Um estudo que utiliza dados da missão Swarm da ESA sugere que fracas assinaturas magnéticas criadas pelas marés da Terra podem ajudar-nos a determinar a distribuição do magma sob o fundo do mar e podem até dar-nos informações sobre tendências de longo prazo nas temperaturas e salinidade globais dos oceanos.
A constelação Swarm é composta por três satélites que estudam o campo geomagnético da Terra. Pensa-se que este campo magnético que se estende desde o interior da Terra até ao espaço é produzido em grande parte por um oceano de ferro líquido no núcleo externo do planeta. Outras fontes de magnetismo incluem rochas magnetizadas na crosta.
E embora normalmente não possamos pensar nos oceanos como geradores de magnetismo, a água salgada do mar é um condutor elétrico moderado. Isto significa que, à medida que as marés fluem através do campo magnético terrestre, geram correntes eléctricas fracas, que por sua vez induzem pequenos sinais magnéticos – que podem ser detectados a partir do espaço.
Com os seus satélites a voar a uma altitude entre os 462 km e os 511 km, a constelação Swarm mede o campo magnético da Terra com mais precisão do que nunca. Consegue detectar assinaturas ténues de marés e distingui-las de outras fontes de campo magnético mais fortes do interior da Terra.
“Este estudo mostra que o Swarm pode fornecer dados sobre as propriedades de toda a coluna de água dos nossos oceanos.” afirma Anja Strømme, Gestora da Missão Swarm da ESA.
Os dados do Swarm podem também fornecer informações sobre a distribuição do magma, o que poderá no futuro apoiar uma melhor compreensão de eventos como a erupção vulcânica de Hunga-Tonga em 2022.
O estudo destas assinaturas foi capa da revista científica mais antiga do mundo, Philosophical Transactions da Royal Society, e foi conduzido por uma equipa da Universidade de Colónia e da Universidade Técnica da Dinamarca.
Os Swarm melhoram com a idade
A missão, lançada em 2013, deveria voar apenas durante quatro anos, mas está agora no seu 12.º ano. Anja acrescenta: “Este é um dos benefícios de voar em missões durante mais tempo do que o originalmente planeado. Assim, ao voar enquanto a produção científica for de excelente qualidade e os recursos o permitirem, poderá enfrentar questões científicas que não estavam inicialmente previstas.”
A missão está, no entanto, a aproximar-se lentamente do fim natural da sua vida útil, à medida que o arrasto aproxima gradualmente os satélites fisicamente da Terra. Isto permitiu que os instrumentos da missão – os satélites transportam sensores de última geração, incluindo magnetómetros que medem a força, magnitude e direcção do campo magnético – captassem sinais fracos que seriam mais difíceis de detectar nas órbitas mais altas no início da missão.
Menos interferência solar
A capacidade dos Swarm de detetar os fracos sinais oceânicos também foi ajudada pelo período menos activo do Sol por volta de 2017. “Estes estão entre os mais pequenos sinais detetados pela missão Swarm até agora”, diz o autor principal Alexander Grayver, da Universidade de Colónia.
“Os dados são particularmente bons porque foram recolhidos durante um período de mínimo solar, quando havia menos ruído devido ao clima espacial.”
O período “mínimo” do ciclo solar de 11 anos do Sol é quando a superfície do Sol está menos ativa. Durante este período “tranquilo”, emite menos matéria solar – incluindo radiação electromagnética e partículas carregadas – pelo que os fenómenos de “clima espacial”, como a aurora boreal, são menos frequentes. E com menos radiação eletromagnética do Sol, os sinais geomagnéticos da Terra são mais facilmente detetáveis pelos magnetómetros e outros instrumentos dos satélites.
A esperança é que, quando o próximo mínimo solar chegar depois de 2030, a missão Swarm possa ainda estar a voar – embora a uma altitude mais baixa – e seja capaz de continuar a detetar os sinais fracos que nos podem ajudar a compreender mais sobre as temperaturas e a salinidade nas profundezas.
Imagens: ESA
Texto original: Swarm detects tidal signatures of our oceans