Rússia orbita segundo satélite Arktika-M

A Corporação Roscosmos realizou o lançamento do segundo satélite Arktika-M que será utilizado para previsão meteorológica e comunicações de emergência.

O lançamento do satélite Arktika-M2 (Арктика-М» № 2) teve lugar às 0917:48,220UTC do dia 16 de Dezembro de 2023 e foi levado a cabo pelo foguetão 14A14-1B Soyuz-2.1b/Fregat (Ya15000-058/122-11) a partir da Plataforma de Lançamento PU-6 do Complexo de Lançamento LC31 (17P32-6 “Vostok”) do Cosmódromo de Baikonur, Cazaquistão.

Todas as fases do lançamento decorreram sem problemas e o Arktika-M2 foi colocado em órbita como previsto, tendo um perigeu a 1.520 km, apogeu a 39.277 km, inclinação orbital de 63,29.º e período orbital de 726,77 minutos, numa típica órbita Molniya com o apogeu sobre o Ártico.

Os satélites Arktika-M

A constelação de satélites Arktika-M irá operar em órbitas altamente elípticas com um período orbital de 12 horas. A constelação é projectada para monitorizar áreas da superfície terrestre localizadas a elevadas latitudes, sendo os satélites baseados na plataforma Navigator desenvolvidas pela NPO Lavochkin. O primeiro satélite estava originalmente previsto para ser colocado em órbita em 2013, mas o lançamento foi sendo sucessivamente adiado devido a problemas de financiamento do projecto.

Tal como os satélites Elektro-L, os satélites Arktika-M têm por base a plataforma unificada Navigator e possuem equipamentos quase idênticos. A principal diferença entre estes dois tipos de satélites é a abordagem dos problemas aos quais estão destinados: os satélites Elektro-L realizam levantamentos regulares (com uma frequência de 15-30 minutos) do disco da Terra visível a partir da órbita geoestacionária e os satélites Arktika-M conduzem um levantamento semelhante da região ártica da Terra (inacessível para observação contínua de uma órbita geoestacionária) estando na região do apogeu de uma órbita altamente elíptica do tipo “Molniya” (nesta secção, as condições de observação são proporcionais às possibilidades de observação de uma órbita geoestacionária).

Considerando as peculiaridades da órbita de operação dos satélites Arktika-M, aumentaram os requisitos para a proteção radiológica dos equipamentos, aumentando a área de baterias solares. Além disso, a observação contínua e 24 horas da região ártica a partir de uma órbita altamente elíptica do tipo “Molniya”, requer o uso sequencial de pelo menos dois satélites, substituindo-se alternadamente na secção de trabalho da órbita localizada na região do apogeu. Portanto, a composição mínima exigida do grupo orbital do sistema espacial “Arktika-M” é de dois satélites.

Cada satélite irá transportar um sistema de observação multiespectral MSU-GSM, bem como transmissores para sistemas meteorológicos e de salvamento.

O objectivo principal da missão é a obtenção, processamento preliminar e temático de imagens multiespectrais de nebulosidade e da superfície terrestre subjacente dentro de todo o disco observável da Terra na região ártica; a obtenção de dados heliogeofísicos em altitude; a recolha e retransmissão de informações de plataformas terrestres de obtenção de dados, incluindo aquelas localizadas na região ártica, inacessíveis para comunicação através de satélites geoestacionários; a retransmissão de sinais de balizas de emergência do sistema COSPAS-SARSAT; e o fornecimento de comunicações de rádio bidirecional entre as estações de recepção de dados e os pontos hidrometeorológicos da rede de plataformas de recolha de dados terrestres da Roshydromet.

Os instrumentos a bordo são o dispositivo de varredura multi-zona para suporte hidrometeorológico (MSU-GS) – para a obtenção de imagens multiespectrais de nuvens e da superfície da Terra nas faixas do visível e infravermelho no disco visível da Terra em toda a gama de condições de observação e para a emissão de informações digitais para o sistema de coleta de dados a bordo – e o complexo instrumental heliogeofísico (GGAK-VE) para a aquisição contínua de dados heliogeofísicos  para o controlo e previsão da atividade solar; monitorização e previsão da situação da radiação e o estado do campo geomagnético; diagnóstico e controlo do estado da magnetosfera natural e modificada, da ionosfera e da alta atmosfera.

No lançamento os satélites Arktika-M têm uma massa de 2.100 kg e o tempo de vida útil é de 10 anos.

O primeiro satélite Arktika-M, o Arktika-M1, foi colocado em órbita a 28 de Fevereiro de 2021.

Lançamento

Com os preparativos finais para o lançamento a decorrerem sem problemas, bem como a contagem decrescente, o lançamento do satélite Arktika-M2 decorreu sem incidentes.

O final da queima e separação do primeiro estágio (constituído pelos quatro propulsores laterais) teve lugar a T+1m 58s. O final da queima do estágio central (Blok-A) ocorria a T+4m 37s, com a separação entre o segundo e o terceiro estágio a ter lugar a T+4m 48s.

A separação das duas metades da carenagem de protecção, agora desnecessária, ocorria a T+4m 51s.

O terceiro estágio a entra em ignição logo de seguida. A separação da grelha de ligação entre o segundo e o terceiro estágio (esta secção divide-se em três partes após a separação) ocorre a T+4m 57s. O terceiro estágio (Blok-I) coloca o veículo em órbita terrestre com a sua queima a terminar a T+9m 19s e a separação do conjunto Fregat/Arktika-M2 a ter lugar a T+9m 22s.

A primeira ignição do estágio Fregat teria lugar a T+10m 24s, seguindo-se a segundo ignição a T+51m 20s e a terceira ignição a T+4h 29m 20s.

A separação entre o estágio Fregat e o Arktika-M2 teria lugar a T+4h 4m 4s, pelas 1321:52UTC.

O foguetão 14A14 Soyuz-2

O foguetão 14A14 Soyuz-2 representa a mais recente evolução do épico míssil balístico intercontinental R-7 desenvolvido por Sergei Korolev nos anos 50 do século passado. O novo lançador apresenta motores melhorados, modernosSoyuz-2_2014-03-23_14-08-06 sistemas aviónicos digitais e uma reduzida participação de componentes de fabrico não russo.

O lançador é também conhecido pela designação Soyuz-ST (quando lançado desde o CSG Kourou) e foi especialmente desenhado para uma utilização comercial, aumentando a seu desempenho geral apesar de o desenho básico do veículo permanecer o mesmo. As alterações foram realizadas ao nível de uma melhoria do desempenho dos motores do primeiro e do segundo estágio com novos injectores e alteração da mistura dos propelentes; aumento no desempenho do terceiro estágio; introdução de um novo sistema de controlo, permitindo uma alteração do plano orbital já durante o voo; introdução de um novo sistema de telemetria digital para a monitorização do lançador e a introdução de uma nova ogiva de protecção de carga com um diâmetro de 3,6 metros.

O foguetão 14A14 Soyuz-2 pode ser equipado com um quarto estágio, nomeadamente o estágio Fregat (nas suas diversas variantes), utilizando as carenagens de protecção do tipo ST e SF.

Para as missões OneWeb é utilizado um “sistema dispensador” de satélites desenvolvido pela RUAG Space AB (Linköping, Suécia). Este dispensador transporta os satélites durante o voo até à órbita terrestre baixa, libertando-os assim que a altitude e as condições ideais são atingidas. Este dispensador é projectado para acomodar até 36 satélites por lançamento.

Este lançador é capaz de colocar uma carga de 7.800 kg numa órbita terrestre a 240 km de altitude com uma inclinação de 51,80.º. No lançamento desenvolve uma força de 4.144.700 kN. A sua massa total é de 310.000 kg, o seu diâmetro no estágio principal é de 2,95 metros e o seu comprimento total é de 43,40 metros.

O primeiro estágio do 14A14 Soyuz-2 é composto pelos quatro propulsores laterais (Blok B, V, G e D) com uma massa bruta de 44.400 kg, tendo uma massa de 3.810 kg sem combustível. Cada propulsor tem um motor RD-107A (14D22) que desenvolve uma força de 1.021.097 kN (vácuo), com um Ies 310 s e um Tq de 120 s. Têm um comprimento de 19,60 metros, um diâmetro de 2,69 metros e consomem LOX e querosene.

O segundo estágio (Blok-A) tem um comprimento de 27,80 metros, um diâmetro de 2,95 metros, um peso bruto de 105400 kg e um peso sem combustível de 6.975 kg. Está equipado com um motor RD-108A que no lançamento desenvolve 999.601 kgf (vácuo), com um Ies de 311 s e um Tq de 286 s. Consome LOX e querosene.

O terceiro estágio (Blok-I) tem um comprimento de 6,74 metros, um diâmetro de 2,66 metros, um peso bruto de 25.200 kg e um peso sem combustível de 2.355 kg. Está equipado com um motor RD-0110 que no lançamento desenvolve 294.000 kgf (vácuo), com um Ies de 359 s e um Tq de 300 s. Consome LOX e querosene.

As modificações introduzidas no novo lançador foram sendo testadas em duas versões do mesmo veículo, o 14A14-1A Soyuz-2.1a e o 14A14-1B Soyuz-2.1b. Este último veículo é um lançador a três estágios no qual o motor RD-0124 é já empregado no último estágio.

Soyuz-2-1a 1

Com dimensões semelhantes ao motor RD-0110 utilizado nas versões anteriores dos lançadores Soyuz, o motor RD-0124 apresenta como principal diferença a introdução de um sistema de ciclo fechado no qual o gás do oxidante utilizado para propulsionar as bombas do motor é então direccionado para a câmara de combustão onde é queimado com restante propelente em vez de ser descartado. Esta melhoria no motor aumenta o desempenho do sistema e, como consequência, aumenta a capacidade de carga do lançador em 950 kg. Um propelente especial de ignição é utilizado para activar a combustão do motor e são utilizados dispositivos pirotécnicos para controlar o funcionamento do motor. Cada uma das quatro câmaras de combustão pode ser movimentada ao longo de eixos para manobrar o veículo.

Lançamento Data de Lançamento

Hora (UTC)

Lançador Local de Lançamento Carga
2022-075 07/Jul/22

09:18:06,211

R15000-037/112-13 GIK-1 Plesetsk

LC43 PU-4

Cosmos 2557
2022-096 09/Ago/22

05:52:38,282

Ya15000-055/123-06 Baikonur

LC31 PU-6

Khayyam-1

CubeSX-HSE 2

CYCLOPS

Geoscan-Edelweiss

ISOI

KAI-1

Kuzbass-300

Monitor-1 (KODIZ)

MIET AIS

Polytech Universe 1

Polytech Universe 2

ReshUCube

Siren (LILAC)

Skoltech-B1

Skoltech-B2

UTMN

VIZARD SS1

2022-130 10/Out/22

02:52:32,531

Ya15000-056/112-16 GIK-1 Plesetsk

LC43 PU-3

Cosmos 2559
2022-139 21/Out/22

19:57:09,456

Kh15000-011/142-503 Vostochniy

LC-1S

Gonets-M n.º 33

Gonets-M n.º 34

Gonets-M n.º 35

Skif-D

2022-145 02/Nov/22

06:47:48.xxx

x/111-306? GIK-1 Plesetsk

LC43 PU-4

Cosmos 2563
2022-161 28/Nov/22

15:13:50.xxx

N15000-047/112-13 GIK-1 Plesetsk

LC43 PU-3

Cosmos 2564
2023-091 27/Jun/23

11:34:49,415

Kh15000-010/142-02 Vostochniy

LC-1S

Meteor 2-3

Múltiplos satélites

2023-114 07/Ago/23

13:20

? GIK-1 Plesetsk

LC43 PU-3

Cosmos 2569
2023-118 10/Ago/23

23:10:57,189

V15000-003/122-10 Vostochniy

LC-1S

Luna-25 (Luna-Glob)
2023-198 16/Dez/23

09:17:48,220

Ya15000-058/122-11 Baikonur

LC31 PU-6

Arktika-M2

Em 1996 tiveram início os testes do motor RD-0124 e foram finalizados em Fevereiro de 2004 nas instalações da Khimavtomatika em Voronezh. Nesta altura previa-se que a produção em série do novo motor teria início em 2005. A 27 de Dezembro de 2005 teve lugar outro teste do motor, abrindo caminho para os ensaios em grupo de todo o terceiro estágio do lançador 14A14-B Soyuz-2.1b nas instalações da NIIKhimMash em Sergiev Posad.

No início de 2005 a Arianespace anunciava que a primeira missão de teste do foguetão 14A14-1B Soyuz-2.1b teria lugar desde o Cosmódromo GIK-5 Baikonur para colocar em órbita o satélite astronómico CoRoT. Este lançamento dependeria dos resultados de novos ensaios do motor RD-0124 que tiveram lugar em Março e Abril de 2006. Um último teste teve lugar a 20 de Outubro de 2006 e o satélite CoRoT acabaria por ser lançado a 21 de Dezembro desse ano.