China lança 22 satélites em nova versão do Chang Zheng-8

A China colocou em órbita 22 satélites utilizando o foguetão Chang Zheng-8 (Y2). O lançamento teve lugar às 0306:28UTC do dia 27 de Fevereiro de 2022 a partir do Complexo de Lançamento LC201 do Centro de Lançamentos Espaciais de Wenchang, Hainan.

Apesar de oficialmente o lançador utilizado ser designado Chang Zheng-8, a verdade é que difere do primeiro veículo desta série, não apresentando os propulsores laterais. Na altura da primeira missão do Chang Zheng-8, a versão sem os propulsores laterais era designada Chang Zheng-8A.

Todas as fases dos preparativos para o lançamento, com o foguetão a ser transportado para a plataforma de lançamento a 24 de Fevereiro, e todas as fases do lançamento decorreram sem qualquer problema. O total de carga colocado em órbita (incluindo o adaptador de carga) foi de 2.600 kg.

A bordo do Chang Zheng-8 (Y2) encontravam-se 22 satélites pertencentes a diferentes instituições chinesas. os satélites a bordo eram o Hainan-1 (1) e o Hainan-1 (2), o Wenchang-1 01 e o Wenchang-1 02, o Chaohu-1, Qimingxing-1, o Dayun/Xingshidai-17, Taijing-3 01 e Taijing-4 01, Xidian-1, Chuangxing Leishen, Tianqi-19 ‘Yanan-1/Pingan-2’, o Jilin-1 Maofeng-02A 01 ‘Xiamen Keji-1’, o Jilin-1 Gaofen-03D 10 a Jilin-1 Gaofen-03D 14, o Jilin-1 Gaofen-03D 15 ‘Shaoguan-1’, Jilin-1 Gaofen-03D 16 ‘Wenchang Chaosuan-2’ e Jilin-1 Gaofen-03D 17 ‘Wenchang Chaosuan-3’, e o Jilin-1 Gaofen-03D 18 ‘Anxi Teiguanyin 1’.

Os satélites Hainan-1 01 (海南一号 1) e Hainan-1 02 (海南一号 2) são os dois primeiros veículos a serem colocados em órbita e fazem parte de uma constelação de satélites de detecção remota do Instituto de Detecção Remota Sanya, Instituto de Investigação de Hainan e da Academia de Informação Aeroespacial da Academia Chinesa de Ciências. Desenvolvidos pela Shenzhen DFH, os satélites têm uma massa de cerca de 50 kg e serão utilizados para realizar observações orientadas para a província de Hainan, estando equipados com uma câmara de observação óptica de grande angular destinada a identificar e monitorizar objectos móveis no mar. A bordo segue também um receptor AIS para seguimento de embarcações.

O satélite Hainan-1 consegue obter imagens com uma largura do solo de 115 km. Por seu lado, o satélite Hainan-1 02 obtém imagens de alta resolução com uma resolução no solo de 1,55 metros, conseguindo obter imagens em varrimento e de vídeo.

Após a constituição da constelação de satélites, pode ser obtida uma grande quantidade de dados de detecção remota da área de Hainan e das áreas em redor a cada dia, fornecendo assim uma observação operacional dinâmica da Ilha de Hainan e das suas águas jurisdicionais. Os dados serão utilizados em áreas-chave tais como recursos naturais, agricultura, silvicultura, monitorização do ambiente marítimo, transporte marítimo, busca e salvamento marítimo, e serviços de informação piscatória. Os dados obtidos serão utilizados pelos departamentos de protecção ambiental, de recursos naturais, agricultura, silvicultura, marítimos e ecológicos, além de serem úteis para cidades como Haikou, Sanya, Sansha, e de outras cidades para auxiliar na construção do Porto de Comércio Livre de Hainan.

Os satélites Wenchang-1 01 (文昌一号01星) – também designado Weina Xingkong 03 (微纳星空03) – e Wenchang-1 02 (文昌一号02星) – também designado Weina Xingkong 04 (微纳星空04), têm uma massa de cerca de 50 kg e foram desenvolvidos pela MinoSpace, sendo operados pelo Instituto de Detecção Remota de Sanya, pelo Instituto de Investigação de Hainan e pela Academia de Informação Aeroespacial da Academia Chinesa de Ciências

Os dois satélites estão equipados com sistemas de observação multiespectral e serão utilizados na área da oceanografia, monitorização de recursos naturais e agricultura.

O satélite Chaohu-1 (巢湖一号) é o primeiro satélite da constelação Tianxian Xingzuo. Foi desenvolvido pelo Instituto de Investigação e Ciências Espaciais Tianyi para a Rede de Informação do Instituto de Investigação Tiandi (Anhui). A carga SAR a bordo foi desenvolvida pelo Instituto 38 de Energia Eléctrica da China. A sua massa é de cerca de 325 kg.

A constelação Tianxian Xingzuo é dirigida pela Hefei High-tech Zone Zhongdian Bo Microelectronics Technology Co., Ltd. deverá ser composta por 100 satélites fornecendo serviços de imagens de radar SAR. Cada satélite tem uma estrutura leve e de baixo custo, sendo capaz de obter imagens de alta resolução que serão utilizadas para aplicações marítimas, monitorização de desastres e utilização dos solos. O Chaohu-1 é capaz de fornecer imagens de forma contínua de alvos regionais em vários pontos, estando equipado com capacidade de processamento de imagens em órbita e funções de processamento AI. O satélite terá uma capacidade de observação de emergência de 6 horas, podendo fornecer serviços de dados SAR mais precisos, eficientes e fiáveis, criando uma força comercial de fornecimento de serviços SAR para a emergência nacional da China e sistema de apoio a desastres.

O satélite Qimingxing-1 (启明星一号) tem uma massa de 19 kg sendo desenvolvido pelo Instituto de Ciências Astronáuticas e Tecnologia da Universidade de Wuhan, tendo o apoio de estudantes da Escola de Engenharia de Informação de Detecção Remota da Universidade de Wuhan, do Laboratório Estatal para Detecção e Mapeamento do Instituto de Informação e Detecção Remota e departamentos relacionados, do Instituto Harbin de Tecnologia e de outras instituições que participaram no seu desenvolvimento.

As suas dimensões são 300 x 300 x 300 mm e está equipado com uma câmara infravermelha para obter imagens com 32 bandas espectrais, 8 bandas de luz visível e imagens de detecção remota em infravermelho.

O Dayun/Xingshidai-17 (大运号/星时代17) – também designado Weina Xingkong 05 (微纳星空05) – foi desenvolvido pela Chengdu National Star Aerospace Technology Co., Ltd. O satélite pode obter imagens em luz visível e infravermelho, integrando uma nova geração de cargas AI a bordo que podem de forma rápida e exacta obter informações sobre anomalias térmicas no solo. O satélite irá servir as aplicações industriais nos campos da prevenção e mitigação de desastres, neutralidade carbónica e outras aplicações.

O satélite, representando uma nova geração de satélites de detecção remota independentemente desenvolvidos, cobre o espectro de luz visível e infravermelho, desempenhando um papel importante no campo da transformação energética global e na sustentabilidade do desenvolvimento urbano.

O satélite Taijing-3 01 (泰景三号01星) é um veículo de detecção remota e tem uma massa de cerca de 240 kg, sendo capaz de obter imagens com uma resolução de 0,5 metros em luz visível. O satélite foi desenvolvido pela Minospace. As imagens do satélite serão utilizadas em estudos detalhados de recursos naturais, planeamento urbano e protecção ambiental.

Equipado com um radar SAR, o satélite Taijing-4 01 (泰景四号01星) é o primeiro satélite doméstico comercial a operar em banda-X para aplicações de detecção remota. O satélite é capaz de obter resoluções superiores a i metros. A sua massa é de cerca de 350 kg.

Desenvolvido pela MinoSpace, o satélite Xidian-1 (西电一号) é o primeiro satélite da constelação “Zhongxing·Silk Road Tiantu Remote Sensing Satellite Constellation“. É um satélite de detecção remota hiperespectral equipado com um sistema de observação desenvolvido pela Universidade de Xidian. Adopta um desenho integrado de computação e comunicações e pode levar a cabo processamento em tempo real dos dados de detecção remota.

O Xidian-1 irá servir de forma activa a protecção ecológica das Montanhas Qinling, levando a cabo a monitorização regular e respostas de emergência em áreas chave. O satélite será utilizado para a gestão dos solos e recursos, monitorização ecológica. Terá também aplicações nas áreas da aplicação dos dados de detecção remota no planeamento urbano, emergência e segurança, comunidades digitais, agricultura, transportes, turismo, arquelogia e protecção cultural, fornecendo dados a utilizadores em variadas áreas tais como informação geográfica, seguros financeiros, segurança, etc.

O Chuangxing Leishen (创星雷神号) foi desenvolvido pelo desenvolvido pelo Instituto de Investigação e Ciências Espaciais Tianyi. O satélite realizará operações de criptografia e trabalho de sincronização do registro de nós da cadeia pública Leishen.

O satélite foi projectado pelo Raytheon Research Institute Mingjian Electronics e pela Tianyi para realizar a transmissão interna a bordo e a verificação da tecnologia de armazenamento criptografado de dados a bordo com base em dispositivos COTS, para o desenvolvimento de acompanhamento de uso civil de baixo custo. Será também utilizado para verificar a viabilidade e melhorar a fiabilidade do armazenamento de dados a bordo por meio da tecnologia de sistema de rede distribuída.

O satélite Chuangxing Leishen está equipado com o detector Jiguang-2 e as três cargas experimentais do satélite GRID-03B, GRID-04 e GRID-AICore do “Projeto Tiange”. O detector Jiguang-2 é uma versão actualizada do detector Aurora, sendo também um polarizador de raios-X baseado na tecnologia de detecção de pixel. Com o Jiguang-2 fizeram-se melhorias técnicas, otimizando-se o desenho do instrumento e adicionou a função de calibração em órbita em tempo real. O Jiguang-2 observará as fontes de raios-X mais brilhantes do universo, monitorizando a forma como seus estados de polarização mudam ao longo do tempo para entender os campos magnéticos e geometrias de objetos de alta energia. Ao mesmo tempo, a tecnologia de detecção adotada pelo Jiguang-2 será aplicada ao futuro observatório de raios-X eXTP em grande escala, de modo que o Jiguang-2 também realiza o trabalho de verificação técnica.

O satélite Tianqi-19 (天启星座19) é destinado a comunicações de banda curta foi desenvolvido pela Guotse Gaoke Technology Co., Ltd.. O satélite será utilizado na rede da IoT (Internet of Things), monitorização hidrológica mineira, gestão de serviços marítimos e gestão de contentores, monitorização ambiental, prevenção de fogos florestais, mineração ecológica, agricultura inteligente, etc.

O Tianqin-19 também é designado como ‘Yanan-1/Pingan-2’ (延安号/平安2号).

O Jilin-1 Maofeng-02A 01 (吉林一号MF02A01), também designado ‘Xiamen Keji-1’ (‘厦门科技一号’) foi desenvolvido e será operado pela Chang Guang Satellite Technology Co. Com uma massa de 30 kg, é um satélite de detecção remota que irá fornecer imagens de vídeo em alta resolução na constelação Jilin-1.

O satélite será principalmente utilizado para verificar a fiabilidade da plataforma de satélite. O seu desenho aposta na alta integração, desenho leve e baixo custo. Irá ajudar na inovação e desenvolvimento de aplicações de satélite e acelerar a construção do Porto de Informação Marítima da Rota da Seda.

Os satélites Jilin-1 Gaofen-03 são um grupo veículos para a constelação Jilin-1 de observação da Terra. Com uma massa de menos de 40 kg cada, o grupo colocado em órbita nesta foi composto por nove satélites de observação por varrimento, designados Jilin-1 Gaofen-03D 10 (吉林一号高分03D10) a Jilin-1 Gaofen-03D 14 (吉林一号高分03D14), e o Jilin-1 Gaofen-03D 15 ‘Shaoguan-1′ (吉林一号高分03D15(’韶关一号’)), Jilin-1 Gaofen-03D 16 ‘Wenchang Chaosuan-2’ (吉林一号高分03D16(文昌超算二号)), Jilin-1 Gaofen-03D 17 ‘Wenchang Chaosuan-3’ (吉林一号高分03D17(文昌超算三号)), e o Jilin-1 Gaofen-03D 18 ‘Anxi Teiguanyin 1’ (吉林一号高分03D18).

Desenvolvidos pela Changguang Satellite Technology Co., Ltd., e herdando a tecnologia e princípios técnicos do satélite Jilin-1 Gaofen-03A, os novos satélites adoptam um desenho estrutural ultra leve que incluiu um sistema electrónico integrado, tecnologias de alta-resolução ultra-leves e inovadoras (tais como câmaras quantitativas de baixo custo), e têm as características de baixo custo, baixo consumo de energia, baixa massa e capacidade de observação de alta-resolução.

Após serem inseridos na constelação Jilin-1, os novos satélites irão fornecer aos utilizadores informações sobre o coberto florestal, agricultura, recursos oceânicos, ambiente e outras industrias que requerem dados de detecção remota e serviços similares. Os satélites têm uma definição no solo de 0,75 metros.

Jilin é uma das mais antigas bases industriais do país, está a desenvolver a sua indústria de satélites como uma nova unidade económica. A província planeia lançar 60 satélites até 2020 e 137 até 2030.

O Chang Zheng-8

O Chang Zheng-8 (长征八号) foi desenvolvido pela Academia Chinesa de Tecnologia de Veículos de Lançamento (CALT – China Academy of Launch Vehicle Technology) e seu desenvolvimento visa atender à demanda por missões comerciais económicas, de médio porte e alta frequência. O novo lançador foi descrito pela primeira vez em 2017, mas desde então foi redesenhado para ser capaz de apresentar uma recuperação de seu primeiro estágio e dos propulsores laterais. Tem 50,34 metros de altura e 3,35 metros de diâmetro. A massa no lançamento é de 356.000 kg.

O seu primeiro estágio (ou estágio central) tem um diâmetro de 3,35 m com dois motores YF-100 herdados do Chang Zheng-7, sendo abastecido por querosene RP-1 e oxigénio líquido (LOX). O primeiro estágio tem 25,083 metros de comprimento, podendo ser auxiliado com dois propulsores laterais de combustível líquido opcionais de 2,25 metros de diâmetro e 26,903 metros de comprimento, também alimentados por RP-1 e LOX, e usando um motor YF-100.

O desenvolvimento do YF-100 começou em 2000 na Academia Aeroespacial de Tecnologia de Propulsão Líquida. O motor foi certificado pela Administração Estatal de Ciência, Tecnologia e Indústria para a Defesa Nacional (SASTIND) em Maio de 2012.

É um motor de ciclo de combustão em estágios que produz 1.199,19 kN ao nível do mar com um impulso específico (Isp) de 2.942,0 Ns/kg (os valores de vácuo são: impulso de 1.339,48 kN e Isp 3.286,2 Ns/kg). O YF-100 também é usado nos lançadores CZ-5 Chang Zheng-5 e CZ-6 Chang Zheng-6.

O segundo estágio é um estágio criogénico que consome hidrogénio líquido (LH2) e LOX, equipado por dois motores YF-75, herdados do CZ-3, desenvolvendo 167,17 kN e com Isp de 4.295 Ns/kg cada. Tem 12,375 metros de comprimento e 3,0 metros de diâmetro.

O LM-8 é capaz de lançar uma carga de 5.000 kg para uma órbita sincronizada com o Sol a 700 km de altitude, uma carga de 8.400 kg para a órbita terrestre baixa ou 2.800 kg para uma órbita de transferência para a órbita geossíncrona.

Em missões futuras, o primeiro estágio será modificado para ser reutilizável (o CZ-8R), apresentando aterragem vertical utilizando pernas de pouso implantáveis. Os propulsores laterais permanecerão acoplados ao estágio central para a aterragem.

Também no futuro é possível que o CZ-8 seja lançado sem os propulsores laterais (a versão CZ-8A) e a partir de plataformas  oceânicas flutuantes.