Histórias da Conquista do Cosmos – As missões Intercosmos (II)

A primeira parte deste artigo pode ser encontrada aqui.

Os voos tripulados Intercosmos

Vladimir Remek chegara à Cidade das Estrelas a 6 de Dezembro de 1976 juntamente com Oldrzhikh Pelchak e ambos iniciaram o treino preliminar de cosmonauta. Em Agosto de 1977, Remek inicia o treino conjunto com Alexei Gubarev e em finais de Fevereiro de 1978, Remek e Pelchak juntamente com o cosmonauta polaco, Hermaszewski, e o cosmonauta alemão-oriental, Jahn, levaram a cabo os seus exames e testes finais no Centro de Treino de Cosmonautas Yuri Gagarin. Os resultados dos exames foram muito semelhantes, mas eventualmente Remek acabou por ser seleccionado como o primeiro representante dos países Intercosmos a realizar um voo espacial.

Durante o período de treino na Cidade das Estrelas, Remek muitas vezes dormia com a cabeça numa posição mais baixa do que as suas pernas de forma a aumentar o fluxo de sangue para a sua cabeça, preparando-se assim para as simulações de ausência de peso. Na sua primeira sessão de treino num simulador da cápsula Soyuz, Remek perdeu mais de 2,0 kg de peso durante uma sessão de três horas envergando um fato espacial. O próprio referiu que quando chegou à união Soviética para iniciar o seu treino, encontrava-se com excesso de peso e que a sua primeira função foi perder peso com uma combinação de exercício físico e uma dieta alimentar rigorosa.

A primeira missão tripulada no Programa Intercosmos tem lugar a 2 de Março de 1978 quando às 15:28:10UTC um foguetão 11A511U Soyuz-U lançado desde a Plataforma 17P32-5 (LC1 PU-5), colocou em órbita a Soyuz-28 ‘Soyuz 7K-T n.º 45’ tripulada pelos cosmonautas Alexei Alexandrovich Gubarev e Vladimir Remek. Remek tornava-se assim no primeiro cosmonauta de outro país que não a União Soviética ou os Estados Unidos a viajar no espaço. De notar que só a 28 de Novembro de 1983 é que os Estados Unidos lançariam um astronauta estrangeiro1 nas suas naves espaciais. A tripulação suplente era composta pelos cosmonautas Nikolai Nikolaievich Rukavishnikov e Oldrzhikh Pelchak.

A Soyuz-28 é colocada numa órbita inicial com um apogeu de 246 km de altitude, um perigeu de 192 km de altitude, uma inclinação orbital de 51,6º em relação ao equador terrestre e um período orbital de 88,8 minutos. A viagem até à estação orbital Salyut-6, então ocupada pelos cosmonautas Yuri Viktorovich Romanenko e Georgi Mikhailovich Grechko (que haviam sido lançados na Soyuz-26), dura pouco mais de 24 horas e a Soyuz-28 acaba por acoplar ao porto de acoplagem posterior da estação às 1709:30UTC do dia 3 de Março. Nesta altura a Salyut-6 encontrava-se numa órbita com um apogeu de 353 km de altitude e um perigeu de 335 km de altitude.

Os dois homens permaneceram a bordo durante sete dias levando a cabo diversas experiências científicas preparadas em conjunto por cientistas checos e soviéticos. Deu-se especial importância aos estudos do desenvolvimento e crescimento de cristais em ambiente de microgravidade.

A Soyuz-28 separou-se da Salyut-6 às 1023UTC do dia 10 de Março e regressa à Terra, aterrando às 1344UTC a 328 km Oeste de Tselinograd (135 km Norte de Arkalyk) num ponto com as coordenadas 51º latitude Norte e 67º longitude Este. A missão teve uma duração de 7d 22h 19m 12s. Após o seu regresso Remek recebeu o título de Herói da União Soviética e a Ordem de Lenine, além do título de Herói da República Socialista da Checoslováquia e Cosmonauta-Aviador da República Socialista da Checoslováquia.

Com o fim da missão Soyuz-28, a tripulação de longa duração da Salyut-6 permanece por mais seis dias a bordo da estação orbital, regressando à Terra no dia 16 de Março de 1978 e finalizando assim a primeira ocupação da Salyut-6. A segunda fase de ocupação da Salyut-6 tem início a 15 de Junho de 1978 com o lançamento da Soyuz-29 tripulada pelos cosmonautas Vladimir Vasilievich Kovalyonok e Alexander Sergeievich Ivanchenkov. A Soyuz-29 acopla com a estação no dia 16 de Junho e os dois homens instalam-se na sua nova casa orbital, aguardando a chegada da segunda tripulação internacional do Programa Intercosmos.

A segunda missão Intercosmos foi levada a acabo em colaboração com a Polónia. O processo de selecção do cosmonauta polaco para a missão Soyuz-30 é ainda um pouco desconhecido. Apesar de Miroslaw Hermaszewski ter sido seleccionado para o voo, existem rumores de que de facto Zenon Jankowski teria sido o cosmonauta seleccionado pela União Soviética para participar na missão. Este dado surge do facto de que o governo polaco ter mandado imprimir selos comemorativos do voo nos quais Zenon Jankowski é referido como membro do Programa Intercosmos. Numa altura em que os nomes das tripulações suplentes não eram divulgados, este facto parece indicar que Jankowski teria sido apontado como membro da tripulação principal da missão Soyuz-30. Porém, no dia que antecedeu o lançamento da Soyuz-30, a agência filatélica polaca recebeu a informação de que Miroslaw Hermaszewski seria o primeiro polaco no espaço e em resultado novos selos foram imediatamente impressos e os selos anteriores destruídos (no entanto é possível que alguns tenham escapado às máquinas trituradoras).

Em Agosto de 1977 Hermaszewski começou a treinar juntamente com o cosmonauta soviético Pyotr Ilyich Klimuk. No entanto o treino foi interrompido pouco depois devido a problemas médicos Hermaszewski que teve de ser submetido a uma pequena intervenção cirúrgica. Felizmente, Hermaszewski rapidamente recuperou da operação e pôde retomar o seu treino.

A Soyuz-30 ‘Soyuz 7K-T (A9) n.º 67 (10968 1978-065A), tripulada por Klimuk e Hermaszewski, acabou por ser lançada às 1527UTC do dia 27 de Junho de 1978 a partir do Complexo 17P32-5 (LC1 PU-5) do Cosmódromo NIIP-5 Baikonur por um foguetão 11A511U Soyuz-U e colocada numa órbita inicial com um apogeu de 239 km de altitude, um perigeu de 198 km de altitude, inclinação orbital de 51,6º e período orbital de 88,8 minutos. A tripulação suplente era composta pelos cosmonautas Valeri Nikolaievich Kubasov e Zenon Jankowski.

A acoplagem com a estação espacial Salyut-6 tem lugar às 1707UTC do dia 28 de Junho quando a estação se encontrava numa órbita com um apogeu de 343 km de altitude e um perigeu de 334 km de altitude. Durante a permanência em órbita terrestre Hermaszewski levou a cabo experiências na área das Ciências dos Materiais e fotografou a superfície terrestre, mais precisamente o território polaco.

Terminadas as actividades conjuntas em órbita, Klimuk e Hermaszewski separam-se da Salyut-6, abordo da Soyuz-30, às 1015UTC do dia 5 de Julho, aterrando às 1330UTC a 328 km Oeste de Tselinograd, num ponto situado a 51º latitude Norte e 66º longitude Este. A missão Soyuz-30 teve uma duração de 7d 22h 02m 59s.

Após o seu regresso à Terra, Hermaszewski foi promovido a Tenente-Coronel e foi-lhe atribuída a Cruz de Grunwald de 1ª Classe pelo Conselho de Estado Polaco, além da Medalha Nicolau Kupernikus pela Academia Polaca das Ciências. Tal como havia acontecido como cosmonauta checoslovaco, a União Soviética também atribuiu a Hermaszewski o título de Herói da União Soviética e a Ordem de Lenine. De notar que quando a Lei Marcial foi imposta na Polónia em Dezembro de 1981, Hermaszewski pertenceu ao Comité Militar de Salvação Nacional então formado.

O terceiro voo Intercosmos, que de certa forma finaliza a primeira fase deste programa, vai colocar em órbita o primeiro cosmonauta alemão.

A selecção inicial dos candidatos a cosmonauta é pessoalmente conduzida pelo então Vice-Ministro da Defesa da República Democrática Alemã em finais de Julho de 1976, que leva a cabo centenas de entrevistas pessoais com potenciais candidatos provenientes das fileiras dos melhores pilotos da Força Aérea da RDA. A cada entrevistado é referido que eram necessários voluntários para serem seleccionados para candidatos a cosmonauta, tendo dois dias para tomarem uma decisão. Os critérios de selecção impunham uma idade mínima de 35 anos e máxima de 45 anos, devendo ter mais de 1.000 horas de voo em aviões a jacto, possuírem uma folha de serviços excelente e formação académica (de preferência de uma academia militar e ainda melhor se fosse da Academia da Força Aérea Yuri Gagarin, de Moscovo).

Em finais de Setembro, trinta candidatos levam a cabo mais testes médicos e psicológicos, e em finais de Outubro são seleccionados quatro homens que são enviados para o Centro de treino de Cosmonautas Yuri Gagarin onde chegam a 10 de Novembro. Após duas semanas de testes os candidatos regressam à RDA e no dia 25 de Novembro são anunciados os dois homens seleccionados: Sigmund Jähn e Eberhard Kollner. Os dois regressam à Cidade das Estrelas no dia 6 de Dezembro, iniciando o treino básico no dia 7. Em Maio de 1977 Sigmund Jähn inicia os treinos em conjunto com o cosmonauta Valeri Fyodorovich Bykovsky, enquanto que Eberhard Kollner integra a tripulação suplente com o cosmonauta soviético Viktor Vasilievich Gorbatko.

Bykovsky e Jähn são lançados a bordo da Soyuz-31 ‘Soyuz 7K-T n.º 47’ (11010 1978-081A) às 1451UTC do dia 26 de Agosto de 1978 a partir do Complexo 17P32-5 (LC1 PU-5) do Cosmódromo NIIP-5 Baikonur. A Soyuz-31 é colocada numa órbita inicial com um apogeu de 243 km de altitude, um perigeu de 193 km de altitude, uma inclinação de 51,62 º e um período orbital de 88,8 minutos. A acoplagem com a Salyut-6 dá-se às 1637UTC do dia 27 de Agosto quando a estação espacial se encontrava numa órbita com um apogeu de 355 km de altitude e um perigeu de 337 km de altitude.

Durante a permanência na Salyut-6 Bykovsky e Jähn levaram a cabo várias experiências científicas e pesquisas preparadas por cientistas da RDA, além de levarem a cabo várias sessões de fotografia do território soviético e da Alemanha de Leste.

Bykovsky e Jähn regressaram à Terra a bordo da cápsula espacial Soyuz-29 que havia sido utilizada por Vladimir Kovalyonok e Alexander Ivanchenkov, deixando a Soyuz-30 acoplada à Salyut-6. A separação da Soyuz-29 deu-se às 0823UTC do dia 3 de Setembro e a aterragem teve lugar às 1140UTC a 180 km Sudeste de Dzhezhkazgan, numa zona situada a 46º latitude Norte e 69º longitude Este. A terceira missão Intercosmos teve uma duração de 7d 20h 49m 04s.

Sigmund Jähn foi promovido a Tenente-Coronel e foi agraciado com o título de Herói da União Soviética e com a Ordem de Lenine, tendo também recebido o título de Herói da República Democrática Alemã, Piloto-Cosmonauta da República Democrática Alemã, Ordem de Marx, Medalha de Ouro de F. Gekkert, Medalha da Academia Científica de Leibnitz, Medalha de Ouro Arthur Becker da Juventude Alemã Livre e Medalha da Liberdade de Berlim.

Kovalyonok e Ivanchenkov regressam à Terra no dia 2 de Novembro de 1978 a bordo da Soyuz-31, terminando assim a segunda fase de ocupação da Salyut-6. O ano de 1979 prometia ser um ano rotineiro com o objectivo de prolongar ainda mais o recorde de permanência em órbita e a realização de várias missões com cosmonautas estrangeiros.

Assim, a 25 de Fevereiro de 1979 é lançada a Soyuz-32 tripulada pelos cosmonautas soviéticos Vladimir Afanasyevich Lyakhov e Valeri Viktorovich Ryumin que entram na Salyut-6 no dia 26 de Fevereiro.

A segunda fase das missões Intercosmos começou com o voo conjunto com a Bulgária. A tripulação principal da missão Soyuz-33 era composta pelo cosmonauta soviético Nikolai Nikolaievich Rukavishnikov e pelo cosmonauta búlgaro Georgi Ivanov Ivanov, enquanto que a tripulação suplente era composta pelos cosmonautas Yuri Viktorovich Romanenko e Alexander Panayotov Alexandrov.

O lançamento da Soyuz-33 ‘Soyuz 7K-T n.º 48’ (11324 1979-029A) tem lugar às 1434UTC do dia 10 de Abril de 1979 a partir do Complexo 17P32-6 (LC31 PU-6) do Cosmódromo NIIP-5 Baikonur por um foguetão 11A511U Soyuz-U. A cápsula é colocada numa órbita com um apogeu de 261 km de altitude, um perigeu de 194 km de altitude, uma inclinação orbital de 51,61º e um período orbital de 89,0 minutos. Após a entrada em órbita terrestre o voo decorre sem qualquer problemas enquanto que o veículo vai alterando a sua órbita e reduzindo gradualmente a distância que o separa da estação Salyut-6.

A aproximação à estação espacial é feita durante a 17ª órbita em torno da Terra. O comando final para a aproximação à estação é enviado desde o Centro de Controlo às 1854UTC do dia 11 de Abril, estando a Soyuz-33 a pouco mais de 3,0 km do porto de acoplagem posterior da Salyut. Nesta altura a tripulação preparava-se para accionar o motor principal da cápsula de forma a abrandar o ritmo de aproximação. De repente tanto os dois cosmonautas como os controladores na Terra notaram desvios nos parâmetros normais de operação da unidade de propulsão do veículo. O motor da Soyuz deveria operar por seis segundos, mas em vez disso esteve accionado de uma forma errática durante três segundos sendo desactivado de seguida. Este facto foi acompanhado por vibrações estranhas sentidas pelos dois cosmonautas no Módulo de Descida. Os dois homens solicitaram ao controlo terrestre que os permitisse continuar com a aproximação à Salyut-6, mas as estritas regras de voo foram aplicadas à situação e a aproximação e posterior acoplagem foram canceladas. A tripulação teria de regressar à Terra imediatamente.

A Soyuz-33 deveria substituir a Soyuz-32 que servira para transportar os cosmonautas Vladimir Lyakhov e Valeri Ryumin, estando em órbita à quase dois meses. Com o problema registado no motor principal da Soyuz-33 não seria possível efectuar a troca de veículos.

A bordo da Soyuz-33 não havia qualquer meio de se verificar a origem do problema no motor principal devido à falta de qualquer tipo de instrumentação para o efeito. Assim, os dois cosmonautas teriam de utilizar o motor de reserva para conseguirem regressar à Terra, e era imperativo que este funcionasse devidamente. O desejo da tripulação de utilizar este motor de reserva juntamente com uma orientação manual para conseguir acoplar à Salyut-6 foi prontamente negado pelo Centro de Controlo.

No interior da Salyut-6, Lyakhov e Ryumin, acompanhavam com interesse a aproximação final da Soyuz-33 pois estavam contentes por receber a visita de outra tripulação durante a sua longa permanência em órbita. Os dois homens observavam a aproximação da cápsula e aguardavam o accionar do motor da Soyuz-33 quando de repente o viram a entrar em ignição, funcionar por uns breves segundos e a desactivar-se, acompanhado por uma mudança de cor nas chamas que saíam do motor. A Soyuz-33 passou ao lado da Salyut-6 e os dois homens aperceberam-se que a cápsula se encontrava em problemas. Lyakhov e Ryumin pensaram em formas de socorrer a Soyuz-33 utilizando a Soyuz-32 caso a cápsula ficasse presa em órbita terrestre. Porém, rapidamente começaram a pensar no próprio motor da sua cápsula que poderia sofrer do mesmo problema, além do facto de a cápsula se aproximar do final do período de permanência aconselhável em órbita.

Com os problemas na Soyuz-33 foi cancelado o lançamento previsto da próxima missão Intercosmos com a Hungria e foi lançada a cápsula Soyuz-341 sem qualquer tripulação a bordo para substituir a Soyuz-322 que regressou à Terra sem tripulação e de modo automático.

Entretanto, a bordo da Soyuz-33, os dois homens estavam desapontados por não puderem acoplar à Salyut-6 e tinham agora de se preparar para um regresso de emergência à Terra. Esta situação era particularmente frustrante para Nikolai Rukavishnikov que já fizera parte da tripulação da Soyuz-10 que não conseguira entrar a bordo da Salyut-1 em 1971 e que em 1973 testemunhara a perda de uma estação Salyut. Como um especialista das estações Salyut, Rukavishnikov ajudara a desenhar e construir estas estações, sendo também o primeiro Comandante civil de uma missão espacial tripulada soviética.

As baterias das Soyuz só permitiam 60 horas de voo independente e o regresso da Soyuz-33 estava previsto para ter lugar no dia 12 de Abril, o aniversário do voo de Gagarin. A cápsula deveria regressar à Terra na primeira oportunidade, mas em resultado o veículo teria de executar um regresso balístico em vez de um regresso no qual se utiliza a pressão da atmosfera para ajudar a diminuir as forças G sobre os tripulantes. Os dois homens teriam de executar uma ignição manual do motor suplente da Soyuz-33 durante 188 s, pois nesta altura o motor principal já não era considerado fiável. O motor secundário foi então accionado por Rukavishnikov, mas a ignição durou mais 25 s do que estava previsto, obrigando o cosmonauta a desactivar manualmente motor. Este tempo a mais na ignição significava que a cápsula entraria na atmosfera terrestre num ângulo mais inclinado do que era desejável. Em resultado os dois cosmonautas teriam de suportar uma aceleração mais forte do que era previsto.

Usualmente as Soyuz executam o regresso à Terra em duas fases. A primeira fase consiste em, após a separação da Salyut, baixar a sua órbita antes de iniciar a ignição que colocara a cápsula numa trajectória de descida iniciando assim a segunda fase que é a sequência de reentrada atmosférica. Na Soyuz-33 procedeu-se numa só fase de forma a evitar duas ignições do motor suplente e em resultado tece de se optar por um ângulo de reentrada mais inclinado do que era usualmente utilizado que foi ainda mais inclinado como excesso na queima do motor durante o regresso.

Tanto o controlo da missão como os cosmonautas tinham ainda de se preocupar com outros factores, nomeadamente a quantidade de combustível disponível a bordo após a tentativa abortada de acoplagem, e o local onde se daria a aterragem.

Durante 8m 50s da reentrada atmosférica os dois cosmonautas tiveram de suportar cargas de 8G a 10G, muito acima dos normais 3G ou 4G de um usual regresso à Terra. A respiração tornou-se difícil e a temperatura no exterior da cápsula atingiu os 3.000ºC. O regresso à Terra foi executado à noite e os pára-quedas da cápsula só foram avistados após o veículo aterrar nas estepes do Cazaquistão.

Posteriores análises da telemetria enviada pela cápsula indicaram que a pressão no motor principal da Soyuz-33 era mais baixa do que era normal durante as fases finais da aproximação à Salyut-6. No entanto, o motor principal não foi recuperado pois ao permanecer no módulo de instrumentação da Soyuz-33, reentrou na atmosfera e destruiu-se.

Só alguns anos mais tarde se soube a verdadeira dimensão deste quase desastre no espaço, onde dois cosmonautas poderiam ter permanecido presos em órbita. Na altura dos acontecimentos o controlo terrestre havia já calculado que a Soyuz-33 decairia naturalmente sobre influência da gravidade terrestre ao fim de 10 adias. Porém, a bordo da cápsula, só existia quantidade suficiente de oxigénio para menos de cinco dias e as baterias a bordo não funcionariam por mais de um dia.
Outros detalhes do acidente revelaram que o motor principal foi accionado uma segunda vez durante a aproximação à Salyut-6, sendo esta ignição testemunhada pelos cosmonautas abordo da estação quando referiram ter visto um brilho na parte posterior da Soyuz-33. Na altura este facto alarmou os controladores na Terra, pois uma chama lateral não era normal neste tipo de ignições. Os controladores chegaram a recear que este facto pudesse ter danificado seriamente o motor suplente que se encontrava ao lado do motor principal. Já a quando do regresso à Terra e na altura da ignição do motor suplente, verificou-se que este também não funcionou correctamente tendo permanecido em ignição por mais 25 s.

Quando a cápsula emergiu da reentrada o controlo da missão perguntava incessantemente qual era a sua condição até que Rukavishnikov o mandou calar pois encontravam-se tão pressionados contra os seus assentos que mal podiam falar. Finalmente, o pára-quedas abriu-se e a cápsula aterrou suavemente nas estepes do Cazaquistão. Devido ao facto da queima do motor suplente ter durado mais do que o previsto, a Soyuz-33 falhou o seu local de aterragem e pousou a 320 km de Dzhezhkazgan num ponto com as coordenadas 46º latitude Norte e 69º longitude Este. A missão Soyuz-33 teve uma duração de 1d 23h 2m 24s.

Apesar da missão ter sido um fracasso, Georgi Ivanov foi recebido como um herói tendo-lhe sido atribuído o título de Herói da União Soviética e a Ordem de Lenine, além do título de Herói da República Popular da Bulgária, a Medalha da Estrela de Ouro, a Ordem de Georgi Dimitrov, o título de Piloto-Cosmonauta da República da Bulgária, a Medalha Honorária de Sofia – 1ª Classe e a Medalha Honorária de Botevgrad.

Com os voos Intercosmos suspensos, Lyakhov e Ryumin passaram a sua permanência na Salyut-6 sem qualquer visita e acabaram por regressar à Terra no dia 19 de Agosto de 1979 (1229UTC) a bordo da cápsula Soyuz-34.

A quarta ocupação da Salyut-6 é iniciada com o lançamento do cargueiro Progress-8 ‘Progress 7K-TG n.º 109’ (11784 1980-033A) no dia 27 de Março de 1980. O Progress-8 acopla à Salyut-6 no dia 29 de Março transportando mantimentos e experiências para a tripulação da Soyuz-35, composta pelos cosmonautas Leonid Ivanovich Popov e Valeri Viktorovich Ryumin, lançada às 1338UTC do dia 9 de Abril. A Soyuz-35 acopla com a Salyut-6 às 1516UTC do dia 10 de Abril.

Devido ao acidente com a missão búlgara os voos tripulados Intercosmos foram suspensos por alguns meses. A seguinte missão Intercosmos foi atribuída à Hungria e os seus cosmonautas iniciaram o treino geral em Março de 1978. Após um período de nove meses de treino intensivo, Bertalan Farkas juntou-se ao cosmonauta soviético Valery Nikolaievich Kubasov em Dezembro de 1978.

A missão Soyuz-36 foi lançada às 1820UTC do dia 26 de Maio a partir do Complexo 17P36-2 (LC1 PU-5) do Cosmódromo NIIP-5 Baikonur por um foguetão 11A511U Soyuz-U, sendo colocada numa órbita inicial com um apogeu de 265 km de altitude, um perigeu de 191 km de altitude, uma inclinação orbital de 51,60º e um período orbital de 89,0 minutos. A tripulação suplente é composta pelos cosmonautas Vladimir Alexandrovich Dzhanibekov e Bela Magyari.

A acoplagem com a Salyut-6 tem lugar às 1956UTC do dia 27 de Maio com a estação numa órbita com um apogeu de 355 km de altitude e um perigeu de 334 km de altitude. Os dois homens iniciam uma permanência de cinco dias na estação durante os quais levam a cabo experiências no âmbito do programa Intercosmos que se dedicam principalmente ao estudo de materiais em ambiente de microgravidade.

O regresso à Terra tem lugar no dia 3 de Junho a bordo da cápsula Soyuz-35 que se separa da Salyut-6 às 1147UTC e aterra às 1507UTC a 140 km a Sudeste de Dzhezhkazgan. A missão Soyuz-36 teve uma duração de 7d 20h 45m 44s.

Em Maio de 1979 o Vietname junta-se aos países Intercosmos e na altura é divulgado que dois homens, Bui Thanh Liem e Pham Tuan, já haviam iniciado em Abril o treino básico de cosmonauta. O processo de selecção dos candidatos vietnamitas é pouco conhecido e dos restantes dois finalistas somente é conhecido o nome de um deles.

Em Setembro de 1979, Pham Tuan junta-se ao cosmonauta soviético Viktor Vasilievich Gorbatko e ambos fazem parte da tripulação principal da missão Soyuz-37. Pham Tuan foi apresentado como o único piloto que foi capaz de abater um bombardeiro americano B-52 em combate, tendo o episódio ocorrido na noite 27 de Dezembro de 1972. O governo dos Estados Unidos sempre negou esta alegação dizendo que os 17 bombardeiros B-52 abatidos durante a Guerra do Vietname o foram devido à utilização de mísseis terra-ar fornecidos pela União Soviética durante o conflito.

A missão Soyuz-37 ‘Soyuz 7K-T n.º 53’ (11905 1980-064A) foi lançada às 1833:03UTC do dia 18 de Setembro de 1980 a partir do Complexo 17P32-5 (LC1 PU-5) do Cosmódromo NIIP-5 Baikonur por um foguetão 11A511U Soyuz-U, entrando numa órbita terrestre com um apogeu de 273 km de altitude, um perigeu de 190 km de altitude, uma inclinação 51,5º e um período orbital de 89,1 minutos. A viagem até à Salyut-6 decorre sem qualquer problema e a acoplagem dá-se às 2002UTC do dia 24, estando a estação numa órbita com um apogeu de 351 km de altitude e um perigeu de 336 km de altitude.

Durante a permanência na Salyut-6, Tuam leva a cabo experiências com amostras de minerais que são derretidas num formo a bordo de forma a estudar o seu comportamento em microgravidade. São também realizadas experiências no âmbito da Biologia e são levadas a cabo sessões de fotografia do território vietnamita de forma a melhorar os mapas existentes do país. Gorbatko e Tuam regressam à Terra a bordo da Soyuz-36 que se separa da Salyut-6 às 1155UTC do dia 31 de Julho, aterrando às 1515:02UTC a 180 km a Sudeste de Dzhezhkazgan. A missão de Tuan teve uma duração de 7d 20h 42m 00s.

Tal como já acontecera em outros países, um grande número de pilotos cubanos pertencentes à Força Aérea de Cuba foram escolhidos para levarem a cabo testes de selecção para potenciais candidatos a cosmonautas. Foram escolhidos nove finalistas, dos quais quatro foram enviados para a Cidade das Estrelas em Janeiro de 1978. Até ao final de Fevereiro foram submetidos a numerosos testes e exames, e a 1 de Março foram anunciados os nomes dos dois seleccionados para levaram a cabo o treino básico de cosmonauta: José Lopez-Falcon e Arnaldo Tamayo-Mendez.

Lopez-Falcon e Tamayo-Mendez iniciaram o treino no Centro de Treino de Cosmonautas Yuri Gagarin no dia 22 de Março. No dia 1 de Setembro de 1979 Tamayo-Mendez foi seleccionado para se juntar ao cosmonauta soviético Yuri Viktorovich Romanenko e os dois foram posteriormente nomeados como a tripulação principal da missão espacial conjunta entre a União Soviética e Cuba.

O lançamento da Soyuz-38 ‘Soyuz 7K-T n.º 54’ (11977 1980-075A) tem lugar às 1911:04UTC do dia 18 de Setembro de 1980 a partir do Complexo 17P32-5 (LC1 PU-5) do Cosmódromo NIIP-5 Baikonur por um foguetão 11A511U Soyuz-U. A cápsula entra numa órbita com um apogeu de 256 km de altitude, um apogeu de 195 km de altitude, uma inclinação orbital de 51,61º e um período orbital de 89,0 minutos. A acoplagem com a Salyut-6 tem lugar às 2049UTC do dia 19 de Setembro após um voo sem qualquer problema e quando a estação se encontrava numa órbita com um apogeu de 350 km de altitude e um perigeu de 338 km de altitude.

A permanência a bordo da estação espacial e dedicada ao cumprimento do plano de actividades conjunto entre os cosmonautas soviéticos e o cosmonauta cubano que leva a cabo experiências científicas destinadas a estudar as causas do enjoo espacial, além das habituais sessões de fotografia do território do seu país.

Romanenko e Tamayo-Mendez regressam à Terra a bordo da Soyuz-38 que se separa da Salyut-6 às 1235UTC do dia 26 de Setembro e aterram a 175 km a Sudeste de Dzhezhkazgan às 1554:28UTC. A missão de Tamayo-Mendez teve uma duração de 7d 20h 43m 24s.

Após o seu regresso à Terra Arnaldo Tamayo-Mendez recebeu o título de Herói da União Soviética e a Ordem de Lenine, além do título de Herói da República de Cuba, a Medalha da Estrela Dourada e a Ordem da Playa Giron.

Terminada a sétima missão tripulada Intercosmos, aproximava-se do fim a quarta ocupação da estação Salyut-6. Popov e Ryumin regressaram à Terra no dia 11 de Outubro, aterrando às 0949:56UTC a 180 km a Sudeste de Dzhezhkazgan.

A seguinte tripulação a visitar a estação Salyut-6 é a Soyuz T-3 ‘Soyuz 7K-ST n.º 8L’ (12077 1980-094A) tripulada pelos cosmonautas Leonid Denisovich Kizim, Oleg Grigorievich Makarov e Gennady Mikhailovich Strekalov, que é lançada desde o Complexo 17P32-5 (LC1 PU-5) do Cosmódromo NIIP-5 Baikonur, às 1418:28UTC do dia 27 de Novembro de 1980. Esta missão, que tem como objectivo testar mais uma vez1 o veículo Soyuz 7K-ST, transporta a primeira tripulação com três cosmonautas desde Junho de 1971, altura em que três cosmonautas soviéticos morreram no regresso à Terra quando uma súbita despressurização da cápsula em que viajam, a Soyuz-11, permitiu a saída da atmosfera interior provocando a morte por asfixia devido ao facto de não usarem fatos espaciais.

A Soyuz T-3 acoplou com a Salyut-6 às 1554UTC do dia 28 de Novembro e os três homens permaneceram na estação até ao dia 10 de Dezembro altura em que ingressaram na sua cápsula e se separaram da estação (0610UTC), regressando à Terra e aterrando (0926:10UTC) a 130 km a Este de Dzhezhkazgan.

No dia 12 de Março de 1981, às 1900:11UTC, é lançada desde o Complexo 17P32-5 (LC1 PU-5) a cápsula espacial Soyuz T-4 ‘Soyuz 7K-ST n.º 10L’ (12334 1981-023A) por um foguetão 11A511U Soyuz-U. A bordo segue a quinta tripulação que ocupou a estação espacial Salyut-6 e que era composta pelos cosmonautas Vladimir Vasilievich Kovalyonok e Viktor Petrovich Savinykh. A Soyuz T-4 acopla com a Salyut-6 às 1554UTC do dia 2033:40 do dia 13 de Março.

O lançamento da oitava missão espacial tripulada no âmbito do programa Intercosmos tem lugar às 1458:55UTC do dia 22 de Março a partir do Complexo 17P32-6 (LC31 PU-6) do Cosmódromo NIIP-5 Baikonur, sendo utilizado um foguetão 11A511U Soyuz-U. A bordo da Soyuz-39 ‘Soyuz 7K-T n.º 55’ (12366 1981-029A) seguem os cosmonautas Vladimir Alexandrovich Dzhanibekov e Zhugderdemidyin Gurragcha (Mongólia), enquanto que a tripulação suplente era composta pelos cosmonautas Vkadimir Afanasyevich Lyakhov e Maidarzhavyn Ganzorig (Mongólia).

De todos os processos de selecção dos candidatos a cosmonauta para os voos tripulados Intercosmos levados a cabo nos vários países que participaram nestes voo, o processo mongol constitui ainda hoje um mistério sabendo-se somente o nome dos dois finalistas seleccionados para o treino básico e que posteriormente iriam fazer parte das duas tripulações que treinariam para o voo. Sabe-se somente que Gurragcha e Ganzorig iniciaram o treino básico de cosmonauta em Abril de 1978.

Após o lançamento a Soyuz-39 foi colocada numa órbita com um apogeu de 249 km de altitude, um perigeu de 198 km de altitude, uma inclinação orbital de 51,68º e um período orbital de 88,9 minutos. A acoplagem com a Salyut-6 teve lugar às 1628UTC do dia 23 de Março quando a estação se encontrava numa órbita com um apogeu de 350 km de altitude e um perigeu de 336 km de altitude.

As actividades levadas a cabo durante a permanência em órbita dedicam-se principalmente às ciências da Terra. Dzhanibekov e Gurragcha regressam à Terra a bordo da Soyuz-39 que se separa da Salyut-6 às 0957UTC do dia 30 de Março, aterrando às 1140:58UTC a 170 km a Sudeste de Dzhezhkazgan.

Após o seu regresso à Terra, Gurragcha recebeu o título de Herói da União Soviética e a Ordem de Lenine, além do título de Herói da república Popular da Mongólia, da Ordem de Suhbaatar e da Medalha da Estrela Dourada.

Devido a um certo mau relacionamento político entre a União Soviética e a Roménia em finais dos anos 70 e princípios dos anos 80, foi de todo o interesse aos dirigentes soviéticos atrasarem o voo conjunto com o cosmonauta romeno. De certa forma, a maneira como os voos foram agendados veio a colocar a missão Intercosmos romena no final da série, permitindo assim a Kremlin analisar a situação política com o país de Ceausesco.

Os dois finalistas do processo de selecção dos cosmonautas romenos, Dumitru Dorin Prunariu e Dumitru Dediu, iniciaram o treino básico no Centro de Treino de Cosmonauta Yuri Gagarin, em Março de 1978. Em Janeiro de 1981 Dumitru Prunariu formou uma tripulação juntamente com o cosmonauta soviético Leonid Ivanovich Popov em preparação para o voo conjunto. A tripulação principal era composta pelos cosmonautas Valeri Fyodorovich Bykovsky e Dumitru Dediu, no entanto a poucas semanas da realização da missão Bykovsky foi desqualificado do treino, e a tripulação suplente foi promovida a tripulação principal. O cosmonauta Yuri Viktorovich Romanenko foi seleccionado para novo Comandante suplente e Dumitru Dediu perdeu assim a sua oportunidade de voar no espaço.

Leonid Popov e Dumitru Prunariu foram lançados a bordo da Soyuz-40 ‘Soyuz 7K-T n.º 56’ (12454 1981-042A) às 1816:38UTC do dia 14 de Maio de 1981, a partir do Complexo 17P32-5 (LC1 PU-5) do Cosmódromo NIIP-5 Baikonur por um foguetão 11A511U Soyuz-U. A Soyuz-40 entrou numa órbita terrestre com um apogeu de 270 km de altitude, um perigeu de 195 km de altitude, uma inclinação orbital de 56,1º e um período orbital de 89,1 minutos.

A acoplagem coma Salyut-6 tem lugar às 1950UTC do dia 15 de Maio, com a estação numa órbita com um apogeu de 345 km de altitude e um perigeu de 331 km de altitude. Durante a permanência a bordo da Salyut-6 são levadas a cabo diversas experiências científicas, debruçando-se espacialmente sobre o estudo do campo magnético terrestre.

Popov e Prunariu regressam à Terra no dia 22 de Maio, separando-se da Salyut-6 às 1137UTC e aterrando às 1458:30UTC, a 125 km a Este de Dzhezhkazgan. Dumitru Prunariu foi agraciado com o título de Herói da União Soviética e com a Ordem de Lenine, além do título de Herói da República Socialista da Roménia.

Imagens: Arquivo