A Rússia realizou o lançamento inaugural do foguetão 14A125 Angara-1.2 a 29 de Abril de 2022.
O lançamento do 14A125 Angara-1.2/AM (71602 1L/1L) teve lugar às 1955:22,612UTC foi realizado a partir da Plataforma de Lançamento PU-1 do Complexo de Lançamento LC35 do Cosmódromo GIK-1 Plesetsk, Arkhangelsk. O foguetão foi lançado com um módulo agregado (AM) e que serviu como último estágio para colocar o satélite na sua órbita final.
Após a separação da sua carga, o estágio AM realizou vários testas adicionais, sendo colocado numa órbita mais elevada não só para testar o seu sistema de propulsão, mas também para melhorar a visibilidade para as estações de rastreio russas, permitindo assim obter melhor telemetria do veículo.
Recebendo a designação militar Cosmos-2555, o satélite foi detectado numa órbita baixa sincronizada com o Sol. Os seus parâmetros orbitais eram semelhantes aos do Cosmos-2251 que terá falhado em órbita. Dias após o lançamento, esperava-se que o Cosmos-2555 realiza-se manobras para elevar a sua órbita. Porém, tal não aconteceu e o satélite acabaria por reentrar na atmosfera terrestre a 18 de Maio, o que acaba por levantar algumas questões sobre a sua verdadeira missão, se teria falhado em órbita ou se se trataria apenas de um modelo inactivo?
Qual a verdadeira função do Cosmos 2555?
Segundo analista Bart Hendrickx, uma publicação anónima no fórum da revista especializada russa Novosti Kosmonavtiki, referiu que tanto os satélites Cosmos 2551 e Cosmos 2555 teriam sido utilizados como alvos para testar o sistema laser móvel Peresvet. A publicação não revela a fonte desta informação, referindo apenas que esta era ‘garantida’. Assim, torna-se difícil atestar a fiabilidade da mesma. No entanto, é interessante constatar que a reentrada do Cosmos 2555 coincide com as declarações do Primeiro-ministro russo, Yuri Borisov, ao referir que o sistema Peresvet tem como objectivo «cegar» os satélites de reconhecimento inimigos que sobrevoam o território russo.
A mesma publicação refere que o Cosmos 2555 é denominado EMKA, mas não se trata do 3.º EMKA. Isto indicaria que o Cosmos 2552 e o Cosmos 2555 são ambos considerados “pequenos satélites experimentais” (sendo este o significado da sigla ‘EMKA’), mas são de um tipo diferente do primeiro EMKA que foi colocado em órbita como Cosmos 2525. O Cosmos 2525 foi também colocado numa órbita baixa, mas ao contrário do Cosmos 2552 e do Cosmos 2555, levou a cabo manobras regulares para manter a sua altitude e terá provavelmente sido um satélite de reconhecimento fotográfico.
Assim, a designação ‘EMKA’ pode ser uma designação genérica que não indica um tipo particular de satélite, mas vários tipos de satélites experimentais, possivelmente construídos pelo mesmo fabricante, a VNIIEM. Tal como pode ser determinado por documentação legar, o nome ‘específico’ para o Cosmos 2525 foi Razdan-N (mas não deve ser confundido com os satélites Razdan de maiores dimensões da RKTs Progress).
Afigura-se assim que tanto o Cosmos 2552 e o Cosmos 2555 não terão sido satélites que funcionaram mal e falharam, mas que foram de facto destinados a permanecer em órbita apenas algumas semanas. A hipótese de que os dois satélites tenham sofrido o mesmo tipo de falha deve ser considerada relativamente pequena.
O foguetão Angara-1.2
Originalmente o foguetão Angara-1.2 iria combinar a utilização dos módulos URM-1 (primeiro estágio) e URM-2 (segundo estágio) que havia sido derivado do Blok-I utilizada na famosa família de lançadores Soyuz. Tendo um diâmetro de 2,9 metros, o URM-1 teria uma dimensão inferior ao segundo estágio com um diâmetro de 3,6 metros. Nesta versão, o lançador teria uma massa de 171.ooo kg e seria capaz de colocar 3.700 kg numa órbita terrestre baixa. Os lançamentos teriam lugar a partir do Cosmódromo GIK-1 Plesetsk.
Mais tarde, foi decidido que utilização destes módulos só iria ocorrer no voo de ensaio do foguetão Angara-1, assim validando e certificando os dois módulos antes da sua utilização no lançador Angara-5. Posteriormente, uma variante do foguetão Angara-1.2 era redesenhada para ter o mesmo diâmetro tanto no primeiro estágio como no segundo estágio (2,9 metros), ao mesmo tempo que se procedia ao desenvolvimento de um módulo agregado (AM) que serviria de terceiro estágio para inserir as cargas nas suas órbitas finais. Designado 2A2S, o AM está equipado com quatro motores 11D458 que desenvolvem uma força de 40 kg e 14 pequenos motores 17D58E com uma força de 1,3 kg.
O primeiro estágio do Angara-1.2, o URM-1 (2A1S), está equipado com um motor RD-191M. O RD-191M (РД-191 Ракетный Двигатель-191) é um motor de alta performance com uma única câmara de combustão, sendo derivado do RD-180. Consome querosene e oxigénio líquido e utiliza um ciclo de combustão em estágios. Foi desenhado e é produzido pela NPO Energomash. Desenvolve 2,09 MN no vácuo (impulso específico de 337 s) ou 1,92 MN ao nível do mar (impulso específico de 310,7 s). O seu tempo de queima é de 325 segundos. Tem um comprimento de 4 metros, diâmetro de 1,45 metros e uma massa de 2,290 kg.
O segundo estágio está equipado com um motor RD-0124A que consome querosene e oxigénio líquido e utiliza um ciclo de combustão em estágios. O motor RD-0124 é utilizado nos lançadores 14A14-1B Soyuz-2.1b e 14A15 Soyuz-2-1v, com a sua variante RD-0124A a ser empregada na família de lançadores Angara. O RD-0124 é desenvolvido pela KB Khimavtomatika, Voronezh. Desenvolve 294,3 kN no vácuo (impulso específico de 339 s) e o seu tempo de queima é de 300 segundos. Tem um comprimento de 1,57 metros, diâmetro de 1,40 metros e uma massa de 2,290572 kg.
Neste lançamento o novo foguetão colocou em órbita o satélite Zvezda n.º 3 (EMKA), sendo utilizado para reconhecimento óptico e tendo uma massa de cerca de 150 kg.
O satélite ter-se-á separado do estágio AM pelas 2015UTC.
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Bibliografia:
- Zak, Anatoly. “Angara-1.2 rocket variant”. Consultado a 27 de Abril de 2022, em http://www.russianspaceweb.com/angara1.html
- Krebs, Gunter D. “Angara-1.2”. Gunter’s Space Page. Consultado a 27 de Abril de 2022, em https://space.skyrocket.de/doc_lau_det/angara-1-2.htm