SpaceX lança lança missão logística para a ISS

A empresa norte-americana SpaceX levou a cabo o lançamento da sua terceira missão logística em 2019 para a estação espacial internacional numa missão na qual o segundo estágio do lançador é submetido a um ensaio prolongado tendo em vista futuras missões.

O lançamento da Dragon SpX-19 teve lugar às 1729:28UTC do dia 5 de Dezembro de 2019 a partir do Complexo de Lançamento SLC-40 do Cabo Canaveral AFS e foi levado a cabo pelo foguetão Falcon 9-077 (B1059.1). A cápsula Dragon, na sua terceira missão, separou-se do último estágio do lançador pelas 1739UTC e o primeiro estágio do foguetão Falcon-9 foi recuperado com sucesso na plataforma flutuante Of Course I Still Love You estacionada no Oceano Atlântico.

O ensaio estático para esta missão teve lugar a 26 de Novembro, tendo decorrido como previsto.

Nesta missão será realizada uma experiências com a duração de várias horas utilizando o segundo estágio do Falcon-9. A experiência tem como objectivo obter dados térmicos e outras informações para verificar a capacidade do veículo de levar a cabo missões de longa duração e colocar cargas úteis em órbitas mais elevadas ou extremas. Nesta experiência será utilizada parte da capacidade de lançamento extrema do Falcon-9, deixando uma reserva de combustível insuficiente no primeiro estágio do lançador para realizar manobras para uma aterragem deste no Cabo Canaveral. Por essa razão, o primeiro estágio terá como objectivo a descida na barcaça Of Course I Still Love You estacionada no Oceano Atlântico.

A missão logística CRS-19

A missão logística CRS-19 é a penúltima missão ao abrigo do contrato CRS-1 entre a agência espacial NASA e a SpaceX. A cápsula utilizada nesta missão foi anteriormente utilizada nas missões CRS-6 e CRS-11. Após ser colocada em órbita, a cápsula necessita de dois dias para chegar à ISS levando a cabo uma série de manobras à medida que se aproxima da estação espacial. Chegando à vizinhança da estação, a cápsula será capturada pelo sistema de manipulação remota da ISS, o Canadarm2, operado pelos astronautas Luca Parmitano e Andrew Norgan, sendo posteriormente ancorada (acoplada) com o porto nadir do módulo Harmony utilizando para tal um dos Common Berthing Mechanism (CBM). No dia da sua chegada a tripulação da ISS irá entrar no seu interior e iniciar o processo de descarga.

A Dragon transporta cerca de 2.600 Kg de provisões e cargas, incluindo materiais importantes para directamente dar suporte a mais de 250 investigações de pesquisa e ciência que irão ocorrer dentro do laboratório.

A carga total a bordo da Dragon SpX-19 é de 2.617 kg, dos quais 1.693 kg constituem carga pressurizada e 924 kg constituem carga não pressurizada.

O equipamento a bordo da Dragon SpX-19 inclui o Common Cabin Air Assembly (CCAA) Heat Exchanger, uma unidade suplente para ser instalada em suporte do sistema de controlo de humidade e temperatura Temperature Humidity Control (THC) em órbita; a Lithium Ion Battery and Adapter Plate, uma bateria suplente para substituir uma unidade que foi danificada pela Battery Charge/Discharge Unit (BCDU) no princípio de 2019; o conjunto Robotic Tool Stowage Assembly (RiTS), uma estação robótica a ser instalada no exterior da ISS para auxiliar a detecção de fugas de amoníaco; a Multifiltration Bed (MFB), um item do sistema Exploration Environmental Control and Life Support System (ECLSS), para demonstrar novas tecnologias desenvolvidas para o MFB; Thermal Amine Scrubber Blower, um sistema para reforçar a capacidade de eliminação de amoníaco em órbita; o laboratório Rodent Research Resupply para ser utilizado no Rodent Research-19 (RR-19); e o Microgravity Science Glovebox (MSG) / Life Sciences Glovebox (LSG) Resupply, equipamento e consumíveis para apoiar as operações a bordo em 2020.

No seu regresso à Terra, a Dragon SpX-19 transportará de volta o CCAA Heat Exchanger, uma unidade degradada a operar na ISS e que será substituída pela unidade transportada na missão CRS-19; o Main Bus Switching Unit (MBSU), após a falha de comunicações em Abril de 2019, esta unidade será transportada para a Terra para avaliação e manutenção; Battery Charge/Discharge Unit (BCDU), esta unidade representa a segunda falha desta tipo em 2018, após cerca de 20 anos de uma performance ímpar, sendo transportada de volta para a Terra para uma rápida inspecção e reparação para a sua protecção em caso de futuras anomalias; e a Rodent Research Habitats and Transporters, habitats e sistemas de transporte que foram utilizados em experiências com roedores.

A bordo da missão CRS-19 segue também o sistema de observação hiperespectral japonês HISUI (Hyperspectral Imager Suite). Desenvolvido pelo Ministério Japonês da Economia, Comércio e Industria, tem como objectivo obter os dados necessários para a aplicação a larga escala de detecção remota hiperespectral para a exploração de recursos naturais (petróleo, gás e minérios) e outros campos, tais como agricultura, florestação e problemas costeiros.

Os pequenos satélites

A bordo da Dragon SpX-19 seguem vários pequenos satélites que serão posteriormente colocados em órbita. Estes satélites são: CIRiS, SORTIE, CryoCube-1, QARMAN, AzTechSat-1, EdgeCube e o MakerSat-1.

O CIRiS (Compact Infrared Radiometer in Space) é um CubeSat-6U com uma massa de cerca de 6 kg desenvolvido pela Universidade Estatal do Utah e pela Ball Aerospace, que desenvolveu a carga a bordo. Esta é uma missão de demonstração de um sistema de observação com um radiómetro que opera nos comprimentos de onde de 7 a 13 micrómetros.

Para a missão, a Ball Aerospace adaptará um instrumento existente, o radiómetro BESST (Ball Experimental Sea Surface Temperature) de três canais LWIR, para ser compatível com um CubeSat para validar o desempenho do instrumento em na órbita terrestre baixa. A missão do CIRiS também validará algoritmos de processamento de dados e calibração de instrumentos em órbita, importante para permitir que novos instrumentos possam ser usados numa variedade de missões, incluindo futuros Landsats. Vários satélites CIRiS em formação podem substituir instrumentos e satélites maiores ou mais complexos. Os dados obtidos podem ser usados para gestão, pesquisa e modelagem de recursos terrestres e hídricos. O satélite faz parte da iniciativa Educational Launch of Nanosatellites (ELaNa), ELaNa-28.

O satélite SORTIE (Scintillation Observations and Response of The Ionosphere to Electrodynamics) é um CubeSat-6U que irá investigar as causas que originam o aparecimento das estruturas de plasma na região F da ionosfera terrestre, levando às bolhas de plasma equatoriais, e a evolução dessas estruturas após a sua formação. A equipa do projecto, também designado Helio-5, é composta pela ASTRA LLC (Atmospheric & Space Technology Research Associates), pela COSMIAC, pela AFRL, pela Universidade do Texas (em Dallas) e pelo Boston College, com a COSMIAC a ser a responsável pela integração do satélite que será operado pela ASTRA LLC.

O SORTIE irá recolher dados ao longo de 6 meses, permitindo aos cientistas descrever a distribuição de estruturas semelhantes a ondas na densidade plasmática da região F da ionosfera e estabelecer a ligação dessas variações a fontes de ondas na troposfera e na da termosfera a latitudes elevadas. O pequeno satélite faz parte da iniciativa Educational Launch of Nanosatellites (ELaNa), ELaNa-25B.

O CryoCube é um CubeSat-3U desenvolvido pelo Centro Espacial Kennedy e pela Sierra Lobo, Inc. que irá levar a cabo experiências de gestão de fluídos criogénicos. A missão foi seleccionada como parte da iniciativa Educational Launch of Nanosatellites (ELaNa), ELaNa-25B.

O satélite está equipado com painéis solares desdobráveis que irão servir também como escudos térmicos. Um segundo escudo térmico desdobrável irá bloquear a radiação infravermelha proveniente da Terra. Um sistema de portas activas irá expor o tanque de oxigénio criogénico ao espaço durante as fases de eclipse orbital.

O satélite QARMAN (QubeSat for Aerothermodynamic Research and Measurements on Ablation) é um CubeSat-3U belga projectado pelo Instituto Von Karman para demonstrar as tecnologias de reentrada, em particular novos materiais para escudos térmicos, novos sistemas de atrito aerodinâmico passivo e sistemas de estabilização de atitude. O satélite irá levar a cabo experiências de estabilidade durante várias fases orbitais e medições da ablação e radiação durante a reentrada, demonstrando também a transmissão de dados durante a reentrada através de satélites de retransmissão na órbita terrestre baixa. A sua missão terá uma duração de 3 meses. O satélite, com uma massa de 4 kg, faz parte da constelação QB50 com o código (QB50 BE05).

O pequeno satélite AzTechSat-1 é um CubeSat-1U desenvolvido pela UPAEP e que será operado pelo Centro de Pesquisa Espacial Ames da NASA e pela UPAEP. A missão irá demonstrar a utilização da constelação Globalstar na órbita terrestre baixa para comunicações móveis por satélite e transmissão de dados. O satélite tem uma massa de 1 kg e faz parte da iniciativa Educational Launch of Nanosatellites (ELaNa), ELaNa-25B.

Desenvolvido e operado pela Universidade Estatal de Sonoma, o EdgeCube é um CubeSat-1U com uma massa de 1 kg. É uma missão de demonstração para a monitorização global dos ecossistemas terrestre. O satélite transporta seis pares de fotossensores e filtros que são orientados na direcção normal do eixo de rotação do satélite para varrerem a superfície terrestre. O satélite faz parte da iniciativa Educational Launch of Nanosatellites (ELaNa), ELaNa-28.

Esta é um missão de investigação científica projectada para realizar medições globais da radiação vermelha que monitoriza uma mudança acentuada na reflectância foliar na faixa de 680 nm a 750 nm, devido às alterações na absorção da clorofila da vegetação e na dispersão mesofila devido à fenologia ou stress sazonal das folhas. Irá permitir a realização de testes de diferentes técnicas de análise da radiação vermelha que são particularmente adequadas para detectar mudanças de longo prazo nos ecossistemas grandes e relativamente homogéneos, para verificar se elas mudam ao longo do tempo.

O Makersat-1 foi desenvolvido pela Northwest Nazarene University e pela NearSpace Launch. É um CubeSat-1U com uma massa de 1 kg. O satélite irá testar o conceito de uma missão fabricada e montada em microgravidade a bordo da estação espacial internacional. Esta é a primeira missão explicitamente projectada para ser impressa em 3D a bordo da ISS, sendo posteriormente rapidamente montada pelos astronautas em apenas 5 minutos sem a utilização de ferramentas e posteriormente colocada em órbita.

O Complexo de Lançamento SLC-40

O lançamento da missão CRS-18 teve lugar a partir do Complexo de Lançamento SLC-40 (Space Launch Complex-40) do Cabo Canaveral AFS (Air Force Station), Florida.

Localizado na parte Norte do Cabo Canaveral AFS, o complexo de lançamento foi utilizado durante muitos anos para o lançamento dos foguetões Titan nas suas mais variadas versões. As instalações foram cedidas à SpaceX em Maio de 2008.

O centro do complexo de lançamento é composto por uma plataforma de cimento e um sistema de diversão de chamas. A plataforma está rodeada por quatro torres de protecção contra relâmpagos, tanques de armazenamento de prepolentes e o hangar de integração do lançador que alberga os diferentes estágios antes de cada missão. A cápsula Dragon é acoplada ao segundo estágio do lançador enquanto que este já se encontra no sistema de transporte e erecção no interior deste hangar. O foguetão é depois transportado para a plataforma de lançamento numa posição horizontal e depois colocado na posição vertical sobre o fosso das chamas.

Lançamento e fase inicial de voo

A cápsula Dragon é activada 26 horas antes do lançamento. A T-38m o Director de Voo verifica se tudo está pronto para o início do abastecimento do foguetão Falcon-9. Estando tudo pronto, é dada luz verde para o início do abastecimento de RP-1 ao primeiro estágio que se inicia a T-35m ao mesmo tempo que se inicia o abastecimento de oxigénio líquido (LOX). O abastecimento de LOX ao segundo estágio inicia-se a T-16m.

A T-7m 58s a cápsula Dragon começa a utilizar as suas baterias internas para o fornecimento de energia e a fase terminal da contagem decrescente inicia-se a T-7m, com o acondicionamento térmico dos motores. A T-1m 30s o Director de Lançamento da SpaceX verifica se todos os parâmetros estão prontos para o lançamento. Na mesma altura, é verificado que o espaço aéreo está pronto para o voo. A T-1m é enviado um comando para o computador de voo para iniciar as verificações pré-lançamento e o sistema de supressão sónica por água é activado na plataforma de lançamento. Os tanques de propolente são pressurizados nesta altura e a sequência de ignição é iniciada a T-3s. A T=0s o foguetão abandona a plataforma.

Abandonando a plataforma de lançamento, o Falcon-9 inicia uma série de manobras para se colocar na trajectória de voo correcta. A fase MaxQ é atingida a T+1m 18s. O final da queima do primeiro estágio ocorre a T+2m 31s, dando-se três segundos depois a separação entre o primeiro e o segundo estágio. O segundo estágio entra em ignição a T+2m 42s. O final da queima do segundo estágio ocorre a T+8m 35s, seguindo-se a separação da cápsula Dragon a T+9m 35s, com a abertura dos painéis solares a ter lugar a T+12m 02s e a abertura das portas dos porão de orientação, navegação e controlo a ocorrer a T+2h 19m.

Enquanto que o segundo estágio continua a sua ascensão orbital, o primeiro estágio regressa à Terra realizando uma queima a T+2m 47s para iniciar a sua descida controlada. O primeiro estágio tem 17 segundos para conseguir fazer uma rotação de 180º para executar esta manobra. Ao activar os seus motores, as chamas resultantes da ignição juntam-se às chamas resultantes da ignição do segundo estágio dando a sensação de uma explosão. A T+6m 11s ocorre a queima de reentrada que terá uma duração de cerca de 25 segundos. Cerca de dez segundos antes da aterragem, os suportes de descida na base do primeiro estágio são colocados em posição para equilibrar o veículo na plataforma de aterragem. A aterragem ocorre a T+7m 48s.

Dragon SpX-4 02A fase de operações orbitais e de aproximação à ISS, inicia-se logo após a separação da cápsula do segundo estágio do foguetão lançador. A T+12m é iniciada a sequência de abertura dos painéis solares.  A T+2h20m tem início a abertura da porta GNC (Guidance and Navigation Control), expondo o conjunto de sensores que serão necessários para as manobras de encontro com a estação espacial. Por volta de T+5h é realizada a queima coelíptica que circulariza a órbita da cápsula Dragon após a injecção orbital por parte do foguetão Falcon-9.

A Dragon SpX-18 deverá acoplar com a ISS cerca de dois dias após o lançamento. Até lá, a cápsula teria de realizar um conjunto de manobras para elevar a sua órbita. Estas manobras seriam realizadas no segundo e terceiro dias da missão: as manobras começam a ajustar a altitude da Dragon em direcção à estação, e procede-se à configuração da unidade CUCU (COTS Ultra-High Frequency Communications Unit) e dos sistemas de comunicações UHF do veículo.

Próximo da Dragon SpX-4 03estação, a Dragon iniciaria uma série de queimas que a colocariam a 2,5 km abaixo da ISS. Após ser tomada a decisão de prosseguir com a aproximação, a Dragon recebe e envia informações da unidade CUCU para a estação. Uma nova queima coloca o veículo a 1,2 km da ISS e após ser tomada uma nova decisão de se prosseguir com a aproximação, uma nova manobra coloca o veículo dentro do elipsóide de aproximação. Continuando a aproximação, o veículo vai ser colocado estacionário a 250 metros da ISS para confirmação de que os sensores de proximidade adquirem o alvo de aproximação. A partir desta fase, a Dragon vai iniciar uma aproximação ao longo do R-bar, isto é, seguindo uma trajectória ao longe de uma linha imaginária que liga a estação ao centro da Terra. Esta aproximação prossegue até atingir uma distância de 30 metros onde aguarda nova decisão de prosseguir com a manobra que a levará até 10 metros da estação, sendo este o ponto de captura que é feito pela tripulação utilizando o braço robot da ISS. Finalmente, a cápsula é acoplada ao módulo Harmony com os astronautas a acederem ao seu interior no final do terceiro dia de missão.

 DragonCRS3_2014-04-13_16-53-09A cápsula Dragon

A cápsula Dragon foi desenvolvida pela SpaceX com o objectivo de transportar carga para a estação espacial internacional. Em Junho de 2006 foi seleccionada pela NASA, juntamente com o veículo K-1 da Kistler, para ser desenvolvida ao abrigo do programa COTS. Em Outubro de 2007 o contrato com a Kistler seria cancelado após a empresa não ser capaz de atingir os objectivos propostos, sendo atribuído um outro contrato à Orbital Sciences Corporation em Fevereiro de 2008 para o desenvolvimento do veículo Cygnus.

DragonSpX8 2

O desenvolvimento da Dragon teve início em 2006 e em Março de 2006 o seu projecto era submetido para o programa COTS. A cápsula foi desenhada para ser capaz de no futuro transportar tripulações, bem como carga.

O seu módulo de carga pressurizado tem um volume de 10 m3, DragonCRS3_2014-04-13_16-53-36enquanto que a sua secção não pressurizada, que pode ser utilizada para o transporte de carga ou de pequenos satélites, tem um volume de 14 m3. Em cada secção podem ser transportados até 3.310 kg de carga (lançamento) ou 2.500 kg (regresso). Excluindo a secção não pressurizada, a Dragon tem um comprimento de 2,9 metros (5,1 metros com a secção não pressurizada) e um diâmetro de 3,66 metros. Transporta um total de 1.290 kg de propolente para um perfil de missão nominal com uma inserção sub-orbital e subsequente voo até à ISS.

Para a acoplagem com a ISS, a cápsula está equipada com um mecanismo de captura e acoplagem CMB (Common Berthing Mechanism) que permite que seja «agarrada» pelo Canadarm2 numa maneira muito semelhante com o que acontece com o veículo de carga japonês HTV.

O controlo de atitude da Dragon é possível utilizando 18 pequenos motores Draco que queima monometil hidrazina e tetróxido de azoto. Estes pequenos motores são também utilizados para o regresso à Terra, pois ao contrário do que acontece com os outros veículos de transporte de carga, a Dragon é recuperada após cada missão. Para tal, a cápsula está equipada com um escudo térmico fabricado num material denominado PICA-X (Phenolic Impregnated Carbon Ablator). Este material pode suportar temperaturas até aos 2.200ºC. O escudo térmico tem um diâmetro de 3,66 metros e cobre a parte inferior da cápsula. O seu desenvolvimento demorou quatro anos e a SpaceX planeia reutilizar o escudo térmico em várias missões.

O foguetão Falcon-9

Baptizado em nome da nave Millenium Falcon da saga cinematográfica “Guerra das Estrelas”, o foguetãfalcon9o Falcon-9 v1.1 era um lançador a dois estágios projectado e fabricado pela SpaceX para o transporte seguro e fiável de satélites e do veículo Dragon para a órbita terrestre. Sendo o primeiro foguetão completamente desenvolvido no Século XXI, este lançador foi projectado desde o início para ter a máxima fiabilidade. A sua simples configuração de dois estágios minimiza o número de eventos de separação (staging) e com nove motores no primeiro estágio, pode completar a sua missão em segurança mesmo na possibilidade de perda de um motor.

O Falcon-9 fez história em 2012 quando colocou a cápsula Dragon na órbita correcta para uma manobra de encontro com a estação espacial internacional, fazendo da SpaceX a primeira companhia comercial a visitar a ISS. Desde então, a SpaceX realizou um total de três missões para a ISS transportando e recolhendo carga para a NASA. O Falcon-9, bem como a cápsula Dragon, foram desenhados na base do desenvolvimento de um sistema de transporte de astronautas para o espaço e num acordo com a NASA, a SpaceX está activamente a trabalhar para atingir esse objectivo.

O foguetão Falcon-9 Upgrade, ou Falcon-9 FT, (a seguir designado simplesmente como ‘Falcon-9’) representa a mais recente evolução deste lançador. De forma geral o Falcon-9 tem 68,4 metros de comprimento, 3,7 metros de diâmetro e uma massa de 541.300 kg. O veículo é capaz de colocar uma carga de 13.150 kg numa órbita terrestre baixa ou 4.850 kg numa órbita de transferência geossíncrona.

O primeiro estágio do Falcon-9 está equipado com nove motores Merlin (Merlin-1D) e tanque de liga de alumínio e lítio que contêm oxigénio líquido e querosene RP-1. Após a ignição, um sistema de segurança fixa o veículo na plataforma de lançamento e garante que todos os motores são verificados como estando na força máxima antes de libertar o foguetão para o seu voo. Então, com uma força superior a cinco aviões Boeing 747 em potência máxima, os motores Merlin lançam o foguetão para o espaço. Ao contrário dos aviões, a força de um foguetão vai aumentando com a altitude – o Falcon-9 gera 6.806 kN ao nível do mar mas atinge 7.426 kN no vácuo espacial. Os motores do primeiro estágio vão sendo aumentados em potência perto do final da queima do estágio para assim limitar a aceleração do veículo à medida que a massa do lançador vai diminuindo com a queima do combustível. O tempo total de queima do primeiro estágio é de 162 segundos.

Com os seus nove motores agrupados juntos na configuração ‘octaweb’, o Falcon-9 pode aguentar a falha de até dois motores durante o lançamento e mesmo assim conseguir atingir a órbita terrestre com sucesso. O Falcon-9 é o único lançador na sua classe com esta característica chave.

O motor Merlin foi desenvolvido internamente pela SpaceX mas vai encontrar as suas raízes aos motores das missões Apollo, nomeadamente o sistema de injecção baseado no motor do módulo lunar. O propolente é alimentado através de uma única conduta, com uma turbo-bomba de dupla pá que opera num ciclo de gerador a gás. A turbo-bomba também fornece o querosene a alta pressão para os actuadores hidráulicos, que depois recicla para a entrada a baixa pressão. Isto elimina a necessidade de um sistema hidráulico separado e significa que não é possível ocorrer uma falha no controlo de vector de força por falta de fluido hidráulico. Uma terceira utilização da turbo-bomba é o fornecimento de controlo de rotação ao actuar no escape da turbina de exaustão (no segundo estágio). Combinando-se estas características num só dispositivo aumenta-se assim de forma significativa o nível de fiabilidade do sistema.

O motor é capaz de desenvolver uma força de 654 kN ao nível do mar, 716 kN no vácuo, com um impulso específico de 282 segundos (nível do mar) e 311 segundos (vácuo).

A secção interestágio é uma estrutura compósita que liga o primeiro e o segundo estágio e alberga os sistemas de libertação e separação. O Falcon-9 utiliza um sistema de separação totalmente pneumático para uma separação de baixo impacto e altamente fiável que pode ser testado no solo, ao contrário dos sistemas pirotécnicos utilizados na maior parte dos lançadores.

O segundo estágio é propulsionado por um único motor Merlin de vácuo e coloca a carga a transportar na órbita desejada. O motor do segundo estágio entra em ignição poucos segundos após a separação entre o segundo e o primeiro estágio, e pode ser reiniciado várias vezes para colocar múltiplas cargas em diferentes órbitas. Para máxima fiabilidade, o segundo estágio está equipado com sistemas de ignição redundantes. Tal como o primeiro estágio, o segundo estágio é feito a partir de uma liga de alumínio e lítio.

O motor Merlin de vácuo (Merlin-1D de vácuo) desenvolve uma força de 934 kN e o seu tempo de queima é de 397 segundos.

SES-9Falcon 6

SES-9Falcon 7

A carenagem compósita é utilizada para proteger a carga durante a passagem do Falcon-9 pelas camadas mais densas da atmosfera. Quando a missão do Falcon-9 é o lançamento do veículo de carga Dragon, a carenagem não é utilizada pois a cápsula possui o seu próprio sistema de protecção.

A carenagem tem 13,1 metros de comprimento e 5,2 metros de diâmetro. Fabricada em fibra de carbono, separa-se em duas metades utilizando um sistema de separação de actuadores pneumáticos semelhantes aos que são utilizados para a separação entre o primeiro e o segundo estágio.

A sequência de lançamento para o Falcon-9 é um processo de precisão ditada pela janela de lançamento de cerca de uma hora tendo em conta a posição orbital a ser ocupada pelo satélite. Se a janela de lançamento de uma hora é perdida, a missão é então adiada para o dia seguinte.

Cerca de quatro horas antes do lançamento, inicia-se o processo de abastecimento – primeiro oxigénio líquido seguindo-se o querosene altamente refinado (RP-1). O vapor que se observa a sair do lançador durante a contagem decrescente é na realidade oxigénio a ser libertado dos tanques, sendo esta a razão pela qual o abastecimento de oxigénio líquido se mantém até quase ao final da contagem decrescente.

Dados estatísticos e próximos lançamentos

– Lançamento orbital: 5893

– Lançamento orbital EUA: 1675 (28,42%)

– Lançamento orbital desde Cabo Canaveral AFS: 764 (12,96% – 45,61%)

Os quadro seguinte mostra os lançamentos previstos e realizados em 2019 por polígono de lançamento.

Os próximos lançamentos orbitais previstos são (hora UTC):

5894 – 06 Dez (0756:??) – Electron/Curie (F10 ‘Running Out Of Fingers’) – Onenui (Máhia), LC-1 – ATL-1, FossaSat-1, NOOR-1A (Unicorn-2B), NOOR-1B (Unicorn-2C), SMOG-P, TRSI-Sat, ALE-2

5895 – 06 Dez (0934:11) – 14A14-1A Soyuz-2.1a (N15000-034) – Baikonur, LC31 PU-6 – Progress MS-13

5896 – 07 Dez (0245:XX) – KZ-1A Kuaizhou-1A (Y9) – Taiyuan – Jilin-1 Gaofen-02B

5897 – 07 Dez (0845:XX) – KZ-1A Kuaizhou-1A (Y6) – Taiyuan – Xingyun-2 01, Xingyun-2 02

5898 – 10 Dez (????:??) – 14A14-1B Soyuz-2.1b/Fregat (N15000-046/???-??) – GIK-1 Plesetsk, LC43/3 – 14F143 Glonass-M № 59L

5899 – 11 Dez (0955:00) – PSLV-QL (PSLV-C48) – Satish Dawan SHAR, FLP – RISAT-2BR1, QPS-SAR 1 (Izanagi), Lemur-2 x1, Lemur-2 x2, Lemur-2 x3, Lemur-2 x4

5900 – 16 Dez (0010:??) – Falcon 9-078 – CE Kennedy, LC-39A – Kacific-1 (JCSat-18)