Dois dias após colocar em órbita 42 satélites Starlink desde a Califórnia, a Space Exploration Technologies Corp. (SpaceX) colocou em órbita o satélite de comunicações Inmarsat-6 F2 a 19 de Fevereiro de 2023.
Fotografia: John Kraus
O lançamento teve lugar às 0359UTC a partir do Complexo de Lançamento SLC-40 do Cabo Canaveral SFS, Florida, e foi realizado pelo foguetão Falcon 9-205 (B1077.3) cujo primeiro estágio foi recuperado na plataforma flutuante Just Read The Instructions, no Oceano Atlântico.
O Inmarsat-6 F2 foi colocado numa órbita supersincronizada com um perigeu a 259 km de altitude e apogeu de 42.529 km de altitude, com uma inclinação inicial de 25.º. A partir desta órbita o satélite irá realizar várias manobras para circularizar a sua órbita na altitude geossíncrona.
Baseado na plataforma Eurostar-3000EOR da Airbus Defence and Space e com uma massa de 5.470 kg, o Inmarsat-6 F2 é o segundo satélite da sexta geração de satélites de comunicações móveis da operadora Inmarsat. Tal como o primeiro satélite, o Inmarsat-6 F2 será utilizado para aumentar os serviços Global Xpress de banda-L e de banda-Ka.
Lançamento
A cerca de dez horas do lançamento procede-se à activação eléctrica do foguetão Falcon-9. Tanto o lançador como a sua carga são submetidos a uma série de verificações testes antes do início do abastecimento do querosene RP-1. O Director de Voo consulta os controladores a T-38m, determinando assim se tudo está pronto para o início do abastecimento do lançador. O processo de abastecimento de RP-1 inicia-se a T-35m no primeiro estagio, seguindo-se o início do abastecimento do oxigénio líquido (LOX) na mesma altura. O abastecimento de LOX ao segundo estagio inicia-se a T-16m.
A fase terminal da contagem decrescente inicia-se com os motores a serem condicionados termicamente para o lançamento a T-7m. A T-1m é enviado um comando para o computador de voo para iniciar as verificações pré-lançamento e o sistema de supressão sónica é activado na plataforma de lançamento que é inundada por milhões de litros de água. Por esta altura os tanques de propelente também são pressurizados. A T-45s o Director de Lançamento da SpaceX verifica se todos os parâmetros estão prontos para a missão, sendo também verificado que o espaço aéreo está pronto para o lançamento. A sequência de ignição é iniciada a T-3s. A T=0s o foguetão abandona a plataforma.
Abandonando a plataforma de lançamento, o Falcon-9 inicia uma série de manobras para se colocar na trajectória de voo correcta. A fase MaxQ, de máxima pressão dinâmica, é atingida a T+1m 12s, sendo nesta altura que o lançador atinge o ponto mais elevado de ‘stress’ mecânico na sua estrutura.
O final da queima do primeiro estágio (MECO – Main Engine Cut-Off) ocorre a T+2m 31s, dando-se quatro segundos depois a separação entre o primeiro e o segundo estágio, com este a entrar em ignição a T+2m 36s.
A ejecção das duas metades da carenagem de protecção ocorre a T+3m 23s. A queima de reentrada do primeiro estágio ocorre entre T+6m 20s e T+6m 49s. O final da primeira queima do segundo estágio ocorre a T+8m 9s.
A queima de aterragem do primeiro estágio ocorre entre T+8m 12s e T+8m 42s, aterrando na plataforma flutuante Just Read The Instructions.
A segunda queima do segundo estágio ocorre entre a T+26m 10s e T+27m 13s. A separação do satélite Inmarsat-6 F2 ocorre a T+32m 14s.
O foguetão Falcon-9
Baptizado em nome da nave Millenium Falcon da saga cinematográfica “Guerra das Estrelas”, o foguetão Falcon-9 v1.1 é um lançador a dois estágios projectado e fabricado pela SpaceX para o transporte seguro e fiável de satélites e do veículo Dragon para a órbita terrestre. Sendo o primeiro foguetão completamente desenvolvido no Século XXI, este lançador foi projectado desde o início para ter a máxima fiabilidade. A sua simples configuração de dois estágios minimiza o número de eventos de separação (staging) e com nove motores no primeiro estágio, pode completar a sua missão em segurança mesmo na possibilidade de perda de um motor.
O Falcon-9 fez história em 2012 quando colocou a cápsula Dragon na órbita correcta para uma manobra de encontro com a estação espacial internacional, fazendo da SpaceX a primeira companhia comercial a visitar a ISS. Desde então, a SpaceX realizou múltiplas missões para a ISS transportando e recolhendo carga para a NASA. O Falcon-9, bem como a cápsula Dragon, foram desenhados na base do desenvolvimento de um sistema de transporte de astronautas para o espaço e num acordo com a NASA, a SpaceX está activamente a trabalhar para atingir esse objectivo.
O foguetão Falcon-9 Upgrade, ou Falcon-9 FT, (a seguir designado simplesmente como ‘Falcon-9’) representa a mais recente evolução deste lançador. De forma geral o Falcon-9 tem 68,4 metros de comprimento, 3,7 metros de diâmetro e uma massa de 541.300 kg. O veículo é capaz de colocar uma carga de 13.150 kg numa órbita terrestre baixa ou 4.850 kg numa órbita de transferência geossíncrona.
O primeiro estágio do Falcon-9 está equipado com nove motores Merlin (Merlin-1D) e tanque de liga de alumínio e lítio que contêm oxigénio líquido e querosene RP-1. Após a ignição, um sistema de segurança fixa o veículo na plataforma de lançamento e garante que todos os motores são verificados como estando na força máxima antes de libertar o foguetão para o seu voo. Então, com uma força superior a cinco aviões Boeing 747 em potência máxima, os motores Merlin lançam o foguetão para o espaço. Ao contrário dos aviões, a força de um foguetão vai aumentando com a altitude – o Falcon-9 gera 6.806 kN ao nível do mar mas atinge 7.426 kN no vácuo espacial. Os motores do primeiro estágio vão sendo aumentados em potência perto do final da queima do estágio para assim limitar a aceleração do veículo à medida que a massa do lançador vai diminuindo com a queima do combustível. O tempo total de queima do primeiro estágio é de 162 segundos.
Com os seus nove motores agrupados juntos na configuração ‘octaweb’, o Falcon-9 pode aguentar a falha de até dois motores durante o lançamento e mesmo assim conseguir atingir a órbita terrestre com sucesso. O Falcon-9 é o único lançador na sua classe com esta característica chave.
O motor Merlin foi desenvolvido internamente pela SpaceX mas vai encontrar as suas raízes aos motores das missões Apollo, nomeadamente o sistema de injecção baseado no motor do módulo lunar. O propolente é alimentado através de uma única conduta, com uma turbo-bomba de dupla pá que opera num ciclo de gerador a gás. A turbo-bomba também fornece o querosene a alta pressão para os actuadores hidráulicos, que depois recicla para a entrada a baixa pressão. Isto elimina a necessidade de um sistema hidráulico separado e significa que não é possível ocorrer uma falha no controlo de vector de força por falta de fluido hidráulico. Uma terceira utilização da turbo-bomba é o fornecimento de controlo de rotação ao actuar no escape da turbina de exaustão (no segundo estágio). Combinando-se estas características num só dispositivo aumenta-se assim de forma significativa o nível de fiabilidade do sistema.
O primeiro estágio B1077 Para esta missão a SpaceX utilizou o foguetão Falcon-9 (B1077.3), sendo esta a 3.ª missão do primeiro estágio B1077. Este primeiro estágio foi utilizado pela primeira vez a 5 de Outubro de 2022 quando às 1600:57UTC foi lançado a partir do Complexo de Lançamento LC-39A do Centro Espacial Kennedy, Merritt Island – Florida, para colocar em órbita a missão tripulada USCV5 com a cápsula espacial Crew Dragon Endeavour para a estação espacial internacional. Nesta missão o B1077 foi recuperado na plataforma flutuante Just Read The Instructions (JRTI) estacionada no Oceano Atlântico. A segunda missão do estágio B1077 teve lugar às 1224UTC do dia 18 de Janeiro quando foi utilizado para colocar em órbita o satélite de navegação USA-343 (GPS-III SV06 ‘Amelia Earhart’ Navstar-82). O lançamento foi realizado a partir do Complexo de Lançamento SLC-40 d0 Cabo Canaveral SFS, tendo sido recuperado na plataforma flutuante A Shortfall Of Gravitas (ASOG), no Oceano Atlântico. |
O motor é capaz de desenvolver uma força de 654 kN ao nível do mar, 716 kN no vácuo, com um impulso específico de 282 segundos (nível do mar) e 311 segundos (vácuo).
A secção interestágio é uma estrutura compósita que liga o primeiro e o segundo estágio e alberga os sistemas de libertação e separação. O Falcon-9 utiliza um sistema de separação totalmente pneumático para uma separação de baixo impacto e altamente fiável que pode ser testado no solo, ao contrário dos sistemas pirotécnicos utilizados na maior parte dos lançadores.
O segundo estágio é propulsionado por um único motor Merlin de vácuo e coloca a carga a transportar na órbita desejada. O motor do segundo estágio entra em ignição poucos segundos após a separação entre o segundo e o primeiro estágio, e pode ser reiniciado várias vezes para colocar múltiplas cargas em diferentes órbitas. Para máxima fiabilidade, o segundo estágio está equipado com sistemas de ignição redundantes. Tal como o primeiro estágio, o segundo estágio é feito a partir de uma liga de alumínio e lítio.
O motor Merlin de vácuo (Merlin-1D de vácuo) desenvolve uma força de 934 kN e o seu tempo de queima é de 397 segundos.
A carenagem compósita é utilizada para proteger a carga durante a passagem do Falcon-9 pelas camadas mais densas da atmosfera. Quando a missão do Falcon-9 é o lançamento do veículo de carga Dragon, a carenagem não é utilizada pois a cápsula possui o seu próprio sistema de protecção.
A carenagem tem 13,1 metros de comprimento e 5,2 metros de diâmetro. Fabricada em fibra de carbono, separa-se em duas metades utilizando um sistema de separação de actuadores pneumáticos semelhantes aos que são utilizados para a separação entre o primeiro e o segundo estágio.
A sequência de lançamento para o Falcon-9 é um processo de precisão ditada pela janela de lançamento tendo em conta a posição orbital a ser ocupada pela carga a bordo. Se a janela de lançamento é perdida, a missão é então adiada para a próxima janela de lançamento disponível.
Cerca de quatro horas antes do lançamento, inicia-se o processo de abastecimento – primeiro oxigénio líquido seguindo-se o querosene altamente refinado (RP-1). O vapor que se observa a sair do lançador durante a contagem decrescente é na realidade oxigénio a ser libertado dos tanques, sendo esta a razão pela qual o abastecimento de oxigénio líquido se mantém até quase ao final da contagem decrescente.
Lançamento | Veículo | 1.º estágio | Local Lançamento | Data Hora (UTC) | Carga | Recuperação |
2023-004 | 196 | B1076.2 | CCSFS, SLC-40 | 10/Jan/23 04:50:17 | OneWeb L16 | LZ-1 |
2023-009 | 197 | B1077.2 | CCSFS, SLC-40 | 18/Jan/23 12:24 | USA-343 (GPS-III SV06 ‘Amelia Earhart’) | ASOG |
2023-010 | 198 | B1075.1 | VSFB, SLC-4E | 19/Jan/23 15:23:10 | Starlink G2-4 | OCISLY |
2023-013 | 199 | B1067.9 | CCSFS, SLC-40 | 26/Jan/23 09:32:20 | Starlink G5-2 | JRTI |
2023-014 | 200 | B1071.7 | VSFB, SLC-4E | 31/Jan/23 16:15:00 | Starlink G2-6 SCV009 Eclectic Elena | OCISLY |
2023-015 | 201 | B1069.5 | KSC, LC-39A | 02/Fev/23 07:58:20 | Starlink G5-3 | ASOG |
2023-017 | 202 | B1073.6 | CCSFS, SLC-40 | 07/Fev/23 01:32 | Amazonas Nexus | JRTI |
2023-020 | 203 | B1062.12 | CCSFS, SLC-40 | 12/Fev/23 05:10:10 | Starlink G5-4 | ASOG |
2023-021 | 204 | B1063.9 | VSFB, SLC-4E | 17/Fev/23 19:12:20 | Starlink G2-5 | OCISLY |
2023-022 | 205 | B1077.3 | CCSFS, SLC-40 | 18/Fev/23 03:59 | Inmarsat-6 F2 | JRTI |
Dados estatísticos e próximos lançamentos
– Lançamento orbital: 6373
– Lançamento orbital EUA: 1872 (29,38%)
– Lançamento orbital Cabo Canaveral SFS: 851 (13,35% – 45,46%)
Os próximos lançamentos orbitais previstos são (hora UTC):
6374 – 23 Fev (1145:??) – Xichang – Chang Zheng-3B/G3 – Zhongxing-26
6375 – 23 Fev (1837:??) – Cabo Canaveral SFS, SLC-40 – Falcon-9 – Starlink G6-1 (x54) F74 [v2.0 L05]
6376 – 24 Fev (0024:27) – Baikonur, LC31 PU-6 – 14A14-1A Soyuz-2.1a – Soyus MS-23
6377 – 21 Fev (0405:??) – Jiuquan, LC43/94 – Chang Zheng-2C – ??
6378 – 26 Fev (0707:35) – CE Kennedy, LC-39A – Falcon-9 (B1078.1) – Crew Dragon Endeavour (C206-4) (USCV-6 Crew-6)