RocketLab falha lançamento do satélite Acadia-2

A terceira missão da RocketLab USA Inc. para a empresa californiana Capella Space falhou a 19 de Setembro de 2023 pouco depois da separação entre o primeiro e o segundo estágio do foguetão lançador.

A missão “We will never desert you” foi realizada a partir do Complexo de Lançamento LC-1B do Centro de Lançamentos de Onenui (Máhia), Nova Zelândia, e utilizou o foguetão Electron/Curie (F41), sendo lançada às 0656UTC.

Esta foi a sexta missão da RocketLab em 2023 e a falha interrompeu uma sucessão de quinze missões bem sucedidas desde 28 de Outubro de 2020.

A contagem decrescente foi suspensa por alguns minutos devido ao tempo solar, mas assim que foi retomada, tudo correu como previsto. O desempenho do primeiro estágio foi o previsto. Porém, durante a transmissão ao vivo do lançamento, e logo após a separação entre o primeiro e o segundo estágio, o motor Rutherford deste não entrou em ignição e a imagem transmitida em directo ficou fixa, indicando assim um problema no desempenho do lançador.

Por enquanto, não foram indicadas as razões que levaram à perda da missão e foi estabelecida uma comissão de inquérito para investigar o acidente.

A carga da missão “We will never desert you”

A missão “We will never desert you” transportou o satélite Capella-12 (também designado “Capella Acadia 2”).

A empresa californiana Capella Space pretende desenvolver uma constelação de 30 satélites equipados com sistema de radar SAR (Synthetic Aperture Radar).

Com uma massa de cerca de 165 kg, os satélites Acadia melhorados tiveram a sua largura de banda aumentada de 500 MHz para 700 MHz, e uma potência aumentada em 40% emrelação à segunda geração de satélites Capella. Para os satélites Acadia, a Capella Space aumentou a antena de downlink da carga a bordo para assim reduzir o tempo entre o contacto do solo e a obtenção das imagens. Os satélites Acadia estão também equipados com terminais de comunicações ópticos Mynaric, que dão compatíveis com o ‘standard’ de interoperabilidade estabelecidos pela Agência de Desenvolvimento Espacial do Pentágono – uma manobra projectada para reduzir o tempo entre a obtenção das imagens e a sua transmissão.

Lançamento

Com o encerramento das vias de acesso ao local de lançamento a ocorrer a T-6h, o foguetão Electron era colocado na sua posição vertical a T-4h e iniciava-se o processo de abastecimento de querosene. O pessoal de apoio na plataforma de lançamento deixava a área a T-2h 30m e o abastecimento de oxigénio líquido (LOX) iniciava-se a T-2h.

As autoridades de aviação locais eram informadas sobre o lançamento a T-30m para assim poderem avisar os aviadores naquele espaço aéreo. Os preparativos finais para o lançamento iniciam-se a T-18m. A sequência automática de lançamento inicia-se a T-2m, com o computador de bordo do Electron a tomar conta das operações. A ignição dos motores do lançador inicia-se a T-2s.

O foguetão abandona a plataforma de lançamento a T=0s, com uma ascensão lenta nas fases iniciais e ganhando velocidade à medida que ganha altitude. O veículo atinge a velocidade do som (Mach 1) a T+54s e a zona de máxima pressão dinâmica a T+1m 6s. O final da queima do primeiro estágio ocorre a T+2m 24s e a sua separação ocorre três segundos mais tarde.

A ignição do motor Rutherford do segundo estágio deveria ocorrer a T+2m 31s, seguindo-se a separação da carenagem de protecção a T+3m 7s e o processo de troca de bateria que iria auxiliar na ignição do segundo estágio ocorreria a T+6m 11s. Porém, foi nesta altura em que se deram os problemas com o segundo estágio que levaram à perda da missão.

 

 

O foguetão Electron

O Electron é um lançador a três estágios com um comprimento de 18 metros e um diâmetro de 1,2 metros. Tem uma massa de 13.000 kg no lançamento e é capaz de colocar em órbita terrestre baixa uma carga de 225 kg, sendo a sua carga nominal de 200 kg (a 500 km de altitude). Devido ao seu desenho e fabrico (fibra de carbono compósito e estrutura monocoque), o Electron é elaborado com altos níveis de automatização.

O lançador tira partido de materiais compósitos na sua fuselagem, tendo uma estrutura forte e superleve. Da mesma forma, os tanques de propelente são fabricados em materiais compósitos.

O primeiro estágio está equipado com nove motores Rutherford com uma capacidade de 162 kN, com um impulso específico de 311 s. O motor Rutherford consome querosene e oxigénio líquido, utilizando componentes impressos em 3D.

O motor Rutherford é um motor topo de gama que se alimenta de querosene e oxigénio líquido, sendo especificamente projectado para o foguetão Electron utilizando um ciclo de propulsão inteiramente novo. Uma característica única deste motor são as turbinas eléctricas de alto desempenho que reduzem a sua massa, substituindo assim ‘hardware’ por ‘software’. O motor Rutherford é o primeiro motor do seu tipo que utiliza impressão 3D nos seus componentes principais. Estas características são únicas no mundo para um motor de propelentes líquidos de alto desempenho alimentados por turbobombas eléctricas. O seu desenho orientado para a produção permitem que o Electron seja construído e os satélites lançados com uma frequência sem precedentes.

O segundo estágio do lançador é propulsionado por um motor derivado do motor Rutherford melhorado para um excelente desempenho em condições de vácuo. Consegue desenvolver 22 kN de força e um impulso específico de 343 s.

A sua carenagem tem um comprimento de 2,5 metros com um sistema de separação pneumático e por molas.

Lançamento Missão Veículo Lançador Data de Lançamento Hora

(UTC)

Carga
2022-127 F31 It Argos Up From Here 07/Out/22 17:09:21 GAzelle
2022-147 F32 Catch If You Can 04/Nov/22 17:27 MATS
2023-011 F33 Virginia is for Launch Lovers 24/Jan/23 23:00 Hawk-6A

Hawk-6B

Hawk-6C

2023-035 F34 Stronger Toghether 16/Mar/23 22:38:59 Capella-9

Capella-10

2023-041 F35 The Beat Goes On 24/Mar/23  09:14 BlackSky-18

BlackSky-19

2023-062 F36 Rocket Like A Hurricane 08/Mai/23 01:00 TROPICS-05

TROPICS-06

2023-073 F37 Coming to a Storm Near You 26/Mai/23 03:46 TROPICS-03

TROPICS-07

2023-100 F39 Baby Come Back 18/Jul/23 01:17 Telesat LEO 3

Starling-1

Starling-2

Starling-3

Starling-4

Lemur-2 (169)

Lemur-2 (170)

2023-126 F40 We Love the Nightlife 23 / Ago / 23 23:43 Capella-11 (Capella Acadia 1)
2023-F07 F41 We will never desert you 19 / Set / 23 06:56 Capella-12 (Capella Acadia 2)

O Complexo de Lançamento LC-1 localizado na Península de Máhia, entre Napier e Gisborne, na costa Este de Ilha do Norte da Nova Zelândia. Este é o primeiro complexo orbital na Nova Zelândia e o primeiro complexo, a nível mundial, operado de forma privada.

Equipado com duas plataformas de lançamento, a localização remota do LC-1, e de forma particular o seu baixo volume de tráfego marítimo e aéreo, é um factor-chave que permite um acesso sem precedentes ao espaço. A posição geográfica deste local permite que seja possível a uma grande gama de azimutes de lançamento – os satélites lançados desde Máhia podem ser colocados em órbitas com uma grande variedade de inclinações para assim proporcionar serviços em muitas áreas em torno do globo.

Dados estatísticos e próximos lançamentos

– Lançamento orbital: 6503

– Lançamento orbital EUA: 1938 (29,80%)

– Lançamento orbital Máhia: 38 (0,58% – 1,96%)

 

Tabela dos próximos lançamentos orbitais

Data

Hora (UTC)

Lançador Local Lançamento Carga / Missão
6504 20 Setembro

02:47:40

Falcon-9 Cabo Canaveral SFS

SLC-40

ASOG

Starlink G6-17
6505 21 Setembro

05:00

Gushenxing-1 Jiuquan

LC43/95A

??
6506 24 Setembro

06:00

Falcon-9 Cabo Canaveral SFS

SLC-40

JRTI

Starlink G6-17
6507 25 Setembro

07:11

Falcon-9 Vandenberg SFB

SLC-4E

OCISLY

Starlink G7-3
6508 26 Setembro

20:14

Chang Zheng-4C Jiuquan

LC43/94

Yaogan-33 04 (?)

 

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Biografia:

  • Krebs, Gunter D. “Capella 11, …, TBD (Acadia)”. Gunter’s Space Page. Consultado a 25 de Agosto de 2023, em https://space.skyrocket.de/doc_sdat/capella-11.htm