Depois da perda da Starship, SpaceX volta aos lançamentos Starlink

A empresa Space Exploration Technologies Corp. (SpaceX) realizou o lançamento de 21 satélites Starlink, voltando assim aos lançamentos orbitais após a perda da primeira Starship da nova geração.

O lançamento da missão Starlink G13-1 teve lugar às 1524:50UTC do dia 21 de Janeiro de 2025 e foi realizada pelo foguetão Falcon 9-426 (B1083.8) a partir do Complexo de Lançamento LC-39A do Centro Espacial Kennedy, Ilha de Merritt, Florida. O primeiro estágio B1083 foi recuperado com sucesso após aterrar na plataforma flutuante A Shortfall of Gravitas (ASOG), no Oceano Atlântico.

A presença de somente 21 satélites Starlink v2.0 Mini a bordo levanta algumas questões sobre este lançamento, nomeadamente a possibilidade de se encontrarem satélites militares a bordo. De facto, não seria a primeira vez que tal aconteceria. Outro aspecto estranho deu-se na transmissão em directo do lançamento, com o comentador a fazer a contagem decrescente até um segundo antes da ignição numa transmissão com atraso propositado. Nesta altura, a imagem ficou bloqueada sem qualquer justificação por parte da SpaceX, mesmo ocorrendo a separação bem sucedida entre o segundo e o primeiro estágio e o regresso deste. A transmissão terminaria com o anunciou de um voo nominal do segundo estágio.

A falta de visualizações da câmara do 2º estágio e de telemetria durante todo o lançamento, a ausência tardia de visualizações na transmissão do lançamento (agora eliminada), o reinício da transmissão por volta de T+1 minuto, o número estranhamente baixo de satélites neste lançamento (apenas 21 “regulares” sem DTC quando a missão Starlink G11-8 prevista para o dia 21 de Janeiro irá transportar 27 para uma órbita de maior inclinação), tudo leva a crer a existência de satélites militares a bordo (tal como aconteceu no lançamento da missão Globalstar em Junho de 2022 ou da missão Starlink G7-16 em Março de 2024). De recordar que a missão NROL-126 poderia transportar 20 satélites Starlink v2.0 Mini (na verdade, só havia 2 satélites Starshield nesse voo).

A confirmação da presença de dois satélites Starshield a bordo surgiu a 6 de Fevereiro. Os satélites receberam a designação militar USA-485 e USA-486.

A constelação Starlink

SpaceX projectou a Starlink para conectar utilizadores de Internet com baixa latência, oferecer serviços de distribuição de elevada largura de banda, fornecendo uma cobertura continua em todo o mundo usando uma rede de milhares de satélites na órbita terrestre baixa, especialmente em lugares onde a conectividade é baixa ou inexistente como, por exemplo, em lugares rurais. Os satélites Starlink também darão cobertura em locais onde os serviços existentes são instáveis ou de elevado custo.

Com um desenho de painel plano contendo múltiplas antenas de alto rendimento e um único painel solar, cada satélite Starlink pesa cerca de 260 kg, permitindo à SpaceX uma produção em massa e tirar todo o proveito da capacidade de lançamento do Falcon-9. Para ajustar a posição em órbita, manter a altitude pretendida e posterior remoção orbital, os satélites Starlink possuem propulsores do tipo Hall alimentados a krípton. Sendo injectados a uma altitude de 290 km usarão este mesmo sistema para elevar as suas órbitas assim que sejam concluídas as verificações. Antes de elevar a órbita, os engenheiros da SpaceX irão realizar uma revisão de dados para garantir que todos os satélites Starlink estão a operar como pretendido.

Desenhados e construídos usando a mesma tecnologia que as cápsulas Dragon, cada satélite está equipado com Startracker que permite apontar os satélites com precisão. Nesta iteração a SpaceX incrementou a capacidade de espectro para o utilizador final mediante melhorias, permitindo uma maximização na utilização das bandas Ka e Ku. Os satélites são também capazes de detectar lixo espacial em órbita e evitar a colisão de modo autónomo.

Os satélites Starlink estão na linha da frente na mitigação de detritos em órbita, atingindo ou excedendo todas as leis padronizadas da indústria aeroespacial. No fim do ciclo de vida, os satélites irão usar a própria propulsão que têm a bordo para procederem à remoção orbital no decurso de uns poucos meses. No improvável evento da propulsão falhar, estes satélites irão queimar na atmosfera terrestre no período compreendido entre 1 a 5 anos, tempo significativamente inferior que as centenas ou milhares de anos necessários para grandes altitudes. De notar que todos os componentes estão projectados para uma total desintegração.

A Starlink oferece um serviço de Internet em zonas dos Estados Unidos da América e no Canadá ao fim de seis lançamentos, rapidamente expandindo-se para uma cobertura global nas zonas populacionais após vinte e quatro lançamentos.

Estando ainda na fase inicial de injecção orbital, os painéis solares encontram-se numa posição de baixo atrito e o conjunto dos próprios Starlinks estando ainda muito próximos uns dos outros faz com sejam muito visíveis a olho nu a partir do solo aquando da sua passagem. Quando os satélites atingem a altitude operacional, as suas orientações mudam e os satélites começam a ficar significativamente menos visíveis a partir do solo.

Durante todas as operações de voo, a SpaceX partilha dados de monitorização de alta fidelidade com outras operadoras de satélites através do 18.º esquadrão do controlo espacial da Força Aérea Americana. Adicionalmente, a SpaceX disponibiliza aos grupos de astronomia com informação de previsão do tipo TLE’s (two-line elements) antes de qualquer lançamento para que os astrónomos possam coordenar as observações com a passagem dos satélites.

Lançamento 1.º estágio Local Lançamento Data Hora (UTC) Carga
2024-239 B1082.9 VSFB, SLC-4E 13/Dez/24 21:55:40 Starlink G11-2 (x9) F217 [v2.0 Mini L130]
2024-249 B1080.14 KSC, LC-39A 23/Dez/24 05:35:30 Starlink G12-2 (x8) F218 [v2.0 Mini L131] Starlink G-T30 (x13) [V2 Mini D2C 30]
2024-251 B1075.16 VSFB, SLC-4E 29/Dez/24 01:58:30 Starlink G11-3 (x22) F219 [v2.0 Mini L132]
2024-254 B1078.16 CCSFS, SLC-40 31/Dez/24 05:39:10 Starlink G12-6 (x8) F220 [v2.0 Mini L133] Starlink G-T31 (x13) [V2 Mini D2C 31]
2025-002 B1077.17 CCSFS, SLC-40 06/Jan/25 20:43:59 Starlink G6-71 (x24) F221 (v2.0 Mini L134)
2025-004 B1086.3 KSC, LC-39A 06/Jan/25 15:27:00 Starlink G12-11 (x8) F222 [v2.0 Mini L135] Starlink G-T32 (x13) [V2 Mini D2C 32]
2025-006 B1067.25 CCSFS, SLC-40 10/Jan/25 19:11:20 Starlink G12-12 (x8) F223 [v2.0 Mini L136] Starlink G-T33 (x13) [V2 Mini D2C 33]
2025-008 B1080.15 CCSFS, SLC-40 13/Jan/25 16:47:09 Starlink G12-4 (x8) F224 [v2.0 Mini L137] Starlink G-T34 (x13) [V2 Mini D2C 34]
2025-014 B1083.8 KSC, LC-39A 21/Jan/25 05:24:50 Starlink G13-1 (x21) F225 [v2.0 Mini L138]

Os satélites Starlink v2.0 Mini

A missão Starlink G6-1 foi a primeira missão a transportar os satélites Starlink da próxima geração, os Starlink v2.0. De notar que a SpaceX iniciou os lançamentos em apoio da segunda geração Starlink (Starlink Gen 2) com o seu último lançamento orbital de 2022 (missões Starlink G5). Porém, estas missões utilizaram satélites Starlink v1.5 em vez dos satélites Starlink v2.0.

A SpaceX tem feito várias alterações ao desenho dos satélites de segunda geração. Os satélites lançados a 27 de Fevereiro de 2023, são uma versão reduzida dos satélites Starlink v2.0 – denominado ‘Starlink v2.0 Mini’. Na missão Starlink G6-1 foram lançados 21 satélites, isto é, menos de metade dos satélites que a SpaceX tem colocado em órbita com os satélites Starlink v1.5. Assim, a massa dos Starlink v2.0 estará entre os 750 kg e os 800 kg, que é mais do dobro da massa dos satélites Starlink v1.5 e mais de metade da massa dos satélites Starlink v2.0 que serão lançados na Starship.

Os novos satélites podem fornecer quatro vezes a capacidade dos satélites anteriores, o que apesar de haver menos satélites por lançamento, fornecem uma maior capacidade do sistema.

Os satélites Starlink v2 Mini também introduzem um novo propelente para os seus motores eléctricos, alterando a utilização de krípton para árgon.

A versão optimizada dos satélites Starlink foi introduzida em 2024 e tendo uma massa de 575 kg. Estes satélites têm uma nova antena de backhaul alimentada por um chip de banda dupla concebido e construído pela SpaceX, denominado “Doppio”. Os satélites têm aviónica, propulsão e sistemas de energia actualizados e estão optimizados em massa para o Falcon-9, permitindo o lançamento de até 29 satélites em cada missão — mais seis satélites por lançamento do que a versão original do V2 Mini.

Starlink com capacidade “Direct to Cell

Dos satélites a bordo, treze fazem parte do terceiro grupo com capacidade “Direct to Cell“. Os satélites Starlink com recursos “Direct to Cell” permitem acesso omnipresente a mensagens de texto, chamadas e navegação em qualquer localização em terra, lagos ou águas costeiras. Os satélites com a capacidade “Direct to Cell” também ligarão dispositivos IoT com padrões LTE comuns. Basicamente, os satélites com capacidades ‘Direct to Cell‘ estão equipados com um modem avançado a bordo que actua como uma torre de comunicações móveis no espaço, permitindo integração de redes similares a um parceiro de roaming.

Lançamento

A cerca de dez horas do lançamento procedeu-se à activação eléctrica do foguetão Falcon-9. Tanto o lançador como a sua carga são submetidos a uma série de verificações testes antes do início do abastecimento do querosene RP-1. O Director de Voo consulta os controladores a T-38m, determinando assim se tudo está pronto para o início do abastecimento do lançador. O processo de abastecimento de RP-1 inicia-se a T-35m no primeiro estágio, seguindo-se o início do abastecimento do oxigénio líquido (LOX) na mesma altura. O abastecimento de LOX ao segundo estágio inicia-se a T-16m.

A fase terminal da contagem decrescente inicia-se com os motores a serem condicionados termicamente para o lançamento a T-7m. A T-1m é enviado um comando para o computador de voo para iniciar as verificações pré-lançamento e o sistema de supressão sónica é activado na plataforma de lançamento inundada por milhões de litros de água. Por esta altura os tanques de propelente também são pressurizados. A T-45s o Director de Lançamento da SpaceX verifica se todos os parâmetros estão prontos para a missão, sendo também verificado que o espaço aéreo está pronto para o lançamento. A sequência de ignição é iniciada a T-3s. A T=0s o foguetão abandona a plataforma.

Abandonando a plataforma de lançamento, o Falcon-9 inicia uma série de manobras para se colocar na trajectória de voo correcta.

 

Tempo (h:m:s) Evento
00:01:10 Máxima pressão dinâmica (MaxQ)
00:02:25 Final da queima do 1.º estágio (MECO)
00:02:28 Separação entre o 1.º e o 2.º estágio
00:02:35 Ignição do 2.º estágio (SES-1)
00:03:05 Separação da carenagem de protecção
00:05:59 Início da queima de reentrada do 1.º estágio
00:06:27 Final da queima de reentrada do 1.º estágio
00:07:48 Início da queima de aterragem do 1.º estágio
00:08:10 Aterragem do 1.º estágio
00:08:38 Final da primeira queima do 2.º estágio (SECO-1)
00:54:06 Início da segunda queima do 2.º estágio (SES-2)
00:54:08 Final da segunda queima do 2.º estágio (SES-2)
01:05:15 Separação dos satélites Starlink

 

 



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