A empresa europeia Arianespace realizou o segundo lançamento do seu novo foguetão Ariane-6, colocando em órbita um satélite militar francês, naquela que foi a sua primeira missão comercial.
O lançamento do satélite CSO-3 teve lugar às 1624:26UTC do dia 6 de Março de 2025 e foi realizado pelo foguetão Ariane-62 (VA263/L6002) a partir do Complexo de Lançamento ELA-4 do CSG Kourou, Guiana Francesa.
A missão teve como objectivo colocar a sua carga numa órbita sincronizada com o Sol a uma altitude de cerca de 800 km e com uma inclinação orbital de 98º, envolvendo três queimas do estágio superior.
Os satélites CSO
Os satélites CSO (Composante Spatiale Optique) são veículos de reconhecimento de alta resolução que são a componente espacial óptica do programa MUSIS que substituirá os actuais satélites de observação militar Helios 2.
Como empresa principal para o programa de satélites CSO, a Astrium (actual Airbus Defence and Space) forneceu a plataforma AstroSat-1000 e os sistemas aviónicos, sendo também a responsável pelo trabalho de integração, teste e entrega dos satélites ao CNES. A Thales Alenia Space forneceu à Astrium os instrumentos de observação óptica de altíssima resolução.
Um acordo entre a França e a Alemanha foi alcançado em Abril de 2015, segundo o qual a Alemanha contribui com 210 milhões de euros para a construção de um terceiro satélite e, em troca, recebe direitos de acesso às imagens.
O satélite CSO-1 (colocado em órbita a 19 de Dezembro de 2018) tem como missão o fornecimento de imagens de alta resolução – comparáveis aos satélites Helios 2, com resolução de cerca de 35 cm de uma órbita de 800 km. Por seu lado, o satélite CSO-2 (lançado a 29 de Dezembro de 2020) foi colocada numa órbita a uma altitude de 480 km para fornecer imagens de resolução extremamente alta com uma resolução no solo de 20 cm.
O satélite CSO-3 é lançado para fornecer maiores capacidades de revisitação dos locais observados. O CSO-3 foi construído em para a Agência Francesa de Aquisições e Tecnologia de Defesa (DGA) e para a agência espacial francesa (CNES) para o Comando Espacial da Força Aérea e Espacial Francesa (CDE). Equipado com sensores ópticos de última geração, garante a continuidade dos recursos franceses de inteligência óptica da Terra, transmitindo imagens de altíssima resolução (VHR) às forças armadas francesas e aos seus parceiros europeus.
O CSO-3 tem uma massa de 3.600 kg no lançamento e o seu tempo de vida útil é de 10 anos.
Campanha de lançamento
A campanha de lançamento da missão VA263 iniciou-se com a chegada dos diferentes estágios do lançador à Guiana Francesa a bordo da embarcação Canopée, no dia 28 de Novembro de 2024. A montangem do lançador iniciou-se no interior do edifício de integração e montagem BAL a 30 de Novembro, após a sua integração e teste. O processo de integração do estágio central foi finalizado a 9 de Dezembro.
A 4 de Dezembro, a Arianespace revelava que os dois propulsores P120 para esta missão haviam sido integrados e transferidos para o edifício de armazenamento. A transferência do estágio central para a zona de lançamento ocorria a 13 de Janeiro de 2025, preparando assim a transferência de verticalização ESR.
O satélite CSO-3 chegava à Guiana Francesa a 14 de Janeiro, sendo transportado por um avião Antonov (UR-82007) e após uma paragem na Base Aérea das Lages, Açores – Portugal. No dia 7 de Fevereiro iniciava-se o processo de abastecimento do satélite e no dia 11 de Fevereiro procedia-se à colocação do satélite sobre o estágio superior. A 14 de Fevereiro, o conjunto era colocado no interior da carenagem de protecção, sendo transportado para a zona de lançamento a 25 de Fevereiro.
O ensaio para o lançamento ocorria a 28 de Fevereiro, com a revisão dos preparativos para a missão a ocorrer neste dia.
Lançamento
A ignição do motor Vulcain-2.1 ocorre a T-7s. Todos os parametros do funcionamento do motor são verificados entes da ignição dos dois propulsores laterais de combustível sólido que ocorre a T=0s. A separação dos propulsores sólidos ocorre a T+2m 18s e a separação das duas metades da carenagem de protecção ocorre a T+4m 30s.
A separação do estágio principal ocorre a T+7m 46s, seguindo-se a T+7m 54s a primeira ignição do estágio superior. A segunda ignição do estágio superior ocorre a T+56m 21s. A separação do satélite CSO-3 ocorre a T+1h 6m.
Após a separação bem-sucedida do satélite CSO-3, o estágio superior do foguetão completou a terceira e última ignição a T+2h om, colocando-o numa órbita de reentrada para arder em segurança na atmosfera terrestre. Este é um elemento da missão que o Ariane 6 não conseguiu completar durante o seu voo inaugural.
O foguetão Ariane-6
O futuro da Europa passa pelo novo foguetão lançador Ariane-6. Este é um lançador que é capaz de realizar uma diversidade de missões, vindo a substituir o Ariane-5ECA. O Ariane-6 proporcionará à Arianespace novos níveis de eficiência e flexibilidade para satisfazer as necessidades de serviços de lançamento dos clientes numa gama completa de missões comerciais e institucionais.
O Ariane-6 estará disponível em duas versões a ser utilizadas dependendo do desempenho desejado: o Ariane-62, com dois propulsores laterais, e o Ariane-64, com quatro propulsores laterais.
O Ariane-62 poderá lançar cargas entre 4.500 kg a 5.000 kg para uma órbita de transferência geoestacionária, até 10.300 kg para uma órbita terrestre baixa, até 1.700 kg para uma órbita terrestre média, 2.800 kg a 3.000 kg para uma trajectória de transferência lunar, até 6.500 kg para uma órbita sincronizada com o Sol, e entre 7.400 kg a 7.600 kg para uma missão interplanetária. Por seu lado, o Ariane-64 poderá lançar cargas até 12.000 kg para uma órbita de transferência geoestacionária, até 20.000 kg para uma órbita terrestre baixa, entre 8.200 kg e 8.500 kg para uma trajectória de transferência lunar, até 15.000 kg para uma órbita sincronizada com o Sol, e entre 7.400 kg a 7.600 kg para uma missão interplanetária.
Tendo um comprimento de mais de 60 metros, o Ariane-6 tem uma massa de cerca de 900 toneladas no lançamento e com uma carga máxima.
Para o desenvolvimento deste lançador, a agência espacial europeia trabalhou com uma rede industrial de mais de 600 empresas em 13 países europeus, incluindo 350 pequenas e médias empresas, lideradas pelo ArianeGroup. A agência espacial francesa preparou as instalações de lançamento no CSG Kourou, Guiana Francesa.
O Ariane-6 terá a flexibilidade para lançar tanto cargas pesadas, como leves, para uma grande variedade de órbitas para aplicações tais como a observação da Terra, telecomunicações, meteorologia, ciência, navegação, etc.
Os adaptadores de carga permitem que pequenos satélites com uma massa inferior a 200 kg sejam transportados ao mesmo tempo que a carga principal, combinando várias cargas de forma eficiente na mesma missão. Estes adaptadores têm sido desenvolvidos através da iniciativa ‘Light satellite Low-cost Launch‘, da ESA. Um serviço de lançamento partilhado para pequenos satélites irá fornecer oportunidades de lançamento com um custo efectivo para pequenas empresas que estão à espera de aceder à crescente indústria espacial.
A Arianespace desenvolve de forma contínua soluções que cumprem as demandas dos seus clientes. Assim, a prioridade é dada ao proporcionar para todos o acesso ao espaço nas melhores condições.
Com um comprimento de 20 metros e um diâmetro externo de 5,4 metros, a carenagem de protecção do Ariane-6 está totalmente adaptada aos desenvolvimentos do mercado. Isto permite ao Ariane-6 colocar em órbita qualquer tipo de satélite agora em serviço, bem como as futuras plataformas de satélite em desenvolvimento. Graças às suas duas versões e aos seus respectivos desempenhos, o Ariane-6 irá cobrir um variado leque de missões.
A carenagem longa do Ariane-6 é particularmente bem adaptada para missões de lançamento de dois satélites devido à sua estrutura de duas partes, uma concha cilíndrica que alberga um dos satélites na posição inferior, e em cima, uma secção cónica truncada que suporta o satélite na posição superior. A estrutura dupla de lançamento DLS (Dual Launch Structure) está disponível em três comprimentos diferentes, respectivamente 7,8 metros, 8,8 metros e 9,8 metros, para suprimir as necessidades dos clientes.
A configuração do denominado “Upper Liquid Propulsion Module” (ULPM) garante uma separação fiável e em segurança das múltiplas cargas.

A Arianespace pode oferecer oportunidades de lançamentos múltiplos para pequenos satélites – desde CubeSats a minissatélites até mais de 400 kg – para quase todas as órbitas. A empresa europeia oferece um serviço de lançamento partilhado na duas versões do Ariane-6 para pequenos satélites (micro e minissatélites, bem como para nanossatélites), podendo aproveitar a capacidade disponível após a missão primária. Todos os tipos de pequenos satélites para qualquer órbita (LEO, MEO, GTO, etc.) podem ser acomodados tirando partido de uma estrutura de transporte modular que está equipada com serviços e ‘interfaces’ ‘standard’.
As capacidades deste lançador da próxima geração, a flexibilidade da sua configuração, juntamente com a capacidade da Arianespace de gerir múltiplas missões, permite ao Ariane-6 lançar qualquer tipo de cargas grandes e pesadas (>20.000 kg), com um lançamento dedicado.
Assim, o Ariane-6 pode ser configurado para as missões mais complexas, tais como grande cargas científicas, sendo capaz de colocar estas missões em órbitas altamente elípticas.
A estrutura dispensadora do Ariane-6 pode ser unicamente configurada para as necessidades específicas de cada constelação de satélites. O novo motor do estágio superior tem a capacidade de reignição até cinco vezes, permitindo ao Ariane-6 atingir um leque de órbitas numa única missão dedicada e, assim, colocar mais cargas em órbita.
O Ariane-6 é capaz de transportar qualquer constelação de microssatélites num lançamento dedicado para a órbita terrestre baixa. As suas estruturas do dispensador podem ser construídas para programas específicos.
Os elementos do Ariane-6
O Ariane-6 é composto por três estágios: dois ou quatro propulsores laterais, um estágio principal e um estágio superior.
O estágio principal, com os propulsores laterais de combustível sólido, propulsiona o Ariane-6 nos 10 primeiros minutos de voo até uma altitude de 200 km, desenvolvendo 135 toneladas de força no vácuo. O estágio principal H140 está equipado com dois motores Vulcain-2.1 de combustível líquido – uma versão melhorada do motor derivado do Vulcain-2 utilizado no Ariane-5 – e por dois ou quatro propulsores laterais de combustível sólido P120C, que fornecem força adicional no lançamento.
![]() O Vulcain-2.1 O motor Vulcain-2.1 é um motor criogénico desenvolvido pelo ArianeGroup em cooperação com os seus parceiros europeus para a agência espacial europeia ESA. É um motor de ciclo gerador de gás capaz de desenvolver 1.317 kN e com um impulso específico de 432 segundos. Tem um comprimento de 3,7 metros, um diâmetro de 2,5 metros e um peso de cerca de 2.000 kg. |
O estágio superior está equipado com o motor Vinci com capacidade de várias ignições. O Vinci consome oxigénio líquido e hidrogénio líquido. A capacidade de reignição do Vinci permite que o Ariane-6 atinja uma variedade de órbita numa única missão para poder colocar mais cargas em órbita. Após a separação das cargas, o estágio superior realiza uma queima final para iniciar a reentrada atmosférica, mitigando assim o problema dos detritos espaciais.
A carenagem em forma de ogiva no topo do Ariane-6 está disponível em dois tamanhos: 20 metros (A64/A62) e 14 metros (A62). Ambas versões têm um diâmetro de 5,4 metros e são fabricadas em polímero de fibra de carbono.
Local de lançamento
O Ariane-6 será lançado a partir do porto espacial europeu CSG Kourou, Guiana Francesa.
O complexo de lançamento ocupa 170 hectares, com edifícios em 18 hectares, estando situado a 17 km da cidade de Kourou e a 4 km Oeste do Complexo de Lançamento ELA3 do Ariane-5ECA. Com ampla distância da cidade de Kourou, esta localização minimiza as restrições de segurança para trajectórias em direcção a Este e Norte.
As principais estruturas incluem o Edifício de Montagem do Veículo Lançador (BAL), a torre móvel de serviço e a plataforma de lançamento (ZL4).
O Edifício de Montagem do Veículo Lançador é uma estrutura com 20 metros de altura, 112 metros de comprimento e 41 metros de largura, localizada a 1 km da zona da plataforma de lançamento. É utilizada para a integração horizontal e preparação do foguetão lançador antes deste ser transportado para a zona de lançamento.
A torre móvel de serviço é uma estrutura metálica com 90 metros de altura e com um peso de 8.200 toneladas quando totalmente equipada, que desliza em carris.
A estrutura está equipada com plataforma que dão acesso ao lançador para sua integração na plataforma de lançamento. Armazena e protege o Ariane-6 na plataforma de lançamento até ser colocada em posição para o lançamento.
A plataforma de lançamento ELA4 tem uma profundidade de 28,5 metros e uma largura de 200 metros, formada por cimento armado em quantidade suficiente para encher 67 piscinas olímpicas – cerca de 167.500 m3.
É composta por uma mesa de lançamento de aço de 700 toneladas que suporta o Ariane-6. Deflectores de aço conduzem as chamas da ignição do lançador para os túneis de exaustão enterrados debaixo da mesa de lançamento. Quatro mastros de protecção contra relâmpagos e uma torre de água para o sistema de supressão sónica também são parte da plataforma de lançamento.
O manual do utilizador do Ariane-8 pode ser acedido aqui.
Imagens: Arinespace