No seu terceiro lançamento orbital a 17 de Dezembro de 2024, a empresa norte-americana Space Exploration Technologies Corp. (SpaceX) colocou em órbita dois satélites O3b mPower.
O lançamento teve lugar às 2256UTC e foi realizado pelo foguetão Falcon 9-412 (B1090.1) a partir do Complexo de Lançamento LC-39A do Centro Espacial Kennedy, Ilha de Merritt, Florida, com o primeiro estágio a ser recuperado na plataforma flutuante Just Read The Instructions (JRTI), no Oceano Atlântico.
Os satélites O3b mPower 7 e O3b mPower 8 são o quarto par de satélites da série de veículos melhorados da segunda geração O3b mPower que serão operados pela O3b Neworks Ltd. da SES.
Com uma massa de 1.700 kg e baseados na plataforma BSS-702X, os satélites são desenvolvidos pela Boeing e são veículos de alta capacidade, constituindo uma constelação de Tb/s. A constelação estará equipada com 30.000 feixes adaptáveis e activados em tempo real para alinhar as oportunidades de crescimento dos clientes.
Os satélites estão equipados com um sistema de propulsão eléctrico para manobras e manutenção orbital. A segunda geração de satélites irá introduzir uma segunda órbita à mesma altitude orbital, mas com uma inclinação de 70.º para uma cobertura quase global. A constelação equatorial será constituída por 24 satélites e a órbita inclinada terá até 16 satélites.
Lançamento
A missão tinha como objectivo injectar a sua carga numa órbita de transferência para uma órbita equatoril operacional a 8.000 km de altitude.
Os preparativos finais para o lançamento iniciaram-se com a partida desde o Porto de Charlston, Florida, da plataforma flutuante JRTI “Marmac 303” (rebocada pela embarcação Signet Warhorse III) às 1348UTC do dia 15 de Dezembro, enquanto o navio de apoio Bob deixava o seu porto de abrigo pelas 0845UTC do dia seguinte.
A cerca de dez horas do lançamento procedeu-se à activação eléctrica do foguetão Falcon-9. Tanto o lançador como a sua carga são submetidos a uma série de verificações testes antes do início do abastecimento do querosene RP-1. O Director de Voo consulta os controladores a T-38m, determinando assim se tudo está pronto para o início do abastecimento do lançador. O processo de abastecimento de RP-1 inicia-se a T-35m no primeiro estágio, seguindo-se o início do abastecimento do oxigénio líquido (LOX) na mesma altura. O abastecimento de LOX ao segundo estágio inicia-se a T-16m.
A fase terminal da contagem decrescente inicia-se com os motores a serem condicionados termicamente para o lançamento a T-7m. A T-1m é enviado um comando para o computador de voo para iniciar as verificações pré-lançamento e o sistema de supressão sónica é activado na plataforma de lançamento inundada por milhões de litros de água. Por esta altura os tanques de propelente também são pressurizados. A T-45s o Director de Lançamento da SpaceX verifica se todos os parâmetros estão prontos para a missão, sendo também verificado que o espaço aéreo está pronto para o lançamento. A sequência de ignição é iniciada a T-3s. A T=0s o foguetão abandona a plataforma.
Abandonando a plataforma de lançamento, o Falcon-9 inicia uma série de manobras para se colocar na trajectória de voo correcta. A fase MaxQ, de máxima pressão dinâmica, é atingida a T+1m 7s, sendo nesta altura que o lançador atinge o ponto mais elevado de ‘stress’ mecânico na sua estrutura.
Tempo (h:m:s) | Evento |
00:01:11 | Máxima pressão dinâmica (MaxQ) |
00:02:30 | Final da queima do 1.º estágio (MECO) |
00:02:33 | Separação entre o 1.º e o 2.º estágio |
00:02:41 | Ignição do 2.º estágio (SES-1) |
00:03:30 | Separação da carenagem de protecção |
00:06:20 | Início da queima de reentrada do 1.º estágio |
00:06:46 | Final da queima de reentrada do 1.º estágio |
00:07:58 | Final da primeira queima do 2.º estágio (SECO-1) |
00:08:10 | Início da queima de aterragem do 1.º estágio |
00:08:33 | Aterragem do 1.º estágio |
00:27:00 | Início da segunda queima do 2.º estágio (SES-2) |
00:27:32 | Final da segunda queima do 2.º estágio (SECO-2) |
01:49:35 | Início da terceira queima do 2.º estágio (SES-3) |
01:50:04 | Final da terceira queima do 2.º estágio (SECO-3) |
01:53:05 | Separação do primeiro satélite O3b mPower |
02:00:15 | Separação do segundo satélite O3b mPower |
O foguetão Falcon-9
Baptizado em nome da nave Millenium Falcon da saga cinematográfica “Guerra das Estrelas”, o foguetão Falcon-9 v1.1 foi um lançador a dois estágios projectado e fabricado pela SpaceX para o transporte seguro e fiável de satélites e do veículo Dragon para a órbita terrestre. Sendo o primeiro foguetão completamente desenvolvido no Século XXI, este lançador foi projectado desde o início para ter a máxima fiabilidade. A sua simples configuração de dois estágios minimiza o número de eventos de separação (staging) e com nove motores no primeiro estágio, pode completar a sua missão em segurança mesmo na possibilidade de perda de um motor.
O Falcon-9 fez história em 2012 quando colocou a cápsula Dragon na órbita correcta para uma manobra de encontro com a estação espacial internacional, fazendo da SpaceX a primeira companhia comercial a visitar a ISS. Desde então, a SpaceX realizou múltiplas missões para a ISS transportando e recolhendo carga para a NASA. O Falcon-9, bem como a cápsula Dragon, foram desenhados na base do desenvolvimento de um sistema de transporte de astronautas para o espaço.
O foguetão Falcon-9 Upgrade, ou Falcon-9 FT, (a seguir designado simplesmente como ‘Falcon-9’) representa a mais recente evolução deste lançador. De forma geral o Falcon-9 tem 68,4 metros de comprimento, 3,7 metros de diâmetro e uma massa de 541.300 kg. O veículo é capaz de colocar uma carga de 13.150 kg numa órbita terrestre baixa ou 4.850 kg numa órbita de transferência geossíncrona.
O primeiro estágio do Falcon-9 está equipado com nove motores Merlin (Merlin-1D) e tanque de liga de alumínio e lítio que contêm oxigénio líquido e querosene RP-1. Após a ignição, um sistema de segurança fixa o veículo na plataforma de lançamento e garante que todos os motores são verificados como estando na força máxima antes de libertar o foguetão para o seu voo. Então, com uma força superior a cinco aviões Boeing 747 em potência máxima, os motores Merlin lançam o foguetão para o espaço. Ao contrário dos aviões, a força de um foguetão vai aumentando com a altitude – o Falcon-9 gera 6.806 kN ao nível do mar mas atinge 7.426 kN no vácuo espacial. Os motores do primeiro estágio vão sendo aumentados em potência perto do final da queima do estágio para assim limitar a aceleração do veículo à medida que a massa do lançador diminui com a queima do combustível. O tempo total de queima do primeiro estágio é de 162 segundos.
Com os seus nove motores agrupados juntos na configuração ‘octaweb’, o Falcon-9 pode aguentar a falha de até dois motores durante o lançamento e mesmo assim conseguir atingir a órbita terrestre com sucesso. O Falcon-9 é o único lançador na sua classe com esta característica chave.
O motor Merlin foi desenvolvido internamente pela SpaceX, mas vai encontrar as suas raízes aos motores das missões Apollo, nomeadamente o sistema de injecção baseado no motor do módulo lunar. O propelente é alimentado por uma única conduta, com uma turbo-bomba de dupla pá que opera num ciclo de gerador a gás. A turbo-bomba também fornece o querosene a alta pressão para os actuadores hidráulicos, que depois recicla para a entrada a baixa pressão. Isto elimina a necessidade de um sistema hidráulico separado e significa que não é possível ocorrer uma falha no controlo de vector de força por falta de fluido hidráulico. Uma terceira utilização da turbo-bomba é o fornecimento de controlo de rotação ao actuar no escape da turbina de exaustão (no segundo estágio). Combinando-se estas características num só dispositivo aumenta-se assim de forma significativa o nível de fiabilidade do sistema.
O motor é capaz de desenvolver uma força de 654 kN ao nível do mar, 716 kN no vácuo, com um impulso específico de 282 segundos (nível do mar) e 311 segundos (vácuo).
A secção interestágio é uma estrutura compósita que liga o primeiro e o segundo estágio e alberga os sistemas de libertação e separação. O Falcon-9 utiliza um sistema de separação totalmente pneumático para uma separação de baixo impacto e altamente fiável que pode ser testado no solo, ao contrário dos sistemas pirotécnicos utilizados na maior parte dos lançadores.
O segundo estágio é propulsionado por um único motor Merlin de vácuo e coloca a carga a transportar na órbita desejada. O motor do segundo estágio entra em ignição poucos segundos após a separação entre o segundo e o primeiro estágio, e pode ser reiniciado várias vezes para colocar múltiplas cargas em diferentes órbitas. Para máxima fiabilidade, o segundo estágio está equipado com sistemas de ignição redundantes. Tal como o primeiro estágio, o segundo estágio é feito a partir de uma liga de alumínio e lítio.
O motor Merlin de vácuo (Merlin-1D de vácuo) desenvolve uma força de 934 kN e o seu tempo de queima é de 397 segundos.
A carenagem compósita é utilizada para proteger a carga durante a passagem do Falcon-9 pelas camadas mais densas da atmosfera. Quando a missão do Falcon-9 é o lançamento do veículo de carga Dragon, a carenagem não é utilizada, pois a cápsula possui o seu próprio sistema de protecção.
A carenagem tem 13,1 metros de comprimento e 5,2 metros de diâmetro. Fabricada em fibra de carbono, separa-se em duas metades utilizando um sistema de separação de actuadores pneumáticos semelhantes aos que são utilizados para a separação entre o primeiro e o segundo estágio.
A sequência de lançamento para o Falcon-9 é um processo de precisão ditada pela janela de lançamento tendo em conta a posição orbital a ser ocupada pela carga a bordo. Se a janela de lançamento é perdida, a missão é então adiada para a próxima janela de lançamento disponível.
Cerca de quatro horas antes do lançamento, inicia-se o processo de abastecimento – primeiro oxigénio líquido seguindo-se o querosene altamente refinado (RP-1). O vapor que se observa a sair do lançador durante a contagem decrescente é na realidade oxigénio a ser liberto dos tanques, sendo esta a razão pela qual o abastecimento de oxigénio líquido se mantém até quase ao final da contagem decrescente.
Lançamento | Veículo | 1.º estágio | Local Lançamento | Data Hora (UTC) | Carga | Recuperação |
2024-224 | 403 | B1083.6 | CCSFS, SLC-40 | 30/Nov/24 05:00 | Starlink G6-65 | JRTI |
2024-225 | 404 | B1088.1 | VSFB, SLC-4E | 30/Nov/24 08:10:00 | NROL-126 | OCISLY |
2024-229 | 405 | B1067.24 | CCSFS, SLC-40 | 04/Dez/24 10:13:10 | Starlink G6-70 | ASOG |
2024-231 | 406 | B1081.12 | VSFB, SLC-4E | 05/Dez/24 03:05 | Starlink G9-14 | OCISLY |
2024-234 | 407 | B1076.19 | KSC, LC-39A | 05/Dez/24 16:10 | Sirius XM-9 | JRTI |
2024-237 | 408 | B1086.2 | CCSFS, SLC-40 | 08/Dez/24 05:12:30 | Starlink G12-5 | ASOG |
2024-239 | 409 | B1082.9 | VSFB, SLC-4E | 13/Dez/24 21:55:40 | Starlink G11-2 | OCISLY |
2024-242 | 410 | B1085.4 | CCSFS, SLC-40 | 17/Dez/24 00:52 | GPS-III SV07 | ASOG |
2024-243 | 411 | B1063.22 | VSFB, SLC-4E | 17/Dez/24 13:19 | NROL-149 | OCISLY |
2024-244 | 412 | B1090.1 | KSC, LC-39A | 17/Dez/24 22:56 | O3b mPower 7 O3b mPower 7 | JRTI |
Imagens: SpaceX