A cápsula espacial Chinesa, SZ-11 Shenzhou-11, regressou à Terra com uma aterragem às 05:59UTC do dia 18 de Novembro de 2016.
A bordo encontravam-se os taikonautas Jing Haipeng e Chen Dong que permaneceram a bordo do módulo orbital TG-2 Tiangong-2 durante 29 dias 9 horas e 17 minutos. No total, a missão da Shenzhou-11 teve uma duração de 32 dias 6 horas e 28 minutos.
A separação entre a SZ-11 e o TG-2 teve lugar às 04:41UTC do dia 17 de Novembro. A separação do módulo orbital da Shenzhou-11 ocorreu às 05:13UTC do dia 18 de Novembro e a manobra de retro-travagem às 05:14UTC. A separação do módulo de serviço ocorreu às 05:36UTC.
A tripulação da Shenzhou-11
A tripulação da Shenzhou-11 é composta por Jing Haipeng, um veterano de duas missões espaciais, e pelo novato, Chen Dong.
Jing Haipeng (景海鹏) nasceu a 24 de Outubro de 1966, em Yuncheng – província de Shanxi. É piloto na Força Aérea do Exército de Libertação do Povo e foi seleccionado para taikonauta em Janeiro de 1998. O primeiro voo espacial de Jing Haipeng teve lugar entre 25 e 28 de Setembro de 1998, servindo como Operador a bordo da SZ-7 Shenzhou-7. A sua segunda missão espacial ocorreu entre 16 e 29 de Junho de 2012, servindo como Comandante da SZ-9 Shenzhou-9, a primeira tripulação a ocupar o laboratório orbital TG-1 Tiangong-1. O Coronel Sénior Jing Haipeng é casado e tem um filho. Ingressou no Exército de Libertação do Povo em 1985 e possuí mais de 1.200 horas de experiência de voo em diferentes tipos de aviões. O seu tempo total de experiência em voo espacial é de 15 dias 11 horas 0 minutos e 53 segundos.
Jing Haipeng é o primeiro taikonauta da China e o 193º ser humano a realizar três missões espaciais.
Chen Dong (陈冬) nasceu em Dezembro de 1978 e ingressou no Exército de Libertação do Povo em Agosto de 1997. Serviu como Capitão de um regimento da orça Aérea do Exército de Libertação do Povo e acumulou mais de 1.500 horas de voo em diferentes tipos de aviões. Em Maio de 2010 foi seleccionado para o corpo de taikonautas na segunda selecção levada a cabo pela China.
Chen Dong é o 11º taikonauta da China, sendo o 547º ser humano a realizar um voo espacial orbital.
A cápsula Shenzhou
A cápsula Shenzhou é muito semelhante à cápsula Soyuz. A configuração é muito parecida com o desenho original da Soyuz (Soyuz A) de 1962. Os instrumentos de orientação (consistindo de sensores de horizonte, sensores de fluxo iónico, sensores estelares e sensores solares) estão localizados na zona média inferior do módulo de serviço, tal como na Soyuz. Dois pares de painéis solares localizados no módulo de serviço (o módulo orbital esteve equipado com painéis solares nas primeiras missões), têm um total de 36 m2, indicando uma média de fornecimento de energia de 1,3 kW (quase três vezes mais do que na Soyuz e quase o mesmo do que era fornecido no primeiro módulo da estação espacial Mir).
O sistema de propulsão da Shenzhou consiste em quatro grandes motores principais de expansão na base da cápsula, com uma força total de 2.000 kgf ou 500 kgf por motor. O tempo total de queima na travagem orbital (retrotravagem) deverá ser de 30 s. Por outro lado, são utilizados motores de grande potência para manobras colocados em conjuntos de quatro pares no interior da base do módulo de serviço. A cápsula tem ainda motores de baixa potência para manobras colocados em conjuntos de quatro pares no exterior da base do módulo de serviço. Estes motores podem também ser utilizados em conjunto para original forças inversas. Quatro pares de motores para manobras de rotação e translação colocados no centro de gravidade da cápsula, mesmo abaixo da cápsula de reentrada. Estes não foram colocados em intervalos de 90º, mas sim em dois pares em cada lado da cápsula permitindo o seu uso para movimentos de translação somente no eixo vertical.
Ao contrário da Soyuz, o módulo orbital da Shenzhou tem uma forma cilíndrica. Uma plataforma de equipamento pode ser montada na zona frontal (tal como aconteceu nos primeiros voos). Aparentemente está localizada na zona inferior do módulo orbital uma grande escotilha que pode ser utilizada para actividades extraveículares, e acima dela está localizada outra grande escotilha tal como na Soyuz. No lado oposto do módulo encontra-se montado um pequeno módulo de equipamento.
Nas primeiras missões teste um complexo arranjo de equipamentos esteve montado no topo do módulo orbital. Nestes equipamentos estava incluído um anel semi-circular que poderia ser utilizado para a colocação de instrumentos em torno da sua parte inferior. Três antenas perpendiculares com um comprimento de 40 cm foram também abertas em órbita.
As cargas que inicialmente foram transportadas no módulo orbital foram todas científicas, porém, à medida que o programa foi progredindo, as cargas foram alteradas para experiências militares. A Shenzhou-4 aparentemente transportou uma carga destinada a interceptar sinais electrónicos (SIGINT), enquanto que a Shenzhou-5 estará prevista para voar com uma câmara de reconhecimento óptico com uma resolução de 1,6 metros. Também surgiram desenhos de uma configuração estranha da Shenzhou que mostravam o que pareciam ser “mandíbulas” na zona frontal do módulo orbital, sendo talvez algum tipo de mecanismo de captura.
O módulo de reentrada foi conceptualmente baseado na Soyuz. A Rússia forneceu à China um veículo Soyuz completo e após o primeiro lançamento da Shenzhou alguns relatórios referiram fontes russas altamente colocadas dizendo que a China havia comprado uma cápsula de reentrada Soyuz à Corporação RKK Energia em meados dos anos 90 no que terá sido um acordo privado. Porém, foi referido que a cápsula fornecida teria um mínimo de instrumentação no seu interior.
A cápsula da Shenzhou é de facto 13% dimensionalmente maior que a cápsula Soyuz. Logo não se trata de material soviético, mas sim uma cópia à escala da forma aerodinâmica da Soyuz. A cápsula Shenzhou utiliza a mesma técnica de aterragem da Soyuz. A cápsula começa por largar um pequeno pára-quedas de arrasto seguido de um único pára-quedas laranja e branco. O sistema de aterragem suave (descarte do escudo térmico seguido da ignição de motores de aterragem suave momentos antes do impacto), é também semelhante ao da Soyuz. Existem algumas referências a um número diferente de motores de aterragem suave na base da cápsula. Ao contrário da Soyuz, a ligação ao módulo de serviço difere em detalhe e parece entrar na cápsula mais acima no corpo principal. A cápsula possui um arranjo na forma da colocação dos assentos dos seus tripulantes semelhante ao da Soyuz e permite a utilização por três astronautas ao contrário de algumas referências iniciais que indicavam a possibilidade de quatro astronautas poderem tripular a cápsula. Os astronautas possuem painéis de instrumentação com ecrãs planos. Um periscópio semelhante ao russo Vzor permite um meio de orientar a cápsula manualmente na retrotravagem e uma visão frontal durante as operações de acoplagem. O controlo manual da cápsula é feito utilizando um controlo manual semelhante ao da Soyuz.
O módulo de serviço, desenvolvido pelo ATVES, difere em muitos aspectos ao módulo de serviço da Soyuz. O módulo é mais alongado e mais largo, sendo a saia da base menos pronunciada. Os circuitos radiadores externos encontram-se numa montagem em torno do centro do cilindro. Os painéis solares, ao contrário dos painéis da Soyuz, podem ser rodados de forma a obter um máximo de insolação solar independente da atitude da cápsula. Os painéis têm uma área total de 24 m2. Os controlos de reacção, reminiscentes dos utilizados nas cápsulas Gemini, estão localizados no centro de gravidade da cápsula, sendo utilizados para manobras de rotação e translação do veículos durante as operações de acoplagem.
A tabela seguinte compara as dimensões e algumas características da Shenzhou com a Soyuz:
Sistema de emergência
A torre do sistema de emergência montada no topo da ogiva de protecção da Shenzhou, será activado em caso de algum mau funcionamento do foguetão lançador nas fases iniciais do voo. O sistema poderá separar a cápsula de reentrada e o módulo orbital do resto do lançador desde T-15m até à altura em que a ogiva de protecção é descartada a T+160 s. O sistema consiste numa torre de emergência, a parte superior da ogiva de protecção e os módulos de reentrada e orbital. Todo o conjunto tem um peso de 11.260 kg, com um comprimento de 15,1 metros e um diâmetro de 3,8 metros. O sistema tem uma fiabilidade de 99,5%.
Quando o sistema de detecção de falhas no foguetão CZ-2F Chang Zheng-2F detecta uma situação de emergência, activa automaticamente o sistema de emergência. Os controladores no solo também podem activar o sistema por comando remoto caso seja necessário. Nos voos tripulados os astronautas podem activar manualmente o sistema desde o interior da cápsula.
Após T+160s, uma abortagem do lançamento pode consistir simplesmente na desactivação dos motores do lançador, separação do módulo de reentrada e uma reentrada de emergência que levará a uma recolha quer em território chinês quer na zona costeira Sul do Japão.
Sistema de acoplagem
O sistema de acoplagem utilizado na Shenzhou-9 tem as suas raízes no sistema APAS-89/90. O mecanismo consiste num porto de acoplagem, balizas de rádio e repetidores, antenas de comunicações, radar UHF, medidor de distâncias laser, e o sistema de detecção electro-óptico. O diâmetro da escotilha é de 0,80 metros.