Missão Bandwagon-3 lançada desde Cabo Canaveral

A missão Bandwagon-3 que, há semelhança das missões partilhadas ‘Transporter’, tiram partido da capacidade extra do lançador Falcon-9 para colocar em órbita satélites mais pequenos lançados na companhia de uma carga principal, foi lançada a 22 de Abril de 2025.

O lançamento teve lugar às 0048:34.138UTC e foi realizado pelo foguetão Falcon 9-464 (B1090.3) a partir do Complexo de Lançamento SLC-40 da Estação das Forças Espaciais de Cabo Canaveral, Florida. O primeiro estágio do foguetão lançador foi recuperado na Zona de Aterragem LZ-2 situada no Cabo Canaveral.

A missão Bandwagon-3 foi a terceira missão dedicada a colocar as suas cargas numa órbita de inclinação média, ao contrário das missões Transporter lançadas para órbitas SSO, isto é, sincronizadas com o Sol. Assim, estas missões proporcionam outras opções para os clientes que queiram lançar pequenos satélites para estas órbitas que fazem com que os satélites sobrevoem as áreas mais habitadas do planeta, em vez de fornecerem uma cobertura global proporcionada pelas órbitas polares.

Esta missão tinha como missão colocar os satélites a bordo em órbitas com uma altitude de 510 km e 590 km, e uma inclinação de 45,4º. A empresa lançadora não forneceu dados sobre a separação dos satélites devido à natureza militar da sua carga principal.

A carga da missão Bandwagon-3

A bordo seguiram três satélites, sendo a carga principal desta missão o satélite militar sul-coreano 425 Project SAR F4. Os outros dois satélites eram o Phoenix-1 e o Tomorrow-S7.

Também designado “KORSAT-3/Gunjeongchai-wiseong 4”, o satélite 425 Project SAR F4 é a quarta missão do 425 Project, após o primeiro lançamento realizado a 1 de Dezembro de 2013 e que colocou em órbita o satélite 425 Project EO/IR Sat-1 (425 Project EO/IR F1) – de observação electro-óptica e infravermelhos – e dos satélite 425 Project SAR F2 e F3 – estes satélites de observação por radar SAR. Estes satélites fazem parte de um sistema de reconhecimento militar da Coreia do Sul. Os satélites SAR são desenvolvidos em conjunto pela Korean Aerospace Industries (KAI) e pela Corporação Hanwha Systems, enquanto a Thales Alenia Space fornece a carga SAR. Os satélites são operados pela Agência para o Desenvolvimento de Defesa da Coreia do Sul.

A carga SAR usa uma antena especializada de 5 metros dobrada em 24 pétalas que se abrem em órbita para assim formar uma antena parabólica. A empresa europeia também forneceu elementos da plataforma na qual o satélite é baseado, nomeadamente os giroscópios de controlo de momento e respectivos sensores, derivados do HE-R1000 (High Efficiency Radar).

O lançamento do satélite 425 Project SAR F4 é a quarta de cinco missões planeadas pela Administração do Programa de Aquisição de Defesa (Defense Acquisition Program Administration ‘DAPA’) da Coreia do Sul para um programa conhecido como ‘Projeto 425’. As missões seguintes contarão com radares de abertura sintética (Synthetic Aperture Radar ‘SAR’).

A missão Phoenix-1 é composta por uma cápsula de demonstração tecnológica desenvolvida e operada pela ATMOS Space Cargo GmbH para obter dados sobre a reentrada atmosférica de um escudo térmico insuflável e validar os sistemas para as cápsula Phoenix operacionais.

Com uma massa de 250 kg, a cápsula é projectada para atingir um rácio de eficiência de nível industrial de 1:2, estabelecendo assim uma nova referência para as missões de recuperação a partir da órbita terrestre. Central no desenho da Phoenix encontra-se um novo escudo térmico insuflável, desenvolvido pela ATMOS, que permite uma reentrada atmosférica eficiente e fiável.

Os principais objectivos da missão são a recolha de dados de voo da cápsula e dos seus subsistemas enquanto estiver em órbita; a obtenção de dados científicos de cargas úteis de clientes que operam em órbita terrestre baixa e o registo de dados sobre o desempenho de implantação e estabilização do escudo térmico insuflável durante a reentrada na atmosfera terrestre.

O primeiro voo de teste da PHOENIX transportou quatro cargas úteis, apresentando uma combinação de experiências biológicas e demonstrações tecnológicas em condições de microgravidade, nomeadamente por parte do DLR (Alemanha) – Centro Aeroespacial Alemão, Instituto de Medicina Aeroespacial: desenvolvimento de detectores de radiação para futuras missões espaciais no qual o detector de radiação M-42 irá medir o ambiente de radiação durante a fase de voo orbital; IDDK (Japão) – Especializada em laboratórios espaciais para experiências biológicas e de ciências biológicas, a IDDK vai empregar a sua tecnologia patenteada Micro Imaging Device (MID) para observações microscópicas no espaço; FRONTIER SPACE (Reino Unido) – Trabalha num laboratório espacial modular e escalável, do tipo “in a box”, e num biorreator com o objetivo de fazer avançar as capacidades de fabrico no espaço para o setor da microgravidade comercial; por fim, uma carga não identificada.

A cápsula completou duas órbitas em torno da Terra antes de tentar a sua reentrada atmosférica. A Phoenix-1, ao contrário das missões subsequentes, ainda não possui um sistema de propulsão e foi desorbitada juntamente com o segundo estágio do lançador. Só foi separado após a queima de saída de órbita.

A “Tomorrow.io Microwave Sounder” é uma missão de deteção remota composta por 18 satélites de factor de forma CubeSat-6U que serão utilizados para fornecer dados meteorológicos de baixa latência em todo o mundo para previsão numérica do tempo e previsões meteorológicas de longo alcance. Na missão Bandwagon-3 foi lançado o satélite Tomorrow-S7.

O sistema consiste numa sonda passiva de micro-ondas que tira partido das tecnologias do MIT Lincoln Laboratories (MIT LL), construída pela Tomorrow.io, integrada num satélite Cubesat-6U padronizado da Blue Canyon Technologies (BCT).

Lançamento

A cerca de dez horas do lançamento procedeu-se à activação eléctrica do foguetão Falcon-9. Tanto o lançador como a sua carga são submetidos a uma série de verificações testes antes do início do abastecimento do querosene RP-1. O Director de Voo consulta os controladores a T-38m, determinando assim se tudo está pronto para o início do abastecimento do lançador. O processo de abastecimento de RP-1 inicia-se a T-35m no primeiro estágio, seguindo-se o início do abastecimento do oxigénio líquido (LOX) na mesma altura. O abastecimento de LOX ao segundo estágio inicia-se a T-16m.

A fase terminal da contagem decrescente inicia-se com os motores a serem condicionados termicamente para o lançamento a T-7m. A T-1m é enviado um comando para o computador de voo para iniciar as verificações pré-lançamento e o sistema de supressão sónica é activado na plataforma de lançamento inundada por milhões de litros de água. Por esta altura os tanques de propelente também são pressurizados. A T-45s o Director de Lançamento da SpaceX verifica se todos os parâmetros estão prontos para a missão, sendo também verificado que o espaço aéreo está pronto para o lançamento. A sequência de ignição é iniciada a T-3s. A T=0s o foguetão abandona a plataforma.

Abandonando a plataforma de lançamento, o Falcon-9 inicia uma série de manobras para se colocar na trajectória de voo correcta. A fase MaxQ, de máxima pressão dinâmica, é atingida a T+1m 7s, sendo nesta altura que o lançador atinge o ponto mais elevado de ‘stress’ mecânico na sua estrutura.

 
Tempo (h:m:s) Evento
00:01:06 Máxima pressão dinâmica (MaxQ)
00:02:15 Final da queima do 1.º estágio (MECO)
00:02:18 Separação entre o 1.º e o 2.º estágio
00:02:22 Manobra de posicionamento do 1.º estágio
00:02:26 Ignição do 2.º estágio (SES-1)
00:02:32 Início da queima de regresso
00:02:37 Separação da carenagem de protecção
00:03:15 Final da queima de regresso
00:06:15 Início da queima de reentrada do 1.º estágio
00:06:37 Final da queima de reentrada do 1.º estágio
00:07:28 Início da queima de aterragem do 1.º estágio
00:08:00 Aterragem do 1.º estágio
Informação não revelada Início da segunda queima do 2.º estágio (SES-2)
Informação não revelada Final da segunda queima do 2.º estágio (SECO-2)
Informação não revelada Início da terceira queima do 2.º estágio (SES-3)
Informação não revelada Final da terceira queima do 2.º estágio (SECO-3)
Informação não revelada Separação da carga principal
Informação não revelada Separação dos satélites Bandwagon-3
       

O foguetão Falcon-9

Baptizado em nome da nave Millenium Falcon da saga cinematográfica “Guerra das Estrelas”, o foguetão Falcon-9 v1.1 foi um lançador a dois estágios projectado e fabricado para o transporte seguro e fiável de satélites e do veículo Dragon para a órbita terrestre. Sendo o primeiro foguetão completamente desenvolvido no Século XXI, este lançador foi projectado desde o início para ter a máxima fiabilidade. A sua simples configuração de dois estágios minimiza o número de eventos de separação (staging) e com nove motores no primeiro estágio, pode completar a sua missão em segurança mesmo na possibilidade de perda de um motor.

O Falcon-9 fez história em 2012 quando colocou a cápsula Dragon na órbita correcta para uma manobra de encontro com a estação espacial internacional. Desde então, foram realizadas múltiplas missões para a ISS transportando e recolhendo carga para a NASA. O Falcon-9, bem como a cápsula Dragon, foram desenhados na base do desenvolvimento de um sistema de transporte de astronautas para o espaço.

O foguetão Falcon-9 Upgrade, ou Falcon-9 FT, (a seguir designado simplesmente como “Falcon-9”) representa a mais recente evolução deste lançador. De forma geral, o Falcon-9 tem 68,4 metros de comprimento, 3,7 metros de diâmetro e uma massa de 541.300 kg. O veículo é capaz de colocar uma carga de 13.150 kg numa órbita terrestre baixa ou 4.850 kg numa órbita de transferência geossíncrona.

O primeiro estágio do Falcon-9 está equipado com nove motores Merlin (Merlin-1D) e tanque de liga de alumínio e lítio que contêm oxigénio líquido e querosene RP-1. Após a ignição, um sistema de segurança fixa o veículo na plataforma de lançamento e garante que todos os motores são verificados como estando na força máxima antes de libertar o foguetão para o seu voo. Então, com uma força superior a cinco aviões Boeing 747 em potência máxima, os motores Merlin lançam o foguetão para o espaço. Ao contrário dos aviões, a força de um foguetão vai aumentando com a altitude – o Falcon-9 gera 6.806 kN ao nível do mar, mas atinge 7.426 kN no vácuo espacial. Os motores do primeiro estágio vão sendo aumentados em potência perto do final da queima do estágio para assim limitar a aceleração do veículo à medida que a massa do lançador diminui com a queima do combustível. O tempo total de queima do primeiro estágio é de 162 segundos.

Com os seus nove motores agrupados juntos na configuração ‘octaweb’, o Falcon-9 pode aguentar a falha de até dois motores durante o lançamento e mesmo assim conseguir atingir a órbita terrestre com sucesso. O Falcon-9 é o único lançador na sua classe com esta característica chave.

O motor Merlin vai encontrar as suas raízes aos motores das missões Apollo, nomeadamente o sistema de injecção baseado no motor do módulo lunar. O propelente é alimentado por uma única conduta, com uma turbo bomba de dupla pá que opera num ciclo de gerador a gás. A turbo bomba também fornece o querosene a alta pressão para os actuadores hidráulicos, que depois recicla para a entrada a baixa pressão. Isto elimina a necessidade de um sistema hidráulico separado e significa que não é possível ocorrer uma falha no controlo de vector de força por falta de fluido hidráulico. Uma terceira utilização da turbo bomba é o fornecimento de controlo de rotação ao actuar no escape da turbina de exaustão (no segundo estágio). Combinando-se estas características num só dispositivo aumenta-se assim de forma significativa o nível de fiabilidade do sistema.

O motor é capaz de desenvolver uma força de 654 kN ao nível do mar, 716 kN no vácuo, com um impulso específico de 282 segundos (nível do mar) e 311 segundos (vácuo).

A secção interestágio é uma estrutura compósita que liga o primeiro e o segundo estágio e alberga os sistemas de libertação e separação. O Falcon-9 utiliza um sistema de separação totalmente pneumático para uma separação de baixo impacto e altamente fiável que pode ser testado no solo, ao contrário dos sistemas pirotécnicos utilizados na maior parte dos lançadores.

O segundo estágio é propulsionado por um único motor Merlin de vácuo e coloca a carga a transportar na órbita desejada. O motor do segundo estágio entra em ignição poucos segundos após a separação entre o segundo e o primeiro estágio, e pode ser reiniciado várias vezes para colocar múltiplas cargas em diferentes órbitas. Para máxima fiabilidade, o segundo estágio está equipado com sistemas de ignição redundantes. Tal como o primeiro estágio, o segundo estágio é feito a partir de uma liga de alumínio e lítio.

O motor Merlin de vácuo (Merlin-1D de vácuo) desenvolve uma força de 934 kN e o seu tempo de queima é de 397 segundos.

A carenagem compósita é utilizada para proteger a carga durante a passagem do Falcon-9 pelas camadas mais densas da atmosfera. Quando a missão do Falcon-9 é o lançamento do veículo de carga Dragon, a carenagem não é utilizada, pois a cápsula possui o seu próprio sistema de protecção.

A carenagem tem 13,1 metros de comprimento e 5,2 metros de diâmetro. Fabricada em fibra de carbono, separa-se em duas metades utilizando um sistema de separação de actuadores pneumáticos semelhantes aos que são utilizados para a separação entre o primeiro e o segundo estágio.

A sequência de lançamento para o Falcon-9 é um processo de precisão ditada pela janela de lançamento tendo em conta a posição orbital a ser ocupada pela carga a bordo. Se a janela de lançamento é perdida, a missão é então adiada para a próxima janela de lançamento disponível.

Cerca de quatro horas antes do lançamento, inicia-se o processo de abastecimento – primeiro oxigénio líquido seguindo-se o querosene altamente refinado (RP-1). O vapor observado a sair do lançador durante a contagem decrescente é na realidade oxigénio a ser liberto dos tanques, sendo esta a razão pela qual o abastecimento de oxigénio líquido se mantém até quase ao final da contagem decrescente.

Lançamento Veículo 1.º estágio Local Lançamento Data Hora (UTC) Carga Recuperação
2025-066 455 B1085.6 KSC, LC-39A 01/Abr/25 01:46:50 Resilience: Fram2 ASOG
2025-069 456 B1088.5 VSFB, SLC-4E 04/Abr/25 01:02:50 Starlink G11-13 OCISLY
2025-070 457 B1078.19 CCSFS, SLC-40 06/Abr/25 03:07:20 Starlink G6-72 JRTI
2025-071 458 B1093.1 VSFB, SLC-4E 07/Abr/25 23:06:10 Starlink G11-11 OCISLY
2025-074 459 B1071.24 VSFB, SLC-4E 12/Abr/25 12:25 NROL-192 OCISLY
2025-075 460 B1083.10 KSC, LC-39A 13/Abr/25 00:53:30 Starlink G12-17 ASOG
2025-076 461 B1067.27 CCSFS, SLC-40 13/Abr/25 04:00:10 Starlink G6-73 JRTI
2025-079 462 B1082.12 VSFB, SLC-4E 20/Abr/25 12:29 NROL-145 OCISLY
2025-080 463 B1092.3 KSC, LC-39A 21/Abr/25 08:15:45 Dragon SpX-32 LZ-1
2025-081 464 B1090.3 CCSFS, SLC-40 22/Abr/25 00:48:34,138 Bandwagon-3 LZ-2
Imagens: Empresa lançadora


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