RocketLab retorna ao activo com a missão “It’s a Little Chile Up Here”

Depois da falha da 20.ª missão “Running Out of Toes” que perdeu a carga devido ao facto de um computador associado ao motor do segundo estágio ter detectado um problema pouco depois da ignição deste motor, levando a que fosse emitida uma ordem para uma desactivação da ignição em segurança. A emissão da ordem deveu-se a uma mistura de sinais dentro do próprio computador que controla o TVC (Thrust Vector Control) que desviou o segundo estágio da órbita pretendida. Replicando a anomalia e corrigindo o problema com sistemas de redundância, a FAA (Federal Aviation Administration) após análise do relatório, confirmou que a licença ainda se encontrava activa. Posto isto, a Rocket Lab retornou ao activo com a missão “It’s a Little Chile Up Here”.

O lançamento da missão teve lugar às 0600UTC do dia 29 de Julho de 2021 e foi levado a cabo desde o Complexo de Lançamento LC-1, plataforma A do Centro de Lançamentos de Máhia, em Onenui (Máhia), Nova Zelândia. Esta foi a 21.ª missão da empresa e a 4.ª deste ano.

O Electron colocou em órbita um satélite de demonstração patrocinado pelo Laboratório de Pesquisa da Força Aérea, denominado Monolith. O satélite irá explorar e demonstrar o uso de um sensor em que a massa do sensor é uma fracção substancial do total da massa do satélite, alterando a dinâmica das propriedades do satélite e testar a capacidade para manter o controlo de atitude. As análises deste sensor irá permitir o uso de plataformas de satélites mais pequenos tais como satélites meteorológicos, fazendo com que reduza o custo, complexidade, e tempo de desenvolvimento. O satélite irá também proporcionar uma plataforma para testar futuras capacidades de protecção espacial.

A missão foi adquirida pelo Programa de Testes Espacial (STP) do Departamento da Defesa (DoD) e o Programa de Sistemas de Lançamentos de Foguetes (RSLP), ambos com bases na Força Aérea de Kirtland no Novo México, numa parceria com a Unidade da Defesa e da Inovação (DIU) como parte da Iniciativa de Lançamentos Rápidos e Ageis (RALI). A missão foi gerida pela Divisão de Pequenos Lançamentos e Alvos da Launch Enterprise, que é parte da escolha da organização de lançamentos da USSF. A missão tem o nome de “It’s a Little Chile Up Here” em honra a adorada pimenta verde do Novo México, onde o Programa de Testes Espaciais está localizado.

Esta missão vem em seguimento de uma outra que a Rocket Lab lançou sob o mesmo acordo, a STP-27RD lançada em Maio de 2019. “That’s a Funny Looking Cactus” colocou em órbita três satélites de desenvolvimento também para o Space Test Program.

Não foi tentada a recuperação do Electron nesta missão.

Texto: Salomé T. Fagundes

Lançamento

O foguetão Electron era colocado na sua posição vertical a T-4h 00m e iniciava-se o processo de abastecimento de querosene. O pessoal de apoio na plataforma de lançamento deixava a área a T-2h 30m e o abastecimento de oxigénio líquido (LOX) iniciava-se a T-2h 00m.

As autoridades de aviação locais eram informadas sobre o lançamento a T-30m para assim poderem avisar os aviadores naquele espaço aéreo. Os preparativos finais para o lançamento iniciam-se a T-18m. A sequência automática de lançamento inicia-se a T-2m, com o computador de bordo do Electron a tomar conta das operações. A ignição dos motores do lançador inicia-se a T-2s.

O foguetão abandona a plataforma de lançamento a T=0s, com uma ascensão lenta nas fases iniciais e ganhando velocidade à medida que ganha altitude. O final da queima do primeiro estágio termina a T+2m 34s e a sua separação ocorre três segundos mais tarde. A ignição do motor do segundo estágio ocorre a T+2m 41s. A separação da carenagem de protecção ocorre a T+3m 8s. A T+8m 10s ocorre a troca de baterias eléctricas que dão o impulso eléctrico necessário a ignição do motor Rutherford Vacuum.

O segundo estágio atinge a órbita terrestre a T+8m 41s. A separação entre o segundo estágio e o estágio Curie ocorre e T+8m 50s. Entra-se neste momento numa fase não propulsionada de cerca de 40 minutos. O estágio Curie entra em ignição a T+49m 20s. O final da queima do estágio Curie ocorre a T+51m08s. A separação do satélite Monolith dá-se por volta de T+60m 00s.

O foguetão Electron

O Electron é um lançador a três estágios com um comprimento de 18 metros e um diâmetro de 1,2 metros. Tem uma massa de 13.000 kg no lançamento e é capaz de colocar em órbita terrestre baixa uma carga de 225 kg, sendo a sua carga nominal de 200 kg (a 500 km de altitude). Devido ao seu desenho e fabrico (fibra de carbono compósito e estrutura monocoque), o Electron é elaborado com altos níveis de automatização.

O lançador tira partido de materiais compósitos na sua fuselagem, tendo uma estrutura forte e super leve. Da mesma forma, os tanques de propolente são fabricados em materiais compósitos.

O primeiro estágio está equipado com nove motores Rutherford e tem uma capacidade de 162 kN, com um impulso específico de 311 s. O motor Rutherford consome querosene e oxigénio líquido, utilizando componentes impressos em 3D.

O motor Rutherford é um motor topo de gama que se alimenta de querosene e oxigénio líquido, e que foi especificamente projectado para o foguetão Electron utilizando um ciclo de propulsão inteiramente novo. Uma característica única deste motor são as turbinas eléctricas de alta performance que reduzem a sua massa e que substituem hardware por software. O motor Rutherford é o primeiro motor do seu tipo que utiliza impressão 3D nos seus componentes principais. Estas características são únicas no mundo para um motor de propelentes líquidos de alta performance alimentados por turbobombas eléctricas. O seu desenho orientado para a produção permitem que o Electron seja construído e os satélites lançados com uma frequência sem precedentes.

O segundo estágio do lançador é propulsionado por um motor derivado do motor Rutherford melhorado para uma excelente performance em condições de vácuo. É capaz de desenvolver 22 kN de força e um impulso específico de 343 s.

A sua carenagem tem um comprimento de 2,5 metros com um sistema de separação pneumático e por molas.

Lançamento Missão Veículo Lançador Data de Lançamento Hora

(UTC)

Carga
2020-037 F12 Don’t Stop Me Now 13 / Jun / 20 05:13 ELaNa 32: ANDESITE

ANDESITE Node-1

ANDESITE Node-2

ANDESITE Node-3

ANDESITE Node-4

ANDESITE Node-5

ANDESITE Node-6

ANDESITE Node-7

ANDESITE Node-8

NRO Satellite 1

NRO Satellite 2

NRO Satellite 3

RAAF M2 Pathfinder

2020-F05 F13 Pics Or It Didn’t Happen 05/Jul/20 21:13 CE-SAT-1B

Flock-4e (1) a Flock-4e (5)

Faraday-1

2020-060 F14 I Can’t Believe It’s Not Optical 31/08/20 03:05:47 Sequoia
2020-077 F15 In Focus 28/Out/20 21:21 CE-SAT-2B

Flock-4e’ (1)

a

Flock-4e’ (9)

2020-085 F16 Return To Sender 20/Nov/20 02:20 Dragracer-A (Alchemy)

Dragracer-B (Augury)

BRO-2

BRO-3

SpaceBEE-22

a

SpaceBEE-45

APSS-1

Gnome Chomski

2020-098 F17 The Owl’s Night Begins 15/Dez/20 10:09:27 StriX-α
2021-004 F18 Another One Leaves The Crust 20/Jan/21 07:26  GMS-T
2021-023 F19 They Go Up So Fast 22/Mar/21 22:30 BlackSky-7 (BlackSky Global 9)

Centauri-3

Myriota-7

RAAF-M2 A

RAAF-M2 B

Gunsmoke-J (Jacob’s Ladder)

Veery Hatchling (Veery RL1 v0.1)

Pathstone

2021-F02 F20 Running Out of Toes 15/Mai/21 11:11 BlackSky-8 (BlackSky Global 10)

BlackSky-9 (BlackSky Global 11)

2021-068 F21 It’s A Little Chile Up Here 29/Jul/21 06:00 STP-27RM: Monolith

O Complexo de Lançamento LC-1 localizado na Península de Máhia, entre Napier e Gisborne, na costa Este de Ilha do Norte da Nova Zelândia. Este é o primeiro complexo orbital na Nova Zelândia e o primeiro complexo a nível mundial operado de forma privada.

Equipado com duas plataformas de lançamento, a localização remota do LC-1, e de forma particular o seu baixo volume de tráfego marítimo e aéreo, é um factor chave que permite um acesso sem precedentes ao espaço. A posição geográfica deste local permite que seja possível a uma grande gama de azimutes de lançamento – os satélites lançados desde Máhia podem ser colocados em órbitas com uma grande variedade de inclinações para assim proporcionar serviços em muitas áreas em torno do globo.

Texto e tabela: Rui C. Barbosa