Rússia orbita satélite militar no último lançamento desde Plesetsk em 2024

As forças militares russas realizaram o lançamento do último satélite de vigilância electrónica da primeira série de satélites Lotus-S1.

O lançamento foi realizado por um foguetão 14A14-1B Soyuz-2.1b a partir da Plataforma de Lançamento PU-4 do Complexo de Lançamento LC43 do Cosmódromo GIK-1 Plesetsk, região de Arkhangelsk, às 1803:13UTC do dia 4 de Dezembro de 2024.

Segundo os serviços de informação russos, o lançamento decorreu de forma nominal. O anúncio oficial do lançamento emitido pelo Ministério da Defesa da Rússia refere que um satélite havia sido colocado em órbita, tendo sido detectados em órbita dois objectos resultantes deste lançamento com os parâmetros são característicos dos satélites de vigilância electrónica Lotos-S. Assim, este lançamento terá colocado em órbita o satélite 14F145 Lotos-S1 (809) que recebeu a designação Cosmos 2580. O satélite ficou colocado numa órbita com um perigeu a 239 km, apogeu a 899 km, inclinação orbital de 67,14.° e período orbital de 96,05 minutos.

Espera-se que um pequeno satélite seja libertado do veículo principal nos dias após o lançamento.

Este foi o quinto e último lançamento orbital realizado em 2024 a partir do Cosmódromo GIK-1 Plesetsk. No início de 2024, o então Ministro da Defesa da Rússia, Sergei Shoigu, referia que o ano seria marcado por 15 lançamentos orbitais a partir do cosmódromo de Plesetsk. Porém, devido ao conflito na Ucrânia e à consequente crise económica – e ainda devido ao atraso na preparação de muitos satélites previstos para serem lançados neste ano – este número fica aquém do referido.

Tendo em conta os dados orbitais disponíveis, a constelação Lotos-S é agora constituída por cinco satélites operacionais (Cosmos 2549, Cosmos 2554, Cosmos 2565, Cosmos 2570 e Cosmos 2580), todos a operar em planos orbitais separados. Este conjunto de satélites foi contratado em 2017, com um novo conjunto a ter sido contratado em 2022.

Segundo o analista Bart Hendricks, “considerando os actuais tempos de produção relativamente longos na Rússia, poderá demorar mais alguns anos até os vermos lançados em órbita. O facto de ter sido encomendado um novo lote levanta mais questões sobre o estado dos satélites ELINT (inteligência electrónica) de órbita baixa da próxima geração, denominados “Akvarel”, que foram aprovados em 2014. Enquanto o Lotos é um projeto executado pela KB Arsenal (em cooperação com a RKT Progress para o fabrico de satélites), o Akvarel foi atribuído à ISS Reshetnev. O produtor da carga útil ELINT (TsNIRTI) é o mesmo para ambos os projetos. Há muitos anos que não se ouve falar do Akvarel e não é claro se este ainda é um programa activo.

Os satélites 14F145 Lotos-S1

Os satélites 14F145 Lotos-S1, juntamente com os satélites 14F139 Pion-NKS, fazem parte do sistema de inteligência electrónica Liana que substitui os satélites 14F644 Tselina-2 (pelos satélites Lotos) e os satélites US-PM (pelos satélites Pion-NKS) na caracterização e monitorização de sinais de rádio emitidos tanto a partir de terra como do mar.

Os satélites Lotos têm por base a plataforma Yantar desenvolvida pela TsSKB Progress, enquanto a carga electrónica é desenvolvida pelo KB Arsenal. A plataforma Yantar tem como função o fornecimento de energia, propulsão, controlo de atitude, comunicações e processamento de comandos e dados. A energia é armazenada em baterias internas sendo fornecida a partir de dois painéis solares. Não são conhecidas as características da carga de inteligência electrónica. Os satélites Lotos-S1 operam em órbitas circulares a 900 km de altitude.

O primeiro Lotus-S1 (14F145 n.º 802) ‘Cosmos 2502’ foi colocado em órbita a 25 de Dezembro de 2014, pelas 0301:13,271UTC, sendo lançado pelo foguetão 14A14-1B Soyuz-2.1b (78031199) a partir do Complexo de Lançamento LC43/4 do Cosmódromo GIK-1 Plesetsk.

O foguetão 14A14 Soyuz-2

O foguetão 14A14 Soyuz-2 representa a mais recente evolução do épico míssil balístico intercontinental R-7 desenvolvido por Sergei Korolev nos anos 50 do século passado. Este lançador apresenta motores melhorados, modernos sistemas aviónicos digitais e uma reduzida participação de componentes de fabrico não russo.

O lançador é também conhecido pela designação Soyuz-ST (quando lançado desde o CSG Kourou) e foi especialmente desenhado para uma utilização comercial, aumentando a seu desempenho geral apesar de o desenho básico do veículo permanecer o mesmo. As alterações foram realizadas ao nível de uma melhoria do desempenho dos motores do primeiro e do segundo estágio com novos injectores e alteração da mistura dos propelentes; aumento no desempenho do terceiro estágio; introdução de um novo sistema de controlo, permitindo uma alteração do plano orbital já durante o voo; introdução de um novo sistema de telemetria digital para a monitorização do lançador e a introdução de uma nova ogiva de protecção de carga com um diâmetro de 3,6 metros.

O foguetão 14A14 Soyuz-2 pode ser equipado com um quarto estágio, nomeadamente o estágio Fregat (nas suas diversas variantes), utilizando as carenagens de protecção do tipo ST e SF.

Este lançador é capaz de colocar uma carga de 7.800 kg numa órbita terrestre a 240 km de altitude com uma inclinação de 51,80.º. No lançamento desenvolve uma força de 4.144.700 kN. A sua massa total é de 310.000 kg, o seu diâmetro no estágio principal é de 2,95 metros e o seu comprimento total é de 43,40 metros.

O primeiro estágio do 14A14 Soyuz-2 é composto pelos quatro propulsores laterais (Blok B, V, G e D) com uma massa bruta de 44.400 kg, tendo uma massa de 3.810 kg sem combustível. Cada propulsor tem um motor RD-107A (14D22) que desenvolve uma força de 1.021.097 kN (vácuo), com um Ies 310 s e um Tq de 120 s. Têm um comprimento de 19,60 metros, um diâmetro de 2,69 metros e consomem LOX e querosene.

O segundo estágio (Blok-A) tem um comprimento de 27,80 metros, um diâmetro de 2,95 metros, um peso bruto de 105400 kg e um peso sem combustível de 6.975 kg. Está equipado com um motor RD-108A que no lançamento desenvolve 999.601 kgf (vácuo), com um Ies de 311 s e um Tq de 286 s. Consome LOX e querosene.

O terceiro estágio (Blok-I) tem um comprimento de 6,74 metros, um diâmetro de 2,66 metros, um peso bruto de 25.200 kg e um peso sem combustível de 2.355 kg. Está equipado com um motor RD-0110 que no lançamento desenvolve 294.000 kgf (vácuo), com um Ies de 359 s e um Tq de 300 s. Consome LOX e querosene.

As modificações introduzidas no novo lançador foram sendo testadas em duas versões do mesmo veículo, o 14A14-1A Soyuz-2.1a e o 14A14-1B Soyuz-2.1b. Este último veículo é um lançador a três estágios no qual o motor RD-0124 é já empregado no último estágio.

Com dimensões semelhantes ao motor RD-0110 utilizado nas versões anteriores dos lançadores Soyuz, o motor RD-0124 apresenta como principal diferença a introdução de um sistema de ciclo fechado no qual o gás do oxidante utilizado para propulsionar as bombas do motor é então direccionado para a câmara de combustão onde é queimado com restante propelente em vez de ser descartado. Esta melhoria no motor aumenta o desempenho do sistema e, como consequência, aumenta a capacidade de carga do lançador em 950 kg. Um propelente especial de ignição é utilizado para activar a combustão do motor e são utilizados dispositivos pirotécnicos para controlar o funcionamento do motor. Cada uma das quatro câmaras de combustão pode ser movimentada ao longo de eixos para manobrar o veículo.

A tabela seguinte mostra os últimos dez lançamentos do 14A14-1B Soyuz-2.1b sem qualquer estágio superior.

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Em 1996 tiveram início os testes do motor RD-0124 e foram finalizados em Fevereiro de 2004 nas instalações da Khimavtomatika em Voronezh. Nesta altura previa-se que a produção em série do novo motor teria início em 2005. A 27 de Dezembro de 2005 teve lugar outro teste do motor, abrindo caminho para os ensaios em grupo de todo o terceiro estágio do lançador 14A14-B Soyuz-2.1b nas instalações da NIIKhimMash em Sergiev Posad.

No início de 2005 a Arianespace anunciava que a primeira missão de teste do foguetão 14A14-1B Soyuz-2.1b teria lugar desde o Cosmódromo GIK-5 Baikonur para colocar em órbita o satélite astronómico CoRoT. Este lançamento dependeria dos resultados de novos ensaios do motor RD-0124 que tiveram lugar em Março e Abril de 2006. Um último teste teve lugar a 20 de Outubro de 2006 e o satélite CoRoT acabaria por ser lançado a 21 de Dezembro desse ano.

Imagens: Roscosmos