Satélite espião luxemburguês lançado desde a Califórnia

Um foguetão Falcon-9 colocou em órbita vários satélites a partir da Califórnia, sendo a sua carga principal um satélite espião para o Luxemburgo.

O lançamento ocorreu às 1853:41UTC do dia 26 de Agosto de 2025 e foi realizado pelo foguetão Falcon-9-522 (B1063.27) a partir do Complexo de Lançamento SLC-4E da Base das Forças Espaciais de Vandenberg, Califórnia. Todas as fases do lançamento decorreram como previsto e o primeiro estágio do lançador foi recuperado na Zona de Aterragem LZ-4 (Landing Zone 2) em Vandenberg.

A carga principal desta missão foi o satélite NAOS (National Advanced Optical System) construído pela OHB Italia e que será operado pela luxemburguesa LUXEOps. O satélite tem uma massa de 645 kg.

O NAOS é a componente espacial do sistema de observação governamental do Luxemburgo denominado “LUXEOSys” (Luxembourg Earth Observation System). O seu propósito é o de fornecer imagens de alta resolução para organizações luxemburguesas e internacionais, tais como a NATO.

Projectado para uma utilização governamental e militar, o satélite irá fornecer uma cobertura global em alta resolução, sendo capaz de captar mais de uma centena de imagens por dias. Ao recolher os dados do satélite, o Luxemburgo pretende participar de forma mais activa nos esforços de defesa da Europa e da NATO.

Este sistema governamental de dupla utilização irá fornecer imagens para um grande leque de aplicações, nomeadamente: defesa e aplicações de segurança, tais como a observação de movimentos de tropas em zonas de conflito ou vigilância fronteiriça; verificação dos tratados de controlo de armas; apoio em catástrofes humanas e ajuda humanitária; operações de resgate em desastres naturais; monitorização das alterações climáticas; e monitorização da migração ambiental.

O satélite está equipado com uma câmara óptica de altíssima resolução com uma resolução terrestre de 50 cm, a cerca de 450 km de altura, em órbita heliossíncrona. A sua vida útil será de 7 anos.

O satélite será operado pela LUXEOPs, uma Parceria Temporária do Luxemburgo fundada pela RHEA System Luxembourg S.A., LUXSPACE SARL (Luxemburgo), OHB Digital Connect GmbH (Alemanha) e RHEA System S.A. (Bélgica), apoiando o governo do Luxemburgo na operação e manutenção do sistema.

Os outros satélites

A bordo desta missão foram também lançados os satélites LEAP-1, Pelican-3 e Pelican-4, Acadia-6, e FFLY-1 a FFLY-3.

Desenvolvido e construído pela Dhruva Space e baseado na plataforma P-20, o LEAP-1 (Launching Expeditions for Aspiring Payloads 1) é um pequeno satélite que fornece serviço de alojamento de cargas, constituindo o primeiro empreendimento comercial desta plataforma.

O LEAP-1 alnerga duas missões de demonstração IOD (In-Orbit Demonstration): a missão “Nexus-01”, da Akula Tech, que é composta por um módulo avançado de Inteligência Artificial, e o sistema de observação hiperespectral “Esperesso” desenvolvido pela Esper Satellites para o OTR-2

Os satélites Pelican é uma constelação de satélites comerciais de observação desenvolvida pela Planet Labs para suceder a constelação SkySat.

Nesta missão foram lançados os satélites Pelican-3 e Pelican-4.

Os satélites têm uma resolução no solo de 30 cm e são concebidos para uma elevada taxa de revisita.

Cada satélite Pelican transporta um único instrumento, o Pelican Imager, um instrumento óptico que irá recolher imagens de altíssima resolução da superfície terrestre. Devido ao seu tempo de revisita e resolução espacial melhorados em relação às constelações comerciais existentes, as imagens do Pelican serão altamente aplicáveis ​​a sectores como a agricultura, a silvicultura, o planeamento urbano e a gestão de emergências.

O Pelican Imager é um radiómetro de varrimento que deve gerar imagens em 5 bandas no espectro visível ao infravermelho próximo. O objetivo é atingir uma resolução espacial de 0,3 m.

Quando a constelação estiver operacional, será a constelação da próxima geração da Planet Labs para actualizar a constelação de 19 satélites SkySat em órbita.

Os satélites estão equipados com sistema de propulsão eléctrica para as manobras de manutenção orbital, operando a 500 km de altitude. Têm uma massa de 195 kg e as suas dimensões são 0.56 x 0.56 x 0.40 metros.

Também designado “Acadia-6” o satélite Capella-16 (integrando a missão “Ojos Sobre La Tierra“) faz parte de uma constelação de 30 satélites equipados com sistema de radar SAR (Synthetic Aperture Radar) desenvolvidos pela empresa californiana Capella Space.

Com uma massa de cerca de 165 kg, os satélites Acadia melhorados tiveram a sua largura de banda aumentada de 500 MHz para 700 MHz, e uma potência aumentada em 40% em relação à segunda geração de satélites Capella. Para os satélites Acadia, a Capella Space aumentou a antena de downlink da carga a bordo para assim reduzir o tempo entre o contacto do solo e a obtenção das imagens. Os satélites Acadia estão também equipados com terminais de comunicações ópticos Mynaric, que dão compatíveis com o ‘standard’ de interoperabilidade estabelecidos pela Agência de Desenvolvimento Espacial do Pentágono – uma manobra projectada para reduzir o tempo entre a obtenção das imagens e a sua transmissão.

Os satélites Firefly-4 a Firefly-6 têm uma massa de 53 kg cada e irão obter imagens hiperespectrais da superfície terrestre, em mais de 150 bandas espectrais atingindo uma resolução de 4 metros com uma largura de 40 km.

Lançamento da missão USSF-36

A cerca de dez horas do lançamento procedeu-se à activação eléctrica do foguetão Falcon-9. Tanto o lançador como a sua carga são submetidos a uma série de verificações testes antes do início do abastecimento do querosene RP-1. O Director de Voo consulta os controladores a T-38m, determinando assim se tudo está pronto para o início do abastecimento do lançador. O processo de abastecimento de RP-1 inicia-se a T-35m no primeiro estágio, seguindo-se o início do abastecimento do oxigénio líquido (LOX) na mesma altura. O abastecimento de LOX ao segundo estágio inicia-se a T-16m.

A fase terminal da contagem decrescente inicia-se com os motores a serem condicionados termicamente para o lançamento a T-7m. A T-1m é enviado um comando para o computador de voo para iniciar as verificações pré-lançamento e o sistema de supressão sónica é activado na plataforma de lançamento inundada por milhões de litros de água. Por esta altura os tanques de propelente também são pressurizados. A T-45s o Director de Lançamento da SpaceX verifica se todos os parâmetros estão prontos para a missão, sendo também verificado que o espaço aéreo está pronto para o lançamento. A sequência de ignição é iniciada a T-3s. A T=0s o foguetão abandona a plataforma.

Abandonando a plataforma de lançamento, o Falcon-9 inicia uma série de manobras para se colocar na trajectória de voo correcta.

Tempo (h:m:s) Evento
00:01:12 Máxima pressão dinâmica (MaxQ)
00:02:14 Final da queima do 1.º estágio (MECO)
00:02:18 Separação entre o 1.º e o 2.º estágio
00:02:22 Manobra de orientação do 1.º estágio
00:02:25 Primeira ignição do 2.º estágio (SES-1)
00:02:31 Início da manobra de regresso do 1.º estágio
00:02:41 Separação da carenagem de protecção
00:03:18 Fim da manobra de regresso do 1.º estágio
00:06:14 Início da queima de reentrada do 1.º estágio
00:06:35 Final da queima de reentrada do 1.º estágio
00:07:20 Início da queima de aterragem do 1.º estágio
00:07:57 Aterragem do 1.º estágio
00:09:29 Final da primeira queima do 2.º estágio (SECO-1)
00:11:42 Separação do NAOS
00:11:48 Separação do Pelican-4
00:11:55 Separação do Pelican-3
00:52:34 Segunda ignição do 2.º estágio (SES-2)
00:52:37 Final da segunda ignição do 2.º estágio (SECO-2)
01:05:55 Terceira ignição do 2.º estágio (SES-3)
01:05:59 Final da terceira ignição do 2.º estágio (SECO-3)
01:08:50 Separação do Acadia-6
01:08:58 Separação do Firefly-4
01:09:07 Separação do LEAP-1
01:09:16 Separação do Firefly-5
01:09:26 Separação do Firefly-6

 

 

 

 

 

 

O foguetão Falcon-9

Baptizado em nome da nave Millenium Falcon da saga cinematográfica “Guerra das Estrelas”, o foguetão Falcon-9 v1.1 foi um lançador a dois estágios projectado e fabricado para o transporte seguro e fiável de satélites e do veículo Dragon para a órbita terrestre. Sendo o primeiro foguetão completamente desenvolvido no Século XXI, este lançador foi projectado desde o início para ter a máxima fiabilidade. A sua simples configuração de dois estágios minimiza o número de eventos de separação (staging) e com nove motores no primeiro estágio, pode completar a sua missão em segurança mesmo na possibilidade de perda de um motor.

O Falcon-9 fez história em 2012 quando colocou a cápsula Dragon na órbita correcta para uma manobra de encontro com a estação espacial internacional. Desde então, foram realizadas múltiplas missões para a ISS transportando e recolhendo carga para a NASA. O Falcon-9, bem como a cápsula Dragon, foram desenhados na base do desenvolvimento de um sistema de transporte de astronautas para o espaço.

O foguetão Falcon-9 Upgrade, ou Falcon-9 FT, (a seguir designado simplesmente como “Falcon-9”) representa a mais recente evolução deste lançador. De forma geral, o Falcon-9 tem 68,4 metros de comprimento, 3,7 metros de diâmetro e uma massa de 541.300 kg. O veículo é capaz de colocar uma carga de 13.150 kg numa órbita terrestre baixa ou 4.850 kg numa órbita de transferência geossíncrona.

O primeiro estágio do Falcon-9 está equipado com nove motores Merlin (Merlin-1D) e tanque de liga de alumínio e lítio que contêm oxigénio líquido e querosene RP-1. Após a ignição, um sistema de segurança fixa o veículo na plataforma de lançamento e garante que todos os motores são verificados como estando na força máxima antes de libertar o foguetão para o seu voo. Então, com uma força superior a cinco aviões Boeing 747 em potência máxima, os motores Merlin lançam o foguetão para o espaço. Ao contrário dos aviões, a força de um foguetão vai aumentando com a altitude – o Falcon-9 gera 6.806 kN ao nível do mar, mas atinge 7.426 kN no vácuo espacial. Os motores do primeiro estágio vão sendo aumentados em potência perto do final da queima do estágio para assim limitar a aceleração do veículo à medida que a massa do lançador diminui com a queima do combustível. O tempo total de queima do primeiro estágio é de 162 segundos.

Com os seus nove motores agrupados juntos na configuração ‘octaweb’, o Falcon-9 pode aguentar a falha de até dois motores durante o lançamento e mesmo assim conseguir atingir a órbita terrestre com sucesso. O Falcon-9 é o único lançador na sua classe com esta característica chave.

O motor Merlin vai encontrar as suas raízes aos motores das missões Apollo, nomeadamente o sistema de injecção baseado no motor do módulo lunar. O propelente é alimentado por uma única conduta, com uma turbo bomba de dupla pá que opera num ciclo de gerador a gás. A turbo bomba também fornece o querosene a alta pressão para os actuadores hidráulicos, que depois recicla para a entrada a baixa pressão. Isto elimina a necessidade de um sistema hidráulico separado e significa que não é possível ocorrer uma falha no controlo de vector de força por falta de fluido hidráulico. Uma terceira utilização da turbo bomba é o fornecimento de controlo de rotação ao actuar no escape da turbina de exaustão (no segundo estágio). Combinando-se estas características num só dispositivo aumenta-se assim de forma significativa o nível de fiabilidade do sistema.

O motor é capaz de desenvolver uma força de 654 kN ao nível do mar, 716 kN no vácuo, com um impulso específico de 282 segundos (nível do mar) e 311 segundos (vácuo).

A secção interestágio é uma estrutura compósita que liga o primeiro e o segundo estágio e alberga os sistemas de libertação e separação. O Falcon-9 utiliza um sistema de separação totalmente pneumático para uma separação de baixo impacto e altamente fiável que pode ser testado no solo, ao contrário dos sistemas pirotécnicos utilizados na maior parte dos lançadores.

O segundo estágio é propulsionado por um único motor Merlin de vácuo e coloca a carga a transportar na órbita desejada. O motor do segundo estágio entra em ignição poucos segundos após a separação entre o segundo e o primeiro estágio, e pode ser reiniciado várias vezes para colocar múltiplas cargas em diferentes órbitas. Para máxima fiabilidade, o segundo estágio está equipado com sistemas de ignição redundantes. Tal como o primeiro estágio, o segundo estágio é feito a partir de uma liga de alumínio e lítio.

O motor Merlin de vácuo (Merlin-1D de vácuo) desenvolve uma força de 934 kN e o seu tempo de queima é de 397 segundos.

A carenagem compósita é utilizada para proteger a carga durante a passagem do Falcon-9 pelas camadas mais densas da atmosfera. Quando a missão do Falcon-9 é o lançamento do veículo de carga Dragon, a carenagem não é utilizada, pois a cápsula possui o seu próprio sistema de protecção.

A carenagem tem 13,1 metros de comprimento e 5,2 metros de diâmetro. Fabricada em fibra de carbono, separa-se em duas metades utilizando um sistema de separação de actuadores pneumáticos semelhantes aos que são utilizados para a separação entre o primeiro e o segundo estágio.

A sequência de lançamento para o Falcon-9 é um processo de precisão ditada pela janela de lançamento tendo em conta a posição orbital a ser ocupada pela carga a bordo. Se a janela de lançamento é perdida, a missão é então adiada para a próxima janela de lançamento disponível.

Cerca de quatro horas antes do lançamento, inicia-se o processo de abastecimento – primeiro oxigénio líquido seguindo-se o querosene altamente refinado (RP-1). O vapor observado a sair do lançador durante a contagem decrescente é na realidade oxigénio a ser liberto dos tanques, sendo esta a razão pela qual o abastecimento de oxigénio líquido se mantém até quase ao final da contagem decrescente.

Lançamento Veículo 1.º estágio Local Lançamento Data Hora (UTC) Carga Recuperação
2025-166 513 B1094.3 KSC, LC-39A 01/Ago/25 15:43:42 Endeavour USCV-11 LZ-1
2025-167 514 B1020.21 CCSFS, SLC-40 04/Ago/25 07:57:50 Starlink G10-30 JRTI
2025-171 515 B1091.1 CCSFS, SLC-40 11/Ago/25 12:35 Kuiper KF-02 ASOG
2025-175 516 B1093.5 VSFB, SLC-4E 14/Ago/25 05:05:37 Starlink G17-4 OCISLY
2025-176 517 B1085.10 CCSFS, SLC-40 14/Ago/25 12:29:30 Starlink G10-20 JRTI
2025-179 518 B1088.9 VSFB, SLC-4E 18/Ago/25 16:26:49 Starlink G17-5 OCISLY
2025-183 519 B1092.6 KSC, LC-39A 22/Ago/25 03:50 USSF-36 (OTV-8) LIMASAT LZ-2
2025-184 520 B1081.17 VSFB, SLC-4E 22/Ago/25 17:04:49 Starlink G17-6 OCISLY
2025-186 521 B1090.7 CCSFS, SLC-40 24/Ago/25 06:45:36

Dragon v2 SpX-33

ASC

RSP-03

STARS-Me2

GHS-01

Dragonfly

ASOG
2025-188 522 B1063.27 VSFB, SLC-4E 26/Ago/25 18:53:41

NAOS

LEAP-1

Pelican-3

Pelican-4

Acadia-6

Firefly-4

Firefly-5

Firefly-6

LZ-4

Imagens: Empresa lançadora



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