Rússia lança satélites Rodnik-S

As Forças Militares Russas realizaram o lançamento de um foguetão Angara-1.2 a 25 de Novembro de 2025.

O lançamento teve lugar às 1342UTC e teve lugar a partir do Complexo de Lançamento LC35/1 do Cosmódromo GIK-1 Plesetsk, Arkhangelsk. Todas as fases do lançamento decorreram como previsto, colocando-se três satélites em órbita.

O Ministério da Defesa da Rússia emitiu uma nota de imprensa referindo o sucesso do lançamento, mas sendo extremamente lacónico sobre a carga a bordo, indicando apenas a presença de «satélites» a bordo.

Posteriores análises dos parâmetros orbitais dos três objectos colocados em órbita, indicam que estes são compatíveis com as órbitas dos satélites Rodnik-S.

A bordo terão estado os satélites 14F132 Rodnik-S n.º 32, 14F132 Rodnik-S n.º 33 e 14F132 Rodnik-S n.º 34. Os satélites deverão receber as designações “Cosmos-2597”, “Cosmos-2598” e “Cosmos-2599”.

Os satélites Rodnik-S

Também designados Strela-3M, os satélites 14F132 Rodnik-S são uma versão melhorada dos satélites de comunicações militares Strela-3. Estes satélites têm a capacidade de gravar transmissões recebidas e de as retransmitir para qualquer estação de recepção localizada por debaixo da sua órbita.

Os satélites operacionais são colocados em constelações de doze satélites localizados em dois planos orbitais (seis satélites por plano). Cada satélite está equipado com um único canal simultâneo terra-satélite e satélite-terra. A bordo faz-se o armazenamento de 12 Mbites de dados com um fluxo de transmissão de 2,4 kbit/s. O controlo de atitude do satélite é conseguido através da estabilização por gradiente de gravidade. O satélite é alimentado por um sistema de fornecimento de energia mediante células solares e baterias de níquel – hidrogénio, fornecendo 40 W de energia para a instrumentação desenhada com um tempo de vida útil de dois anos.

Rodnik-S_2014-05-24_12-48-36Na sua variante comercial (Gonets) os satélites são capazes de armazenar e transmitir informações em 2 a 3 canais nas bandas de 2.004 MHz a 400 MHz com uma potência de 10 W. Os fluxos de transmissão disponíveis incluem os 2,4 kbit/s, 9,6 kbit/s e 64 kbit/s com uma capacidade de armazenamento a bordo de 8Mbytes. O terminal portátil é semelhante a um telemóvel e pesa entre os 1 kg e os 3 kg. Os satélites Gonets encontravam-se em órbitas com uma altitude média de 1.350 km com uma inclinação de 82,5º, similares aos satélites Strela-3, mas distribuídos em seis planos orbitais com um número total de 36 veículos. A infraestrutura garante um tempo médio de comunicação de 20 minutos com uma probabilidade de mais de 80%. O primeiro satélite Gonets-M foi colocado em órbita a 21 de Dezembro de 2005  por um foguetão 11K65M Kosmos-3M.

Os satélites 17F13 Strela-3, também construídos pela Reshetnev, consistem na segunda geração de satélite de comunicações estratégicas militares cujo desenvolvimento foi iniciado em 1973 para substituir os satélites 11F625 Strela-1M e 11F610 Strela-2M. Mais pesados do que os satélites Strela-1M, os Strela-3 eram inicialmente lançados em conjuntos de seis veículos por foguetões 11K68 Tsyklon-3. Uma constelação operacional consiste em doze satélites em dois planos orbitais distanciados 90.º. Com uma forma cilíndrica tendo uma massa de 225 kg, uma altura de 1,50 metros e diâmetro de 1,00 metros, os satélites são estabilizados por gradiente de gravidade que consiste num mastro que se coloca em posição em órbita para assim proporcionar uma estabilização passiva. Cada satélite está equipado com um único canal simultâneo terra-satélite e satélite-terra. A bordo faz-se o armazenamento de 12 Mbites de dados com um fluxo de transmissão de 2,4 kbit/s. A empresa NII-TP era responsável pela carga de comunicações a bordo.

Os primeiros satélites foram colocados em órbita a 15 de Janeiro de 1985  e o Rodnik-S_01sistema foi aceite para serviço militar em 1990. Em 1992 os Strela-3 substituíam os satélites Strela-1M e em 1994 substituíam os satélites Strela-2M. Devido à retirada de serviço dos foguetões 11K68 Tsyklon-3, os satélites Strela-3 começaram a ser colocados em órbita por foguetões 11K65M Kosmos-3M a partir de 2002, lançando dois satélites em cada missão. A partir de 2008 começaram a ser utilizados foguetões Rokot/Briz-KM.

Os satélites Rodnik, também construídos pela Reshetnev, constituem versões melhoradas dos satélites Strela-3. Os satélites Rodnik surgem como um melhoramento dos satélites 17F13 Strela-3 que representam a segunda geração de satélites militares de comunicações e que foram inicialmente desenvolvidos para o GRU (Glavnoye Razvedovatelnoye Upravlenie), o directorado de inteligência militar das forças militares soviéticas. Os satélites recebem as comunicações por parte do emissor no solo, gravam a informação a bordo e transmitem essa informação quando passam sobre o receptor.

O lançamento de 25 de Novembro de 2025 (por Bart Hendricks)

Este lançamento abriu um novo plano na constelação de Rodnik. Existem agora 18 satélites Rodnik em órbita, distribuídos por quatro planos. Os lançamentos ocorreram em 2013, 2014, 2015, 2018 e 2025. A maioria dos satélites mais antigos continuou a realizar correcções orbitais no último ano, o que sugere que ainda estão operacionais e demonstram uma longevidade notável. Dois objetos do lançamento de 2015 (Cosmos-2507 e Cosmos-2508) não apresentaram qualquer atividade desde Julho de 2023 e Março de 2024, respectivamente, e um objeto do lançamento de 2013 (Cosmos-2489) não realizou correções orbitais durante vários anos.

Os satélites lançados a 25 de Novembro de 2025 e em Março de 2025 são versões modificadas que incorporam mais componentes eletrónicos de fabrico russo do que os seus antecessores (devido às sanções ocidentais). São, na verdade, conhecidos pelo nome “Klyuch”. Esta palavra é mais comummente utilizada em russo com o significado de “chave”, mas é aqui utilizada no seu significado menos comum de “nascente” (no sentido de “lugar onde a água brota do solo”). “Rodnik” é um sinónimo de “klyuch” neste sentido específico.

O longo caminho até à plataforma de lançamento dos mais recentes satélites Rodnik está bem documentada em documentos judiciais que surgiram online nos últimos dois anos. Os satélites foram construídos ao abrigo de um contrato assinado entre o Ministério da Defesa e a ISS Reshetnev a 16 de Novembro de 2015, sob o nome de “Klyuch”. Esta foi uma consequência directa da crise ucraniana que eclodiu no ano anterior e das sanções ocidentais daí resultantes. Primeiro, decidiu-se trocar os satélites do foguetão Rokot-KM para o lançador Angara-1.2, porque o sistema de orientação e controlo do Rokot-KM foi construído na Ucrânia e o foguetão estava programado para ser abandonado nessa altura (a decisão de construir uma versão totalmente russa do Rokot foi tomada muito mais tarde). Em segundo lugar, as sanções tornaram necessário substituir muitos componentes electrónicos de fabrico ocidental utilizados a bordo dos satélites. Isto referia-se particularmente à sua principal carga útil de comunicações, designada 14R59. As alterações no 14R59, por sua vez, também exigiram alterações no design geral dos satélites, bem como nos sistemas de controlo em terra e no hardware de comunicações terrestres.

O contrato Klyuch previa a construção e o lançamento de dois trios de satélites, denominados pelos russos de “blocos” (com a designação 14S137):

-14S137 n.º 17: satélites com os números de série 29, 30 e 31
-14S137 n.º 18: satélites com os números de série 32, 33 e 34

O primeiro trio de satélites deveria ter sido entregue no Cosmódromo de Plesetsk no final de 2019/início de 2020, mas sofreu inúmeros atrasos. Dois motivos são apresentados na documentação. O primeiro é que o Ministério da Defesa não forneceu as especificações técnicas para a ogiva 14R59 modificada até Maio de 2019, algo que é geralmente feito no início de um projecto. O segundo motivo foi o atraso na elaboração das especificações técnicas para o complexo de controlo terrestre (designado 14Ts32). Em meados de 2021, a entrega do Bloco 17 a Plesetsk foi adiada para Agosto de 2023, mas obviamente houve mais atrasos posteriormente. No final, o primeiro trio foi lançado com cerca de cinco anos de atraso, sendo as sanções ocidentais claramente, pelo menos em parte, responsáveis ​​por esse atraso.

A julgar pelos documentos, esperava-se que os satélites do Bloco 18 estivessem prontos logo após os do Bloco 17. O trio lançado em Março de 2025 foi colocado num plano orbital próximo do dos satélites do Bloco 15 (Cosmos-2507, Cosmos-2508 e Cosmos-2509), lançados em Setembro de 2015. O Cosmos-2509 fez pequenas correções orbitais em Fevereiro e parece estar activo. O estado dos outros dois não é claro. Pelo menos alguns dos satélites dos Blocos 13, 14 e 16 também parecem estar operacionais.

O complexo de controlo terrestre 14Ts32 está ligado na documentação aos satélites designados 14F132 e 14F161. À primeira vista, 14F161 pareceria ser o novo índice para os satélites modificados, mas o satélite nº 29 é ainda identificado num dos documentos como pertencendo à série 14F132. Possivelmente, 14F161 é uma designação para uma modificação adicional do Rodnik que ainda não voou.

O foguetão Angara-1.2

Originalmente o foguetão Angara-1.2 iria combinar a utilização dos módulos URM-1 (primeiro estágio) e URM-2 (segundo estágio) que havia sido derivado do Blok-I utilizada na famosa família de lançadores Soyuz. Tendo um diâmetro de 2,9 metros, o URM-1 teria uma dimensão inferior ao segundo estágio com um diâmetro de 3,6 metros. Nesta versão, o lançador teria uma massa de 171.ooo kg e seria capaz de colocar 3.700 kg numa órbita terrestre baixa. Os lançamentos teriam lugar a partir do Cosmódromo GIK-1 Plesetsk.

Mais tarde, foi decidido que utilização destes módulos só iria ocorrer no voo de ensaio do foguetão Angara-1, assim validando e certificando os dois módulos antes da sua utilização no lançador Angara-5. Posteriormente, uma variante do foguetão Angara-1.2 era redesenhada para ter o mesmo diâmetro tanto no primeiro estágio como no segundo estágio (2,9 metros), ao mesmo tempo que se procedia ao desenvolvimento de um módulo agregado (AM) que serviria de terceiro estágio para inserir as cargas nas suas órbitas finais. Designado 2A2S, o AM está equipado com quatro motores 11D458 que desenvolvem uma força de 40 kg e 14 pequenos motores 17D58E com uma força de 1,3 kg.

O primeiro estágio do Angara-1.2, o URM-1 (2A1S), está equipado com um motor RD-191M. O RD-191M (РД-191 Ракетный Двигатель-191) é um motor de alto desempenho com uma única câmara de combustão, sendo derivado do RD-180. Consome querosene e oxigénio líquido e utiliza um ciclo de combustão em estágios. Foi desenhado e é produzido pela NPO Energomash. Desenvolve 2,09 MN no vácuo (impulso específico de 337 s) ou 1,92 MN ao nível do mar (impulso específico de 310,7 s). O seu tempo de queima é de 325 segundos. Tem um comprimento de 4 metros, diâmetro de 1,45 metros e uma massa de 2,290 kg.

Lançamento Veículo Local Lançamento Data Hora (UTC) Carga
2022-044 71602 GIK-1 Plesetsk

LC35 PU-1

29/Abr/22 19:55:22,612 Cosmos 2555 (EO MKA n.º 2)
2022-135 71603 GIK-1 Plesetsk

LC35 PU-1

15/Out/22 19:55:15,411 Cosmos-2560 (EO MKA n.º 3)
2024-166 71604 GIK-1 Plesetsk

LC35 PU-1

17/Set/24 07:01:00 Cosmos-2577

Cosmos 2578

2025-054 71605 GIK-1 Plesetsk

LC35 PU-1

16/Mar/25 10:30 Cosmos 2585

Cosmos 2586

Cosmos 2587

2025-182 71608 GIK-1 Plesetsk

LC35 PU-1

21/Ago/25 09:32 Cosmos 2592

Cosmos 2593

Cosmos 2594

Cosmos 2595

2025-273 ? GIK-1 Plesetsk

LC35 PU-1

25/Nov/25 13:42 Rodnik-S n.º 32

Rodnik-S n.º 33

Rodnik-S n.º 34

O segundo estágio está equipado com um motor RD-0124A que consome querosene e oxigénio líquido e utiliza um ciclo de combustão em estágios. O motor RD-0124 é utilizado nos lançadores 14A14-1B Soyuz-2.1b e 14A15 Soyuz-2-1v, com a sua variante RD-0124A a ser empregada na família de lançadores Angara.

O RD-0124 é desenvolvido pela KB Khimavtomatika, Voronezh. Desenvolve 294,3 kN no vácuo (impulso específico de 339 s) e o seu tempo de queima é de 300 segundos. Tem um comprimento de 1,57 metros, diâmetro de 1,40 metros e uma massa de 2,290572 kg.

Imagens: Ministério da Defesa da Rússia



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