Às 0100UTC do dia 15 de Outubro de 2003 a China tornava-se na terceira nação a colocar um cidadão em órbita terrestre utilizando o seu próprio lançador espacial. Tripulada por Yang Liwei, a Shenzhou-5 permaneceu em órbita terrestre pouco mais de 20 horas. Seguindo um plano bem determinado, a China ambiciona tornar-se uma verdadeira potência espacial.
Logo após o voo da Shenzhou-5 surgiram os rumores sobre o iminente segundo voo espacial tripulado chinês. Tivemos porém de esperar quase dois anos para que a missão da Shenzhou-6 se tornasse realidade, levando a bordo dois tripulantes.
A 16 de Março de 2004 surge um artigo no Jornal do Povo que refere que o foguetão lançador que viria a ser utilizado na missão da Shenzhou-6 seria transportado para Jiuquan em Junho ou Julho de 2005. Na altura no artigo referia que a Shenzhou-6 iria transportar dois tripulantes num voo que duraria entre cinco a sete dias com o objectivo de testar as capacidades práticas do veículo. Segundo Liu Zhusheng, Desenhador-Chefe dos foguetões CZ-2F Chang Zheng-2F, o aumento do número de tripulantes e do tempo em órbita implicaria um aumento no peso dos alimentos e equipamento a bordo do veículo tripulado, o que requeria algumas modificações do foguetão para aumentar a sua capacidade de carga. Era também referido que a Shenzhou-6 pesaria mais de 8.000 kg em comparação com os 7.790 kg da Shenzhou-5, apontando a fiabilidade do lançador para os 97% (apesar de não ser revelado os critérios que foram levados em conta para este cálculo).
O artigo do Diário do Povo apontava ainda que 14 homens estavam a treinar para a missão.
Tal como aconteceu com a Shenzhou-5 esperava-se desde o início que o voo da Shenzhou-6 tivesse lugar em Setembro ou Outubro de 2005. Isto veio-se a confirmar a 12 de Maio de 2004 quando o jornal Diário do Povo referia que a segunda missão espacial tripulada da China teria lugar no Outono de 2005. Neste artigo era revelado que os dois tripulantes iriam pela primeira vez aceder ao módulo orbital da cápsula Shenzhou ao contrário da missão de Yang Liwei na qual só havia permanecido no módulo de regresso. Foi também revelado que a missão da Shenzhou-7 terá lugar antes de 2010 e será nesta missão que será levado a cabo a primeira actividade extraveícular realizada pelos yuhangyuans.
Durante Julho de 2004 foram vários os órgãos de comunicação social a referir que a missão da Shenzhou-6 teria lugar em 2005, sem no entanto darem uma data específica para o voo.
A confirmação oficial do número de tripulantes a bordo da Shenzhou-6 surgiu a 14 de Outubro que a edição online do Diário do Povo refere as palavras de Liu Daxiang, pertencente à Academia de Engenharia da China, que a cápsula transportaria dois homens em 2005. Entretanto a 15 de Outubro a mesma fonte na Internet refere que os yuhangyuans em treino para a missão Shenzhou-6 utilizavam os mesmos simuladores que haviam sido utilizados para os treinos da missão Shenzhou-5. Porém, estes simuladores haviam sido actualizados para suportar as necessidades de uma tripulação.
Tal como havia acontecido durante os meses que antecederam a missão Shenzhou-5, os rumores sobre os candidatos para a missão Shenzhou-6 também surgiram na imprensa. A 16 de Outubro o portal SpaceDaily referia que Yang Liwei, o primeiro chinês a viajar no espaço, também se encontrava no grupo que treinava para a Shenzhou-6 sem no entanto revelar o nome de qualquer outro yuhangyuan.
A antecipação da missão nunca foi esmorecida pela imprensa estatal chinesa que de tempos a tempos emitia notícias sobre a futura missão. Isto aconteceu a 1 de Novembro quando a agência Xinhua emitia um despacho intitulado (no original em inglês) “China plans to send 2 men to space in 2005”. Na verdade o artigo não traz qualquer nova revelação acerca da missão referindo que esta será tripulada por dois homens e que terá uma duração de cinco dias, salientando que a cápsula é capaz de orbitar a Terra por sete dias. O artigo refere, sem especificar, que os tripulantes irão levar a cabo várias experiências no interior do módulo orbital que depois será deixado em órbita terrestre. Os cientistas teriam optimizado a configuração do veículo para reduzir o seu peso e para tentar melhorar a performance do equipamento de bordo. As notícias da agência Xinhua encontram eco em reportagens posteriormente feitas pela BBC On-line e pelo portal SpaceDaily.
A 3 de Novembro a agência Xinhua volta a referir a missão Shenzhou-6 desta vez para dar conta de que os fatos espaciais que serão utilizados pelos dois tripulantes serão mais leves e removíveis. Desta vez é referido que os tripulantes da Shenzhou-6 teriam à sua disposição 50 tipos distintos de comida espacial.
A 21 de Dezembro a televisão estatal chinesa mostrou imagens únicas do treino dos seus yuhangyuans para a missão Shenzhou-6 durante um voo de simulação de gravidade zero. Nas imagens eram visíveis vários homens envergando fatos espaciais treinando num modelo da Shenzhou-6 e mostrando a bandeira nacional chinesa ao mesmo tempo que um par de pandas de peluche flutuavam em frente das câmaras. A 23 de Dezembro a agência Reuters referia que a Shenzhou-6 seria lançada no mês de Setembro de 2005, dando já indicações, e citando o semioficial China News Service, de que Yang Liwei não faria parte da tripulação. Esta notícia da Reuters serviria de base para um artigo no portal SpaceDaily e seria confirmada no dia seguinte pela agência Xinhua ao referir a data do lançamento como Setembro de 2005.
O teste dos sistemas de fornecimento de energia e do sistema de propulsão da Shenzhou-6 decorreu durante o mês de Janeiro de 2005, segundo um despacho da agência Xinhua. Neste despacho era também referido que a montagem dos componentes principais do veículo espacial já se encontrava terminada.
O treino dos yuhangyuans para a Shenzhou-6 decorreu sem problemas e terá entrado numa nova fase em finais de Fevereiro quando grupo foi reduzido para 10 elementos que constituíam cinco pares de dois homens. Segundo a agência Xinhua cerca de um mês antes da missão dois pares com as piores notas de avaliação seriam desqualificados, mas não seria decidido até ao último minutos quem iria levar a cabo o voo. Em princípios de Julho o número de yuhangyuans em treino para a missão havia sido reduzido para seis ao mesmo tempo que cada vez mais se falava no mês de Outubro para o lançamento da missão. A confirmação desta data chegou a 15 de Julho com um artigo publicado pela agência Xinhua que referia que o treino dos tripulantes para a missão entrara numa fase mais especializada com os yuhangyuans a aprenderem a reparar falhas técnicos e a lidar com situações de emergência em órbita.
Sendo um programa orientado pelos militares, o voo da Shenzhou-6 foi sempre origem de rumores durante toda a sua fase de preparação. As autoridades chinesas tiveram sempre o maior cuidado em divulgar os pormenores dos preparativos deixando apenas escapar o necessário e suficiente para que os rumores não apontassem qualquer problema nos preparativos. A 7 de Setembro um artigo publicado no portal SpaceDaily indicava uma possível surpresa no lançamento da Shenzhou-6 afirmando ser possível um lançamento surpresa no mês e Setembro. Por esta altura os técnicos e especialistas chineses encontravam-se a levar a cabo os testes finais no veículo e o artigo afirmava que a data de lançamento seria ajustada dependendo dos resultados desses testes. No entanto seria possível que o lançamento pudesse ter lugar mais cedo do que o previsto. O autor do artigo, Morris Jones, apontava que os especialistas chineses se haviam tornado mais eficazes nos preparativos e que a Shenzhou-6 se teria tornado num veículo menos problemático do que a sua antecessora.
O lançamento da Shenzhou-6 também poderia ser influenciado por razões de política internacional com a China a ter um papel activo em muitas frentes diplomáticas que variavam entre as polémicas relativas às quotas de exportação dos seus produtos têxteis para a Europa até ao possível retorno às conversações com a Coreia do Norte sobre o seu programa nuclear. O lançamento da Shenzhou-6 seria assim antecipado como uma forma de melhorar a imagem da China a nível mundial. Por outro lado, o encontro entre o Presidente chinês Hu Jintao e o Presidente dos Estados Unidos George W. Bush, poderia ser uma razão para antecipar o lançamento na nova missão tripulada da China.
A 12 de Setembro é anunciado que o lançamento da Shenzhou-6 teria lugar após as comemorações do Dia Nacional da China que se prolongariam entre 1 e 7 de Outubro. Os preparativos decorriam sem problemas e por esta altura os oficiais técnicos que supervisionariam o lançamento e a missão já haviam chegado à base de lançamento de Jiuquan. Entretanto, a 18 de Setembro, confirmava-se que Yang Liwei não fazia parte do grupo final de yuhangyuans escolhidos para a missão.
Vários analistas a nível mundial levaram a cabo cálculos que permitiam por esta altura ter uma ideia sobre a possível data do lançamento da Shenzhou-6. O analista Philip Clark da Molniya Space Consultancy através do seu Worldwide Satellite Launches 2005 (Edição de 8 de Agosto, página 8), publicava uma série de dados que permitiam estimar a data e hora aproximada do lançamento da Shenzhou-6.
Os voos das Shenzhou-2 à Shenzhou-5 utilizaram essencialmente as mesmas altitudes orbitais e após uma manobra inicial entraram numa órbita repetitiva: na Shenzhou-3, Shenzhou-4 e Shenzhou-5 a manobra teve lugar aproximadamente 7 horas após o lançamento. Se a Shenzhou-6 viesse a ter o mesmo perfil de voo a duração da missão seria de 115 horas 32 minutos (4 dias 19 horas 32 minutos), com um erro possível nesta estimativa de /- 2 minutos (Phillip Clark, “Predicting Shen Zhou 6 launch times”, Spaceflight, vol 47, nº 3, Março 2005, página 115).
A aterragem da Shenzhou-5 foi programada para ter lugar poucos minutos antes do nascer do Sol na região de Dorbod Xi e se o mesmo fosse programado para a Shenzhou-6, então a hora de lançamento poderia ser calculada. No dia 16 de Outubro de 2006 o nascer do Sol em Dorbod Xi teria lugar às 0627 Hora de Pequim (que é a mesma hora local em Dorbod Xi): logo a hora de lançamento correspondente será aproximadamente 1100 Hora de Pequim do dia 11 de Outubro de 2005 (0300UTC).
Se o lançamento ocorrer mais cedo ou mais tarde do que o dia 11 de Outubro, então as horas correspondentes para o nascer do Sol em Dorbod Xi serão (Hora de Pequim):
Dia | Hora prevista de lançamento
(Hora de Pequim) |
Hora prevista de lançamento
(Hora UTC) |
1 de Outubro | 6:08 | 22:08 (30 de Setembro) |
6 de Outubro | 6:13 | 22:13 (5 de Outubro) |
11 de Outubro | 6:20 | 22:20 (10 de Outubro) |
16 de Outubro | 6:27 | 22:27 (15 de Outubro) |
21 de Outubro | 6:34 | 22:34 (20 de Outubro) |
31 de Outubro | 6:46 | 22:46 (30 de Outubro) |
Por outro lado, muitos analistas questionavam-se sobre a identidade dos possíveis yuhangyuans seleccionados para a missão. O analista Rex Hall fez então notar que quatro nomes haviam surgido em vários sítios da Internet para a tripulação principal e tripulação suplente. Estes nomes eram Nie Haishen, Zhai Zhigang (ambos se encontravam no grupo final de selecção para a Shenzhou-5), Li Qinglong e Wu Jie. Foram publicadas fotografias de Wu Jie e Nie Haishen a levarem cabo treinos como integrados na mesma tripulação, mas alguns sítios da Internet sugerem que os dois nomes para a Shenzhou-6 serão Wu Jie e Zhai Zhigang (tripulação principal), e Li Qinglong e Nie Haishen (Tripulação suplente).
A missão Shenzhou-6
A 25 de Setembro era referido que o lançamento teria lugar às 0300UTC do dia 13 de Outubro, mas que a hora poderia se alterada devido às condições atmosféricas ou devido a problemas nos preparativos para o voo. Por esta altura, e segundo o China News Service citado pelo portal SpaceDaily, o lançador CZ-2F Chang Zheng-2F (CZ2F-6) já se encontrava na plataforma de lançamento.
Ao lado: Os dois tripulantes da Shenzhou-6 durante uma sessão de treino para a missão.
Os nomes dos potenciais tripulantes da Shenzhou-6 surgiam a 28 de Setembro com várias fontes a serem eco da imprensa estatal chinesa ao referirem os nomes de Zhai Zhigang e Nie Haisheng como os mais prováveis a bordo do segundo voo espacial chinês. Os dois homens constituiriam assim uma das três equipas de yuhangyuans em treino para a missão.
O portal SpaceDaily indicava a 5 de Outubro que a confirmação oficial da data de lançamento apontava o dia 13 de Outubro pelas 0300UTC como o dia e hora do lançamento da Shenzhou-6, citando Jiang Jingshan da Academia de Ciências da China. A mesma fonte indicava que a tripulação para a missão já havia sido seleccionada sem no entanto revelar os seus nomes nesta altura.
À medida que a data de lançamento se aproximava surgiam mais notícias sobre a missão. A agência Xinhua referia a 8 de Outubro que o lançamento poderia ser adiado devido à aproximação de uma corrente fria que afectava a área de Jiuquan. Porém, a 10 de Outubro as notícias emitidas pela Xinhua referiam que o lançamento estava eminente e no dia seguinte a data de lançamento era estabelecida pela mesma agência noticiosa entre os dias 12 e 15 de Outubro. De forma surpreendente no final do dia 11 de Outubro é emitido um comunicado referindo que o lançamento teria lugar na manhã do dia 12 de Outubro e a confirmação dos nomes dos dois tripulantes refere Fei Junlong e Nie Haisheng. Três pares de yuhangyuans são apresentados, sendo eles (para além dos membros da tripulação) Zhai Zhigang e Wu Jie, e Liu Boming e Jing Haipeng.
O início do abastecimento do foguetão lançador teve lugar na tarde do dia 11 de Outubro. O lançamento da Shenzhou-6 acabaria por ter lugar às 0100:03,583UTC do dia 12 de Outubro. Ao contrário do que havia acontecido com a Shenzhou-5, o lançamento da Shenzhou-6 foi transmitido em directo pela televisão estatal chinesa revelando assim a confiança no sistema espacial. A emissão da CCTV mostrou um grande número de técnicos e oficiais chineses reunidos numa grande sala de controlo à medida que a contagem decrescente decorriam prestando atenção aos diferentes aspectos técnicos do lançador e da cápsula tripulada. Câmaras montadas no interior e no exterior do foguetão CZ-2F Chang Zheng-2F (Y6) e da Shenzhou-6, mostraram diferentes perspectivas da ascensão até à entrada em órbita terrestre. A separação da torre do sistema de emergência ocorreu a T+2m (1002UTC) e a separação dos quatro propulsores laterais de combustível líquido teve lugar a T+2m 16s (1002UTC). A separação do primeiro estágio ocorreu a T+2m 39s. Após a entrada em órbita terrestre procedeu-se à abertura dos seus quatro painéis solares. Os dois tripulantes referiram sentir-se bem.
Após entrar numa órbita elíptica em torno da Terra com um apogeu a 350 km de altitude e um perigeu a 250 km de altitude, a Shenzhou-6 circularizou a sua órbita às 0750UTC. Esta manobra fez com que a Shenzhou-6 viesse a repetir o mesmo perfil orbital no terceiro e quinto dia de voo. Numa órbita circular é também mais fácil estabelecer um plano para um regresso de emergência à Terra caso surja algum problema no decorrer da missão.
Algum tempo após entrarem em órbita terrestre Fei Junlong e Hai Hashen tomaram um pequeno-almoço de frutos, bolachas e água, utilizando utensílios que não estiveram disponíveis para Yang Liwei na missão Shenzhou-5. Na alimentação que foi seleccionada para a missão teve-se em conta as preferências dos dois tripulantes, havendo também pratos tradicionais chineses tais como «porco com sabor a peixe» (yuxiang rousi) e «fatias de galinha com amendoim» (gungbao jiding).
Logo após o lançamento da Shenzhou-6 as autoridades espaciais chinesas procederam à activação do sistema de recuperação da cápsula no solo. Este sistema, em vez de ser activado quando a cápsula regressa e aterra, inicia a sua operação logo após o lançamento prevenindo assim as forças de recuperação em caso de algum regresso de emergência à Terra. O sistema é constituído na realidade por cinco sub-sistemas, nomeadamente o sub-sistema principal e auxiliar, o sub-sistema de salvamento em aterragem de emergência, o sub-sistema de salvamento no mar, o sub-sistema de comunicação e o sub-sistema de assistência médica aos tripulantes.
Tendo como base as possibilidades de falha do veículo e as condições geográficas das sete províncias sobrevoadas durante a ascenção orbital, foram estabelecidas quatro estações de aterragem de emergência em Jiuquan, Yinchuan, Yulin e Handan (todas no noroeste e no norte da China), além de outras três estações de emergência no Mar Amarelo, no Mar da China Este e no Oceano Pacífico.
Em órbita
Nove horas após o lançamento os dois tripulantes entraram pela primeira vez no módulo orbital da Shenzhou-6. De recordar que durante o pioneiro voo de Yang Liwei, este nunca deixou o espaço da cápsula de regresso e nunca despiu o seu fato pressurizado. Por seu lado, Fei e Haisheng tiveram a oportunidade de despir os seus fatos pressurizados e envergar uma roupa mais confortável. A entrada no módulo orbital permitiu assim aos dois yuangyuans levar a cabo experiências e pesquisas científicas.
No segundo dia da sua missão Nie Haisheng celebrou o seu 40.º aniversário em órbita recebendo cumprimentos dos seus familiares e do centro de controlo de voo. Neste dia os dois homens testaram a estabilidade da cápsula ao abrir r fechar a escotilha de acessp ao módulo orbital e movendo-se no interior do veículo.
Durante a missão as autoridades espaciais chinesas revelaram alguns pormenores relativos ao desenvolvimento das cápsulas Shenzhou, nomeadamente o facto de que nas missões Shenzhou-1 até à Shenzhou-3 havia sido detectada uma grande quantidade de gases no interior dos veículos. Não foi no entanto revelada a natureza dos gases em questão, mas o problema acabou por ser resolvido na missão Shenzhou-4 abrindo assim caminho para a primeira missão espacial tripulada.
No dia 13 de Outubro foi levado a cabo com sucesso o último ensaio dos procedimentos de recolha por parte das equipas de resgate no solo. O último exercício ensaiou todos os procedimentos de recolha da cápsula durante a noite. Quatro helicópteros levantaram voo pelas 1040UTC a partir do local de aterragem, simulando a busca de uma cápsula. O primeiro veículo de resgate terá aterrado às 1200UTC a menos de 50 metros do presumível local de aterragem. Pelas 1202UTC as equipas de apoio ajudavam os dois tripulantes a abrir a escotilha de acesso à cápsula e pelas 1205UTC os dois homens encontravam-se já no helicóptero para serem observados por equipas médicas. Este exercício teve como objectivo melgorar as capacidades de busca e salvamento, garantindo assim a segurança dos yuangyuans.
No quarto dia de missão os dois tripulantes levaram a cabo um conjunto de ‘experiências orbitais e ergonómicas’ que forneceram uma enorme quantidade de dados. Os dois homens continuaram também a fazer alterações nos fatos espaciais utilizados de forma a avaliar as suas performances em órbita. Foram também levados a cabo testes ergonómicos que se destinaram a proporcionar informações relevantes para melhorar o equipamento e produtos relacionados com a cápsula espacial e com os seus futuros tripulantes. Ao se movimentarem entre o módulo de regresso e o módulo orbital, os dois homens analisaram os impactos mútuos em cada módulo e estudaram as características e leis dos movimentos, bem como as suas tendências fisiológicas e padrões de movimento. Foram também levados a cabo testes citológicos e no âmbito das ciências da vida, estudando também o impacto no corpo humano do ambiente de ausência de peso.
No dia 16 de Outubro estavam finalizados os preparativos para o regresso da Shenzhou-6 por parte das equipas de recolha na região de Sijiwang, Mongólia Interior. Segundo o principal responsável pelo sistema de recolha, Hou Ying, citado pela agência Xinhua, foram levados a cabo melhoramentos contínuos no principal local de aterragem para garantir que as equipas de recolha fossem capazes de chegar à cápsula cinco minutos após a aterragem. Para além de proporcionar apoio aos dois tripulantes, o sistema de recolha deve detectar e medir a trajectória do módulo de reentrada antes e após a zona durante a qual não é possível qualquer comunicação com o veículo, procurar e recolher mensagens provenientes da cápsula e enviar com precisão instruções de controlo à medida que forem sendo necessárias. O sistema deve também procurar o módulo de reentrada e proporcionar ajuda aos seus tripulantes (a nível médico e garantir os primeiros socorros, enviando-os para um hospital designado caso seja necessário). As telecomunicações entre o local de aterragem e o centro de comando e controlo em Pequim devem ser devidamente garantidas ao mesmo tempo que deve proporcionar previsões regulares dos indicadores atmosféricos abaixo dos 25 km de altitude na área do local de aterragem e nos outros locais secundários.
O último dia de voo foi dedicado a preparar o veículo para o seu regresso e aterragem. Os dois tripulantes envergaram os seus fatos espaciais pressurizados e prepararam-se para o regresso à Terra. Pelas 1942UTC o navio de rastreio Yuanwang-3 começava a receber os sinais provenientes da Shenzhou-6 certificando-se que o veículo se havia colocado na atitude correcta para a retro-travagem. A separação do módulo orbital tinha lugar às 1944UTC. Este módulo permaneceria em órbita servindo como plataforma de observação da Terra. A manobra de retro-travagem tinha lugar às 1945UTC com os motores principais da Shenzhou-6 a serem activados. Pelas 1948UTC terminava a queima dos motores com a Shenzhou-6 já numa trajectória que a faria reentrar na atmosfera terrestre. O módulo de serviço separava-se às 2007UTC destruindo-se na reentrada atmosférica.
Às 2020UTC o módulo de reentrada havia terminado a sua travagem aerodinâmica e encontrava-se já a viajar a uma velocidade sub-sónica. A abertura do pára-quedas principal ocorria de seguida. Às 2023UTC ocorria a separação do escudo de protecção térmica expondo os motores de combustível sólido localizado na base da cápsula, bem como o altímetro que emitiria o sinal para a ignição destes motores milissegundos antes do impacto no solo. A aterragem da Shenzhou-6 ocorria às 2032:50UTC.