Rússia lança Obzor-R desde Plesetsk

As Forças Militares Russas realizaram o lançamento do satélite Obzor-R n.º 1 a partir do Cosmódromo de Plesetsk.

O lançamento teve lugar às 1411UTC do dia 25 de Dezembro de 2025 e foi realizado pelo foguetão 14A14-1A Soyuz-2.1a (S15000-027) a partir da Plataforma de Lançamento PU-4 do Complexo de Lançamento LC43 (17P32-4). Todas as afaes do lançamento decorreram sem problemas e o satélite foi colocado na órbita prevista.

O lançamento havia sido adiado por 24 horas deviddo aos fortes ventos em Arkhangelsk.

Projectado e desenhado pela TsSKB-Progress, o satélite Obzor-R n.º 1 (Обзор-Р №1) é um satélite de observalção da Terra por radar de banda-x que será operado pela Corporação Espacial Estatal Roscosmos (não sendo de descartar uma possível utilização militar). A sua massa é de cerca de 4.000 kg.

O complexo espacial Obzor-R foi concebido para fornecer ao Ministério das Situações de Emergência da Rússia, ao Ministério da Agricultura da Rússia, ao Serviço Federal de Registo Estadual, Cadastro e Cartografia, a outros ministérios e departamentos, e a entidades territoriais, informações de radar para tarefas de mapeamento, garantia da segurança marítima, monitorização de emergências naturais e provocadas pelo Homem, identificação de processos, objetos e fenómenos geológicos potencialmente perigosos em áreas onde estão a ser construídas e operadas instalações críticas, e fornecimento de suporte de informação para a gestão ambiental, exploração mineral, agricultura e outras áreas.

O desenvolvimento do Obzor-R surge após io cancelamento do desenvolvimento do satélite de observação por radar Arkon-2M. O Obzor-R está equipado com um radar SAR (Synthetic Aperture Radar) BRLK de banda-x, tendo uma resolução de 500 metros. Deverá estar operacional por um período de 5 anos.

Como a maioria dos programas espaciais russos, também o desenvolvimento do programa Obzor foi afectado por diversos adiamentos e cancelamentos. O programa foi iniciado em 2013, constanto de dois satélites iniciais (Obzor-R e Obzor-O). Já em 2021, os lançamentos de dois veículos Obzor-R, originalmente previstos para 2018 e 2020, foram adiados para 2022 e 2023. Posteriormente, a assessoria de imprensa da Roscosmos informou a RIA Novosti que o lançamento do segundo Obzor-R não estava na altuira previsto para antes de 2026. A 3 de Fevereiro de 2022, Dmitry Rogozin, então Diretor-Geral da Roscosmos, referia que o lançamento do Obzor-R, anteriormente previsto para 2022, havia sido adiado para 2023. Mais tarde, a 30 de Maio, o serviço de imprensa da TsSKB-Progress referia à agência de notícias TASS que o lançamento do satélite estava então previsto para o segundo trimestre de 2023, indicando que o radar para o satélite deveria ser entregue no segundo trimestre desse ano.

A 22 de Dezembro de 2022, Valery Zaichko, vice-diretor do Departamento de Sistemas de Navegação Espacial da Roscosmos, afirmava que estava previsto o lançamento de nove satélites de deteção remota da Terra em 2023, nomeadamente os satélites  Kondor-FKA 1, Obzor-R 1, Resurs-P 4, Meteor-M 2.3 e Meteor-M-2.4, Ionosphere-1 e Ionosphere-2, Elektro-L 4 e o Arktika-M2.

Em Setembro de 2023 o lançamento do Obzor-R n.º 1 estava previsto para Dezembro desse ano e em Novembro, surgia a informação que o lançamento era adiado para o segundo trimnestre de 2024. A 17 de Maio, a agência de notícias RIA Novosti referia que “o satélite radar Obzor-R está na fase final de produção, o seu lançamento está planeado para um futuro próximo, o dispositivo será capaz não só de tirar fotografias do espaço, mas também de receber dados digitais sobre a superfície da Terra e objetos nela existentes, disse o diretor-geral da TsSKB-Progress em entrevista à RIA Novosti, Dmitry Baranov. O satélite Obzor-R nº 1 está na fase final de produção. O seu lançamento está planeado para um futuro próximo“, acrescentando que o centro já iniciou os trabalhos para a criação do segundo satélite desta série.

A 24 de Outubro, a agência de notícias TASS indicava que “0 lançamento do radar multifunções ‘Obzor-R’ está previsto para o início de 2025, e não para o final de 2024, como tinha sido divulgado anteriormente. A informação foi confirmada em entrevista à agência TASS por Dmitry Baranov, Diretor Geral da TsSKB-Progress (parte da Roscosmos). ‘A nave Obzor-R nº 1 deverá ser preparada e enviada para o cosmódromo em dezembro deste ano, e o lançamento poderá ocorrer no primeiro trimestre de 2025’, afirmou Baranov, lembrando ainda que os equipamentos de bordo da nave chegaram à empresa em Abril. Acrescentou que o projeto técnico do segundo Obzor-R também está em curso, com conclusão prevista para Maio de 2025. ‘O lançamento do Obzor-R n.º 2, ao abrigo de um contrato estatal, está previsto para 2029’, concluiu Baranov. Além disso, confirmou o adiamento do lançamento do satélite biológico Bion-M nº 2 para o próximo ano.”

Nesta altura a agência TASS não revelou a razão do adiamento, mas fontes não oficiais referiam que a sua “carga útil do radar Kasatka-R teve de ser enviada de volta para o seu fabricante, NII TP, para actualizações após falhas nos testes, o que foi o principal motivo que adiou a missão de 2024 para 2025.”

Porém, apenas três semanas depois, o diretor da TsSKB-Progress afirmou, em entrevista à TASS, que a carga útil estava a ser submetida a testes integrados com o satélite, depois de ter sido entregue em Abril e antes de ser enviada para o local de lançamento em Dezembro.

O lançamento seria adiado para o período entre o Verão e o Outono de 2025, até que a 3 de Dezembro surgiram os avisos NOTAM para um lançamento desde o Cosmódromo de Plesetsk que indicavam zonas de impacto para a carenagem da carga útil e o estágio central dos foguetões Soyuz-2.1a e 1b para lançamentos em órbitas heliosíncronas.

A 11 de Dezembro uma publicação no fórum Novosti Kosmonavtiki, aparentemente feita por uma fonte interna, indica que a carga útil seria o satélite Obzor-R. Escreve no tópico sobre o Obzor-R que o satélite foi verificado e abastecido, e que o foguetão também está pronto. Estão apenas à espera da “libertação da plataforma de lançamento”, que ele explica numa publicação subsequente dizendo que é necessária para um “teste de lançamento do projecto 1440”. Aparentemente, trata-se de um teste de lançamento de um foguetão Soyuz-2 transportando um conjunto de satélites de banda larga Rassvet, construídos pelo Bureau 1440. Este lançamento era também esperado desde Plesetsk em Dezembro. É o primeiro lançamento dedicado destes satélites a partir de Plesetsk, mas isto ainda deixa a questão de saber por que razão é necessário um teste de lançamento (não é um procedimento padrão para um foguetão testado e aprovado) e por que razão foi considerado suficientemente importante para adiar o lançamento do Obzor-R (ainda mais porque estão disponíveis duas plataformas de lançamento do Soyuz-2 em Plesetsk). Ao que tudo indica, o lançamento ainda estava agendado para o dia 11 de Dezembro, quando foi divulgado um NOTAM para a zona de impacto dos foguetes auxiliares do primeiro estágio.

Uma nota no forum NK referia que o lançamento havia sido adiado para 17 de Dezembro, sendo posteriormente emitido um NOTAM apontando o lançamento para 23 de Dezembro. No dia 19 de Dezembro, o lançamento era adiado para o dia 24, tendo o dia 25 de Dezembro como dia suplente de lançamento.

O foguetão lançador 14A14-1A Soyuz-2.1a (S15000-027) seria transportado para a plataforma de lançamento a 20 de Dezembro.

O satélite Obzor-R n.º 2 está previsto para ser colocado em órbita em 2029.

O foguetão 14A14-1A Soyuz-2.1a

Desde o início que o foguetão Soyuz-2.1a foi projectado para ser um veículo de lançamento tripulado. Porém, os atrasos na sua introdução levaram à criação do foguetão Soyuz-FG para colmatar o fosso entre o foguetão 11A511U Soyuz-U e o 14A14-1A Soyuz-2.1a.

Os foguetões 11A511U Soyuz-U e 11A511U-FG Soyuz-FG usavam sistemas de controlo de voo analógicos. Estes sistemas foram incapazes de rolar o lançador para a trajectória correcta após o lançamento. Assim, estes veículos eram literalmente apontados na plataforma de lançamento para o seu azimute de voo correcto, de modo que tudo o que o foguetão tinha que fazer depois da descolagem era simplesmente inclinar-se para a trajectória adequada.

Como tal, o sistema de abortamento de lançamento da nave Soyuz MS foi projectado para que, se detectasse uma alteração na orientação do foguetão, accionasse o sistema de abortagem para resgatar a cápsula tripulada. Mas o Soyuz-2.1a usa sistemas digitais de controlo de voo e executa uma rotação para se alinhar ao azimute de lançamento correto após abandonar a plataforma, criando assim uma desconexão entre o lançador Soyuz-2.1a e as cápsulas Soyuz MS.

Para resolver a situação, a Roscosmos desenvolveu um ‘patch’ de ‘software’ que foi testado durante a missão Soyuz MS-14 não tripulada. Essencialmente, este ‘patch’ diz aos computadores de voo da cápsula que uma rotação após abandonar a plataforma de lançamento está “Ok” e a cápsula não acciona o programa de emergência quando o programa de rotação começa. Esta missão também testou em voo um novo sistema de navegação e um sistema de controlo de descida renovado.

O foguetão 14A14 Soyuz-2 representa a mais recente evolução do épico míssil balístico intercontinental R-7 desenvolvido por Sergei Korolev nos anos 50 do século passado. O novo lançador apresenta motores melhorados, modernos sistemas aviónicos digitais e uma reduzida participação de componentes de fabrico não russo.

O lançador é também conhecido pela designação Soyuz-ST (quando lançado desde o CSG Kourou) e foi especialmente desenhado para uma utilização comercial aumentando o seu desempenho geral apesar de o desenho básico do veículo permanecer o mesmo. A versão Soyuz-2.1a foi desenhada para missões tripuladas, substituindo o lançador 11A511U-FG Soyuz-FG.

As alterações foram realizadas ao nível de uma melhoria do desempenho dos motores do primeiro e do segundo estágio com novos injectores e alteração da mistura dos propelentes; aumento no desempenho do terceiro estágio; introdução de um novo sistema de controlo, permitindo uma alteração do plano orbital já durante o voo; introdução de um novo sistema de telemetria digital para a monitorização do lançador e a introdução de uma nova ogiva de protecção de carga com um diâmetro de 3,6 metros.

O foguetão 14A14 Soyuz-2 pode ser equipado com um quarto estágio, nomeadamente o estágio Fregat, utilizando as carenagens de protecção do tipo ST e SF.

Este lançador é capaz de colocar uma carga de 7.800 kg numa órbita terrestre a 240 km de altitude com uma inclinação de 51,80º. No lançamento desenvolve uma força de 4.144.700 kN. A sua massa total é de 310.000 kg, o seu diâmetro no estágio principal é de 2,95 metros e o seu comprimento total é de 43,40 metros.

O primeiro estágio do 14A14 Soyuz-2 é composto pelos quatro propulsores laterais (Blok B, V, G e D) com uma massa bruta de 44.400 kg, tendo uma massa de 3.810 kg sem combustível. Cada propulsor tem um motor RD-107A (14D22) que desenvolve uma força de 1.021.097 kN (vácuo), com um Ies 310 s e um Tq de 120 s. Têm um comprimento de 19,60 metros, um diâmetro de 2,69 metros e consomem LOX e querosene.

O segundo estágio (Blok-A) tem um comprimento de 27,80 metros, um diâmetro de 2,95 metros, um peso bruto de 105400 kg e um peso sem combustível de 6.975 kg. Está equipado com um motor RD-108A que no lançamento desenvolve 999.601 kgf (vácuo), com um Ies de 311 s e um Tq de 286 s. Consome LOX e querosene.

O terceiro estágio (Blok-I) tem um comprimento de 6,74 metros, um diâmetro de 2,66 metros, um peso bruto de 25.200 kg e um peso sem combustível de 2.355 kg. Está equipado com um motor RD-0110 que no lançamento desenvolve 294.000 kgf (vácuo), com um Ies de 359 s e um Tq de 300 s. Consome LOX e querosene.

Lançamento Data Hora (UTC) Veículo Local Lançamento Carga
2024-145 15/Ago/24 03:20:18,472 A1500-072 Baikonur

LC31 PU-6

Progress MS-28
2024-162 11/Set/24 16:23:12,436 M15000-070 Baikonur

LC31 PU-6

Soyuz MS-26
2024-197 31/Out/24 07:51:31 76072531 Plesetsk

LC42 PU-4

Cosmos 2579
2024-215 21/N0v/24 12:22:23,197 K15000-074 Baikonur

LC31 PU-6

Progress MS-29
2025-041 27/Fev/25 21:24:27,328 K15000-078 Baikonur

LC31 PU-6

Progress MS-30
2025-072 08/Abr/25 05:47:15,039 K15000-075 Baikonur

LC31 PU-6

Soyuz MS-27
2025-146 03/Jul/25 19:32:40,257 Kh15000-048 Baikonur

LC31 PU-6

Progress MS-31
2025-204 11/Set/25 15:54:06,235 K15000-079 Baikonur

LC31 PU-6

Progress MS-32
2025-275 17/Nov/25 09:27:57,402 М15000-071 Baikonur

LC31 PU-6

Soyuz MS-28
2025-311 25/Dez/25 14:11 S15000-027 Plesetsk

LC43 PU-4

Obzor-R n.º 1

As modificações introduzidas no novo lançador foram sendo testadas em duas versões do mesmo veículo, o 14A14-1A Soyuz-2.1a e o 14A14-1B Soyuz-2.1b. Este último veículo é um lançador a três estágios no qual o motor RD-0124 é já empregado no último estágio.

Com dimensões semelhantes ao motor RD-0110 utilizado nas versões anteriores dos lançadores Soyuz, o motor RD-0124 apresenta como principal diferença a introdução de um sistema de ciclo fechado no qual o gás do oxidante utilizado para propulsionar as bombas do motor é então direccionado para a câmara de combustão onde é queimado com restante propelente em vez de ser descartado. Esta melhoria no motor aumenta o desempenho do sistema e, como consequência, aumenta a capacidade de carga do lançador em 950 kg. Um propelente especial de ignição é utilizado para activar a combustão do motor e são utilizados dispositivos pirotécnicos para controlar o funcionamento do motor. Cada uma das quatro câmaras de combustão pode ser movimentada ao longo de eixos para manobrar o veículo.

Em 1996 tiveram início os testes do motor RD-0124 e foram finalizados em Fevereiro de 2004 nas instalações da Khimavtomatika em Voronezh. Nesta altura previa-se que a produção em série do novo motor teria início em 2005. A 27 de Dezembro de 2005 teve lugar outro teste do motor, abrindo caminho para os ensaios em grupo de todo o terceiro estágio do lançador 14A14-B Soyuz-2.1b nas instalações da NIIKhimMash em Sergiev Posad.

No início de 2005 a Arianespace anunciava que a primeira missão de teste do foguetão 14A14-1B Soyuz-2.1b teria lugar desde o Cosmódromo GIK-5 Baikonur para colocar em órbita o satélite astronómico CoRoT. Este lançamento dependeria dos resultados de novos ensaios do motor RD-0124 que tiveram lugar em Março e Abril de 2006. Um último teste teve lugar a 20 de Outubro de 2006 e o satélite CoRoT acabaria por ser lançado a 21 de Dezembro desse ano.

Imagens: Roscosmos e Ministério da Defesa da Rússia



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