RocketLab lança missão “Look Ma, No hands”

Texto de Salomé T. Fagundes / Rui C. Barbosa

O lançamento teve lugar às 1212UTC do dia 19 de Agosto de 2019 e foi levado a cabo desde o Complexo de Lançamento LC-1 do Centro de Lançamentos de Máhia, Nova Zelândia.

A missão “Look Ma, No Hands” é a oitava missão da RocketLab e do Electron e a quarta do ano de 2019.

Este Electron irá levar um tipo de “caixa negra” que irá recolher e registar dados, medindo os ambientes aerotermais encontrados pelo primeiro estagio durante a descida e reentrada na atmosfera. Esta informação será crucial para que a empresa consiga atingir com sucesso o novo objectivo de recuperar e reutilizar o propulsor.

O manifesto desta missão conta com um satélite de nome BRO 1 (Breizh Reconnaissance Orbiter)  destinado a começar uma nova constelação para a  francesa UnseenLabs, bem como uma viagem partilhada da Spaceflight, consistindo de um satélite para a BlackSky (BlackSky Global-4) e dois satélites para o Comando Espacial da Força Aérea Americana (Pearl White 1 e 2).

BRO 1

O BRO 1 (Breizh Reconnaissance Orbiter) foi desenvolvido pela UnseenLabs. É um espectro de monitorização e serviço inteligente electromagnético (SIGINT) para vigilancia marítima e tráfego aéreo.

O satélite, construido pela GOMSpace é o primeiro passo para uma constelação que usa um avançado espectro de monitorização dedicado a um serviço de vigilancia disruptivo marítimo.

BlackSky Global-4

A constelação de satélites BlackSky é um conjunto de microsatelites da BlackSky para observação terrestre munidos de resolução de 1 m.

Estes satélites possuem um sistema de imagens SpaceView-24 construído pela Exelis da Harris Corp com uma abertura de 24 cm. Conseguem imagens do solo com uma resolução de 0,9 a 1,1 a uma altura orbital de 500 km. São munidos de uma propulsão a bordo para 3 anos. Os satélites são construídos pela Spaceflight Services e são baseados no modelo SCOUT.

Os satélites operacionais Block2 são caracterizados pelas suas melhorias em relação aos pioneiros Block 1. Têm painéis solares maiores e podem produzir imagens em quatro bandas e em modo pancromático. Cada um pode produzir 1000 imagens por dia, quer em modo de fotografia, quer em modo de vídeo.

Pearl White 1 e 2

Pearl White 1 e 2 são dois bancos de ensaio do Comando Espacial da Força Aérea (AFSPC) para tecnologias emergentes.

O objectivo desta missão é testar novas tecnologias incluindo propulsão, energia, comunicações, e capacidade de arrasto para potenciais aplicações para futuros satélites

Os CubeSats foram construidos pela Tiger Innovations em Herndon na Virginia, São projectados para durarem um ano de vida. A Tiger Innovations irá operar o satélite durante a vida do programa sob a direcção e a supervisão do AFSPC.

Lançamento

O foguetão Electron era colocado na sua posição vertical a T-4h 00m e iniciava-se o processo de abastecimento de querosene. O pessoal de apoio na plataforma de lançamento deixava a área a T-2h 30m e o abastecimento de oxigénio líquido (LOX) iniciava-se a T-2h 00m.

As autoridades de aviação locais eram informadas sobre o lançamento a T-30m para assim poderem avisar os aviadores naquele espaço aéreo. Os preparativos finais para o lançamento iniciam-se a T-18m. A sequência automática de lançamento inicia-se a T-2m, com o computador de bordo do Electron a tomar conta das operações. A ignição dos motores do lançadores inicia-se a T-2s.

O foguetão abandona a plataforma de lançamento a T=0s, com uma ascensão lenta nas fases iniciais e ganhando velocidade à medida que ganha altitude. O final da queima do primeiro estágio termina a T+2m 35s e a sua separação ocorre três segundos mais tarde. A ignição do motor do segundo estágio ocorre a T+2m 42s. A separação da carenagem de protecção ocorre a T+3m 40s.

O segundo estágio atinge a órbita terrestre a T+8m 51s, terminando a sua ignição a T+8m 55s. A separação entre o segundo estágio e o estágio Curie ocorre e T+8m 59s, com a sua ignição a ter lugar a T+50m 21s. O final da queima do estágio Curie ocorre a T+51m 48s. A T+53m 30s os satélites são separados do último estágio.

O foguetão Electron

O Electron é um lançador a dois estágios com um comprimento de 17 metros e um diâmetro de 1,2 metros. É capaz de colocar em órbita terrestre baixa uma carga de 225 kg, sendo a sua carga nominal de 150 kg (a 500 km de altitude). Devido ao seu desenho e fabrico, o Electron é elaborado com altos níveis de automatização.

O lançador tira partido de materiais compósitos na sua fuselagem, tendo uma estrutura forte e super leve. Da mesma forma, os tanques de propolente são fabricados em materiais compósitos.

O primeiro estágio está equipado com nove motores Rutherford e tem uma capacidade de 162 kN, com um impulso específico de 303 s. O motor Rutherford consome querosene e oxigénio líquido, utilizando componentes impressos em 3D.

O motor Rutherford é um motor topo de gama que se alimenta de querosene e oxigénio líquido, e que foi especificamente projectado para o foguetão Electron utilizando um ciclo de propulsão inteiramente novo. Uma característica única deste motor são as turbinas eléctricas de alta performance que reduzem a sua massa e que substituem hardware por software. O motor Rutherford é o primeiro motor do seu tipo que utiliza impressão 3D nos seus componentes principais. Estas características são únicas no mundo para um motor de propelentes líquidos de alta performance alimentados por turbobombas eléctricas. O seu desenho orientado para a produção permitem que o Electron seja construído e os satélites lançados com uma frequência sem precedentes.

O segundo estágio do lançador é propulsionado por um motor derivado do motor Rutherford melhorado para uma excelente performance em condições de vácuo. É capaz de desenvolver 22 kN de força e um impulso específico de 333 s.

O Complexo de Lançamento LC-1 localizado na Península de Máhia entre Napier e Gisborne, na costa Este de Ilha do Norte da Nova Zelândia. Este é o primeiro complexo orbital na Nova Zelândia e o primeiro complexo a nível mundial operado de forma privada. A localização remota do LC-1, e de forma particular o seu baixo volume de tráfego marítimo e aéreo, é um factor chave que permite um acesso sem precedentes ao espaço. A posição geográfica deste local permite que seja possível a uma grande gama de azimutes de lançamento – os satélites lançados desde Máhia podem ser colocados em órbitas com uma grande variedade de inclinações para assim proporcionar serviços em muitas áreas em torno do globo.