No dia 16 de Agosto de 2924, a Space Exploration Technologies Corp. (SpaceX) realizou mais uma missão partilhada colocando em órbita mais de uma centena de satélites.
O lançamento da missão Transporter-11 teve lugar às 1856:00,118UTC a partir do Complexo de Lançamento SLC-4E da Base das Forças Espaciais de Vandenberg, Califórnia, e foi realizado pelo foguetão Falcon 9-365 (B1075.12) cujo primeiro estágio foi recuperado na zona de aterragem LZ-4, em Vandenberg.
Esta é a décima primeira missão partilhada transportando uma grande variedade de satélites que permitem o lançamento de pequenas cargas a preços mais baixos do que são usualmente praticados no mercado internacional do lançamento de satélites, acomodando dezenas de pequenos satélites que podem ser colocados em diferentes órbitas. As cargas lançadas incluem CubeSats, microsats, picosats, e veículos de transferência orbital que transportam cargas que serão separadas mais tarde.
As cargas desta missão são separadas em duas órbitas, com o primeiro conjunto a ficar colocado numa órbita com uma altitude média de cerca de 510km e o segundo conjunto a ficar colocado numa órbita com uma altitude média de cerca de 590 km.
A carga da missão Transporter-11
Por diversas razões, o manifesto de carga a bordo destas missões não é divulgado, tomando-se conhecimento das cargas apenas quando a SpaceX divulga o denominado press-kit ‘on-line’ da missão. Mesmo assim, muitas vezes estes surgem com erros ou omissões.
Na missão Transporter-11 podemos dividir as cargas dependendo das empresas que foram contratadas para as transportar nos seus veículos de transporte orbital ou que contrataram com a SpaceX para um lugar neste lançamento. Nestas empresas incluem-se a Exolaunch GmbH, a ISISpace, a D-Orbit, a SEOPS Space, e a Maverick Space Systems, além de outras empresas com contratos directos com a SpaceX.
Na missão Transporter-11 os seguintes satélites são transportados por contrato com a Exolaunch: Capella-15 (Capella Acadia 5), Arctic Weather Satellite, BRO-14 e BRO-15, CAKRA-1, Connecta IoT-1 a Connecta IoT-4, CUAVA-2, Deimos, EagleEye, ERNST, GaindéSat-1A, Hawk-10A a Hawk-10C, HYSPO-2, Lemu Nge, LEMUR-2 (191) e LEMUR-2 (192), Hubble-3 (Lemur-2 (190), Lemur-2 TomatoKechup ?), Nightjar, ÑuSat-48 a ÑuSat-50, ORESAT-0.5, Φ-sat 2 (PhiSat 2), Sateliot-1 a Sateliot-4, TORO, UM5-EOSAT, UM5SAT-RIBAT, ICEYE-X33, ICEYE-X39, ICEYE-X40 e ICEYE-X43.
Os seguintes satélites são transportados por contrato com a ISISpace: GNA-3, Hyperfield-1, Kanyini, Pico 1B-1 a Pico 1B-9, QUBE, e Flock-4be 1 a Flock-4be 36.
Em contrato com a D-Orbit, foram lançados os satélites: ION SCV-012 Magnificent Monica, LEMUR-2 (193) a LEMUR-2 (196), Sedna-1, e as cargas não separáveis Tetraplex (TelePIX) e RocketStar.
Os satélites transportados por contrato com a SEOPS Space, foram: Iperdrone.0 (David, Tyvak 0415), PTD-4 (LISA-T), PTD-R (PTD-5), TROOP-F2, a carga não separável Harmony Flight, e o WREN-1.
A Maverick Space Systems lançou os satélites ROCK LOPEN e SATORO-T2.
A bordo seguiram ainda os satélites GNOMES-5, LUR-1, QPS-SAR “AMATERU-IV”, Tanager-1, Tomorrow-S1 e Tomorrow-S2, Tyche, Umbra-SAR 9 e Umbra-SAR 10, e o YAM-7 (VanZyl-1).
O foguetão Falcon-9
Baptizado em nome da nave Millenium Falcon da saga cinematográfica “Guerra das Estrelas”, o foguetão Falcon-9 v1.1 foi um lançador a dois estágios projectado e fabricado pela SpaceX para o transporte seguro e fiável de satélites e do veículo Dragon para a órbita terrestre. Sendo o primeiro foguetão completamente desenvolvido no Século XXI, este lançador foi projectado desde o início para ter a máxima fiabilidade. A sua simples configuração de dois estágios minimiza o número de eventos de separação (staging) e com nove motores no primeiro estágio, pode completar a sua missão em segurança mesmo na possibilidade de perda de um motor.
O Falcon-9 fez história em 2012 quando colocou a cápsula Dragon na órbita correcta para uma manobra de encontro com a estação espacial internacional, fazendo da SpaceX a primeira companhia comercial a visitar a ISS. Desde então, a SpaceX realizou múltiplas missões para a ISS transportando e recolhendo carga para a NASA. O Falcon-9, bem como a cápsula Dragon, foram desenhados na base do desenvolvimento de um sistema de transporte de astronautas para o espaço.
O foguetão Falcon-9 Upgrade, ou Falcon-9 FT, (a seguir designado simplesmente como ‘Falcon-9’) representa a mais recente evolução deste lançador. De forma geral o Falcon-9 tem 68,4 metros de comprimento, 3,7 metros de diâmetro e uma massa de 541.300 kg. O veículo é capaz de colocar uma carga de 13.150 kg numa órbita terrestre baixa ou 4.850 kg numa órbita de transferência geossíncrona.
O primeiro estágio do Falcon-9 está equipado com nove motores Merlin (Merlin-1D) e tanque de liga de alumínio e lítio que contêm oxigénio líquido e querosene RP-1. Após a ignição, um sistema de segurança fixa o veículo na plataforma de lançamento e garante que todos os motores são verificados como estando na força máxima antes de libertar o foguetão para o seu voo. Então, com uma força superior a cinco aviões Boeing 747 em potência máxima, os motores Merlin lançam o foguetão para o espaço. Ao contrário dos aviões, a força de um foguetão vai aumentando com a altitude – o Falcon-9 gera 6.806 kN ao nível do mar mas atinge 7.426 kN no vácuo espacial. Os motores do primeiro estágio vão sendo aumentados em potência perto do final da queima do estágio para assim limitar a aceleração do veículo à medida que a massa do lançador diminui com a queima do combustível. O tempo total de queima do primeiro estágio é de 162 segundos.
Com os seus nove motores agrupados juntos na configuração ‘octaweb’, o Falcon-9 pode aguentar a falha de até dois motores durante o lançamento e mesmo assim conseguir atingir a órbita terrestre com sucesso. O Falcon-9 é o único lançador na sua classe com esta característica chave.
O motor Merlin foi desenvolvido internamente pela SpaceX, mas vai encontrar as suas raízes aos motores das missões Apollo, nomeadamente o sistema de injecção baseado no motor do módulo lunar. O propelente é alimentado por uma única conduta, com uma turbo-bomba de dupla pá que opera num ciclo de gerador a gás. A turbo-bomba também fornece o querosene a alta pressão para os actuadores hidráulicos, que depois recicla para a entrada a baixa pressão. Isto elimina a necessidade de um sistema hidráulico separado e significa que não é possível ocorrer uma falha no controlo de vector de força por falta de fluido hidráulico. Uma terceira utilização da turbo-bomba é o fornecimento de controlo de rotação ao actuar no escape da turbina de exaustão (no segundo estágio). Combinando-se estas características num só dispositivo aumenta-se assim de forma significativa o nível de fiabilidade do sistema.
O motor é capaz de desenvolver uma força de 654 kN ao nível do mar, 716 kN no vácuo, com um impulso específico de 282 segundos (nível do mar) e 311 segundos (vácuo).
A secção interestágio é uma estrutura compósita que liga o primeiro e o segundo estágio e alberga os sistemas de libertação e separação. O Falcon-9 utiliza um sistema de separação totalmente pneumático para uma separação de baixo impacto e altamente fiável que pode ser testado no solo, ao contrário dos sistemas pirotécnicos utilizados na maior parte dos lançadores.
O segundo estágio é propulsionado por um único motor Merlin de vácuo e coloca a carga a transportar na órbita desejada. O motor do segundo estágio entra em ignição poucos segundos após a separação entre o segundo e o primeiro estágio, e pode ser reiniciado várias vezes para colocar múltiplas cargas em diferentes órbitas. Para máxima fiabilidade, o segundo estágio está equipado com sistemas de ignição redundantes. Tal como o primeiro estágio, o segundo estágio é feito a partir de uma liga de alumínio e lítio.
O motor Merlin de vácuo (Merlin-1D de vácuo) desenvolve uma força de 934 kN e o seu tempo de queima é de 397 segundos.
A carenagem compósita é utilizada para proteger a carga durante a passagem do Falcon-9 pelas camadas mais densas da atmosfera. Quando a missão do Falcon-9 é o lançamento do veículo de carga Dragon, a carenagem não é utilizada, pois a cápsula possui o seu próprio sistema de protecção.
A carenagem tem 13,1 metros de comprimento e 5,2 metros de diâmetro. Fabricada em fibra de carbono, separa-se em duas metades utilizando um sistema de separação de actuadores pneumáticos semelhantes aos que são utilizados para a separação entre o primeiro e o segundo estágio.
A sequência de lançamento para o Falcon-9 é um processo de precisão ditada pela janela de lançamento tendo em conta a posição orbital a ser ocupada pela carga a bordo. Se a janela de lançamento é perdida, a missão é então adiada para a próxima janela de lançamento disponível.
Cerca de quatro horas antes do lançamento, inicia-se o processo de abastecimento – primeiro oxigénio líquido seguindo-se o querosene altamente refinado (RP-1). O vapor que se observa a sair do lançador durante a contagem decrescente é na realidade oxigénio a ser liberto dos tanques, sendo esta a razão pela qual o abastecimento de oxigénio líquido se mantém até quase ao final da contagem decrescente.
Lançamento | Veículo | 1.º estágio | Local Lançamento | Data Hora (UTC) | Carga | Recuperação |
2024-132 | 356 | B1077.14 | CCSFS, SLC-40 | 28/Jul/24 05:09:00 | Starlink G10-4 | ASOG |
2024-133 | 357 | B1071.17 | VSFB, SLC-4E | 28/Jul/24 09:22:00 | Starlink G9-4 | OCISLY |
2024-136 | 358 | B1078.12 | CEK, LC-39A | 02/Ago/24 05:01:00 | Starlink G10-6 | ASOG |
2024-138 | 359 | B1082.6 | VSFB, SLC-4E | 02/Ago/24 07:24:00 | Starlink G11-1 | OCISLY |
2024-139 | 360 | B1080.10 | CCSFS, SLC-40 | 04/Ago/24 13:02:53 | Cygnus NG-21 | LZ-1 |
2024-141 | 361 | B1067.21 | CCSFS, SLC-40 | 10/Ago/24 12:50:00 | Starlink G8-3 | JRTI |
2024-143 | 362 | B1061.22 | VSFB, SLC-4E | 12/Ago/24 02:02 | ASBM-1 ASBM-2 | OCISLY |
2024-144 | 363 | B1073.17 | CEK, LC-39A | 12/Ago/24 10:37:00 | Starlink G10-7 | ASOG |
2024-146 | 364 | B1076.16 | CCSFS, SLC-40 | 15/Ago/24 13:00 | WorldView Legion 3 WorldView Legion 4 | LZ-1 |
2024-149 | 365 | B1075.12 | VSFB, SLC-4E | 16/Ago/24 18:56:00,118 | Transporter-11 | LZ-4 |
Imagens: SpaceX