Missão CRS-28 lançada para a ISS

Após vários adiamento devido ao mau tempo, o lançamento da missão logística CRS-28 para a estação espacial internacional teve lugar às 1547UTC do dia 5 de Junho de 2023 a partir do Complexo de Lançamento LC-39A do Centro Espacial Kennedy, Ilha de Merritt.

O lançamento do veículo Dragon-2 SpX-28 (C208) foi realizado pelo foguetão Falcon 9-230 (B1077.5), com o seu primeiro estágio a ser recuperado com sucesso na plataforma flutuante A Shortfall Of Gravitas” situada no Oceano Atlântico.

 

A Dragon utilizada neste voo, o veículo C209, realiza a sua quarta missão. Estes veículos de carga são similar à Crew Dragon, mas estão equipados com sistemas de suporte de vida reduzidos, não possui motores Super Draco de abortagem e apenas duas aletas de estabilização aerodinâmica. A segunda geração destes veículos de carga é capaz de realizar acoplagens automáticas com a ISS.

No total, a missão CRS-28 transportou 3.304 kg de carga para a ISS (1.964 kg de carga pressurizada e 1.340 kg de carga não pressurizada), contendo mantimentos para a tripulação (1.098 kg), experiências científicas (266 kg), equipamento para actividades extraveículares (48 kg), equipamento para a ISS (491 kg) e recursos informáticos (4 kg).

A bordo foram lançados os painéis IROSA-1A e IROSA-1B – International Space Station Roll Out Solar Arrays – que irão suplementar os actuais painéis solares da estação espacial internacional. Estes painéis fornecem energia eléctrica para o equipamento de suporte de vida, controlo de temperatura, comunicações com a Terra e sistemas de propulsão, além de outros sistemas. Os painéis são lançados com os dispositivos de transporte e equipamento de suporte de voo.

Mais sobre a ciência a bordo pode ser visto aqui.

Lançamento

O foguetão Falcon-9 é activado a T-10h 00m. Tanto o lançador como a sua carga são submetidos a uma série de verificações testes antes do início do abastecimento do querosene RP-1. O Director de Voo consulta os controladores a T-38m, determinando assim se tudo está pronto para o lançamento. O processo de abastecimento inicia-se a T-35m no primeiro estágio, seguindo-se o início do abastecimento do oxigénio líquido (LOX) ao mesmo tempo e no segundo estagio a T-16m.

A fase terminal da contagem decrescente inicia-se com os motores a serem condicionados termicamente para o lançamento a T-7m. A T-1m é enviado um comando para o computador de voo para iniciar as verificações pré-lançamento e o sistema de supressão sónica por água é activado na plataforma de lançamento. Por esta altura os tanques de propelente também são pressurizados. A T-45s o Director de Lançamento da SpaceX verifica se todos os parâmetros estão prontos para o lançamento. Na mesma altura, é verificado que o espaço aéreo está pronto para o voo. A sequência de ignição é iniciada a T-3s. A T=0s o foguetão abandona a plataforma.

Abandonando a plataforma de lançamento, o Falcon-9 inicia uma série de manobras para se colocar na trajectória de voo correcta. A fase MaxQ, de máxima pressão dinâmica, é atingida a T+1m 12s. É nesta altura que o lançador atinge o ponto mais elevado de ‘stress’ mecânico na sua estrutura.

O final da queima do primeiro estágio (MECO – Main Engine Cut-Off) ocorre a T+2m 31s, dando-se três segundos depois a separação entre o primeiro e o segundo estágio, com este a entrar em ignição a T+2m 41s. A queima de reentrada do primeiro estágio ocorre entre T+6m 46s e T+7m 7s. Por sua vez, a queima de aterragem ocorre entre T+8m 21s e T+8m 51s, sendo recuperado com sucesso.

O final da queima do segundo estágio ocorre a T+8m 50s e a separação do veículo Dragon ocorre a T+15m 5s. A abertura da secção frontal do veículo inicia-se a T+12m 53s.

No seu voo tendo como destino a estação espacial internacional, a cápsula Dragon executa uma série de manobras (ou queimas) que posicionam o veículo progressivamente mais perto da estação antes de executar as manobras de acoplagem finais, seguindo-se a pressurização do vestíbulo, abertura da escotilha de acesso e entrada da tripulação.

Após o seu lançamento (1) e activação orbital (2), a cápsula Dragon executa uma série de queimas de fase (3) até elevar os seus parâmetros orbitais, coincidindo com a estação espacial. Atingindo uma órbita final coelíptica (4), inicia então as operações de proximidade (5) até à acoplagem e posterior pressurização do vestíbulo.

O foguetão Falcon-9

Baptizado em nome da nave Millenium Falcon da saga cinematográfica “Guerra das Estrelas”, o foguetão Falcon-9 v1.1 é um lançador a dois estágios projectado e fabricado pela SpaceX para o transporte seguro e fiável de satélites e do veículo Dragon para a órbita terrestre. Sendo o primeiro foguetão completamente desenvolvido no Século XXI, este lançador foi projectado desde o início para ter a máxima fiabilidade. A sua simples configuração de dois estágios minimiza o número de eventos de separação (staging) e com nove motores no primeiro estágio, pode completar a sua missão em segurança mesmo na possibilidade de perda de um motor.

O Falcon-9 fez história em 2012 quando colocou a cápsula Dragon na órbita correcta para uma manobra de encontro com a estação espacial internacional, fazendo da SpaceX a primeira companhia comercial a visitar a ISS. Desde então, a SpaceX realizou múltiplas missões para a ISS transportando e recolhendo carga para a NASA. O Falcon-9, bem como a cápsula Dragon, foram desenhados na base do desenvolvimento de um sistema de transporte de astronautas para o espaço e num acordo com a NASA, a SpaceX está activamente a trabalhar para atingir esse objectivo.

O foguetão Falcon-9 Upgrade, ou Falcon-9 FT, (a seguir designado simplesmente como ‘Falcon-9’) representa a mais recente evolução deste lançador. De forma geral o Falcon-9 tem 68,4 metros de comprimento, 3,7 metros de diâmetro e uma massa de 541.300 kg. O veículo é capaz de colocar uma carga de 13.150 kg numa órbita terrestre baixa ou 4.850 kg numa órbita de transferência geossíncrona.

O primeiro estágio do Falcon-9 está equipado com nove motores Merlin (Merlin-1D) e tanque de liga de alumínio e lítio que contêm oxigénio líquido e querosene RP-1. Após a ignição, um sistema de segurança fixa o veículo na plataforma de lançamento e garante que todos os motores são verificados como estando na força máxima antes de libertar o foguetão para o seu voo. Então, com uma força superior a cinco aviões Boeing 747 em potência máxima, os motores Merlin lançam o foguetão para o espaço. Ao contrário dos aviões, a força de um foguetão vai aumentando com a altitude – o Falcon-9 gera 6.806 kN ao nível do mar mas atinge 7.426 kN no vácuo espacial. Os motores do primeiro estágio vão sendo aumentados em potência perto do final da queima do estágio para assim limitar a aceleração do veículo à medida que a massa do lançador vai diminuindo com a queima do combustível. O tempo total de queima do primeiro estágio é de 162 segundos.

Com os seus nove motores agrupados juntos na configuração ‘octaweb’, o Falcon-9 pode aguentar a falha de até dois motores durante o lançamento e mesmo assim conseguir atingir a órbita terrestre com sucesso. O Falcon-9 é o único lançador na sua classe com esta característica chave.

O motor Merlin foi desenvolvido internamente pela SpaceX, mas vai encontrar as suas raízes aos motores das missões Apollo, nomeadamente o sistema de injecção baseado no motor do módulo lunar. O propelente é alimentado através de uma única conduta, com uma turbo-bomba de dupla pá que opera num ciclo de gerador a gás. A turbo-bomba também fornece o querosene a alta pressão para os actuadores hidráulicos, que depois recicla para a entrada a baixa pressão. Isto elimina a necessidade de um sistema hidráulico separado e significa que não é possível ocorrer uma falha no controlo de vector de força por falta de fluido hidráulico. Uma terceira utilização da turbo-bomba é o fornecimento de controlo de rotação ao actuar no escape da turbina de exaustão (no segundo estágio). Combinando-se estas características num só dispositivo aumenta-se assim de forma significativa o nível de fiabilidade do sistema.

O motor é capaz de desenvolver uma força de 654 kN ao nível do mar, 716 kN no vácuo, com um impulso específico de 282 segundos (nível do mar) e 311 segundos (vácuo).

A secção interestágio é uma estrutura compósita que liga o primeiro e o segundo estágio e alberga os sistemas de libertação e separação. O Falcon-9 utiliza um sistema de separação totalmente pneumático para uma separação de baixo impacto e altamente fiável que pode ser testado no solo, ao contrário dos sistemas pirotécnicos utilizados na maior parte dos lançadores.

O segundo estágio é propulsionado por um único motor Merlin de vácuo e coloca a carga a transportar na órbita desejada. O motor do segundo estágio entra em ignição poucos segundos após a separação entre o segundo e o primeiro estágio, e pode ser reiniciado várias vezes para colocar múltiplas cargas em diferentes órbitas. Para máxima fiabilidade, o segundo estágio está equipado com sistemas de ignição redundantes. Tal como o primeiro estágio, o segundo estágio é feito a partir de uma liga de alumínio e lítio.

O motor Merlin de vácuo (Merlin-1D de vácuo) desenvolve uma força de 934 kN e o seu tempo de queima é de 397 segundos.

A carenagem compósita é utilizada para proteger a carga durante a passagem do Falcon-9 pelas camadas mais densas da atmosfera. Quando a missão do Falcon-9 é o lançamento do veículo de carga Dragon, a carenagem não é utilizada, pois a cápsula possui o seu próprio sistema de protecção.

A carenagem tem 13,1 metros de comprimento e 5,2 metros de diâmetro. Fabricada em fibra de carbono, separa-se em duas metades utilizando um sistema de separação de actuadores pneumáticos semelhantes aos que são utilizados para a separação entre o primeiro e o segundo estágio.

A sequência de lançamento para o Falcon-9 é um processo de precisão ditada pela janela de lançamento tendo em conta a posição orbital a ser ocupada pela carga a bordo. Se a janela de lançamento é perdida, a missão é então adiada para a próxima janela de lançamento disponível.

Cerca de quatro horas antes do lançamento, inicia-se o processo de abastecimento – primeiro oxigénio líquido seguindo-se o querosene altamente refinado (RP-1). O vapor que se observa a sair do lançador durante a contagem decrescente é na realidade oxigénio a ser libertado dos tanques, sendo esta a razão pela qual o abastecimento de oxigénio líquido se mantém até quase ao final da contagem decrescente.

Lançamento Veículo 1.º estágio Local Lançamento Data Hora (UTC) Carga Recuperação
2023-061 221 B1069.7 CCSFS, SLC-40 04/Mai/23 07:31:00 Starlink G5-6 ASOG
2023-064 222 B1075.3 VSFB, SLC-4E 10/Mai/23 20:09:00 Starlink G2-9 OCISLY
2023-065 223 B1067.11 CCSFS, SLC-40 14/Mai/23 05:03:50 Starlink G5-9 JRTI
2023-067 224 B1076.5 CCSFS, SLC-40 19/Mai/23 06:19:30 Starlink G6-3 ASOG
2023-068 225 B1063.11 VSFB, SLC-4E 20/Mai/23 13:16:33

OneWeb-L19 (x15)

JoeySat

Iridium-NEXT 174

Iridium-NEXT 177

Iridium-NEXT 178

Iridium-NEXT 179

Iridium-NEXT 181

LZ-4
2023-070 226 B1080.1 KSC, LC-39A 21/Mai/23 21:37:09 Freedom Ax-2 LZ-1
2023-075 227 B1062.14 CCSFS, SLC-40 27/Mai/23 03:25 Arabsat-7B (Badr-8) JRTI
2023-078 228 B1061.14 VSFB, SLC-4E 31/Mai/23 06:02:30 Starlink G2-10 OCISLY
2023-079 229 B1078.3 CCSFS, SLC-40 04/Jun/23 12:20:00 Starlink G6-4 JRTI
2023-080 230 B0177.5 KSC, LC-39A 05/Jun/23 15:47 Dragon v2 SpX-28  ASOG