A Rússia colocou em órbita um novo satélite militar a 31 de Outubro de 2024 com o lançamento do sexto satélite Bars-M.
O lançamento teve lugar às 0751:31UTC e foi realizado pelo foguetão 14A14-1A Soyuz-2.1a (76072531) a partir da Plataforma de Lançamento PU-4 do Complexo de Lançamento LC43 do Cosmódromo GIK-1 Plesetsk, Arkhangelsk.
Todas as fases do lançamento decorreram como previsto e o satélite ficou colocado numa órbita com um perigeu a 338 km, apogeu a 498 km, inclinação orbital de 97,56º e período orbital de 92,93 minutos. O satélite recebeu a designação militar Cosmos 2579.
O satélite atingia a sua órbita operacional a 8 de Novembro, ficando colocado numa órbita com um perigeu a 497 km, apogeu a 507 km, inclinação orbital de 97,56º e período orbital de 94,66 minutos.
Este é o último dos quatro satélites Bars-M encomendados pelo Ministério da Defesa em Agosto de 2014. Como se sabe pelos documentos judiciais, o programa sofreu graves atrasos devido às sanções económicas, o que tornou necessário encontrar novos componentes electrónicos para os satélites, entre outras coisas, pela sua carga óptica (conhecida por 14V333 ou “Karat”). O Ministério da Defesa adjudicou um novo contrato à RKTs Progress a 5 de Março de 2016 para a realização desta obra sob o nome “Matritsa”.
Os elementos orbitais mostram que, como esperado, o Cosmos 2579 foi colocado no mesmo plano orbital que o Cosmos 2567 (Bars-M n.° 4). Assim sendo, existem agora quatro satélites Bars-M a operar em dois planos orbitais diferentes, espaçados cerca de 20°. Os outros dois são o Cosmos 2556 (n.° 3) e o Cosmos 2573 (n.° 5). O Cosmos-2579 deverá passar gradualmente para uma órbita de pouco menos de 500 km na semana seguinte ao seu lançamento.
Os satélites Bars-M
Os satélites 14F148 Bars-M (14Ф148 Барс-M), “Bars” em Russo significa “Pantera”, são veículos militares de observação digital da Terra capazes de produzir mapas detalhados e tridimensionais da superfície. O lançamento do primeiro Bars-M veio terminar um longo intervalo durante a qual as forças militares russas viram-se privadas de uma capacidade estratégica muito importante nos campos de batalha.
Ao contrário das anteriores gerações de satélites deste tipo, os satélites Bars-M transmitem as suas informações através de canais de rádio codificados, terminando assim a necessidade do lento processo de retorno das imagens para a Terra através de pequenas cápsulas.
Para se criar mapas tridimensionais os satélites têm de operar duas câmaras fotográficas que observam a mesma área, mas com ângulos de observação ligeiramente diferentes. Este é o sistema de observação electro-óptico Karat desenvolvido pela Associação Opto-Mecânica de Leningrado (LOMO). O resultado desta pequena diferença são imagens em estéreo que fornecem informação sobre a elevação do terreno.
Os satélites utilizam um sistema de propulsão denominado SVIT localizado num módulo de serviço não pressurizado, o que indica um afastamento do desenho utilizado na série Yantar. Terão uma massa de cerca de 4.000 kg e o seu tempo de vida operacional será de 5 anos.
Os primeiros satélites deste tipo foram lançados pela União Soviética em 1971 (o Cosmos 470 ‘Zenit-4MT n.º 1’, lançado a 27 de Dezembro de 1971 pelo foguetão 11A511M Soyuz-M (Yu15000-01)) e em 1981 era introduzida uma segunda geração de veículos (o Cosmos 1246 ‘Yantar-1KFT Kometa n.º 1′, lançado a 18 de Fevereiro de 1981 pelo foguetão 11A511U Soyuz-U (Ts15000-264)). No entanto, as fotografias eram enviadas para a Terra utilizando-se pequenas cápsulas no interior das quais viajavam o filme com a preciosa e estratégica informação visual. O último satélite deste tipo lançado pela Rússia foi o Cosmos 2415 – ou Yantar-1KFT Kometa n.º 21 ’11F660 №421’ – colocado em órbita a 2 de Setembro de 2005 pelo foguetão 11A511U Soyuz-U (78036576).
A União Soviética lançava um destes satélites anualmente, mas após o colapso do país e devido à crise financeira que se seguiu, os lançamentos tornaram-se menos frequentes. Muitos dos projectos futuros foram também cancelados (como, por exemplo, o satélite 17F112 Bars) e somente em 2007, com o aumento dos fundos para os projectos militares espaciais, vários destes projectos foram retomados (como aconteceu com o 14F148 Bars-M).
A tabela seguinte mostra todos os satélites desta série lançados até à data. Todos os lançamentos foram efectuados por foguetões 14A14-1A Soyuz-2.1a.
Lançamento | Data | Hora (UTC) | Veículo
Lançador |
Local Lançamento | Carga |
2015-009 | 27/Fev/15 | 11:01:35,091 | 77046243 | GIK-1 Plesetsk
LC43 PU-4 |
Cosmos 2503
Bars-M n.º 1 |
2016-020 | 24/Mar/16 | 09:42:00,241 | 76058161 | GIK-1 Plesetsk
LC43 PU-4 |
Cosmos 2515
Bars-M n.º 2 |
2022-054 | 19/Mai/22 | 08:03:32,331 | 78021117 (?) | GIK-1 Plesetsk
LC43 PU-4 |
Cosmos 2556
Bars-M n.º 603 |
2023-040 | 23/Mar/23 | 06:40:11 | ? | GIK-1 Plesetsk
LC43 PU-3 |
Cosmos 2567
Bars-M n.º 4 |
2023-201 | 21/Dez/23 | 08:48:39 | ? | GIK-1 Plesetsk
LC43 PU-4 |
Cosmos 2573
Bars-M n.º 5 |
2024-197 | 31/Out/24 | 07:51:31 | 76072531 | GIK-1 Plesetsk
LC43 PU-4 |
Cosmos 2579
Bars-M n.º 6 |
Os satélites Bars-M são desenvolvidos pela TsSKB-Progress e terão uma massa de cerca de 4.000 kg, tendo uma de vida útil em órbita de cinco anos. Após se separar do último estágio do foguetão lançador, o satélite utiliza o seu sistema de propulsão SVIT para atingir a sua órbita operacional.
O foguetão 14A14-1A Soyuz-2.1a
Desde o início que o foguetão Soyuz-2.1a foi projectado para ser um veículo de lançamento tripulado. Porém, os atrasos na sua introdução levaram à criação do foguetão Soyuz-FG para colmatar o fosso entre o foguetão 11A511U Soyuz-U e o 14A14-1A Soyuz-2.1a.
Os foguetões 11A511U Soyuz-U e 11A511U-FG Soyuz-FG usavam sistemas de controlo de voo analógicos. Estes sistemas foram incapazes de rolar o lançador para a trajectória correcta após o lançamento. Assim, estes veículos eram literalmente apontados na plataforma de lançamento para o seu azimute de voo correcto, de modo que tudo o que o foguetão tinha que fazer depois da descolagem era simplesmente inclinar-se para a trajectória adequada.
Como tal, o sistema de abortamento de lançamento da nave Soyuz MS foi projectado para que, se detectasse uma alteração na orientação do foguetão, accionasse o sistema de abortagem para resgatar a cápsula tripulada. Mas o Soyuz-2.1a usa sistemas digitais de controlo de voo e executa uma rotação para se alinhar ao azimute de lançamento correto após abandonar a plataforma, criando assim uma desconexão entre o lançador Soyuz-2.1a e as cápsulas Soyuz MS.
Para resolver a situação, a Roscosmos desenvolveu um ‘patch’ de ‘software’ que foi testado durante a missão Soyuz MS-14 não tripulada. Essencialmente, este ‘patch’ diz aos computadores de voo da cápsula que uma rotação após abandonar a plataforma de lançamento está “Ok” e a cápsula não acciona o programa de emergência quando o programa de rotação começa. Esta missão também testou em voo um novo sistema de navegação e um sistema de controlo de descida renovado. Estes novos sistemas serão padrão no próximo veículo de carga Soyuz GVK que será lançado em 2022.
O foguetão 14A14 Soyuz-2 representa a mais recente evolução do épico míssil balístico intercontinental R-7 desenvolvido por Sergei Korolev nos anos 50 do século passado. O novo lançador apresenta motores melhorados, modernos sistemas aviónicos digitais e uma reduzida participação de componentes de fabrico não russo.
O lançador é também conhecido pela designação Soyuz-ST (quando lançado desde o CSG Kourou) e foi especialmente desenhado para uma utilização comercial aumentando o seu desempenho geral apesar de o desenho básico do veículo permanecer o mesmo. A versão Soyuz-2.1a foi desenhada para missões tripuladas, substituindo o lançador 11A511U-FG Soyuz-FG.
As alterações foram realizadas ao nível de uma melhoria do desempenho dos motores do primeiro e do segundo estágio com novos injectores e alteração da mistura dos propelentes; aumento no desempenho do terceiro estágio; introdução de um novo sistema de controlo, permitindo uma alteração do plano orbital já durante o voo; introdução de um novo sistema de telemetria digital para a monitorização do lançador e a introdução de uma nova ogiva de protecção de carga com um diâmetro de 3,6 metros.
O foguetão 14A14 Soyuz-2 pode ser equipado com um quarto estágio, nomeadamente o estágio Fregat, utilizando as carenagens de protecção do tipo ST e SF.
Este lançador é capaz de colocar uma carga de 7.800 kg numa órbita terrestre a 240 km de altitude com uma inclinação de 51,80º. No lançamento desenvolve uma força de 4.144.700 kN. A sua massa total é de 310.000 kg, o seu diâmetro no estágio principal é de 2,95 metros e o seu comprimento total é de 43,40 metros.
O primeiro estágio do 14A14 Soyuz-2 é composto pelos quatro propulsores laterais (Blok B, V, G e D) com uma massa bruta de 44.400 kg, tendo uma massa de 3.810 kg sem combustível. Cada propulsor tem um motor RD-107A (14D22) que desenvolve uma força de 1.021.097 kN (vácuo), com um Ies 310 s e um Tq de 120 s. Têm um comprimento de 19,60 metros, um diâmetro de 2,69 metros e consomem LOX e querosene.
O segundo estágio (Blok-A) tem um comprimento de 27,80 metros, um diâmetro de 2,95 metros, um peso bruto de 105400 kg e um peso sem combustível de 6.975 kg. Está equipado com um motor RD-108A que no lançamento desenvolve 999.601 kgf (vácuo), com um Ies de 311 s e um Tq de 286 s. Consome LOX e querosene.
O terceiro estágio (Blok-I) tem um comprimento de 6,74 metros, um diâmetro de 2,66 metros, um peso bruto de 25.200 kg e um peso sem combustível de 2.355 kg. Está equipado com um motor RD-0110 que no lançamento desenvolve 294.000 kgf (vácuo), com um Ies de 359 s e um Tq de 300 s. Consome LOX e querosene.
Lançamento | Data | Hora (UTC) | Veículo | Local Lançamento | Carga |
2023-071 | 24/Mai/23 | 12:56:07,463 | M15000-064 | Baikonur
LC31 PU-6 |
Progress MS-23 |
2023-125 | 23/Ago/23 | 01:08:10,412 | M15000-065 | Baikonur
LC31 PU-6 |
Progress MS-24 |
2023-143 | 15/Set/23 | 15:44:35,417 | M15000-061 | Baikonur
LC31 PU-6 |
Soyuz MS-24 |
2023-184 | 01/Dez/23 | 09:25:11,703 | M15000-067 | Baikonur
LC31 PU-6 |
Progress MS-25 |
2024-029 | 15/Fev/24 | 03:25:05,527 | M15000-068 | Baikonur
LC31 PU-6 |
Progress MS-26 |
2024-055 | 23/Mar/24 | 12:36:10,573 | M15000-066 | Baikonur
LC31 PU-6 |
Soyuz MS-25 |
2024-103 | 30/Mai/24 | 09:42:59,080 | ? | Baikonur
LC31 PU-6 |
Progress MS-27 |
2024-145 | 15/Ago/24 | 03:20:18,472 | A1500-072 | Baikonur
LC31 PU-6 |
Progress MS-28 |
2024-162 | 11/Set/24 | 16:23:12,436 | M15000-070 | Baikonur
LC31 PU-6 |
Soyuz MS-26 |
2024-197 | 31/Out/24 | 07:51:31 | 76072531 | Plesetsk
LC42 PU-4 |
Cosmos 2579 |
As modificações introduzidas no novo lançador foram sendo testadas em duas versões do mesmo veículo, o 14A14-1A Soyuz-2.1a e o 14A14-1B Soyuz-2.1b. Este último veículo é um lançador a três estágios no qual o motor RD-0124 é já empregado no último estágio.
Com dimensões semelhantes ao motor RD-0110 utilizado nas versões anteriores dos lançadores Soyuz, o motor RD-0124 apresenta como principal diferença a introdução de um sistema de ciclo fechado no qual o gás do oxidante utilizado para propulsionar as bombas do motor é então direccionado para a câmara de combustão onde é queimado com restante propelente em vez de ser descartado. Esta melhoria no motor aumenta o desempenho do sistema e, como consequência, aumenta a capacidade de carga do lançador em 950 kg. Um propelente especial de ignição é utilizado para activar a combustão do motor e são utilizados dispositivos pirotécnicos para controlar o funcionamento do motor. Cada uma das quatro câmaras de combustão pode ser movimentada ao longo de eixos para manobrar o veículo.
Em 1996 tiveram início os testes do motor RD-0124 e foram finalizados em Fevereiro de 2004 nas instalações da Khimavtomatika em Voronezh. Nesta altura previa-se que a produção em série do novo motor teria início em 2005. A 27 de Dezembro de 2005 teve lugar outro teste do motor, abrindo caminho para os ensaios em grupo de todo o terceiro estágio do lançador 14A14-B Soyuz-2.1b nas instalações da NIIKhimMash em Sergiev Posad.
No início de 2005 a Arianespace anunciava que a primeira missão de teste do foguetão 14A14-1B Soyuz-2.1b teria lugar desde o Cosmódromo GIK-5 Baikonur para colocar em órbita o satélite astronómico CoRoT. Este lançamento dependeria dos resultados de novos ensaios do motor RD-0124 que tiveram lugar em Março e Abril de 2006. Um último teste teve lugar a 20 de Outubro de 2006 e o satélite CoRoT acabaria por ser lançado a 21 de Dezembro desse ano.