A Corporação Espacial Russa Roscosmos colocou em órbita com sucesso o satélite de detecção remota Resurs-P4 a 31 de Março de 2024.
O lançamento teve lugar às 0936:45,626UTC e foi realizado pelo foguetão 14A14-1B Soyuz-2.1b (Kh15000-067) a partir da Plataforma de Lançamento PU-6 do Complexo de Lançamento LC31 (17P32-6 ‘Vostok’) do Cosmódromo de Baikonur Cazaquistão. Todas as fases do lançamento decorreram como previsto e o satélite ficou colocado numa órbita sincronizada com o Sol com um perigeu a 286 km, apogeu a 466 km e inclinação orbital de 97,2º.
Resurs-P4
Com uma massa no lançamento de cerca de 6.000 kg, o Resurs-P4 deverá operar por sete anos, complementando as observações efectuadas pelos satélites Resurs-P1, Resurs-P2 e Resurs-P3, colocados em órbita a 25 de Junho de 2013, a 26 de Dezembro de 2014 e 13 de Março de 2016, respectivamente. O satélite é baseado na plataforma Yantar e foi construído pela TsSKB Progress.
A bordo transporta uma série de instrumentos para a observação da superfície terrestre desenvolvidos pela TsSKB Progress e pela Krasnogorsky Zavod, entre os quais a câmara Geoton-L1 de observação pancromática com uma resolução de 1,0 metros a 3,4 metros. Juntamente com o Geoton-L1 encontra-se o sistema de recepção e transformação de informação Sangura-1U.
Para além da Geoton-L1, o Resurs-P4 transporta uma carga de observação hiperespectral. Obtendo imagens em vários comprimentos de onda com uma resolução de 5 nm a 10 nm, as imagens obtidas da superfície têm uma resolução de 30 metros.
Apesar de seguir a numeração dos satélites Resurs-P, os satélites Resurs-P4 e Resurs-P5 possuem várias melhorias em relação aos três satélites anteriores. Assim, a Roscosmos instalou uma segunda câmara de alta resolução ShMSA-VR no lugar da câmara de grande angular ShMSA-SR, que tinha uma resolução entre 60 e 120 metros. O novo sistema duplo de lentes de alta resolução nos novos satélites irá duplicar a área da superfície terrestre observável. Sistemas aviónicos comuns acomodam as melhorias no sistema multiespectral.
Por outro lado, a RKTs Progress subcontratou o desenvolvimento da sua nova versão à Corporação RKS para assim aumentar os níveis de transmissão por imagem a partir do satélite para as estações no solo para 600 Mbit/s, após problemas técnicos com os sistemas de transmissão de dados em dois satélites anteriores. Adicionalmente, foi removida a carga de identificação de navios BRK AIS e o instrumento de investigação Nuklon.
O comprimento máximo do Resurs-P4 é de 7,93 metros e um diâmetro máximo de 2,72 metros. O satélite está equipado com dois painéis solares para o fornecimento de energia interna. Os painéis solares têm um comprimento de 5,00 metros e uma largura de 4,50 metros.
O Resurs-P4 será utilizado por clientes comerciais, bem como por vários ministérios governamentais. Os dados obtidos serão utilizados para inventariação e monitorização de recursos naturais e controlo de processos para racionalizar a agricultura, silvicultura, pescas, recursos hidráulicos e outros sectores da economia; monitorização de áreas de emergência; fornecimento de dados para a elaboração e actualização de mapas topográficos a várias escalas; controlo da poluição e degradação ambiental; controlo de protecção da água e de áreas protegidas; recolha de dados sobre reservas de petróleo, gás natural, minérios e outros depósitos minerais; controlo de áreas de desenvolvimento e obtenção de dados de áreas de avaliação de engenharia e para o benefício da actividade económica; suporte de informação para a construção de estradas, ferrovias, oleodutos e gasodutos, e sistemas de comunicação; detecção de cultivos ilícitos de plantas de narcotráfico e controlo da sua destruição; e avaliação da situação das camadas de gelo.
Lançamento
Após abandonar a plataforma de lançamento o lançador colocou-se na trajectória desejada para completar a sua missão. A separação dos quatro propulsores laterais teve lugar a T+1m 57s. O final da ignição e separação entre o segundo e o terceiro estágio ocorreu a T+4m 48s, com a estrutura de ligação entre o segundo e o terceiro estágio a separar-se um segundo mais tarde. A separação das duas metades da carenagem de protecção ocorreu a T+4m 52s. O satélite Resurs-P4 separa-se o terceiro estágio Blok-I a T+9m 23s.
Posteriormente, o satélite manobra então para a sua órbita operacional a 476 km de altitude, com uma inclinação de 97,2º e com um período orbital de 93,97 minutos. As manobras orbitais têm lugar na 37º e 69ª órbita. As duas manobras alteram a velocidade do satélite em 74,4 m/s e 12,4 m/s, respectivamente.
O foguetão 14A14 Soyuz-2
O foguetão 14A14 Soyuz-2 representa a mais recente evolução do épico míssil balístico intercontinental R-7 desenvolvido por Sergei Korolev nos anos 50 do século passado. O novo lançador apresenta motores melhorados, modernos sistemas aviónicos digitais e uma reduzida participação de componentes de fabrico não russo.
O lançador é também conhecido pela designação Soyuz-ST (quando lançado desde o CSG Kourou) e foi especialmente desenhado para uma utilização comercial, aumentando a seu desempenho geral apesar de o desenho básico do veículo permanecer o mesmo. As alterações foram realizadas ao nível de uma melhoria do desempenho dos motores do primeiro e do segundo estágio com novos injectores e alteração da mistura dos propelentes; aumento no desempenho do terceiro estágio; introdução de um novo sistema de controlo, permitindo uma alteração do plano orbital já durante o voo; introdução de um novo sistema de telemetria digital para a monitorização do lançador e a introdução de uma nova ogiva de protecção de carga com um diâmetro de 3,6 metros.
O foguetão 14A14 Soyuz-2 pode ser equipado com um quarto estágio, nomeadamente o estágio Fregat (nas suas diversas variantes), utilizando as carenagens de protecção do tipo ST e SF.
Para as missões OneWeb é utilizado um “sistema dispensador” de satélites desenvolvido pela RUAG Space AB (Linköping, Suécia). Este dispensador transporta os satélites durante o voo até à órbita terrestre baixa, libertando-os assim que a altitude e as condições ideais são atingidas. Este dispensador é projectado para acomodar até 36 satélites por lançamento.
Este lançador é capaz de colocar uma carga de 7.800 kg numa órbita terrestre a 240 km de altitude com uma inclinação de 51,80.º. No lançamento desenvolve uma força de 4.144.700 kN. A sua massa total é de 310.000 kg, o seu diâmetro no estágio principal é de 2,95 metros e o seu comprimento total é de 43,40 metros.
O primeiro estágio do 14A14 Soyuz-2 é composto pelos quatro propulsores laterais (Blok B, V, G e D) com uma massa bruta de 44.400 kg, tendo uma massa de 3.810 kg sem combustível. Cada propulsor tem um motor RD-107A (14D22) que desenvolve uma força de 1.021.097 kN (vácuo), com um Ies 310 s e um Tq de 120 s. Têm um comprimento de 19,60 metros, um diâmetro de 2,69 metros e consomem LOX e querosene.
O segundo estágio (Blok-A) tem um comprimento de 27,80 metros, um diâmetro de 2,95 metros, um peso bruto de 105400 kg e um peso sem combustível de 6.975 kg. Está equipado com um motor RD-108A que no lançamento desenvolve 999.601 kgf (vácuo), com um Ies de 311 s e um Tq de 286 s. Consome LOX e querosene.
O terceiro estágio (Blok-I) tem um comprimento de 6,74 metros, um diâmetro de 2,66 metros, um peso bruto de 25.200 kg e um peso sem combustível de 2.355 kg. Está equipado com um motor RD-0110 que no lançamento desenvolve 294.000 kgf (vácuo), com um Ies de 359 s e um Tq de 300 s. Consome LOX e querosene.
As modificações introduzidas no novo lançador foram sendo testadas em duas versões do mesmo veículo, o 14A14-1A Soyuz-2.1a e o 14A14-1B Soyuz-2.1b. Este último veículo é um lançador a três estágios no qual o motor RD-0124 é já empregado no último estágio.
Com dimensões semelhantes ao motor RD-0110 utilizado nas versões anteriores dos lançadores Soyuz, o motor RD-0124 apresenta como principal diferença a introdução de um sistema de ciclo fechado no qual o gás do oxidante utilizado para propulsionar as bombas do motor é então direccionado para a câmara de combustão onde é queimado com restante propelente em vez de ser descartado. Esta melhoria no motor aumenta o desempenho do sistema e, como consequência, aumenta a capacidade de carga do lançador em 950 kg. Um propelente especial de ignição é utilizado para activar a combustão do motor e são utilizados dispositivos pirotécnicos para controlar o funcionamento do motor. Cada uma das quatro câmaras de combustão pode ser movimentada ao longo de eixos para manobrar o veículo.
A tabela seguinte mostra os últimos dez lançamentos do 14A14-1B Soyuz-2.1b sem qualquer estágio superior.
Lançamento | Data de Lançamento
Hora (UTC) |
Lançador | Local de Lançamento | Carga |
2017-076 | 02/Dez/17
10:43:26,331 |
77069203
|
GIK-1 Plesetsk
LC43 PU-4 |
Cosmos 2524
(14F145 Lotus-S1 n.º 803) |
2018-082 | 25/Out/18
00:15:17,991 |
78031216
|
GIK-1 Plesetsk
LC43 PU-4 |
Cosmos 2528
(14F145 Lotus-S1 n.º 804) |
2021-008 | 02/Fev/21
20:45:28,079 |
? | GIK-1 Plesetsk
LC43 PU-4 |
Cosmos 2549
(14F145 Lotus-S1 n.º 805) |
2021-056 | 25/Jun/21
19:50:00,241 |
? | GIK-1 Plesetsk
LC43 PU-4 |
Cosmos 2550
(14F139 Pion-NKS n.º 901) |
2021-111 | 24/Nov/21
13:06:35,047 |
Ya15000-054 | Baikonur
LC31 PU-6 |
Progress M-UM/Prichal |
2022-036 | 07/Abr/22
11:20:18,321 |
? | GIK-1 Plesetsk
LC43 PU-3 |
Cosmos 2554
(14F145 Lotus-S1 n.º 806) |
2022-163 | 30/Nov/22
21:15 |
76093148 | GIK-1 Plesetsk
LC43 PU-4 |
Cosmos 2565
(14F145 Lotus-S1 n.º 807) Cosmos 2566 |
2023-165 | 27/Out/23
06:04:43 |
? | GIK-1 Plesetsk
LC43 PU-3 |
Cosmos 2570
(14F145 Lotus-S1 n.º 808) Cosmos 2571 |
2023-182 | 25/Nov/23
20:58 |
? | GIK-1 Plesetsk
LC43 PU-4 |
Cosmos 2572 |
2024-061 | 31/Mar/24
09:36:45,626 |
Kh15000-067 | Baikonur
LC31 PU-6 |
Resurs-P4 |
Em 1996 tiveram início os testes do motor RD-0124 e foram finalizados em Fevereiro de 2004 nas instalações da Khimavtomatika em Voronezh. Nesta altura previa-se que a produção em série do novo motor teria início em 2005. A 27 de Dezembro de 2005 teve lugar outro teste do motor, abrindo caminho para os ensaios em grupo de todo o terceiro estágio do lançador 14A14-B Soyuz-2.1b nas instalações da NIIKhimMash em Sergiev Posad.
No início de 2005 a Arianespace anunciava que a primeira missão de teste do foguetão 14A14-1B Soyuz-2.1b teria lugar desde o Cosmódromo GIK-5 Baikonur para colocar em órbita o satélite astronómico CoRoT. Este lançamento dependeria dos resultados de novos ensaios do motor RD-0124 que tiveram lugar em Março e Abril de 2006. Um último teste teve lugar a 20 de Outubro de 2006 e o satélite CoRoT acabaria por ser lançado a 21 de Dezembro desse ano.
Imagens: Roscosmos