Segundo Meteosat da terceira geração colocado em órbita

O segundo satélite da terceira geração de satélites meteorológicos europeus, Meteosat, foi colocado em órbita por um foguetão norte-americano a 1 de Julho de 2025.

O lançamento do satélite MTG-S1 teve lugar às 2104UTC e foi realizado pelo foguetão Falcon-9 a partir do Complexo de Lançamento LC-39A do Centro Espacial Kennedy, Ilha de Merritt – Florida.

Após a separação do segundo estágio, o satélite foi colocado numa órbita de transferência para a órbita geossíncrona a partir da qual irá manobrar para atingir a sua órbita operacional. Os seus parâmetros orbitais iniciais foram: perigeu a 334 km, apogeu a 65.206 km e inclinação orbital de 21,2.º

Os satélites MTG (Meteosat Third Generation) é o sistema sucessor da série de satélites geoestacionários Meteosat MSG. O sistema de satélites será constituído por uma configuração dupla de satélites estabilizados em 3 eixos espaciais, nomeadamente os satélites de missão de imagem (MTG-I) e o satélite de missão de detecção (MTG-S).

A carga útil dos satélites MTG-S é um sistema de detecção de infravermelhos (IRS, InfRared Sounder) e um sistema de detecção ultravioleta visível próximo do infravermelho (UVN, Ultra-violet Visible Near-infrared), este último fornecido pela agência espacial europeia como instrumentos Sentinel-4 do sistema Kopernikus, anteriormente o programa de Monitorização Global para o Ambiente e Segurança (GMES, Global Monitoring for Environment and Security).

A missão UVN no MTG é uma componente do conceito conjunto Kopernikus Sentinel-4 e Sentinel-5 para monitorização de protocolos climáticos e aplicações de qualidade do ar, com previsão de entrega de dados sobre ozono, dióxido de azoto, dióxido de enxofre, formaldeído, profundidade óptica de aerossóis e altura de espalhamento de aerossóis.

Os satélites serão renomeados para Meteosat quando estiverem operacionais.

O lançamento do MTG-S 1 foi originalmente previsto para ser levado a cabo por um foguetão Ariane-5ECA+, mas foi posteriormente remarcado para um Ariane-64 devido à indisponibilidade do primeiro após 2022. Porém, devido aos atrasos na preparação na nova geração de lançadores europeus, a ESA viu-se forçada a depender dos foguetões Falcon-9 para colocar o satélite em órbita.

Desenvolvido pela Thales Alenia Space tendo por base a plataforma de satélite SmallGEO (LUXOR) da OHB-System GmbH, o MTG-S1 tem uma massa de 3.800 kg e o seu tempo de vida útil é de 8,5 anos. O satélite será operado pela ESA e pela EUMETSAT.

Lançamento

A cerca de dez horas do lançamento procedeu-se à activação eléctrica do foguetão Falcon-9. Tanto o lançador como a sua carga são submetidos a uma série de verificações testes antes do início do abastecimento do querosene RP-1. O Director de Voo consulta os controladores a T-38m, determinando assim se tudo está pronto para o início do abastecimento do lançador. O processo de abastecimento de RP-1 inicia-se a T-35m no primeiro estágio, seguindo-se o início do abastecimento do oxigénio líquido (LOX) na mesma altura. O abastecimento de LOX ao segundo estágio inicia-se a T-16m.

A fase terminal da contagem decrescente inicia-se com os motores a serem condicionados termicamente para o lançamento a T-7m. A T-1m é enviado um comando para o computador de voo para iniciar as verificações pré-lançamento e o sistema de supressão sónica é activado na plataforma de lançamento inundada por milhões de litros de água. Por esta altura os tanques de propelente também são pressurizados. A T-45s o Director de Lançamento da SpaceX verifica se todos os parâmetros estão prontos para a missão, sendo também verificado que o espaço aéreo está pronto para o lançamento. A sequência de ignição é iniciada a T-3s. A T=0s o foguetão abandona a plataforma.

Abandonando a plataforma de lançamento, o Falcon-9 inicia uma série de manobras para se colocar na trajectória de voo correcta.

Tempo (h:m:s) Evento
00:01:12 Máxima pressão dinâmica (MaxQ)
00:02:28 Final da queima do 1.º estágio (MECO)
00:02:31 Separação entre o 1.º e o 2.º estágio
00:02:39 Ignição do 2.º estágio (SES-1)
00:03:24 Separação da carenagem de protecção
00:06:11 Início da queima de reentrada do 1.º estágio
00:06:34 Final da queima de reentrada do 1.º estágio
00:07:59 Início da queima de aterragem do 1.º estágio
00:08:01 Final da primeira queima do 2.º estágio (SECO-1)
00:08:28 Aterragem do 1.º estágio
00:26:54 Início da segunda queima do 2.º estágio (SES-2)
00:28:00 Final da segunda queima do 2.º estágio (SES-2)
00:35:10 Separação do satélite GPS-III SV08

 

 

O foguetão Falcon-9

Baptizado em nome da nave Millenium Falcon da saga cinematográfica “Guerra das Estrelas”, o foguetão Falcon-9 v1.1 foi um lançador a dois estágios projectado e fabricado para o transporte seguro e fiável de satélites e do veículo Dragon para a órbita terrestre. Sendo o primeiro foguetão completamente desenvolvido no Século XXI, este lançador foi projectado desde o início para ter a máxima fiabilidade. A sua simples configuração de dois estágios minimiza o número de eventos de separação (staging) e com nove motores no primeiro estágio, pode completar a sua missão em segurança mesmo na possibilidade de perda de um motor.

O Falcon-9 fez história em 2012 quando colocou a cápsula Dragon na órbita correcta para uma manobra de encontro com a estação espacial internacional. Desde então, foram realizadas múltiplas missões para a ISS transportando e recolhendo carga para a NASA. O Falcon-9, bem como a cápsula Dragon, foram desenhados na base do desenvolvimento de um sistema de transporte de astronautas para o espaço.

O foguetão Falcon-9 Upgrade, ou Falcon-9 FT, (a seguir designado simplesmente como “Falcon-9”) representa a mais recente evolução deste lançador. De forma geral, o Falcon-9 tem 68,4 metros de comprimento, 3,7 metros de diâmetro e uma massa de 541.300 kg. O veículo é capaz de colocar uma carga de 13.150 kg numa órbita terrestre baixa ou 4.850 kg numa órbita de transferência geossíncrona.

O primeiro estágio do Falcon-9 está equipado com nove motores Merlin (Merlin-1D) e tanque de liga de alumínio e lítio que contêm oxigénio líquido e querosene RP-1. Após a ignição, um sistema de segurança fixa o veículo na plataforma de lançamento e garante que todos os motores são verificados como estando na força máxima antes de libertar o foguetão para o seu voo. Então, com uma força superior a cinco aviões Boeing 747 em potência máxima, os motores Merlin lançam o foguetão para o espaço. Ao contrário dos aviões, a força de um foguetão vai aumentando com a altitude – o Falcon-9 gera 6.806 kN ao nível do mar, mas atinge 7.426 kN no vácuo espacial. Os motores do primeiro estágio vão sendo aumentados em potência perto do final da queima do estágio para assim limitar a aceleração do veículo à medida que a massa do lançador diminui com a queima do combustível. O tempo total de queima do primeiro estágio é de 162 segundos.

Com os seus nove motores agrupados juntos na configuração ‘octaweb’, o Falcon-9 pode aguentar a falha de até dois motores durante o lançamento e mesmo assim conseguir atingir a órbita terrestre com sucesso. O Falcon-9 é o único lançador na sua classe com esta característica chave.

O motor Merlin vai encontrar as suas raízes aos motores das missões Apollo, nomeadamente o sistema de injecção baseado no motor do módulo lunar. O propelente é alimentado por uma única conduta, com uma turbo bomba de dupla pá que opera num ciclo de gerador a gás. A turbo bomba também fornece o querosene a alta pressão para os actuadores hidráulicos, que depois recicla para a entrada a baixa pressão. Isto elimina a necessidade de um sistema hidráulico separado e significa que não é possível ocorrer uma falha no controlo de vector de força por falta de fluido hidráulico. Uma terceira utilização da turbo bomba é o fornecimento de controlo de rotação ao actuar no escape da turbina de exaustão (no segundo estágio). Combinando-se estas características num só dispositivo aumenta-se assim de forma significativa o nível de fiabilidade do sistema.

O motor é capaz de desenvolver uma força de 654 kN ao nível do mar, 716 kN no vácuo, com um impulso específico de 282 segundos (nível do mar) e 311 segundos (vácuo).

A secção interestágio é uma estrutura compósita que liga o primeiro e o segundo estágio e alberga os sistemas de libertação e separação. O Falcon-9 utiliza um sistema de separação totalmente pneumático para uma separação de baixo impacto e altamente fiável que pode ser testado no solo, ao contrário dos sistemas pirotécnicos utilizados na maior parte dos lançadores.

O segundo estágio é propulsionado por um único motor Merlin de vácuo e coloca a carga a transportar na órbita desejada. O motor do segundo estágio entra em ignição poucos segundos após a separação entre o segundo e o primeiro estágio, e pode ser reiniciado várias vezes para colocar múltiplas cargas em diferentes órbitas. Para máxima fiabilidade, o segundo estágio está equipado com sistemas de ignição redundantes. Tal como o primeiro estágio, o segundo estágio é feito a partir de uma liga de alumínio e lítio.

O motor Merlin de vácuo (Merlin-1D de vácuo) desenvolve uma força de 934 kN e o seu tempo de queima é de 397 segundos.

A carenagem compósita é utilizada para proteger a carga durante a passagem do Falcon-9 pelas camadas mais densas da atmosfera. Quando a missão do Falcon-9 é o lançamento do veículo de carga Dragon, a carenagem não é utilizada, pois a cápsula possui o seu próprio sistema de protecção.

A carenagem tem 13,1 metros de comprimento e 5,2 metros de diâmetro. Fabricada em fibra de carbono, separa-se em duas metades utilizando um sistema de separação de actuadores pneumáticos semelhantes aos que são utilizados para a separação entre o primeiro e o segundo estágio.

A sequência de lançamento para o Falcon-9 é um processo de precisão ditada pela janela de lançamento tendo em conta a posição orbital a ser ocupada pela carga a bordo. Se a janela de lançamento é perdida, a missão é então adiada para a próxima janela de lançamento disponível.

Cerca de quatro horas antes do lançamento, inicia-se o processo de abastecimento – primeiro oxigénio líquido seguindo-se o querosene altamente refinado (RP-1). O vapor observado a sair do lançador durante a contagem decrescente é na realidade oxigénio a ser liberto dos tanques, sendo esta a razão pela qual o abastecimento de oxigénio líquido se mantém até quase ao final da contagem decrescente.

Lançamento Veículo 1.º estágio Local Lançamento Data Hora (UTC) Carga Recuperação
2025-127 491 B1078.21 CCSFS, SLC-40 13/Jun/25 15:29:00 Starlink G12-26 ASOG
2025-129 492 B1093.3 VSFB, SLC-4E 17/Jun/25 03:36:50 Starlink G15-9 OCISLY
2025-130 493 B1090.5 CCSFS, SLC-40 18/Jun/25 05:55:10 Starlink G10-18 JRTI
2025-133 494 B1069.25 CCSFS, SLC-40 23/Jun/25 05:58:30 Starlink G10-23 ASOG
2025-135 495 B1071.26 VSFB, SLC-4E 23/Jun/25 21:25:30,178 Transporter-14 OCISLY
2025-136 496 B1094.2 KSC, LC-39A 25/Jun/25 06:31:53 Axiom Ax-4 LZ-1
2025-137 497 B1080.20 CCSFS, SLC-40 25/Jun/25 19:54:50 Starlink G10-16 JRTI
2025-139 498 B1092.5 CCSFS, SLC-40 28/Jun/25 04:26:00 Starlink G10-34 ASOG
2025-142 499 B1088.8 VSFB, SLC-4E 28/Jun/25 17:13:00 Starlink G15-7 OCISLY
2025-143 500 B1085.9 KSC, LC-39A 01/Jul/25 21:04 MTG-S1 JRTI

Imagens: Empresa lançadora e Axiom Space



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