O estágio superior YZ-2 Yuanzheng-2 é um novo estágio superior desenvolvido especificamente para o CZ-5 pelo CALT. A sua função é a de transportar a carga da missão para a sua órbita sem que esta tenha de gastar o seu próprio propelente para atingir a órbita operacional. O seu diâmetro é de 5,2 metros e tem uma massa de 1.800 kg.

As cargas transportadas pelo Chang Zheng-5 são inicialmente protegidas por uma carenagem de protecção com um diâmetro de 5,2 metros e um comprimento de 12,5 metros.

Wenchang – um centro espacial para o futuro

O Centro de Lançamentos Espaciais de Wenchang está localizado no canto Nordeste da Ilha de Hainan na costa Sul da China.

O novo complexo de lançamento traz uma maior versatilidade que não proporcionada pelos restantes três locais de lançamento (Jiuquan, Xichang e Taiyuan). Wenchang fornece um aumento de performance para os lançadores que é ganho devido ao facto de se localizar a somente 19.º de latitude do equador terrestre. Isto reduz a quantidade de propelente que é necessário para o satélite manobrar a partir da sua órbita inicial para a órbita geossíncrona.

Os foguetões podem ser lançados numa direcção a Sudeste para o Pacífico Sul, evitando assim a possibilidade de destroços ou dos estágios caírem sobre zonas populacionais.

Wenchang está equipado com dois complexos de lançamento. O Complexo de Lançamento LC101 é utilizado para a família de foguetões CZ-5 Chang Zheng-5, enquanto que o Complexo de Lançamento LC201 é utilizado para o foguetão CZ-7 Chang Zheng-7. Ambas as plataforma de lançamento são similares e estão equipadas com uma torre umbilical fixa, fossos e condutas deflectoras de chamas. Tal como acontece nos outros coentros espaciais da China, as torres umbilicais possuem braços amovíveis que permitem o acesso dos técnicos aos diferentes estágios do lançador e à sua carga.

As plataformas de lançamento utilizam um sistema de supressão de ondas de choque, inundando a base da plataforma de lançamento e o fosso deflector das chamas com um grande volume de água para assim diminuir as ondas sonoras geradas pelos motores do veículo.

As plataformas são servidas por dois edifícios de integração e montagem. O Complexo de Lançamento LC101 é servido pelo Edifício 501, enquanto que o Complexo de Lançamento LC201 é servido pelo Edifício 502. Cada edifício tem uma altura de 99,4 metros permitindo a montagem e teste do veículo lançador na sua posição vertical já totalmente integrado. Esta é uma nova aproximação à maneira como os lançadores são preparados para as suas missões já que nos restantes centros de lançamento, os foguetões são montados no complexo de lançamento.

Após serem montados no edifício de integração e montagem sobre uma plataforma de lançamento móvel, o conjunto é transportado para o complexo de lançamento. A viagem demora vários minutos a percorrer os 2.800 metros que separação os dois edifícios. Após chegar à plataforma de lançamento, a estrutura móvel é colocada sobre o fosso das chamas e procede-se à ligação das conexões umbilicais entre a estrutura fixa e a plataforma móvel que contém o lançador.

Dados estatísticos e próximos lançamentos

– Lançamento orbital: 6057

– Lançamento orbital China: 399 (6,59%)

– Lançamento orbital desde Wenchang: 12 (0,20% – 3,01%)

 

Os próximos lançamentos orbitais previstos são (hora UTC):

6058 – 28 Abr (0344:??) – Falcon 9-115 (B1060.7) – Cabo Canaveral SFS, SLC-40 – Starlink F25 (x60) [v1.0 L24]

6059 – 30 Abr (0720:??) – Chang Zheng-4C(?) – Jiuquan, LC43/94 – ??

6060 – 07 Mai (?) (????:??) – Chang Zheng-2C (Y47) – XSLC, LC3 – Yaogan-30  Grupo-08

6061 – 17 Mai (????:??) – Atlas-V/421 – Cabo Canaveral SFS, SLC-41 – SBIRS-GEO 5

6062 – 20 Mai (????:??) – Chang Zheng-7 (Y3 – Wenchang, LC201 – Tianzhou-2