Soyuz T-15 – O primeiro voo entre estações espaciais

Após o regresso de emergência à Terra preconizado pela tripulação da Soyuz T-14 devido a problemas médicos do seu comandante, a estação espacial Salyut-7 foi deixada em órbita em modo automático. No final de 1985 a pressão para lançar a nova estação espacial Mir era imensa e esta acabou por ser colocada em órbita no dia 19 de Fevereiro de 1986. Porém, a bordo da Salyut-7 ainda existiam experiências por terminar e os controladores soviéticos decidiram que a primeira tripulação a viajar para a nova estação espacial também faria uma visita à velha Salyut-7. O objectivo desta missão seria o de permanecer na velha estação durante 50 dias para assim se finalizar as experiências militares com o módulo Cosmos 1686 / TKS-M.

Lançamento da estação espacial Mir

A estação espacial Mir representava a terceira geração de estações espaciais soviéticas. Equipada com múltiplos portos de acoplagem num compartimento esférico, o módulo central da Mir representava o primeiro elemento de uma estação modular que permitiria expandir a presença humana no espaço a níveis nunca conseguidos anteriormente.

A nova estação espacial DOS-7 17K nº 127-01 é colocada em órbita às 2128:23UTC do dia 19 de Fevereiro de 1986 lançada por um foguetão 8K82K Proton-K (337-01) a partir da Plataforma de Lançamento PU-39 do Complexo de Lançamento LC200 do Cosmódromo NIIP-5 Baikonur. Após atingir a órbita terrestre a estação recebe o nome Mir (16609 1986-017A) e é colocada numa órbita com o seu plano orbital muito perto do plano orbital da Salyut-7 / DOS-6 17K nº 125-02 (13138 1982-031A)[1]. A Mir é colocada numa órbita inicial com um perigeu a 172 km de altitude e apogeu a 301 km de altitude, manobrando a 7 de Março para uma órbita com um perigeu a 333 km de altitude e um apogeu a 342 km de altitude. Após atingir a órbita terrestre a Mir abre os seus dois painéis solares com uma área total de 38 m2 cada e os seus sistemas activados, estando a nova estação pronta a receber a sua primeira tripulação.

A Soyuz T-15

Tendo em conta o sistema de rotação das tripulações soviéticas, seria de esperar que a tripulação da Soyuz T-15 fosse composta pelos cosmonautas que serviram como tripulação suplente na missão anterior. Porém, tal não aconteceu e a missão que foi classificada por Vladimir Shatalov como ‘o voo mais complexo que alguma vez será lavado a cabo nos próximos anos’, foi atribuída aos cosmonautas Leonid Denisovich Kizim e Vladimir Alexeievich Solovyov. Este facto não acontece por acaso, pois para alem de os dois homens terem treinado já para uma missão a bordo da Mir, haviam já permanecido a bordo da Salyut-7 durante 237 dias no decorrer da missão Soyuz T-10[2] (juntamente com o cosmonauta Oleg Yurievich Atkov).

Preparando-se para introduzir uma nova versão da Soyuz, a Soyuz TM, os especialistas soviéticos não possuíam os veículos necessários para levar a cabo algumas missões previstas e tiveram de recorrer ao módulo de descida do veículo 7K-ST nº 16L (que havia sido utilizado na mal sucedida missão Soyuz T-10A[3]) para levarem a cabo a nova missão e criarem o veículo 7K-ST nº 21L (que posteriormente receberia a designação Soyuz T-15). Esta seria uma missão muito exigente para os dois cosmonautas, por isso seria razoável incluir na tripulação um terceiro membro. Mas tal não aconteceu para que a Soyuz T-15 pudesse transportar uma carga de propolente suficiente para a realização das múltiplas manobras de encontro e acoplagem com as duas estações espaciais.

Ao lado: Leonid Denisovich Kizim (esquerda) e Vladimir Alexeievich Solovyov surgem aqui durante uma pausa nos treinos de preparação para a missão Soyuz T-15. Imagem: Videocosmos.

O lançamento da Soyuz T-15 (16643 1986-022A) tem lugar às 1233:09UTC do dia 13 de Março de 1986 por um foguetão 11A511U2 Soyuz-U2 (012) a partir da Plataforma de Lançamento PU-5 do Complexo de Lançamento LC1 do Cosmódromo NIIP-5 Baikonur. A tripulação suplente é composta pelos cosmonautas Alexander Stepanovich Viktorenko e Alexander Pavlovich Alexandrov. O lançamento da Soyuz T-15 decorre sem qualquer problema e o veículo tripulado é colocado numa órbita com um perigeu a 193 km de altitude e um apogeu a 238 km de altitude, iniciando dois dias de perseguição à nova estação espacial. A acoplagem com a estação espacial Mir ocorre às 1338UTC do dia 15 de Março quando os dois veículos se encontram numa órbita com um perigeu a 332 km de altitude e um apogeu a 339 km de altitude.

Ao contrário das estações espaciais anteriores, a Mir possuía dois sistemas de acoplagem. Para além do sistema Igla, a Mir estava equipada com o sistema Kurs que seria plenamente utilizado no futuro mas que no princípio da utilização da nova estação espacial serviria como sistema suplementar. Ao contrário do sistema Igla no qual a estação se orientava na fase final da aproximação para permitir a acoplagem, o sistema Kurs permitia que o veículo Soyuz realizasse a aproximação à estação vindo de qualquer direcção e a algumas centenas de metros orientar a sua atitude em relação ao porto de acoplagem. O porto de acoplagem posterior da Mir possuía os dois sistemas de acoplagem para permitir a acoplagem dos veículos Progress, porém como a Soyuz T-15 deveria acoplar com a estação espacial Salyut-7 estava somente equipada com o sistema Igla. Assim, a Soyuz T-15 acabou por acoplar com o porto frontal da Mir deixando o porto posterior livre para o cargueiro Progress que estava já a ser preparado no Cosmódromo de Baikonur.

A estação espacial Mir vista pela tripulação da Soyuz T-15 durante a aproximação final. Imagem: Arquivo fotográfico do autor.

O primeiro a entrar na Mir foi o cosmonauta Vladimir Solovyov que encontrou à sua frente uma estação ampla e mais espaçosa do que as suas antecessoras. Leonid Kizim juntou-se minutos mais tarde a Solovyov depois de preparar a Soyuz T-15 para um período de inactividade. Os dois homens estabeleceram uma rotina a bordo da estação espacial, activando os seus diversos sistemas, nomeadamente os sistemas de controlo de atitude e orientação, e preparando a estação para a ocupação humana que agora se pretendia permanente. A presença no interior da Mir era muito confortável com os dois cosmonautas a gozarem de uma temperatura agradável de 24ºC.

O primeiro veículo de carga tendo como destino a Mir é lançado desde a Plataforma de Lançamento PU-5 do Complexo de Lançamento LC1 do Cosmódromo GIK-5 Baikonur às 1008:25UTC do dia 19 de Março. O lançamento é levado a cabo por um foguetão 11A511U2 Soyuz-U2 (B15000-010). O veículo 7K-TG nº 134 recebe a designação Progress-25 (16645 1986-023A) após atingir uma órbita terrestre com um perigeu a 183 km de altitude e um apogeu a 249 km de altitude. A acoplagem com o porto de acoplagem posterior da Mir ocorre às 1116UTC do dia 21 de Março com os dois veículos numa órbita com um perigeu a 332 km de altitude e um apogeu a 339 km de altitude.

Leonid Denisovich Kizim (esquerda) e Vladimir Alexeievich Solovyov constituíram a tripulação principal da missão Soyuz T-15. Imagem: Arquivo fotográfico do autor.

Após a acoplagem do Progress-25, Kizim e Solovyov procederam à descarga dos equipamentos e mantimentos a bordo do veículo. Ocupando quase a totalidade do interior do módulo de carga, o trabalho que descarga do Progress-25 acabou por se tornar lento e extenuante para os dois homens que tinham dificuldade em se movimentarem dentro do módulo e tendo de desaparafusar cada contentor e arrumar cada carga no seu devido lugar. O trabalho tornava-se cansativo devido ao facto de alguns dos parafusos se encontrarem demasiado apertados requerendo assim a aplicação de uma força extra para os libertar, trabalho mais complicado num ambiente com ausência de gravidade. O cargueiro transportou também 200 kg de água que foram bombeados de forma automática para os tanques Rodnik da Mir, além de propolente necessário para as manobras orbitais da estação.

A órbita da Mir foi elevada no dia 20 de Abril utilizando o sistema de propulsão do Progress-25 para uma órbita comum perigeu a 335 km de altitude e um apogeu a 343 km de altitude. Esta manobra foi levada a cabo antes da separação do cargueiro que acabou por reentrar na atmosfera terrestre pelas 1924UTC.

Ao lado: Leonid Denisovich Kizim (esquerda) e Vladimir Alexeievich Solovyov a bordo da estação espacial Mir. Imagem: Arquivo fotográfico do autor.

Antes da chegada de um novo veículo de carga, os dois cosmonautas levaram a cabo um teste de ressonância na estação Mir. Este teste tinha como objectivo determinar os modos de vibração naturais da estação para avaliar os pontos de esforço na sua estrutura. Os dois homens continuaram também com a instalação de novos equipamentos, levaram a cabo programas de observação da superfície terrestre e deram início a experiências de longa duração ao realizarem a plantação de vegetais na estação.

O cargueiro 7K-TG n.º 136 foi lançado desde a Plataforma de Lançamento PU-5 do Complexo de Lançamento LC1 do Cosmódromo GIK-5 Baikonur às 1940:05UTC do 23 de Abril. Após chegar à órbita terrestre o veículo recebeu a designação Progress-26 (16687 1986-032A). Após a separação do último estágio Blok-I do foguetão lançador 11A511U2 Soyuz-U2 (B15000-009), o Progress-26 ficou colocado numa órbita com um perigeu a 184 km de altitude e um apogeu a 256 km de altitude, tendo uma inclinação de 51,6.º. A acoplagem com o porto posterior da Mir ocorre às 2126UTC do dia 26 de Abril quando os dois veículos se encontravam numa órbita com um perigeu a 309 km de altitude e um apogeu de 345 km de altitude. A carga do novo cargueiro era composta por mantimentos, propelentes, água, correio para os cosmonautas e experiências.

Ao lado: Após acoplarem com a Salyut-7 os dois cosmonautas da Soyuz T-15 encontraram a velha estação fria e tiveram de ligar o seu sistema de aquecimento antes de poderem permanecer a bordo. Imagem: Arquivo fotográfico do autor.

Os dias após a chegada do Progress-26 foram ocupados a proceder à retirada da carga do veículo recém-chegado e a preparar a Soyuz T-15 para a sua fantástica viagem. Kizim e Solovyov carregaram mais de 500 kg de mantimentos no módulo orbital da Soyuz T-15, procederam à preparação das baterias do veículo e verificaram o seu sistema de propulsão. A estação espacial Mir foi colocada em modo de operação automático.

Estava na hora de iniciar uma viagem até então nunca feita e nunca mais repetida até aos nossos dias. Pelas 1212UTC do dia 5 de Maio a Soyuz T-15 separa-se da estação espacial Mir e inicia uma viagem pela órbita terrestre em direcção à estação espacial Salyut-7. Desde finais de Abril que a Mir se encontrava a cerca de 3000 km da Salyut-7 e antes da separação da Soyuz T-15, o sistema de propulsão do Progress-26 é utilizado para baixar ligeiramente a órbita da Mir e diminuir a distância entre as duas estações. Pela primeira vez os três centros de controlo espaciais soviéticos estão a ser utilizados ao controlarem a Salyut-7, a Soyuz T-15 e a Mir.

Ao lado: Leonid Kizim (esquerda) e Vladimir Solovyov a bordo da estação espacial Salyut-7. Imagem: Arquivo fotográfico do autor.

A viagem até à velha estação espacial dura pouco mais de 24 horas utilizando uma série de manobras de baixo consumo de combustível. O sistema de acoplagem Igla é activado e inicia-se a aproximação com a estação, efectuando-se a acoplagem às 1657UTC do dia 6 de Maio. O conjunto Salyut-7 – Cosmos-1686 – Soyuz T-15 encontra-se numa órbita com um perigeu a 335 km de altitude e um apogeu a 343 km de altitude.

Ao entrar na Salyut-7 os dois cosmonautas encontraram uma estação espacial fria e húmida. Foi então decidido activar o sistema de aquecimento da estação e os dois homens passaram a noite na Soyuz T-15. Os sistemas da estação foram reactivados a 7 de Maio e vários componentes da Salyut-7 foram substituídos, tais como filtros de ar, sistemas de iluminação e transmissores. Os sistemas de orientação e controlo da estação foram também testados. Os trabalhos de manutenção estavam finalizados em meados de Maio e os dois cosmonautas podiam então concentrar-se nos trabalhos de investigação e de observação da Terra.

Apesar de se encontrar em modo automático as actividades relacionadas com a Mir continuaram e às 0821:51UTC do dia 21 de Maio um foguetão 11A511U2 Soyuz-U2 colocava em órbita o primeiro veículo 7K-STM (11F732) que receberia a designação Soyuz TM (16722 1986-035A). O lançamento havia sido levado a cabo desde a Plataforma de Lançamento PU-5 do Complexo de Lançamento LC1 do Cosmódromo GIK-5 Baikonur e o veículo nº 51 foi colocado numa órbita com um perigeu a 185 km de altitude e um apogeu a 260 km de altitude com uma inclinação de 51,6.º. A nova versão da Soyuz T acopla com a estação espacial Mir às 1011UTC do dia 23 de Maio quando os dois se encontram numa órbita com um perigeu a 331 km de altitude e um apogeu a 342 km de altitude. Este voo serve para testar os sistemas do novo veículo tripulado que permanece acoplado à Mir até às 0922UTC do dia 29 de Maio. A reentrada atmosférica e posterior regresso à Terra ocorre no dia 30 de Maio com a aterragem a ter lugar às 0650UTC.

A visita à Salyut-7 incluiu a realização de duas actividades extraveículares no exterior da estação que estavam originalmente previstas para ser levadas a cabo pela tripulação da Soyuz T-14 composta por Vladimir Vladimirovich Vasyutin, Georgi Mikhailovich Grechko e Alexander Alexandrovich Volkov. A primeira teve lugar a 28 de Maio com os cosmonautas a saírem para o exterior pelas 0443UTC. Previamente os dois homens haviam preparado os dois fatos extraveículares que haviam sido transportados para a estação a bordo do cargueiro Cosmos 1669 / 7K-TG nº 126 (15918 1985-062A)[4]. Pelas 0458UTC a primeira tarefa da saída para o espaço estava realizada ao recolherem um dispositivo de obtenção de materiais que tiveram a sua origem em cometas, juntamente com todas as caixas que haviam sido colocadas no exterior da estação para testar e analisar a maneira como diferentes materiais (biopolímeros, cabos, sistemas de ligação, metais, etc.) reagiam e se comportavam no ambiente espacial. A tarefa principal desta saída para o exterior da Salyut-7 era a continuação das experiências relacionadas com a montagem de estruturas no espaço. A experiência Ferma, que havia sido transportada a bordo do módulo Cosmos 1686 / TKS-M nº 16501 (16095 1985-086A)[5], foi montada na fuselagem da estação espacial. O procedimento de montagem iniciou-se com a colocação de uma plataforma de trabalho no exterior e posterior fixação de um contentor com uma massa de 150 kg. A estrutura foi montada de forma automática e atingia um comprimento de 15 metros, sendo composta por ligações de tubos com um comprimento de 0,5 metros de uma liga de alumínio e titânio. A montagem serviu para demonstrar o funcionamento do mecanismo de abertura e após alguns minutos voltou a ser recolhida.

Os dois homens regressaram para o interior da Salyut-7 às 0833UTC, 45 minutos mais tarde do que o previsto, após completarem todos os objectivos estabelecidos. Pela primeira vez uma actividade extraveícular soviética foi mostrada em parte em directo nas cadeias de televisão americanas.

A segunda saída para o exterior da Salyut-7 ocorre a 31 de Maio com início ás 0457UTC. Mais uma vez o principal objectivo é o de procederem a experiências com a montagem de estruturas na fuselagem da estação. Os dois homens começam por montar uma placa plana no topo da estrutura que havia permanecido recolhida no interior do seu contentor de transporte. Nessa plataforma colocam algumas experiências e depois estendem a estrutura, mas desta vez procedem de forma manual. Uma das experiências colocadas nessa placa era um laser de baixa potência que serviu para iluminar um sensor que havia sido montado no exterior de uma escotilha antes de os cosmonautas regressarem ao interior da estação espacial na actividade extraveícular anterior. Este sensor serviu para medir a estabilidade, rigidez e modos vibracionais da estrutura.

Kizim e Solovyov utilizaram uma ferramenta de soldadura para soldar amostras da estrutura de forma a testar a ferramenta como meio de fixação das juntas da estrutura. Uma estrutura semelhante seria mais tarde montada na fuselagem da estação espacial Mir e uma das razões para a visita à Salyut-7 foi para se poder verificar o seu mecanismo de abertura e determinar as suas propriedades dinâmicas.

Outras experiências na plataforma colocadas na extremidade da estrutura analisaram o ambiente em torno da Salyut-7 servindo para verificar os resultados obtidos posteriormente e que indicavam para a presença de um ‘rastro’ de gás por detrás da estação espacial. Com o final dos testes a estrutura foi descartada e os cosmonautas regressaram ao interior da Salyut-7 pelas 0937UTC após recolherem outras experiências deixadas na fuselagem da estação por outras tripulações e após 4 horas e 40 minutos de permanência no exterior.

Após as actividades extraveículares os dois cosmonautas levaram a cabo programas de observação da Terra e em especial ás áreas afectadas pelo desastre de Chernobyl que ocorrera a 26 de Abril. Por outro lado, procederam ao tratamento de plantas as dois sistemas de cultivo a bordo e realizaram o processamento de semicondutores no forno da estação. Na parte final da estadia na Salyut-7, Leonid Kizim e Vladimir Solovyov procederam à desmontagem de equipamentos que poderiam ser utilizados na Mir e carregaram cerca de 400 kg de equipamento no módulo orbital da Soyuz T-15.

Às 1825UTC do dia 22 de Junho o cargueiro Progress-26 separava-se da estação espacial Mir quando a estação se encontrava numa órbita com um perigeu a 332 km de altitude e um apogeu a 335 km de altitude. A reentrada atmosférica dá-se ás 1921UTC do dia seguinte, com os motores do Progress-26 a serem accionados cerca das 1841UTC. As manobras orbitais para diminuir a distância entre a Mir e a Salyut-7 têm início ás 1600UTC do dia 24 de Junho quando a Mir acciona os seus motores de manobra para elevar a sua órbita para um perigeu a 331 km e um apogeu a 366 km. Por esta altura as autoridades soviéticas anunciam que o programa de actividades a bordo da Salyut-7 havia sido concluído com êxito e que após a partida dos dois cosmonautas a estação seria colocada numa órbita mais elevada podendo talvez ser visitada por uma tripulação alguns anos mais tarde.

Depois de encerrarem pela última vez a escotilha de acesso à estação espacial Salyut-7, Leonid Kizim e Vladimir Solovyov prepararam a Soyuz T-15 para a viagem de regresso à Estação espacial Mir. Os dois cosmonautas separam-se da velha estação às 1458UTC do dia 25 de Junho e iniciam a viagem de regresso. A acoplagem com a Mir realiza-se manualmente às 1946:00UTC utilizando uma aproximação automática pelo sistema Igla. Logo após a chegada à Mir os dois cosmonautas procederam à transferência do equipamento trazido da Salyut-7 para a Mir.

As últimas semanas na Mir foram mais uma vez dedicadas à observação da superfície terrestre ao mesmo tempo que os dois homens iniciavam um programa de fortalecimento dos seus músculos em antecipação do regresso à Terra. Nesta fase os analistas espaciais aguardavam o lançamento de uma nova tripulação antes do regresso de Kizim e Solovyov mantendo assim a anunciada ocupação permanente da nova estação espacial. Porém, os atrasos registados nos preparativos do primeiro módulo a ser acoplado à Mir levou a um adiamento do lançamento da nova tripulação. A 14 de Julho é anunciado que a missão aproxima-se do seu fim e logo surgem rumores infundados de que os dois homens estariam a levar a cabo um regresso de emergência à Terra.

Ao lado: Leonid Kizim (direita) e Vladimir Solovyov após a aterragem nas estepes do Cazaquistão no dia 16 de Julho de 1986. Imagem: Arquivo fotográfico do autor.

Os resultados das diversas experiências foram colocados no módulo de regresso da Soyuz T-15 que às 0909:50UTC do dia 16 de Julho se separa da Mir e inicia o regresso à Terra. A aterragem ocorre às 1234:05UTC a 55 km a NE da cidade de Arkalyk.

A missão Soyuz T-15 teve uma duração total de 125 dias 0 horas 0 minutos e 56 segundos, levando a cabo 1980 órbitas em torno da Terra. Após a missão Soyuz T-15 o cosmonauta Leonid Denisovich Kizim ficou com um total de 374 dias 17 horas 57 minutos e 42 segundos de experiência em voo espacial, enquanto que o cosmonauta Vladimir Alexeievich Solovyov ficou com 361 dias 22 horas 50 minutos e 0 segundos de experiência em voo espacial. Para ambos os homens esta foi a sua última missão espacial.

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[1] A Salyut-7 foi lançada às 1945UTC do dia 19 de Abril de 1982 por um foguetão 8K82K Proton-K (306-02) a partir da Plataforma de Lançamento PU-40 do Complexo de Lançamento LC200 do Cosmódromo NIIP-5 Baikonur.

[2] A Soyuz T-10 / 7K-ST nº15L (14701 1984-014A) foi lançada às 1207:26UTC do dia 8 de Fevereiro de 1984 por um foguetão 11A511U Soyuz-U a partir da Plataforma de Lançamento PU-6 do Complexo de Lançamento LC31 do Cosmódromo NIIP-5 Baikonur e regressou à Terra às 1056:30UTC do dia 2 de Outubro de 1984.

[3] A tentativa de lançamento da missão que ficou conhecida como Soyuz T-10A (7K-ST nº16L) teve lugar às 1937:47UTC do dia 26 de Setembro de 1983 e foi levada a cabo por um foguetão 11A511U Soyuz-U a partir da Plataforma de Lançamento PU-5 do Complexo de Lançamento LC1 do Cosmódromo NIIP-5 Baikonur. O foguetão lançador explodiu na plataforma de lançamento e a cápsula foi resgatada pelo sistema de emergência. Os cosmonautas Vladimir Georgievich Titov e Gennady Mikhailovich Strekalov aterraram no interior da cápsula perto da plataforma de lançamento às 1938:09UTC.

[4] O veículo 7K-TG n.º 126 deveria ter recebido a designação Progress-25 depois de atingir a órbita terrestre. Porém, logo após a sua colocação em órbita surgiram problemas a bordo e os responsáveis soviéticos disfarçaram a sua missão atribuindo-lhe uma designação na série Cosmos. O controlo do veículo foi restabelecido mais tarde mas a designação acabou por se manter. O seu lançamento foi levado a cabo por um foguetão 11A511U Soyuz-U (446) às 1305:08UTC do dia 19 de Julho de 1985 desde a Plataforma de Lançamento PU-5 do Complexo de Lançamento LC1 do Cosmódromo GIK-5 Baikonur.

[5] O Cosmos 1686 foi lançado desde a Plataforma de Lançamento PU-39 do Complexo de Lançamento LC200 do Cosmódromo GIK-5 Baikonur às 0841:42UTC por um foguetão 8K82K Proton-K (331-01).