Por toda a Humanidade – A épica viagem da Apollo-11 (IV)

Apollo-11 06

A épica viagem da Apollo-11 (III)

A altitude do Eagle era agora de 4.115 m. Tendo escolhido não usar o 16/68 para evitar novos alarmes de programa 12-02, Aldrin perguntava sobre o tempo restante na fase de travagem. “Será que nos podem dar uma estimativa do tempo de manobra, por favor, Houston?

Aguardem,” disse Duke. “Vocês estão muito bem aos 8 minutos.”

Trinta segundos para o P64,” disse Bales, respondendo assim à questão de Aldrin.

Eagle, vocês têm 30 segundos até ao P64,” informou Duke. O programa P64 iria alterar para a fase de aproximação visual da descida.

Ainda temos o radar de descida, Guidance?” perguntou Kranz.

É lindo,” respondeu Bales.

Já convergiu?” repetiu Kranz.

Sim!” respondeu Bales.

Flight, FIDO,” chamou Greene, “Estamos mesmo bem.”

Rog,” respondeu Kranz.

Eagle, Houston,” chamou Duke, “Estamos a chegar a 8 mais 30. Estão bem.”

Apollo-11 09

Tendo chegado a um ponto denominado ‘high gate’ a uma altitude de 2.286 m, o computador do Eagle iniciou o programa P64, que rapidamente reduziu o ângulo de inclinação de 55º para 45º. Até agora, a maior parte da propulsão estava destinada a abrandar a velocidade horizontal. À medida que a inclinação era reduzida, mais força propulsiva seria dirigida para baixo. Durante a manobra, o radar na base do Eagle alterou da sua posição de ‘Descida’ para a posição de ‘Pairar’ sobre a superfície, na qual iria permanecer, e o horizonte rapidamente se deslocou para a base das janelas, dando a Armstrong a sua primeira visão do local para o qual o computador os levava, o que a esta altitude era um ponto a cerca de 6,5 km à frente.

P64” informou Aldrin.

Certo…” respondeu Duke.

Muito bem, temos o 64,” anunciou Kranz no circuito de comunicações do director de voo. “Todos os controladores de voo, 20 segundos para a decisão de prosseguir para a alunagem.”

Eagle, estão a ir muito bem,” confirmava Duke. “Estamos a chegar aos 9 minutos.”

O veículo espacial estava nos 1.585 m de altitude e descia a uma velocidade de 30,5 m/s, que era a velocidade planeada. Armstrong testou o seu controlo manual e depois resumiu o controlo ‘hands off’, referindo “O controlo manual é bom.”

Muito bem,” respondeu Duke.

À medida que o Eagle descia aos 1.220 m, Kranz prosseguia, “Todos os controladores de voo, decisão para a alunagem. Retro?

Vai!” respondeu Deiterich.

FIDO?

Vai!” respondeu Greene.

Guidance?

Vai!” respondeu Bales.

Control?

Vai!” respondeu Carlton.

TELCOM?

Vai!” respondeu Puddy.

GNC?

Vai!” respondeu Willoughby.

EECOM?

Vai!” respondeu Aaron.

Cirurgião?

Vai!” respondeu Zieglschid.

CapCom prosseguimos para a alunagem.”

Eagle, Houston. Podem prosseguir para a alunagem.”

Ao escutar isto, Jan Armstrong sentou-se sobre os seus joelhos aos pés da sua cama. Pat Collins exclamou, “Oh Deus, não aguento.”

Apollo-11 07

Muito bem. Compreendido. Prosseguimos para a alunagem,” respondeu Aldrin. “915 m.” Mas logo a seguir, “Alarme de programa.” Premiu o DSKY para o código, “12-01”.

Muito bem,” respondeu Duke, “alarme 12-01.”

Mesmo tipo,” respondeu Bales imediatamente. “Prosseguimos, Flight.”

Prosseguimos. Mesmo tipo,” transmitiu Duke, com uma tensão evidente na sua voz. “Prosseguimos.”

Armstrong queria procurar por marcas na superfície para determinar a distância a que se encontravam, mas este alarme acabou por distraí-lo, e quando voltou a olhar para o exterior estavam tão baixos que ele não conseguia ver nenhuma das marcas na superfície que havia memorizado, “Então”, disse mais tarde, “todas aquelas imagem que o Tom Stafford obteve na Apollo-10 para permitir que eu escolhesse para onde queria ir e saber precisamente onde estava, não serviram de nada.”

610 metros”, disse Aldrin.

Nervosamente, Pat Collins começava a morder o seu lábio.

Tal como Aldrin havia explicado antes do lançamento, “Durante a descida, existe uma divisão justa do trabalho. O Neil iria olhar cada vez mais para o exterior, a sua mão no controlo. Ele não pode olhar muito para os instrumentos. É aqui onde temos de trabalhar verdadeiramente como uma equipa sincronizada, para garantir que ele tem toda a informação que necessite. E ao mesmo tempo eu irei olhar para os vários sistemas para garantir que estejam a operar da forma como devem. Porém, aqui estou eu a olhar para cinco ou seis indicadores, e, pela telemetria, temos equipas de pessoas a monitorizar cada indicador na Terra, assim, verdadeiramente, eu estou a confirmar o que muita gente está a ler.”

Deixado a si próprio, o computador irá continuar a descida até uma alunagem ou até se despenhar, mais precisamente como resultado de um terreno desfavorável. Para determinar para onde o computador se estava a dirigir, Armstrong perguntou a Aldrin por um ângulo para o seu LPD (Landing Point Designator), “Dá-me um LPD.”

Aldrin questionou o computador, “47 graus.”

As placas da janela de duas camadas de Armstrong estavam inscritas com uma escala. O ângulo era medido para baixo, relativamente à direcção ‘em frente’. Colocando a sua cabeça para se alinhar com as escalas, ele viu para lá da marca de 47º em direcção à posição, um pouco mais de 1,85 km em frente, onde o computador os estava a levar. “É uma área nada má,” observou para Aldrin.

Duke continuava com os seus avisos, “Eagle, estão bem. Prossigam.”

À medida que o Eagle descia aos 427 m, o computador emitiu outro alarme de programa. “12-02,” disse Aldrin.

Roger,” recebeu Duke. “12-02.”

Que tal vai isso, Contraol?” perguntou Kranz.

Aqui está tudo bem, Flight,” respondeu Carlton.

E tu, TELCOM?

Tudo bem!” respondeu Puddy.

Guidance, tudo bem?

Tudo bem!” respondeu Bales.

FIDO?

Tudo bem!” respondeu Greene.

Apollo-11 08

Para os repórteres veteranos como Reginald Turnill da BBC, que tinham feito um esforço para aprender algo mais sobre os sistemas, esta determinação em prosseguir independentemente dos alarmes começou a parecer que alguém queria terminar despenhando-se na Lua.

Qual é o LPD?” perguntou Armstrong.

35 graus,” respondeu Aldrin. “229 metros, descendo a 7 (metros por segundo).”

Pat Collins começava agora a morder os seus dedos.

33 graus,” dizia Aldrin. “213 metros, 6 para baixo.”

Com Aldrin actuando como os seus olhos no interior, Armstrong dirigiu a sua atenção para o exterior. O computador estava a dirigir-se para uma cratera do tamanho de um campo de futebol, rodeada por um campo de materiais ejectados que haviam sido escavados pelo impacto. Mais tarde, Armstrong referia “Estava surpreendido pelo tamanho dos pedregulhos, alguns dos quais eram do tamanho de pequenos carros.” A cratera tinha um diâmetro de 183 metros. “Uma área rochosa,” fez notar Armstrong a Aldrin.

183 metros, descendo a 5,8,” ia dizendo Aldrin.

Numa descida nominal, Armstrong não teria o controlo manual do Eagle até que este estivesse a cerca de 46 metros de altitude. Porém, tendo em conta para onde se dirigiam, ele não podia deixar o computador continuar a voar às cegas. Considerou descer antes da cratera ou mesmo por entre o material ejectado para assim ser capaz de inspeccionar os pedregulhos para os cientistas, mas desistiu pois considerou ser muito arriscado e em vez disso decidiu seguir os seus instintos de piloto e prolongou a descida. Seleccionou o modo de voo semi-automático que lhe permitiria controlar a atitude e a velocidade horizontal, enquanto que o computador – permitindo os seus comandos – controlava a propulsão. A uma altitude de 152 metros, num ponto designado ‘low gate’ no perfil de descida, Armstrong interveio. Diminuiu o ângulo de inclinação dos actuais 20º para cerca de 5º, colocando assim o veículo quase na posição vertical para dirigir toda a força de propulsão para baixo mantendo a velocidade horizontal de 18,3 m/s e reduzindo a taxa de descida de 5,8 m/s para 2,7 m/s. Seleccionou de seguida o modo ‘Attitude Hold’, e deixou o Eagle seguir uma trajectória rasa sobre o campo de material ejectado mesmo a Norte da cratera, enquanto procurava por uma área mais limpa numa zona mais á frente.

Attitude Hold!” disse Carlont, notando a alteração de modo na telemetria.

Muito bem, Attitude Hold,” recebeu Kranz.

Neste ponto, tal como Duke mais tarde recordou: “Estávamos nos últimos minutos. O Deke Slayton está sentado junto de mim. Estamos ambos colados ao ecrã da minha consola, e eu estou sempre a falar e dizendo-lhe todas aquelas coisas, o Deke dá-me um murro no meu lado e diz ‘Charlie, cala-te e deixa-os aterrar’.”

É melhor eu estar quieto, Flight,” disse Duke.

Rog,” anuiu Kranz.

Como Armstrong cancelou parte das tarefas do computador, Aldrin apagou o ângulo LPD do seu ciclo e em vez disso começou a relatar os valores da velocidade: “122 metros, descendo a 2,7, 17,7 (metros por segundo) em frente.”

Os únicos anúncios agora serão do combustível,” ordenou Kranz. Carlton, monitorizando o sistema de calibração do combustível, faria os anúncios para que Duke os transmitisse aos astronautas. À medida que a tensão ia aumentando, os controladores de voo agarravam de forma inconsciente os punhos das suas unidades; denominados ‘punhos de conforto’.

107 metros, descendo a 1,2,” referia Aldrin.

P66,” anunciou Carlton, referindo que o computador havia mudado da fase de aproximação para a fase de alunagem.

100 metros, 2 descendo,” anunciou Aldrin. “Estamos fixos na velocidade horizontal.” Neste ponto, ocorreu uma explosão de estática na ligação de comunicações do Eagle para a Terra.

Apesar de Armstrong não ter explicado porque interveio, era evidente que apesar do facto de o Eagle estar a viajar numa trajectória quase horizontal a grande velocidade, Armstrong levou a cabo uma manobra evasiva. Kranz reconhecia que o centro de decisões se havia transferido para o Eagle. O veículo ainda não se encontrava na chamada ‘dead man’s box’, mas estaria brevemente. O resto da descida seria decidido por Armstrong. Kranz também sabia que enquanto Armstrong pensasse que teria uma oportunidade para alunar, ele iria continuar. Mas, tal como Stafford havia notado após a Apollo-10, o lado oeste da elipse parecia ser mais áspero do que o ponto alvo.

Ao voar para longe dos pedregulhos em torno da grande cratera, Armstrong inclinou o Eagle de novo para abrandar rapidamente a sua velocidade horizontal que, como resultado da sua manobra evasiva, era agora excessiva para a sua altitude. Ao observar uma linha de pedregulhos mesmo em frente, ele ordenadamente deslocou-se para a esquerda – tal como avia feito com o LLTV, primeiro ao inclinar o Eagle na direcção que queria ir para tirar partido da componente da propulsão para preparar a velocidade lateral e, mesmo antes de chegar onde queria, inclinando na direcção oposta para cancelar esta translação, resumindo assim a orientação original directamente acima da sua posição seleccionada. Apesar de nestas manobras o Eagle ter uma familiar resposta aos solavancos tal como o LLTV, ele ficou maravilhado ao determinar que era mais fácil voar o LM. Para ganhar tempo, ele começou a utilizar a alavanca articulada do controlador manual desenhada para ajustar a taxa de descida em incrementos de 0,1 m/s; estando céptico desta característica, Armstrong acabou por achá-la muito efectiva.

Muito bem, como está o combustível?” perguntou Armstrong há medida que continuava a manobrar a uma altitude de 91 metros.

8 por cento,” respondeu Aldrin.

Agora já bem afastado do material ejectado do interior da cratera, Armstrong começou a acalmar.

Muito bem, aqui parece uma boa área,” informava Armstrong a Aldrin.

Aldrin aproveitou para olhar para o exterior rapidamente e viu a sombra do Eagle no solo em frente. Estava surpreendido pois, estando a uma altitude de cerca de 79 metros com o Sol baixo no horizonte a Este, ele esperava ver a sombra mais afastada a Oeste para que fosse rapidamente visível; mas ali estava ela, mostrando a estrutura do veículo de forma distinta. “Temos a sombra lá fora,” relatava. Infelizmente, e em resultado da manobra, o Eagle estava ligeiramente inclinado para a esquerda e o pilar central em frente do painel de instrumentos bloqueava a vista da sombra a Armstrong.

76,2, descendo a 0,76 m/s, 5,8 em frente,” recitava Aldrin.

Muito bem, Bob. Estarei a aguardar pelas tuas chamadas em breve,” dizia Kranz.

Luz de altitude/velocidade,” notava Aldrin. Esta lua de aviso indicava que os dados do radar se haviam degradado. Era de esperar que a luz se acendesse quando os dados provenientes do radar não fosse úteis ao computador – foi acesa antes da fixação, apagou-se com a fixação, e posteriormente iria acender-se para alertar Aldrin para o facto de que o radar havia perdido o rasto da superfície. Como se provou ser impraticável alunar às cegas, pois não haveriam referências sobre a altitude e taxa de descida, as regras da missão referiam que em caso de falha no radar ter-se-ia de abortar. Mas eles continuaram expectativos, e após 20 segundos o radar começou a fornecer informação de novo em relação à superfície. Então, Aldrin retomou a informar sobre os dados, “1,07 para baixo, 67 metros, 4 em frente.”

As comunicações provenientes do Eagle estavam cheias de estática. Jan Armstrong deslizou o seu braço em torno do ombro do seu filho Ricky e Joan Aldrin estava silenciosamente junto da parede, balançando uma porta, com os seus olhos embargados, rezando para que o Eagle não se despenhasse. No controlo da missão Kranz havia decidido que não designaria uma abortagem a mesmo de que tivesse a certeza de que era essencial. Em relação à regra da missão que havia introduzido e que referia que teria de haver telemetria para a descida propulsionada continuar, ele referiu mais tarde, “Uma vez estando tão perto, tencionava deixar a tripulação prosseguir se tudo parecesse bem para eles – considerei uma abortagem a baixa altitude do tipo ‘fire-in-the-hole’ tão arriscada como alunar sem telemetria. Vejo uma abortagem ‘fire-in-the-hole’ da mesma maneira que considero um salto de pára-quedas quando voava aviões a jacto; isto é, usas um pára-quedas quando já não tens outras opções.” Armstrong diria mais tarde que uma abortagem envolvendo (1) a desactivação do DPS, (2) a deflagração dos pirotécnicos para cortar todas as ligações estruturais e eléctricas entre os estágios, e (3) a ignição do APS em rápida sucessão, próximo da superfície lunar, “era algo no qual não tinha muita confiança.” Se o processo não ocorresse sem problemas, iria por em risco a partida do estágio de ascensão. Só tinha sido feito no teste não tripulado do LM-1 em 1968. De facto, esta aversão a este tipo de abortagem tinha levado à regra de missão que referia se se desenvolvesse um problema após os 5 minutos da descida propulsionada que não requeresse a finalização do voo, então todos os esforços deveriam ser levados a cabo para uma alunagem que permitisse uma partida minutos mais tarde. Porém, se o DPS fosse desactivado com o Eagle a 60 metros da superfície, estaria condenado pois estaria sobre o efeito do fraco campo gravitacional lunar na altura em que a sequência da manobra de abortagem fosse concluída (o APS não seria capaz de fornecer a força suficiente para o estágio de descida se elevar antes de impactar na superfície). O Eagle estava quase nesta altitude.

3,4 em frente. Descendo sem problemas,” disse Aldrin.

Estou a passar mesmo sobre uma cratera,” indicou Armstrong. Como não estava a usar o seu PTT, Houston não escutou este comentário .

61 metros, 1,37 descendo, 1,7 descendo.”

Tenho de ir mais além,” disse Armstrong, quando retomava as manobras.

48,8 metros, 2 para baixo,” continuou Aldrin.

Existiam sensores de nível em cada par de tanques de propolente, e Carlton havia recomendado que usassem o conjunto 2. Quando um destes sensores do tanque de combustível ou oxidante ficasse exposto, iria iluminar a luz ‘Descent Quantity” no painel de controlo do Eagle e gerar-se-ia o sinal de ‘baixo nível’ na telemetria. Este sinal significava que somente havia 5,6 por cento da quantidade inicial de propolente, o que, num voo planado com uma potência de 32 por cento, significava que o motor seria desligado em 96 segundos. Com 20 segundos reservados para a acção preliminar de uma abortagem e a indução de uma taxa de subida antes da manobra, o sinal de baixo nível significava que em 76 segundos Armstrong teria de optar por abortar ou alunar em 20 segundos. Tal com no jargão dos pilotos, esta acção era denominada ‘bingo call’.

Baixo nível,” anunciava Carlton no silencioso circuito de comunicações do director de voo. Ele accionou o seu cronómetro.

Baixo nível,” repetiu Kranz. Esta frase “captou mesmo a minha atenção”, iria referir mais tarde, “principalmente porque nos treinos geralmente alunávamos nesta altura”.

Descendo 1,7, 2,7 em frente,” continuava Aldrin. “Estás a ir bem.” Após mais estática escutou-se “36,5 metros.”

Mais uma vez Armstrong abrandava a taxa de descida para poder manobrar para um local mais plano. A inclinação podia ser visualmente avaliada porque, com o Sol baixo de trás, uma mancha branca estava inclinada para cima porque estava bem iluminada, enquanto que uma mancha mais escura estava provavelmente inclinada no sentido oposto e mal iluminada. Ele tinha de encontrar uma localização bem iluminada que não tivesse muitas rochas. A presença de rochas podia ser inferida a partir das sombras que projectavam. Tal como recordou, “Mudei de opinião várias vezes, à procura de um local para descer. Algo que parecia bom, há medida que nos aproximava-mos já não parecia tão bom. Finalmente, encontramos uma área limitada num lado por crateras e no outro lado por um campo de pedregulhos; não era particularmente grande, um par de centenas de metros quadrados – mais ou menos tamanho de grande lote de casas.”

30,5 metros, 1,1 para baixo, 2,7 em frente,” continuava Aldrin.

Por sugestão de Bill Tindall, a iluminação da luz ‘Descent Quantity’ não accionou nem a luz de aviso ou o tom de alarme; apesar de tudo era um evento normal e não algo demasiado arriscado para distrair a atenção da tripulação tão perto da superfície lunar. Passou algum tempo até que Aldrin notou a luz “Cinco por cento. Luz de quantidade.”

Carlton estava focado no seu cronómetro. “Estamos a chegar aos 60,” avisou.

Rog,” respondeu Kranz.

Muito bom,” continuou Aldrin. “22,8 metros e está a ir bem.”

60!” anunciava Calrton.

60 segundos,” informava Kranz.

Duke, que estava em silêncio já há algum tempo, passou a informação à tripulação. Aldrin não respondeu, optando em dez disso manter a sua leitura dos instrumentos para Armstrong.

Jan Armstrong inclinou-se para a frente com uma mão tapando a sua boca, os seus olhos mais brilhantes do que o usual. Joan Aldrin, com lágrimas nos seus olhos e junto da ombreira da porta, tinha a sua mão tremente sobre o candeeiro.

Como o Eagle podia facilmente danificar um dos seus suportes de alunagem (ou mesmo voltar-se sobre si mesmo) se tivesse de alunar com alguma velocidade horizontal, uma vez Armstrong estando directamente sobre o seu local escolhido ele concentrou-se num ponto mesmo em frente servindo assim como referência visual e dedicou-se a anular os componentes da sua velocidade lateral em preparação de uma descida vertical. Porém, devido ao facto de não desejar deslizar para trás contra um obstáculo, ele manteve um deslocamento frontal muito lento que os testes haviam indicado não constituir qualquer problema para as pernas do LM.

Luzes acesas,” informou Ardrin. A luz de altitude/velocidade indicava que os dados do radar estavam de novo degradados, mas desta vez somente durante alguns segundos. “18 metros, para baixo a 0,8,” continuava. Após uma pausa, disse “0,6 para a frente. Muito bom.” E de novo, “12,2, para baixo 0,7.”

Armstrong corta então a potência para poder descer. Os gases da combustão estavam agora em contacto com a superfície, mas como o veículo tinha dissipado metade da sua massa desde o início da PDI o motor desenvolvia apenas cerca de 454 kg de força. Porém, fez levantar o material na superfície. “Levantando alguma poeira,” anunciava Aldrin.

Incapaz de encapelar-se devido á ausência de uma atmosfera, a poeira viajava para longe em trajectórias ‘planas’. A poeira que se movia para a frente criava a ilusão de que o Eagle estava a deslizar para trás, a camada semi-transparente de ‘nevoeiro do solo’ era tão fina que Armstrong conseguia manter a sua referência visual na superfície.

9 metros, 0,8 para baixo,” referia Aldrin. Ele viu a sombra do suporte de alunagem direito do Eagle, a sonda na sua base a indicar que estava tentadoramente perto da superfície. Também notou que apesar das sombras na superfície lunar serem bem distintas, a sombra do Eagle era suavizada pela poeira que passava mesmo acima da superfície lunar. “Uma sombra suave.”

E agora chegando aos 30,” anunciava Carlton, monitorizando o seu cronómetro.

1,2 em frente,” continuava Aldrin. “1,2 em frente. Deslizando um pouco para a direita.”

30!” disse Carlton.

30 segundos,” repetiu Kranz.

Isto foi transmitido por Duke com uma incredulidade evidente na sua voz, “30 segundos.”

No Mission Operations Control Room, os controladores de voo, directores e visitantes começaram a respirar intermitentemente – e alguns deixaram mesmo de respirar.

6, descendo a 0,1,” anunciava Aldrin. “Deslizando um pouco para a frente. Muito bem.” Quando uma das três sondas de 1,7 metros tocou a superfície fez com que uma luz azul se iluminasse no painel de controlo central. Com a sua atenção focada no exterior, Armstrong não viu a lâmpada a acender-se, mas Aldrin tinha a lâmpada no seu campo de visão periférico. “Luz de contacto!” Carltan ia referir que faltavam 15 segundos marcando assim o início de uma contagem ao segundo.

A taxa final de descida não deveria ultrapassar os 0,9 m/s, dados que (como os testes de fábrica haviam indicado) um nível de descida mais rápido poderia originar um cheque para as pernas do LM suficientemente forte para as danificar – possivelmente prevenindo a possibilidade de um lançamento desde a superfície no qual o estágio de descida serviria como plataforma para o estágio de ascensão. Na prática, isto significava que o veículo não deveria ser permitido cair na superfície lunar desde uma altitude acima dos 3 metros. A sonda de contacto satisfazia este requerimento. Para além do mais, o motor deveria ser desactivado imediatamente após a luz de contacto para prevenir a possibilidade de que a pressão reflectida da chama tão próximo da superfície pudesse danificar o motor, possivelmente causando a sua explosão. Porém, Armstrong atrasou-se ligeiramente com o resultado de que em vez de cair sobre a superfície nos últimos 1,5 metros, o Eagle pousou na superfície muito suavemente a 0,51 m/s. Apesar de Armstrong ter tentado cancelar a velocidade lateral e manter uma ligeira velocidade frontal, foi mais tarde determinado que o Eagle estava a deslizar para a esquerda cerca de 0,61 m/s e que a perna esquerda do LM foi a primeira a fazer contacto com a superfície, indicando assim que o veículo estava inclinado. Tal como Aldrin referiu mais tarde, “Teria pensado ser natural, olhando pela janela esquerda e vendo a poeira dirigindo para a esquerda, que tivesse a impressão de movimento para a direita e reagisse movendo para a direita.” Em resultado das manobras finais, o Eagle alunou inclinado cerca de 13º para a esquerda. Na superfície lunar, a sua inclinação de 4,5º para trás estava bem dentro do limite de tolerância de 10º.

Final de queima!”, anunciava Armstrong.

Rodando as suas cabeças no interior dos seus capacetes ‘bolha’, Armstrong e Aldrin anuíram um para o outro. Mais tarde Armstrong diria: “Se tivesse de escolher um ponto alto emocional, teria sido após a alunagem quando o Buzz e eu apertamos as mãos sem dizer uma palavra.” Aldrin recorda o momento dizendo-se “surpreendido, e tendo até tempo para batermos mutuamente nos ombros um do outro.”

Mais tarde Armstrong referiu que a descida correu da forma como poderia ter desejado, e que o facto de ter sido conseguida com poucos segundos de combustível fez com que fosse mais satisfatória. De facto, ele não estava preocupado pela escassa margem de combustível, porque isto sempre foi assim quando treinava com o LLTV que tinha um tempo de voo muito limitado. Uma análise levada a cabo mais tarde mostraria que quando começou a manobrar, os fluidos nos tanques de propolente haviam-se deslocado e como os sensores de nível em cada tanque estavam colocados no topo de um bastão com 0,23 metros de altura, o sinal de ‘baixo nível’ ocorreu 20 segundos mais cedo. De facto, quando a contagem de Carlton chegou aos 15 segundos, o motor teria ainda podido manter um voo ‘planado’ de 25 segundos após o ponto assumido de final de queima; a divisão da margem de segurança de 20 segundos de planagem ao sinal de ‘baixo nível’ para 10 segundos na altura da alunagem, deveu-se presumivelmente devido ao facto de Armstrong ter-se deslocado da trajectória nominal antes do previsto para poder manobrar, consumindo assim propolente a um nível mais elevado. A telemetria mostrava que o ritmo cardíaco de Armstrong atingira as 110 pulsações por minuto na PDI, atingindo um máximo de 156 durante as manobras finais, e descendo rapidamente para 95 após a alunagem.

Aldrin começou de imediato a verificação da lista pós-desactivação. “Paragem do motor. ACA fora de retenção. Modo Controlo, ambos em Auto. Desactivação do Descent Engine Command Override; Desactivação do motor; 413 activado.” (O ACA ‘Attitude Control Assembly‘ era o controlador manual usado para voar o veículo. Era actuado através de uma mola. O computador não só interpretava um deslocamento como um pedido para uma manobra mas também retinha a forma como o manípulo estava a ser utilizado. Ao desactivar o manípulo após a alunagem, Armstrong estava no fundo a fazer uma ‘limpeza de memória’. O AGS utilizava giroscópios que tinha uma certa tendência para se desviarem. Agora que o Eagle se encontrava na superfície, Aldrin havia inserido um valor específico no endereço ‘413’ do AGS para dizer que ao sistema para armazenar a sua informação de atitude para garantir que (1) num lançamento de emergência se tornasse necessário, e (2) se o PGNS não funcionasse como devia, obrigando-os assim a usar o AGS, então este sistema, ao ter a informação sobre a sua atitude armazenada após a descida, seria capaz de corrigir qualquer desvio nos giroscópios).

Flight, tivemos a desactivação do motor,” confirmou Carlton.

Nós escutamos que vocês estão no solo, Eagle,” referia Duke.

Houston, aqui Base da Tranquilidade,” anunciava Armstrong. “O Eagle aterrou.”

Duke tinha sido avisado para não ser apanhado desprevenido por algum tipo de referência, mas esqueceu-se disso na sua resposta. ”Muito bem, Obrigadinho – Tranquilidade. Registamos que estão no solo.” E momentos depois continuava, “Vocês têm aqui um monte de pessoas quase a ficarem azuis. Estamos a respirar de novo. Muito obrigado.” Dito isto, atirou-se para trás na sua cadeira e fez um sinal a Slayton que lhe respondeu de volta.

Na assistência as pessoas levantaram-se em aplausos, congratulações e brandindo pequenas bandeiras.

A descida propulsionada tinha sido iniciada a 102:33:07, e Armstrong anunciara o final da queima do motor do LM às 102:45:41 após uma duração de 12 minutos e 34 segundos – cerca de 30 segundos para lá do tempo nominal. À medida que actualizava o seu registo, Kranz pensava, “Meu Deus, eles aterraram!

Quando se deu a luz de contacto Pat Collins, com a cabeça pousada nas suas mãos, exibiu um sorriso pela primeira vez em mais de uma hora. Com a excepção de Joan Aldrin, toda a gente na sua casa aplaudia na altura da ‘paragem do motor’; ela tinha a sua cabeça enterrada contra a parede e ainda estava a tremer. Apesar de Robert Moon ter ido ao seu encontro para a confortar, ela escapou-se para a solidão do seu quarto. Michael Archer, o pai de Joan, levou a filha Jan, que estava visivelmente abalada, para junto da sua mãe. Após se recompor, Joan entregou uma caixa de charutos para os festejos. Horas mais tarde diria, “Não conseguia aguentar tudo aquilo. Bloqueei. Não conseguia ver nada. Tudo o que conseguia ver era uma cobertura de fósforos no chão. Queria inclinar-me para a apanhar, mas não o conseguia fazer. Apenas conseguia continuar a olhar para a cobertura.” Com a referência à alunagem, Jan Armstrong abraçou encantadoramente o seu filho Ricky. Um momento mais tarde a sua irmã, Carolyn, entrou na sala e encostando-se contra a parede exclamou, “Muito obrigado, Deus.”

Em Nova Iorque, Walter Cronkite, que estava a dirigir o especial da CBD sobre a chegada à Lua, Man on the Moon: The Epic Journey of Apollo 11, também havia estado a conter a sua respiração. Removia então os seus óculos para limpar o suor da sua testa e, encontrando-se sem palavras, só conseguia dizer, “Uau!” Mais tarde a organização Neilson que estima as audiências calculou que mais de metade dos lares americanos tinham os seus televisores ligados durante a descida. Porém, como as três estações de televisão proporcionavam uma cobertura contínua do evento, era difícil não o ver! Os pais de Armstrong estavam a ver a transmissão por uma televisão a cores que havia sido oferecida. Um jogo de basebol no Estádio Yankee em Nova Iorque foi interrompido por alguns minutos para anunciar a descida na Lua e a audiência entoou o hino dos Estados Unidos. Canon Michael Hamilton do Washington Cathedral fez notar, “As pessoas mais velhas estão a ter um maior impacto com isto do que em relação com as pessoas mais novas que cresceram com os astronautas e o espaço; as pessoas mais velhas recordam-se quando era apenas um sonho.” De todos os directores do programa espacial, a descida na Lua teve um sabor especial para Wernher von Braun. Porém, não teria sido possível sem o desafio de John F. Kennedy em cuja sepultura no Cemitério Nacional de Arlington um anónimo colocou uma coroa de flores com a inscrição “Sr. Presidente, o Eagle aterrou.” Em Moscovo as altas patentes militares e uma dúzia de cosmonautas haviam-se juntado para ver a cobertura da televisão americana e a descida originou um forte aplauso. Alexei Leonov, que tinha esperança em pilotar a primeira alunagem tripulada soviética, explicou mais tarde o orgulho no feito americano com alguma inveja. No último conjunto de notícias do dia, a imprensa soviética referiu que a alunagem tinha sido levada a cabo com sucesso e que o Czar da missão iria em breve caminhar na superfície.

Após ver Jan Armstrong dar uma entrevista, Joan Aldrin veio ao exterior fazer o mesmo. Um oficial de relações públicas da NASA segurava um guarda-chuva para a proteger a chuva que começara a cair. Frustrada pelas perguntas banais colocadas pelos jornalistas tais como “Quais são os seus planos para o passeio lunar?” ela exclamou, “Escutem! Vocês não estão excitados? Eles conseguiram! Eles conseguiram!” E com isto, virou-se e regressou ao interior da casa.

(Continua)