Arianespace lança Ariane-6 no seu voo inaugural

A empresa europeia Arianespace realizou com sucesso o lançamento inaugural do seu novo foguetão Ariane-6 a partir do Centro Espacial de Kourou, Guiana Francesa.

O lançamento da missão VA262 teve lugar às 1900:00UTC do dia 9 de Julho de 2024 a partir da Plataforma de Lançamento ZL4 do Complexo de Lançamento ELA-4 (Ensemble de Lancement Ariane-4). O foguetão Ariane-62 (FM01) transportou um modelo de um satélite geoestacionário, bem como vários pequenos satélites.

A missão, ao contrário do que muitos quererão fazer entender, foi um estrondoso sucesso para as ambições europeias no seu futuro espacial, apesar de ter sido marcada por uma falha na unidade auxiliar de energia do último estágio.

Após a separação de todos os satélites, a unidade auxiliar de energia do último estágio deveria activar-se a T+1h 14m 12s. Esta activação iria auxiliar à realiuzação de pequenos ajustes orbitais e à pressurização dos tanques do último estágio. A unidade deveria funcionar durante 32 minutos, porém desactivou-se logo após a sua activação.

A cronologia da missão mostrava que a T+2h 37m 15s, o motor Vinci deveria realizar a sua terceira e última ignição antes da separação das cápsulas de reentrada Nyx Bikini e SpaceCase SC-X01. Esta ignição não ocorreu devido à falha registada na unidade auxiliar de energia do último estágio. Apesar do estágio superior ter sido «passivado», isto é, desactivado, irá permenecer numa órbita não controlada até à sua eventual reentrada atmosférica.

O foguetão Ariane-6

O futuro da Europa passa pelo novo foguetão lançador Ariane-6. Este é um lançador que é capaz de realizar uma diversidade de missões, vindo a substituir o Ariane-5ECA. O Ariane-6 proporcionará à Arianespace novos níveis de eficiência e flexibilidade para satisfazer as necessidades de serviços de lançamento dos clientes numa gama completa de missões comerciais e institucionais.

O Ariane-6 estará disponível em duas versões a ser utilizadas dependendo do desempenho desejado: o Ariane-62, com dois propulsores laterais, e o Ariane-64, com quatro propulsores laterais.

O Ariane-62 poderá lançar cargas entre 4.500 kg a 5.000 kg para uma órbita de transferência geoestacionária, até 10.300 kg para uma órbita terrestre baixa, até 1.700 kg para uma órbita terrestre média, 2.800 kg a 3.000 kg para uma trajectória de transferência lunar, até 6.500 kg para uma órbita sincronizada com o Sol, e entre 7.400 kg a 7.600 kg para uma missão interplanetária. Por seu lado, o Ariane-64 poderá lançar cargas até 12.000 kg para uma órbita de transferência geoestacionária, até 20.000 kg para uma órbita terrestre baixa, entre 8.200 kg e 8.500 kg para uma trajectória de transferência lunar, até 15.000 kg para uma órbita sincronizada com o Sol, e entre 7.400 kg a 7.600 kg para uma missão interplanetária.

Tendo um comprimento de mais de 60 metros, o Ariane-6 tem uma massa de cerca de 900 toneladas no lançamento e com uma carga máxima.

Para o desenvolvimento deste lançador, a agência espacial europeia trabalhou com uma rede industrial de mais de 600 empresas em 13 países europeus, incluindo 350 pequenas e médias empresas, lideradas pelo ArianeGroup. A agência espacial francesa preparou as instalações de lançamento no CSG Kourou, Guiana Francesa.

O Ariane-6 terá a flexibilidade para lançar tanto cargas pesadas, como leves, para uma grande variedade de órbitas para aplicações tais como a observação da Terra, telecomunicações, meteorologia, ciência, navegação, etc.

Os adaptadores de carga permitem que pequenos satélites com uma massa inferior a 200 kg sejam transportados ao mesmo tempo que a carga principal, combinando várias cargas de forma eficiente na mesma missão. Estes adaptadores têm sido desenvolvidos através da iniciativa ‘Light satellite Low-cost Launch‘, da ESA. Um serviço de lançamento partilhado para pequenos satélites irá fornecer oportunidades de lançamento com um custo efectivo para pequenas empresas que estão à espera de aceder à crescente indústria espacial.

A Arianespace desenvolve de forma contínua soluções que cumprem as demandas dos seus clientes. Assim, a prioridade é dada ao proporcionar para todos o acesso ao espaço nas melhores condições.

Com um comprimento de 20 metros e um diâmetro externo de 5,4 metros, a carenagem de protecção do Ariane-6 está totalmente adaptada aos desenvolvimentos do mercado. Isto permite ao Ariane-6 colocar em órbita qualquer tipo de satélite agora em serviço, bem como as futuras plataformas de satélite em desenvolvimento. Graças às suas duas versões e aos seus respectivos desempenhos, o Ariane-6 irá cobrir um variado leque de missões.

A carenagem longa do Ariane-6 é particularmente bem adaptada para missões de lançamento de dois satélites devido à sua estrutura de duas partes, uma concha cilíndrica que alberga um dos satélites na posição inferior, e em cima, uma secção cónica truncada que suporta o satélite na posição superior. A estrutura dupla de lançamento DLS (Dual Launch Structure) está disponível em três comprimentos diferentes, respectivamente 7,8 metros, 8,8 metros e 9,8 metros, para suprimir as necessidades dos clientes.

A configuração do denominado “Upper Liquid Propulsion Module” (ULPM) garante uma separação fiável e em segurança das múltiplas cargas.

A Arianespace pode oferecer oportunidades de lançamentos múltiplos para pequenos satélites – desde CubeSats a minissatélites até mais de 400 kg – para quase todas as órbitas. A empresa europeia oferece um serviço de lançamento partilhado na duas versões do Ariane-6 para pequenos satélites (micro e minissatélites, bem como para nanossatélites), podendo aproveitar a capacidade disponível após a missão primária. Todos os tipos de pequenos satélites para qualquer órbita (LEO, MEO, GTO, etc.) podem ser acomodados tirando partido de uma estrutura de transporte modular que está equipada com serviços e ‘interfaces’ ‘standard’.

As capacidades deste lançador da próxima geração, a flexibilidade da sua configuração, juntamente com a capacidade da Arianespace de gerir múltiplas missões, permite ao Ariane-6 lançar qualquer tipo de cargas grandes e pesadas (>20.000 kg), com um lançamento dedicado.

Assim, o Ariane-6 pode ser configurado para as missões mais complexas, tais como grande cargas científicas, sendo capaz de colocar estas missões em órbitas altamente elípticas.

A estrutura dispensadora do Ariane-6 pode ser unicamente configurada para as necessidades específicas de cada constelação de satélites. O novo motor do estágio superior tem a capacidade de reignição até cinco vezes, permitindo ao Ariane-6 atingir um leque de órbitas numa única missão dedicada e, assim, colocar mais cargas em órbita.

O Ariane-6 é capaz de transportar qualquer constelação de microssatélites num lançamento dedicado para a órbita terrestre baixa. As suas estruturas do dispensador podem ser construídas para programas específicos.

Os elementos do Ariane-6

O Ariane-6 é composto por três estágios: dois ou quatro propulsores laterais, um estágio principal e um estágio superior.

 

O estágio principal com os propulsores laterais de combustível sólido, propulsiona o Ariane-6 nos 10 primeiros minutos de voo até uma altitude de 200 km, desenvolvendo 135 toneladas de força no vácuo. O estágio principal H140 está equipado com dois motores Vulcain-2.1 de combustível líquido – uma versão melhorada do motor derivado do Vulcain-2 utilizado no Ariane-5 – e por dois ou quatro propulsores laterais de combustível sólido P120C, que fornecem força adicional no lançamento.

O Vulcain-2.1

O motor Vulcain-2.1 é um motor criogénico desenvolvido pelo ArianeGroup em cooperação com os seus parceiros europeus para a agência espacial europeia ESA.

É um motor de ciclo gerador de gás capaz de desenvolver 1.317 kN e com um impulso específico de 432 segundos.

Tem um comprimento de 3,7 metros, um diâmetro de 2,5 metros e um peso de cerca de 2.000 kg.

O estágio superior está equipado com o motor Vinci com capacidade de várias ignições. O Vinci consome oxigénio líquido e hidrogénio líquido. A capacidade de reignição do Vinci permite que o Ariane-6 atinja uma variedade de órbita numa única missão para poder colocar mais cargas em órbita. Após a separação das cargas, o estágio superior realiza uma queima final para iniciar a reentrada atmosférica, mitigando assim o problema dos detritos espaciais.

A carenagem em forma de ogiva no topo do Ariane-6 está disponível em dois tamanhos: 20 metros (A64/A62) e 14 metros (A62). Ambas versões têm um diâmetro de 5,4 metros e são fabricadas em polímero de fibra de carbono.

Local de lançamento

O Ariane-6 será lançado a partir do porto espacial europeu CSG Kourou, Guiana Francesa.

O complexo de lançamento ocupa 170 hectares, com edifícios em 18 hectares, estando situado a 17 km da cidade de Kourou e a 4 km Oeste do Complexo de Lançamento ELA3 do Ariane-5ECA. Com ampla distância da cidade de Kourou, esta localização minimiza as restrições de segurança para trajectórias em direcção a Este e Norte.

As principais estruturas incluem o Edifício de Montagem do Veículo Lançador (BAL), a torre móvel de serviço e a plataforma de lançamento (ZL4).

O Edifício de Montagem do Veículo Lançador é uma estrutura com 20 metros de altura, 112 metros de comprimento e 41 metros de largura, localizada a 1 km da zona da plataforma de lançamento. É utilizada para a integração horizontal e preparação do foguetão lançador antes deste ser transportado para a zona de lançamento.

A torre móvel de serviço é uma estrutura metálica com 90 metros de altura e com um peso de 8.200 toneladas quando totalmente equipada, que desliza em carris.

A estrutura está equipada com plataforma que dão acesso ao lançador para sua integração na plataforma de lançamento. Armazena e protege o Ariane-6 na plataforma de lançamento até ser colocada em posição para o lançamento.

A plataforma de lançamento ELA4 tem uma profundidade de 28,5 metros e uma largura de 200 metros, formada por cimento armado em quantidade suficiente para encher 67 piscinas olímpicas – cerca de 167.500 m3.

É composta por uma mesa de lançamento de aço de 700 toneladas que suporta o Ariane-6. Deflectores de aço conduzem as chamas da ignição do lançador para os túneis de exaustão enterrados debaixo da mesa de lançamento. Quatro mastros de protecção contra relâmpagos e uma torre de água para o sistema de supressão sónica também são parte da plataforma de lançamento.

O manual do utilizador do Ariane-8 pode ser acedido aqui.

A carga da missão VA262

A missão VA262 transportou catorze cargas que incluem oito pequenos satélites, nomeadamente OOV-Cube, Curium One, Robusta-3A, 3Cat-4, ISTSat-1, GRBBeta, CURIE (CURIE-A e CURIE-B) e Replicator. As cargas não separáveis são: YPSat, Peregrinus, SIDLOC, Parisat, SpaceCase e Nyx-Bikini.

O satélite OOV-Cube (On-Orbit Verification Cube Satellite) é uma missão que tem como objetivo demonstrar experiências científicas inovadoras. É uma missão conjunta entre a TU Berlin e a Rapid Cubes GmbH, enquanto o nanosat se baseia na bem-sucedida plataforma TUBiX10 da TU Berlin. A plataforma tem uma forma de cubo de 25 × 25 × 25 cm e ganhou herança durante a missão S-NET (2018) e missão SALSAT (2020). O satélite tem uma massa de 10 kg.

As experiências alojadas na missão OOV-CUBE são: a verificação em órbita do transcetor de banda L para comunicação intersatélite entre órbitas terrestres baixas e geostacionárias; qualificação das células solares Perovskite; inferência de IA integrada e processamento de dados de deteção remota; e caracterização dos parâmetros de ligação para a tecnologia IoT (gama de frequência ISM).

O Curium One é um CubeSat-12U concebido e fabricado pela empresa Planetary Transportation Systems (PTS – anteriormente denominada “Part-Time Scientists“), com sede em Berlim, em parceria com a Libre Space Foundation, com sede em Atenas. Com as suas dezenas de unidades chega uma variedade de objectivos para o primeiro voo do Ariane-6.

Um dos objetivos é contribuir para as comunidades de CubeSat e de radioamador através de testes e desenvolvimento de hardware e software de código aberto, ajudando a melhorar a infraestrutura de comunicação global e as oportunidades educativas em tecnologia espacial. A missão utilizará a rede de estações terrestres SatNOGS, que consiste em mais de 200 estações em todo o mundo, abertas a qualquer pessoa, com todos os resultados tornados públicos e os dados distribuídos gratuitamente sob Creative Commons.

Um dos principais objetivos técnicos da missão é a primeira demonstração em órbita do transcetor de rádio ‘SatNOGS-COMMS’ de última geração, juntamente com a Libre Space Foundation – uma organização grega sem fins lucrativos que também é pioneira no código aberto. O SatNOGS-COMMS é um transceptor de rádio de frequência ultra-elevada (UHF) e banda S – um dispositivo de comunicação que pode transmitir e receber ondas de rádio utilizando uma antena ‘roquete’. É de código aberto e totalmente compatível com a Rede SatNOGS.

A verificação do transceptor fornecerá informações importantes para a próxima missão PHASMA da Libre Space Foundation. Para a Planetary Transportation Systems, o Curium One fornecerá a primeira verificação em órbita do projeto do seu satélite para utilização em futuras missões planeadas, impulsionando o desenvolvimento espacial do PTS em todos os seus projetos.

Como o software e o hardware do Curium One são quase inteiramente de código aberto, os estudantes e os radioamadores já organizaram e participaram ativamente no desenvolvimento do satélite – vários deles obtendo conquistas académicas pelo seu trabalho.

Desde as células solares de silício económicas da missão até à utilização de componentes prontos a usar, o seu desenvolvimento de código aberto e o tempo de desenvolvimento incrivelmente rápido de sete meses, o Curium One é um passo importante no objetivo final do PTS – tornar a tecnologia espacial mais acessível e acessível, com aplicações diretas em missões futuras já planeadas.

Também designado “Méditerranée”, o CubeSat-3U Robusta-3A (Radiation on Bipolar Test for University Satellite Application 3A) foi desenvolvido pela Universidade de Montpellier II com uma missão científica e educativa. O satélite tem uma massa de 2,6 kg e a sua missão terá uma duração de dois anos.

Os três objectivos principais da missão são: a missão científica Méditerranée, em parceria com a Météo France, para melhorar a precisão das previsões meteorológicas na bacia do Mediterrâneo e, em particular, a previsão dos episódios de Cévenol; uma missão humanitária em parceria com associações para proporcionar um meio de comunicação entre escolas localizadas no Burkina Faso em zonas cortadas de redes e escolas parceiras em França; e uma missão de engenharia que testará e qualificará um equipamento de bordo, o Star Tracker, sistema de determinação de atitude no espaço.

Desenvolvido pela Universidade Politécnica da Catalunha, o 3Cat-4 é um CubeSat-1U com uma massa de 1 kg para a realização de várias experiências tecnológicas.

O pequeno satélite irá demonstrar a adequação deste tipo de plataformas para realizar observações da Terra com instrumentos passivos. Mais concretamente, o ³Cat-4 voará com um instrumento GNSS-R (Global Navigation Satellite System – Reflectometry) capaz de medir diversos fenómenos meteorológicos, características geográficas e parâmetros oceânicos, detectando e analisando os sinais refletidos de constelações de navegação por satélite (por ex. , GPS, GLONASS, Galileu, Beidou). Complementando as suas capacidades de deteção remota, transporta também um radiómetro passivo de banda L implementado com um SDR (Rádio Definido por Software) comercial. Juntamente com estas duas cargas úteis, o ³Cat-4 integra também um detetor AIS (Sistema de Identificação Automática) que permite rastrear os navios nas suas rotas intercontinentais.

O 3Cat-4 foi selecionado pelo programa “Fly Your Satellite!” da ESA em 2017 para ser colocado em órbita a partir da ISS em 2018 ou 2019. Eventualmente foi atribuído ao voo inaugural do Ariane-6.

O ISTSat-1 é o primeiro projeto de nanossatélites desenvolvido por alunos do Instituto Superior Técnico/Universidade de Lisboa em Portugal.

O principal objetivo da missão ISTSat-1 é proporcionar aos alunos um projeto prático desafiante, para avançar no desenvolvimento das suas competências, promover o seu entusiasmo pelo espaço, ciência e tecnologia e expô-los ao ciclo de vida completo do projeto de um espaço. O objetivo secundário da missão visa demonstrar um sistema de Transmissão de Vigilância Dependente Automática (ADS-B) para rastrear aeronaves em órbita. O sistema ADS-B irá recolher e analisar dados de seguimento e correlacioná-los com conjuntos de dados de seguimento baseados em terra para avaliar se os CubeSats de baixo custo podem atuar como satélites de suporte ADS-B adequados.

O sistema ADS-B será utilizado na monitorização de aeronaves em áreas não cobertas por estações terrestres, como rotas oceânicas ou áreas remotas.

O ISTSat-1 é um CubeSat-1U e tem uma massa de 2 kg, tendo a sua missão uma duração de seis meses. Foi selecionado pelo programa “Fly Your Satellite!” da ESA em 2017 para ser colocado em órbita a partir da ISS em 2018 ou 2019. Eventualmente foi atribuído ao voo inaugural do Ariane-6.

Com uma massa de 1 kg, o Cubesat-2U GRBBeta é o sucessor do mais pequeno observatório espacial astrofísico do mundo, o GRBAlpha – o primeiro CubeSat a detetar uma explosão de raios gama (GRB) a partir do espaço; ainda funciona bem após três anos em órbita e mais de 135 eventos ‘transitórios’ detetados até à data.

Com base no sucesso do Alpha, o GRBBeta servirá como “banco de testes” para uma série de novas tecnologias que serão vitais para as futuras constelações de satélites de deteção de GRB e outras missões CubeSat.

As explosões de raios gama são explosões imensamente energéticas que foram observadas em galáxias distantes. São os eventos explosivos mais brilhantes e extremos do Universo – um GRB típico libertará em poucos segundos tanta energia como o Sol o fará durante toda a sua vida útil de 10 mil milhões de anos.

Pensa-se que os GRB são libertados durante uma hipernova – quando uma estrela particularmente massiva implode poderosamente para formar uma estrela de neutrões ou um buraco negro. Após um enorme flash inicial de raios gama, um “brilho residual” emite comprimentos de onda mais longos em raios X, ultravioleta, ótico, infravermelho, micro-ondas e rádio.

O principal contratante do satélite é a Faculdade de Aeronáutica da Universidade Técnica de Košice, enquanto a Spacemanic, um fornecedor de missões de nanossatélites pronto a usar e fabricante de componentes CubeSat com sede na República Checa, liderou a construção do GRBBeta de última geração. As suas cargas científicas foram construídas numa colaboração húngara, checa, japonesa e canadiana e representam um avanço significativo na tecnologia espacial.

O Observatório Húngaro Konkoly liderou o desenvolvimento do detetor de explosão de raios gama do GRBBeta, enquanto a Universidade Checa Masaryk liderou a análise dos dados científicos. A Universidade Japonesa de Hiroshima contribuiu significativamente para o hardware do detetor, e a Universidade Canadiana de Toronto construiu um mini-Telescópio Espacial UV experimental.

Tal como aconteceu com a missão GRBAlpha, a Spacemanic foi responsável pela construção geral do GRBBeta – desde a gestão do projeto até à conceção da missão, passando pela construção e integração de quase todos os seus componentes e pelo desenvolvimento do segmento terrestre.

Além da experiência de explosão de raios gama, o GRBBeta também possui recursos de rádio amador e várias outras experiências.

Juntamente com os seus instrumentos astrofísicos, o GRBBeta está também equipado com um ‘transceptor’ Murgas – um dispositivo que pode transmitir e receber dados – apresentando uma oportunidade única para a comunidade global de radioamadorismo.

O satélite será visível para a rede SatNOGS de código aberto, pelo que qualquer pessoa com ligação à Internet poderá visualizar a sua telemetria (dados) ao vivo através do Painel Grafana a partir do conforto da sua casa e rastrear e verificar o estado de saúde do pequeno satélite do espaço.

O CURIE (CubeSat Radio Interferometry Experiment) é uma missão da NASA que tem por missão medir ondas de rádio provenientes do Sol e de outras fontes de rádio no céu. Estas ondas devem ser medidas no espaço, uma vez que são absorvidas pela ionosfera da Terra – uma região composta por gases ionizados (carregados) e criada à medida que a radiação solar interage com a atmosfera superior.

A missão é composta por dois satélites lançadas aparafusadas como um só, separando-se posteriormente em dois em órbita. Separados, os satélites CURIE A e B permitirão medir as mesmas ondas de rádio a partir de dois locais ao mesmo tempo. Utilizando a técnica de “análise interferométrica” de rádio, pode ser reconstruída a origem das ondas de rádio detectadas.

O principal objetivo científico do CURIE é utilizar a “interferometria” de rádio para estudar as emissões de explosões de rádio de erupções solares, como explosões e ejeções de massa coronal na heliosfera interna. Estes eventos impulsionam o clima espacial, sendo a sua influência sentida na Terra e noutros planetas quando ocorrem, no aumento da actividade auroral e dos efeitos geomagnéticos. O CURIE será capaz de determinar a localização e o tamanho das regiões fonte das explosões de rádio e, em seguida, rastrear o seu movimento para fora do Sol.

Um tal observatório de interferometria rádio baseado no espaço foi concebido há muito tempo, em órbita à volta da Terra ou da Lua, ou no outro lado da Lua. A CURIE será a primeira missão deste tipo a medir ondas de rádio na gama de frequências de 0,1 a 19 MHz a partir do espaço. Servirá como plataforma experimental e pioneiro no desenvolvimento de novas técnicas de observação rádio baseadas no espaço, importantes para a nossa compreensão do ambiente meteorológico espacial heliosférico e do impacto do Sol nos planetas do Sistema Solar.

Para além dos seus importantes objetivos científicos, o CURIE também provará que o conceito de um interferómetro dedicado baseado no espaço pode ser realizado utilizando CubeSats relativamente baratos.

Os dois satélites têm uma massa de 5,2 kg e são baseados no factor de forma CubeSat-3U.

A missão Replicator, da startup Orbital Matter, será lançada no Ariane-6 para demonstrar uma nova tecnologia de impressão 3D em órbita, abrindo potencialmente a porta a novas estruturas espaciais que não seriam possíveis de outra forma.

O nome ‘Replicador’ é uma homenagem às muitas formas de métodos avançados de fabrico na ficção científica, capazes de fabricar produtos complexos, prontos a usar: os replicadores de cozinhas semelhantes a micro-ondas de Star Trek podiam sintetizar refeições a pedido; a Sonda Von Neumann é uma nave espacial conceituada capaz de se auto-replicar exponencialmente; e na série Stargate, os Replicadores são uma raça de máquinas altamente avançada, capaz de se reproduzir indefinidamente.

A Orbital Matter não planeia produzir hambúrgueres ou pessoas semelhantes a máquinas, o seu objectivo a longo prazo é tornar-se a primeira empresa de construção no espaço – um dia fabricar grandes elementos de infraestrutura espacial directamente em órbita, na Lua e em Marte, e – assim fazendo – reduzindo custos e aumentando o acesso ao espaço. O seu novo método de impressão 3D foi desenvolvido para funcionar diretamente em vácuo e sob microgravidade, sem necessidade de geração de calor durante o fabrico. Como não existe atmosfera para arrefecer as peças através de arrefecimento por convecção, como soprar uma colher de sopa quente, é necessário muito tempo – meses – para que as peças arrefeçam apenas por irradiação (simplesmente esperando que a sopa perca calor). O processo da Orbital Matter imprime sem calor, tornando muito mais rápida a construção de estruturas no vácuo.

A empresa já demonstrou que a sua tecnologia de impressão 3D funciona no vácuo na Terra, mas com o primeiro lançamento do Ariane-6, eles irão realizar a sua primeira demonstração no espaço: o seu CubeSat-3U (10x10x30 cm) imprimirá uma estrutura longa de 50 cm a uma altitude de 580 km, feito de um material polimérico personalizado.

A Orbital Matter foi auxiliada durante todo o planeamento e desenvolvimento da sua missão pelo fornecedor de lançamentos RIDE!, com sede em Paris, que participaram no concurso PUSH da ESA e foram selecionados para organizar um concurso onde o vencedor receberia a gestão de lançamento end-to-end e a aquisição de um ou vários implementadores.

A RIDE! fornece uma plataforma digital para lidar com serviços de lançamento de ponta a ponta, desde a procura de oportunidades de lançamento até à avaliação de desempenho, preço e nível de serviço. Além da plataforma, a empresa oferece suporte com qualificação de instrumentos, documentação, transporte, integração de lançamento, promoção e muito mais.

Lançamento da missão VA262

Com a contagem decrescente a decorrer sem problemas, o motor do primeiro estágio entra em ignição a T-7s. Após a verificação dos seus parâmetros, os propulsores laterais de combustível sólido entram em ignição a T=0s, com o lançador a abandonar a plataforma de lançamento (1).

Os propulsores laterais de combustível sólido terminam a sua operação a T+2m 16s, separando-se do estágio central (2). A T+3m 39s ocorre a separação (3) das duas metades da carenagem de protecção e a T+7m 35s ocorre o final da queima do estágio central. A separação (4) do estágio superior ocorre a T+7m 41s.

A primeira ignição do motor Vinci ocorre a T+7m 50s (5) e a T+8m 53s ocorre a primeira activação da unidade auxiliar de propulsão. O final da primeira queima do motor Vinci ocorre a T+18m 32s.

Com o lançador numa órbita de parqueamento, a segunda ignição (6) do motor Vinci ocorre a T+56m 20s e terá uma duração de 22 segundos. A T+1h 5m 36s dá-se a desactivação da unidade auxiliar de propulsão em preparação da primeira sequência de separação da sua carga.

O primeiro comando para a separação (7) das cargas ocorre a T+1h 5m 53s. Nesta altura separam-se os satélites OOV-Cube, Curium One e Robusta-3A, sendo activadas as cargas não separáveis YPSat e Peregrinus. O segundo comando para a separação (8) das cargas ocorre a T+1h 5m 56s, ocorrendo a separação dos satélites 3Cat-4, ISTSat-1 e GRBBeta. Nesta altura são activadas as cargas não separváveis SIDLOC e PariSat.

O terceiro comando para a separação (9) das cargas ocorre a T+1h 6m 2s, ocorrendo a separação dos satélites CURIE e Replicator.

A terceira activação da unidade auxiliar de propulsão deveria ocorrer a T+1h 51m 11s, funcionando até T+2h 39m 26s. Entretanto, ocorreria a terceira ignição (10) do motor Vinci entre T+2h 37m 25s e T+2h 37m 43s.

Após a separação de todos os satélites, a unidade auxiliar de energia do último estágio deveria activar-se a T+1h 14m 12s. Esta activação iria auxiliar à realiuzação de pequenos ajustes orbitais e à pressurização dos tanques do último estágio. A unidade deveria funcionar durante 32 minutos, até T+1h 49m 41s. Porém desactivou-se logo após a sua activação.

O motor Vinci deveria realizar a sua terceira e última ignição antes da separação das cápsulas de reentrada Nyx Bikini e SpaceCase SC-X01. Esta ignição não ocorreu devido à falha registada na unidade auxiliar de energia do último estágio. O comando para a separação (11) das cápsulas Nyx-Bikini e SpaceCase SC-X01 ocorreria a T+2h 40m 13s. A manobra de passivação do estágio superior ocorreu a T+2h 40m 33s. Apesar do estágio superior ter sido «passivado», isto é, desactivado, irá permenecer numa órbita não controlada até à sua eventual reentrada atmosférica.

Dados estatísticos e próximos lançamentos

– Lançamento orbital: 6702

– Lançamento orbital Arianespace: 308 (4,60%)

– Lançamento orbital CSG Kourou: 320 (4,77% – 100,00%)

Lançamentos orbitais em 2024

Estatísticas dos lançamentos orbitais em 2024

Próximos lançamentos orbitais

Data Hora

UTC

Lançador Local Lançamento Plt. Lançamento (Recuperação) Carga / Missão
6703 10 Juho

23:40:??

Shuangquxian-1 Jiuquan

LC43/95B

??
6704 11 Julho

02:46:??

Falcon-9 Vandenberg SFB

SLC-4E

(OCISLY)

Starlink G9-3

Starlink G-T10

6705 14 Julho

07:35:??

Falcon-9 Cabo Canaveral SFS

SLC-40

(ASOG)

Starlink G10-4
6705 15 Julho

??:??:??

Electron/Curie Onenui (Máhia)

LC-1B

Kinéis-6

Kinéis-7

Kinéis-8

Kinéis-9

Kinéis-10

6706 15 Julho

??:??:??

Falcon-9 Cabo Canaveral SFS

SLC-40

(LZ-1)

WorldView Legion 3

WorldView Legion 4

 

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Bibiografia:

  • “Ariane 6 launches Curium One: space for all”. ESA. Acedido a 9 de Julho de 2024 em https://www.esa.int/Enabling_Support/Space_Transportation/Ariane/Ariane_6_launches_Curium_One_space_for_all
  • Krebs, Gunter D. “ROBUSTA 3A (Méditerranée)”. Gunter’s Space Page. Acedido a 9 de Julho de 2024 em https://space.skyrocket.de/doc_sdat/robusta-3a.htm
  • “Ready, set, integrate: 3Cat4 and ISTSat-1 CubeSats prepare to fly on Ariane 6”. ESA. Acedido a 9 de Julho de 2024 em https://www.esa.int/Education/CubeSats_-_Fly_Your_Satellite/Ready_set_integrate_3Cat4_and_ISTSat-1_CubeSats_prepare_to_fly_on_Ariane_6
  • “Ariane 6 launches GRBBeta: small satellite, big astrophysics”. ESA. Acedido a 9 de Julho de 2024 em https://www.esa.int/Enabling_Support/Space_Transportation/Ariane/Ariane_6_launches_GRBBeta_small_satellite_big_astrophysics