
A empresa sul-coreana INNOSPACE realizou o seu primeiro lançamento orbital desde o Centro Espacial de Alcântara, Maranhão, Brasil. Infelizmente, o lançamento não decorreu como previsto e o lançador despenhou-se no solo a T+1m 17s.
O lançamento da missão SPACEWARD teve lugar às 0113UTC do dia 23 de Dezembro de 2025 e foi realizado pelo foguetão HANBIT-Nano (F1), transportando cinco pequenos satélites a bordo, além de cargas não separáveis no seu segundo estágio.



Na transmissão ao vivo pareceu que o desempenho do motor do primeiro estágio do lançador foi inconsistente desde a ignição. O voo teve uma duração de cerca de 40 segundos, terminando a ignição e despenhando-se no solo. As causas do acidente irão ser investigadas.
O foguetão HANBIT-Nano (한빛-나노) é um veículo de lançamento orbital de dois estágios, concebido para transportar uma carga útil de 90 kg para uma órbita sincronizada com o Sol (SSO) a uma altitude de 500 km. Está equipado com um motor de foguetão híbrido de 25 toneladas de impulso no primeiro estágio e um motor de foguete de metano líquido de 3 toneladas de impulso no segundo estágio.
O lançador tem um comprimento de 21,8 metros, um diâmetro de 1,4 metros e uma massa de 18.800 kg.
O primeiro estágio está equipado com um motor híbrido HyPER-25 que consome parafina e oxigénio líquido, desenvolvendo um impulso de 245 kN, um impulso específico de 292 segundos e um tempo de queima de 150 segundos.
O segundo estágio está equipado com um motor LiMER-3 que consome metano líquido e oxigénio líquido, desenvolvendo 24 kN, um impulso específico de 325 segundos e um tempo de queima de 270 segundos. O segundo estágio pode também ser adaptado com um motor HyPER com um impulso de 29 kN (impulso específico de 350 segundos e tempo de queima de 300 segundos).
O lançador HANBIT-Nano foi desenvolvido pela empresa sul-coreana INNOSPACE (이노스페이스) fundada em 2017 por Kim Soo-jong. Desde então a empresa desenvolveu o veículo suborbital HANBIT-TLV (한빛-TLV) cujo primeiro lançamento ocorreu a 19 de Março de 2023, a partir do Centro Espacial de Alcântara. A missão verificou o desempenho de voo do seu motor de foguetão híbrido desenvolvido de forma independente. Esta conquista estabeleceu uma base tecnológica sólida para a entrada da INNOSPACE no mercado de serviços de lançamento comercial.
A INNOSPACE está a desenvolver o HANBIT-Micro, um lançador orbital capaz de colocar uma carga de 170 kg numa órbita sincronizada com o Sol a uma altitude de 500 km.


A carga da missão SPACWARD
A primeira missão do HANBIT-Nano, denominada “SPACEWARD”, marca o primeiro lançamento comercial da empresa, indo além de um lançamento de demonstração para transportar satélites e cargas úteis de clientes para a órbita terrestre baixa a uma altitude de 300 km.
Ao abrigo de contratos assinados com cinco clientes do Brasil, Índia e Coreia do Sul, a INNOSPACE transportou um total de oito cargas úteis registadas — incluindo pequenos satélites e cargas úteis experimentais não separáveis — juntamente com um ‘item’ simbólico de marca como carga útil não registada.
Entre as cargas úteis registadas estão cinco pequenos satélites para fins práticos, como a recolha de dados climáticos e ambientais, o desenvolvimento de tecnologia e a educação, bem como três cargas úteis experimentais não separáveis para verificação de tecnologia e aquisição de dados no espaço. Além disso, através de uma colaboração com a empresa de bebidas sul-coreana BREWGURU, a INNOSPACE levará um modelo de marca para o espaço, simbolizando o espírito pioneiro da nova era espacial.
Segundo uma nota da Força Aérea Brasileira, no dia 3 de Novembro deu-se início à fase de execução da Operação Spaceward 2025, responsável pelo lançamento do foguete sul-coreano HANBIT-Nano a partir do CLA, tendo sido mobilizados cerca de 400 profissionais. Tal como referido, a iniciativa, sob coordenação do Departamento de Ciência e Tecnologia Aeroespacial (DCTA/FAB), decorreu até ao dia 28 de Novembro. O evento marca a entrada do Brasil no mercado global de lançamentos espaciais, abrindo novos caminhos para geração de renda e investimento no segmento.
O nome da missão, “SPACEWARD”, transmite o espírito de “Let’s Space Forward“, simbolizando o primeiro passo da INNOSPACE em direção ao espaço com o seu veículo de lançamento de dois estágios desenvolvido de forma independente, HANBIT-Nano, levando satélites de clientes para órbita.
Os satélites a bordo da missão SPACEWARD são: FloripaSat-2B (GOLDS-UFSC ‘EQM’), FloripaSat-2A, Jussara-K, PIONBR2 e Solaras-S2.
Anteriormente, havia sido referido que o satélite GOLDS-UFSC estaria a bordo desta missão. Também designado “FloripaSat-2”, o satélite GOLDS-UFSC foi desenvolvido pela UFSC (Universidade Federal de Santa Catarina). Este é um CubeSat-2U com o principal objetivo de validar o funcionamento do módulo EDC (Environmental Data Collector), desenvolvido pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), Brasil.
A configuração inicial consistia na utilização de um sistema de transporte de 6U da ISIS Space, onde 3U seriam utilizados para o GOLDS-UFSC com tamanho 2U, e o outro 1U para um CubeSat do INPE. Os restantes 3U do sistema de transporte ficou para a INNOSPACE alocar clientes deles.
Porém, em finais de Setembro a INNOSPACE informou a UFSC que havia sido necessário reduzir a órbita inicialmente prevista de 500 km, para uma órbita a 300 km de altitude. Isto levou à redução da duração da missão originalmente prevista para 1 ano, sendo reduzida para cerca de 3 semanas.
Foi então decidido não se enviar o modelo de voo (FM) do GOLDS-UFSC, enviando-se no lugar o modelo de engenharia (EQM) do GOLDS-UFSC. Trata-se de um satélite idêntico, sendo, no entanto, o modelo utilizado para testes mais rigorosos, e não seria para voo. Esta cópia do satélite seria utilizada para operações com telecomandos e telemetria, antes de enviarmos telecomandos para o GOLDS-UFSC em órbita.
Por sua vez, o INPE desistiu de lançar o seu CubeSat, surgindo então a necessidade de preencher o seu slot com algo. Foi assim decidido criar um novo satélite 1U, que foi concluído em 3 semanas de trabalho. Este novo satélite foi designado “FloripaSat-2A”, uma vez que foi construído a partir da plataforma FloripaSat, cujo primeiro satélite (FloripaSat-1) foi lançado em 2019. Assim, o satélite CubeSat-2U GOLDS-UFSC EQM foi designado “FloripaSat-2B”.
O CubeSat-1U Jussara-K, foi desenvolvido pelo Laboratório de Eletrônica e Sistemas Embarcados Espaciais (Labesee) da UFMA, onde foram aplicadas diversas tecnologias brasileiras. Entre estas estão as antenas produzidas em parceria com o Laboratório Integrado de Sistemas Espaciais (LISE), da Universidade Federal de São João del-Rei (UFSJ), e o sistema de energia, incluindo os painéis solares, fabricados no próprio laboratório da UFMA. A missão do Jussara-K é a recolha de dados ambientais de plataformas terrestres equipadas com sensores em áreas de lagoas, florestas e regiões de cultivo. O satélite será capaz de captar informações como temperatura, humidade e níveis de monóxido de carbono, úteis para identificar focos de queimadas. O Jussara-K transporta também um módulo de processamento de inteligência artificial, fruto de parceria com a startup Epic of Sun, para testar o desempenho da tecnologia em ambiente espacial.
Desenvolvido pela Pion Labs, o PION-BR2 “Cientistas de Alcântara” é um CubeSat-1U que irá testar a tecnologia do satélite e os seus módulos em órbita, incluindo sistemas de comunicação, e para servir de plataforma educativa com a transmissão de mensagens pré-gravadas das comunidades quilombolas da região de Alcântara. O pequeno satélite surge de uma parceria entre a UFMA, por meio do DARTi Lab e do Baites — o Núcleo de Inovação e Tecnologia da UFMA—, com a Agência Espacial Brasileira; a Fundação Sousândrade; o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento; e a startup brasileira Pion Labs. O satélite nasceu do projeto “Cientistas de Alcântara”, que tem o objectivo de aproximar as comunidades da cidade de Alcântara às tecnologias espaciais, com foco no protagonismo de crianças quilombolas. O satélite irá mensagens produzidas por cerca de 300 crianças participantes do projeto, enviando sinais que poderão ser captados por estações de telemetria em diversas partes do mundo.
A empresa indiana Grahaa Space (Akshath Aerospace) terá o satélite Solaras-S2 a bordo. Este é um CubeSat-1U cuja missão é demonstrar as capacidades de um CubeSat que consegue observar a radiação solar e transmiti-la juntamente com um sinal de localização. Trata-se de uma missão de demonstração tecnológica para fins puramente não comerciais. A missão demonstra a tecnologia de pequenos satélites para a observação da radiação solar, promovendo a utilização de satélites amadores para investigação científica e fomentando a participação global através da partilha aberta de dados.
O satélite Solaras-S2 servirá como ferramenta educativa, oferecendo oportunidades para os radioamadores interagirem com a tecnologia espacial e contribuírem para a monitorização da missão em tempo real e para a análise de dados. O CubeSat transmitirá um sinal de sinalização e dados de telemetria que os radioamadores poderão receber, descodificar e analisar, envolvendo-os ativamente na missão, indo além da simples receção de informação.
O Solaras S2 irá desempenhar diversas funções de validação em órbita, incluindo a qualificação da plataforma do nanossatélite; testes de subsistemas essenciais e ligações de comunicação entre o satélite e a Terra; e a avaliação da qualidade inicial dos dados, um componente crucial para a visão da Grahaa de fornecer dados de vídeo geoespaciais em tempo quase real. Uma métrica inicial de sucesso para a missão inclui o estabelecimento de uma comunicação estável com as estações terrestres e a confirmação do desempenho dos subsistemas durante as operações orbitais iniciais.
A Grahaa Space conta com o apoio do Grupo Viskan e foi incubada no Centro de Incubação e Inovação em Tecnologia Espacial (STIIC) do Instituto Indiano de Ciência e Tecnologia Espacial (IIST), em Trivandrum.
A Castro Leite Consultoria (CLC) é uma empresa brasileira especializada nos sectores da defesa e espacial. Desde a sua fundação em 2013, a CLC construiu uma vasta experiência em sistemas de Orientação, Navegação e Controlo (GNC), sistemas de navegação inercial e simulações de sistemas dinâmicos. Para este lançamento, estarão a bordo uma carga útil de sistema de navegação por satélite (GNSS) e uma de sistema de navegação inercial (INS) para verificação tecnológica.

Sequência de Lançamento
O caminho para o lançamento do primeiro HANBIT-Nano passou pelo teste do motor HyPER-25 em Agosto de 2024, seguindo-se em Setembro o teste de separação das duas metades da carenagem de protecção. Neste mesmo mês, a INNOSPACE testava o motor LiMER-3 que equipa o segundo estágio do lançador.
A fase de inspecção estrutural do sistema de lançamento decorreu em Dezembro de 2024 e em Março de 2025 decorreram os testes do sistema integrado de ‘interface’ na plataforma de lançamento em Alcântara. O teste de qualificação do segundo estágio decorreu em Julho de 2025 e o teste de qualificação do primeiro estágio decorria em Setembro.

A 22 de Outubro a INNOSPACE anunciava que se tornara na primeira empresa privada a obter uma autorização de lançamento comercial da Administração Aeroespacial da Coreia (KASA). Com esta autorização, a INNOSPACE concluiu todos os procedimentos de aprovação para o lançamento inaugural do “HANBIT-Nano” e iniciou oficialmente os preparativos para o lançamento a partir do Centro Espacial de Alcântara.
Na altura, a empresa estabelecia a janela de lançamento para a missão “SPACEWARD” entre 28 de Outubro e 28 de Novembro, sendo esta janela de lançamento alargada em relação às datas iniciais (nas quais a janela de lançamento decorria até 4 de Novembro)
Este alargamento foi confirmado através de um processo de chamada pública promovido pela Agência Espacial Brasileira (AEB) e pela Força Aérea Brasileira (FAB) e reflectiu o seu apoio activo para garantir as condições ideais e um lançamento estável. A missão tem um valor simbólico significativo como o primeiro lançamento comercial de uma empresa privada a partir do Brasil. A data e hora exatas do lançamento durante este período seriam posteriormente definidas em coordenação com a FAB, após uma análise abrangente das condições meteorológicas, verificações técnicas e estado geral das operações de lançamento.
A integração das cargas úteis iniciou-se a 13 de Novembro numa altura em que o lançamento estava previsto para ter lugar a 22 de Novembro. No entanto, a 21 de Novembro, a FAB anunciava que o lançamento seria adiado para 17 de Dezembro, para permitir a realização de novos testes e aumentar a fiabilidade das operações de lançamento.
A 19 e 20 de Novembro, a equipa de técnicos e especialistas da INNOSPACE e da FAB realizaram um ensaio geral na plataforma de lançamento ao reproduzir as várias etapas de uma operação real de voo, procedendo ao transporte do lançador para a plataforma, realizando os preparativos e verificando a sequência de lançamento. Posteriormente, foram verificados os procedimentos de transporte de retorno do lançador para as instalações de integração e processamento.
A INNOSPACE transferiu o HANBIT-Nano da instalação de integração para a plataforma de lançamento no dia 15 de Dezembro, onde o veículo foi posicionado com sucesso. Durante o processo de inspeção final antes da montagem do veículo, no dia 16 de Dezembro, foi detectada uma anomalia na unidade de arrefecimento do sistema de alimentação de oxidante do primeiro estágio. Após uma avaliação detalhada da causa e das acções corretivas necessárias, a INNOSPACE decidiu reagendar o lançamento. Uma vez que a substituição poderia ser realizada com o veículo ainda na plataforma de lançamento, a empresa sul-coreana determinou que o lançamento poderia prosseguir dois dias depois, apesar de uma nova campanha de lançamento exigir normalmente cerca de três dias de preparação. O lançamento foi então reagendado para o dia 19 de Dezembro, pelas 1845UTC.
A sequência de lançamento da missão SPACEWARD decorre com a seguintes fases:
| Tempo (h:m:s) | Evento |
| -00:00:04 | Ignição do 1.º estágio |
| 00:00:00 | O lançador abandona a plataforma de lançamento |
| 00:00:54 | Mach 1,0 |
| 00:01:06 | MaxQ |
| 00:02:30 | Fim da queima do 1.º estágio (MECO) |
| 00:02:30 | Separação entre o 1.º e o 2.º estágio |
| 00:02:33 | Ignição do 2.º estágio |
| 00:02:59 | Separação da carenagem de protecção |
| 00:07:33 | Fim da queima do 2.º estágio (SECO) |
| 00:07:33 | Início da sequência de separação da carga |
Imagens: UFSC, FAB, INNOSPACE