Os cosmódromos secretos: Baikonur

Baikonur 22

O mais importante Cosmódromo da Rússia encontra-se actualmente situado na República do Cazaquistão. É de bom senso impossível atribuir uma coordenada geográfica que assinale a localização do Cosmódromo de Baikonur (também designado como Tyuratan), pois a sua área é imensa atingindo os 85 km de Norte a Sul e os 125 km de Este a Oeste. No entanto, muitas vezes é dada a coordenada 45º38N – 63º16ºE para localizar o Cosmódromo.

Sendo actualmente uma instalação civil, o cosmódromo era anteriormente designado GIK-5 “Gosudarstvennyy Ispytatelnyy Kosmodrom – 5”, sendo ainda anteriormente designado NIIP-5 “Nauchno-Issledovatelskiy Ispytatelnyy Poligon – 5” (5º Polígono Estadual de Pesquisa Científica).

04Conhecido como o local de lançamento das missões tripuladas da União Soviética e da Rússia, a principal tarefa do Cosmódromo da Baikonur foi o teste de diferentes tipos de mísseis balísticos intercontinentais. O Cosmódromo é actualmente alugado à Rússia pelo Cazaquistão, sendo esta situação causadora de vários desentendimentos ao longo dos últimos anos entre os dois países, o que tem levado a Rússia a considerar o fim dos seus lançamentos espaciais a partir de Baikonur.

A Origem de Baikonur

Em Maio de 1954 foi editado um decreto pelo governo da União Soviética, que autorizava a construção de um novo local de testes para o míssil balístico intercontinental R-7 Semyorka devido ao facto de local de provas em Kapustin Yar ser inadequado para os testes com o novo míssil. Kapustin Yar ficava muito próximo das estações de radar norte-americanas existentes na Turquia e assim Korolev, juntamente com outros responsáveis pelo desenvolvimento do R-7, elaboraram os requerimentos para o novo local de testes.

Baikonur 01No início de 1954 foi constituída uma comissão, liderada pelo Major General Vasily I. Voznyuk (responsável pelo local de testes de Kapustin Yar), para procurar um local para a nova zona de testes. No final de 1954 Voznyuk apresentou os resultados de dezenas de visitas e três locais foram apontados: a) a região de Yochkar-Orla na Moldávia, contendo grandes extensões de terreno com a possibilidade de ser aumentada devido à grande presença de industrias madeireiras na zona; b) a região de Kzyl-Orla junto do Rio Syr Darya, no Cazaquistão; c) a região junto de Makhachkala, no Daguestão, e nas margens do Mar Cáspio para onde podiam ser largados os estágios inferiores do R-7.

Um dos principais requisitos para a selecção do novo local de testes para o R-7 era a de que o local deveria ser localizado dentro da área da estações de rasteio por forma a que os mísseis pudessem receber e enviar informação relativamente à sua velocidade e posição em voo. Este requisito acabou por fazer da região de Kzyl-Orla no Cazaquistão a melhor escolha para o R-7, apesar de que quando se deu a selecção do local já se haviam desenvolvido meios para conduzir o míssil em voo sem haver a necessidade de envio contínuo de informação via rádio para o veículo.

O novo local de testes encontrava-se suficientemente longe das fronteiras da União Soviética para que os voos de teste dos novos mísseis pudessem ser levados a cabo em segredo. As condições atmosféricas seriam aceitáveis na quase totalidade do ano e a presença de vastas áreas de deserto permitiria a queda Baikonur 02dos estágios inferiores dos veículos. O local permitia também que, numa fase inicial, a orientação via rádio do R-7 fosse levada a cabo por estações de rasteio colocadas a 500 km da plataforma de lançamento. Finalmente o local estava situado junto do caminho de ferro que liga Moscovo a Tashkent, permitindo assim um acesso relativamente fácil por comboio.

Em 12 de Fevereiro de 1955 um novo decreto do Concelho de Ministros da União Soviética (Decreto n.º 292-181) autoriza a construção do novo local de testes para o R-7 no Cazaquistão, autorizando o envio de 585 soldados e 325 construtores para o novo local então designado NIIP-5. Antes do envio destes homens já um grupo exploratório havia chegado ao local a 12 de Janeiro de 1955.

Os primeiros construtores descreveram o local como um local árido e tórrido no Verão e gelado no Inverno. Muitos dos construtores que foram encarregues de trabalhar no novo local, eram veteranos de Kapustin Yar e frequentemente referiam que haviam saído de uma parte do inferno para conhecer outra parte. A «cidade» mais próxima do local era um conjunto de pequenas casas de dois andares para os trabalhadores do caminho-de-ferro e barracas feitas de lama, além de algumas tendas ocupadas por geólogos que procuravam petróleo na zona. Esta cidade tinha o nome de Tyuratan e não passava de um pequeno apeadeiro na linha de ferro. Curiosamente Tyuratan havia sido visitada no início do século XX por uma companhia mineira britânica e havia sido utilizada pelos Czares da Rússia como exílio de muitos cidadãos indesejáveis. Conta-se a história de Nikifor Nikitin que foi exilado para Tyuratan e para as suas minas de cobre, por imaginar planos para a realizações de viagens à Lua no século XIX…

O engenheiro-chefe do gigantesco projecto de construção em Baikonur, Coronel Georgy M. Shubnikov, chegou a Baikonur a 5 de Março de 1955 e o primeiro cimento para a construção de uma estrada para o grupo de construção até ao local da plataforma de lançamento do R-7, foi colocado em Abril. A 5 de Maio de 1955 foi colocada a primeira pedra do novo local de aquartelamento na Área 10, e denominada Zarya. Uma directiva emanada do Ministério da Defesa a 2 de Junho de 1955, estabelece uma estrutura organizacional no NIIP-5 e é esta data que é comemorada como a data de fundação do Cosmódromo de Baikonur.

As Áreas de Baikonur

Baikonur 03O Cosmódromo é dividido em três Áreas: Área Yangel – é a zona mais a leste do Cosmódromo, também designada por “flanco direito” de Baikonur, tendo sido utilizada desde 1960 por Mikhail Yangel para testar várias gerações de mísseis balísticos e de lançadores espaciais, entre os quais o R-16, R-36, MR-UR-100, R-36M, R-36M2 e o Cosmos-1; Área Korolev – é a zona central do Cosmódromo, sendo iniciada com a construção do complexo de lançamento do míssil R-7 Semyorka; Área Chelomei – é a zona de Baikonur situada mais a Oeste, também designada por “flanco esquerdo” e a partir da qual todos os mísseis e lançadores desenvolvidos por Vladimir Chelomei foram testados e lançados.

No total Baikonur possui onze edifícios de integração e montagem, e nove complexos de lançamento, num total de quinze plataformas para diferentes lançadores. Para além desta divisão, as diferentes zonas do Cosmódromo estão identificadas por números que muitas vezes foram confundidas com a designação das plataformas de lançamento. Em russo as zonas recebem a designação de “ploshadka”, enquanto que as plataformas de lançamento são denominadas “puskovaya ustanovka”. No total existem 254 zonas em Baikonur.

Baikonur 04As primeiras áreas começaram a ser construídas em 1955: a Área 0 constituía as áreas residenciais iniciais e os quartéis gerais das organizações que iniciaram a construção do Cosmódromo. A Área 1 foi o primeiro complexo de lançamentos de Baikonur para o míssil R-7 Semyorka e lançadores derivados (Vostok, Molniya, Soyuz, Soyuz-U e Soyuz-U2), sendo ainda utilizadas na actualidade. Inicialmente designada PU-1 (Puskovaya Ustanovka – 1), foi posteriormente rebaptizada PU-5 (conhecida agora como 17P32-5 ou “Gagarinskiy Start”). A Área 2 (MIK 2-1) e a Área 1A anexa, eram as antigas instalações de processamento para o R-7 Semyorka e lançadores derivados sendo abandonadas em meados dos anos 90 quando as operações foram transferidas para a Área 254. A Área 2A (MIK 2A) eram as instalações de preparação das cargas do R-7 Semyorka e a Área 2B (MIK 2B-1) é utilizada para a integração dos veículos Soyuz TM, Soyuz TMA, Progress M e Progress M1 com os lançadores 11A511U Soyuz-U e 11A511U-FG Soyuz-FG. A Área 3 é uma área de armazenamento e processamento de LOX e LH2, além de instalações de armazenamento.

Os primeiros trabalhos no local que viria a se tornar um dos pontos mais activos a nível de lançamentos orbitais na Terra, foram iniciados a 15 de Setembro de 1955. Situado em pleno deserto, as equipas de construção pensaram que o seu trabalho seria fácil pois só teriam que escavar na areia o que viria a ser o fosso deflector dos produtos da combustão nos motores do R-7. Naquela altura ninguém das equipas de trabalhadores tinha conhecimento sobre a verdadeira razão para aquele trabalho. As equipas de construção baptizaram aquela zona como o “estádio” devido àBaikonur 05 forma que deveria possuir no final. No entanto os trabalhos foram atrasados quando durante a escavação foram descobertas camadas de argila impossíveis de transpor mesmo com os dispositivos mecânicos à disposição das equipas de trabalho. Com a chegada do Inverno os trabalhos sofreram ainda mais atrasos que levaram a que a direcção do programa espacial Soviético fizesse do capataz da obra um bode expiatório para os atrasos, terminando os seus dias numa clínica de internamento psiquiátrico.

Em Janeiro do mês seguinte foi transferida desde o local de testes nucleares em Semipalatinsk uma equipa pertencente à 217ª Brigada de Construção, sendo encarregue de terminar os trabalhos de escavação e de iniciar a construção da estrutura de cimento que serviria posteriormente de base à plataforma de lançamento.

Em Março de 1956, durante a escavação e quando os trabalhos se encontravam a apenas 10 metros da profundidade indicada no projecto, foi encontrada uma nascente de água que ameaçou inundar toda a área caso os trabalhos prosseguissem. A nascente foi aproveitada, enquanto que os directores decidiriam o que fazer. O plano passou por se realizarem alguns rebentamentos para fazer desviar a água e selar a zona com uma grande quantidade de cimento. Os rebentamentos foram realizados entre 5 e 12 de Abril e tudo parecia correr bem quando a 19 de Abril surgiu uma fenda nas escavações e a água inundou a área, submergindo as fundações da plataforma. Utilizando bombas conseguiu-se reduzir o nível da água até ao ponto no qual os trabalhos pudessem prosseguir.

Após a montagem da estrutura metálica das fundações foram levadas a cabo sondagens geológicas ao local que mostraram que o solo se encontrava 25 mm acima do nível previsto, aumentando no dia seguinte. A pressão subterrânea, agora livre de toneladas de material que havia sido retirado do local, fazia com que a superfície se deslocasse para cima. Um plano, que com a deposição de toneladas de cimento sobre as fundações impediria o solo de se elevar, foi elaborado. Porém, as dificuldades burocráticas fizeram atrasar as devidas autorizações por várias horas e somente com a ameaça de que todo o trabalho seria perdido e teria de ser recomeçado num outro local, é que as autorizações devidas foram assinadas.

Baikonur 06No início de Maio já haviam sido colocadas as fundações da plataforma, mas no mês seguinte veio a verificar-se, após nova sondagem geológica, que a superfície se encontrava enfraquecida e não seria capaz de suportar as cargas previstas. Um plano para reduzir o peso da estrutura foi elaborado, conseguindo-se reduzir o peso em 3.700.000 t.

A plataforma de lançamento era uma estrutura quadrada tão alta como um edifício de três andares e foi montada junto da base de cimento sobre a qual foi colocada depois de ser transportada sobre o fosso das chamas da plataforma. Quando a estrutura da plataforma foi transferida do seu local de montagem para ser colocada sobre os pilares de cimento, tinha um peso de aproximadamente 600 t.

Os trabalhos prosseguiram com a montagem do sistema de bombagem de combustível, tanques de nitrogénio, plataformas de serviço móveis e sistemas de supressão de fogos. A plataforma foi ligada por caminho-de-ferro ao edifício de montagem a 10 de Outubro de 1956.

Baikonur 07

Baikonur 08Entretanto, e enquanto não se tinha a certeza de que a plataforma de lançamento do R-7 ficaria situada no local onde tinha sido projectada, os trabalhos de construção da Área 2 permaneceram parados, reiniciando-se a 20 de Abril de 1956 com o início da construção do edifício que serviria como local de montagem do R-7. Os trabalhos no posto de comando e caminhos-de-ferro foram iniciados pouco depois. Em finais de Abril de 1957 os trabalhos na Área 2 estavam terminados, iniciando-se no mês seguinte as construções na Área 2A.

Também construídos em 1955 foram o centro de transmissões de rádio (Área 5), as zonas originais de residência dos construtores do Cosmódromo NIIP-5 (Área 9), a principal área residencial (Área 10) identificada ao longo dos anos pelos nomes de Zarya, Leninskiy, Leninsk, Zvezdograd e Baikonur, o aeroporto de Krainiy (Área 15), as datchas VIP e os hotéis Baikonur, Cosmonauta e Sputnik, além dos aquartelamentos das forças espaciais (Área 17) e as estações de rasteio, zonas de observação dos lançamentos para a Área 1 e estação de bombagem (Área 18). As estações de rasteio IP-4 Vega e IP-5 Saturno ocupam , respectivamente, as Áreas 21 e 23.

A segunda plataforma utilizada para lançar os foguetões derivados do R-7 Semyorka está localizada na Área 31, também designada como PU-6 (ou 17P32-6), sendo construída originalmente como uma estação de batalha para o míssil balístico intercontinental R-7. Desta plataforma são lançados os foguetões 8K78M Molniya-M, 11A511U Soyuz-U e 11A511U Soyuz-Fregat. Nesta área situam-se também os complexos de montagem e processamento de cargas (edifício MIK-40) e o edifício laboratorial 124. Junto as Área 31 situa-se a Área 32 que é um complexo residencial para o pessoal de serviço à plataforma 17P32-6, além dos edifícios MIK-32 e MIK-32GCh. Tanto a Área 31 como a Área 32 foram concluídas em 1958.

A plataforma de lançamento existente na Área 31 é muito mais pequena do que a construída na Área 1, servindo inicialmente como zona de treino e complexo de batalha para o míssil R-7. O primeiro lançamento do R-7 a partir da Área 31 teve lugar a 27 de Abril de 1961. Quando o papel do R-7 como arma de dissuasão foi diminuído, a Área 31 foi adaptada para suportar lançamentos espaciais não-tripulados e tripulados.

A Área 37 é um local de reparações e manutenção do Cosmódromo, além de ser um local de montagem e armazenamento de cargas orbitais. O edifício MIK-38 e a área de controlo para o míssil balístico R-16, ocupam a Área 38, juntamente com uma zona de defesa antiaérea. Não muito longe encontram-se as duas plataformas de lançamento para o míssil R-16 (Área 41 com as plataformas PU-3 e PU-4). Este complexo foi construído em 1959 e em 1964 foi considerado para testes do míssil balístico R-26, sendo posteriormente reformuladas para serem utilizados pelos veículos lançadores Kosmos-1 e Kosmos-3.

O Desastre de Nedellin

Baikonur 09Foi nesta área que a 24 de Outubro de 1960 se deu um dos piores desastres no Cosmódromo de Baikonur e que ficou conhecido como o “Desastre de Nedellin”. Nesta altura havia uma grande competição entre Korolev e Yangel para o desenvolvimento da nova geração de mísseis balísticos intercontinentais. Os resultados obtidos com o R-7 Semyorka não haviam sido os pretendidos pelas elites militares soviéticas e a pressão para o desenvolvimento da segunda geração de mísseis era enorme. O novo míssil de Yangel, o 8K64 R-16 (SS-7 Saddler), iria permitir um nível de prontidão não alcançável com o R-7. Yangel e o Comandante das Forças Estratégicas de Mísseis, Marechal de Artilharia Mitrofan Nedellin, pretendiam presentear o líder soviético Nikita Khrushchev nas comemorações da revolução bolchevique com o primeiro lançamento do R-16.

O primeiro R-16 (n.º LD1-3T) foi transportado para o Cosmódromo de Baikonur em inícios de Setembro de 1960, apesar de existirem inúmeros problemas por resolver com o veículo. O veículo foi processado na Área 42 a partir do dia 26 de Setembro de 1960 com os técnicos a referirem que o míssil estava pejado de problemas. Estes acabaram por ser aparentemente ultrapassados nas semanas seguintes, tendo a preparação do míssil terminado a 20 de Outubro, sendo transportado para a plataforma de lançamento PU-4 na manhã do dia seguinte. Após ser colocado na plataforma de lançamento, procederam-se a mais testes e verificações no míssil LD1-3T que foram terminadas a 23 de Outubro iniciando-se o abastecimento do veículo com os combustíveis hipergólicos.

Numa clara violação das regras de segurança, centena e meia de técnicos, engenheiros e operários da plataforma de lançamento, permaneceram na vizinhança do veículo. Entre essas pessoas encontrava-se o Marechal Nedellin e o desenhador do R-16, Yangel. Ninguém era capaz de ordenar a Nedellin que se afastasse do local devido ao perigo das operações entretanto a serem levadas a cabo.

Perto do final do período de abastecimento do R-16 foi descoberta uma fuga de combustível no míssil, sendo considerada no entanto como aceitável e incapaz de representar qualquer perigo desde que se mantivesse controlada para o que foi designada uma equipa de técnicos para controlar a fuga de combustível. O mais impressionante é que com o veículo abastecido havia-se chegado a um ponto de não retorno a partir do qual o veículo teria de ser lançado. Nesta altura não existiam procedimentos para retirar o combustível do míssil e este seria inútil devido à natureza corrosiva do seu combustível.

Baikonur 10Entretanto, os preparativos para o lançamento continuavam e a equipa responsável pelo teste enviou um comando para activar umas membranas controladas por dispositivo pirotécnico e que impediam que o combustível nos tanques entrasse nas condutas que o levariam aos motores. Devido ao desenho do circuito eléctrico e a erros de controlo de qualidade na sua produção, os dispositivos pirotécnicos destruíram as membranas permitindo assim que o combustível entrasse nas condutas. Como o combustível não poderia permanecer mais de dois dias nessas condutas, o centro de controlo tinha agora somente dois dias para efectuar o lançamento do primeiro R-16. A situação piorou quando outros dispositivos pirotécnicos explodiram por si junto das válvulas de um dos três motores do primeiro estágio do R-16 e quando o sistema de distribuição de corrente eléctrica do míssil falhou. Nesta altura chegou-se a colocar a hipótese de retirar de qualquer maneira o combustível do míssil e remove-lo da plataforma, adiando assim o seu primeiro voo. Esta hipótese foi prontamente e furiosamente recusada por Nedellin, dizendo que no evento de uma guerra nuclear não teriam tempo para tal.

No final da tarde do dia 23 de Outubro foram iniciados os trabalhos para substituir as válvulas e o sistema de distribuição de corrente eléctrica no míssil, sendo o lançamento adiado para o dia 24 de Outubro.

Baikonur 11Devido aos constantes problemas com o controlo das membranas de combustível foi decido se proceder à alimentação eléctrica a partir do exterior para controlar as membranas no R-16. Este controlo era feito a partir de um veículo de transporte terrestre instalado nas imediações da plataforma. Entretanto a Comissão Estatal encarregue de supervisionar o lançamento do R-16 encontrava-se confortavelmente instalada num terraço de madeira especialmente construído para a Comissão na estação de controlo IP-1B situada na Área-43 a 800 metros da plataforma PU-4.

A pressão vinda de Moscovo era intensa e quando foi anunciado mais um adiamento de meia hora no lançamento do R-16, Nedellin decidiu ir até à plataforma de lançamento. Aquando no IP-1B, Nedellin era constantemente chamado a uma linha de comunicações especial com ligação directa a Moscovo, sendo questionado por Khrushchev sobre o teste do R-16. Com a decisão de se deslocar até à plataforma de lançamento, Nedellin levou consigo uma multidão de subordinados da Comissão Estadual. Quando chegou à plataforma, o responsável por esta ordenou a colocação de uma cadeira para Nedellin e para os restantes membros da Comissão que ficaram sentados a uns meros 20 metros do míssil.

CIMG6891A tensão na plataforma subia ao minuto e os técnicos tinham por vezes de resolver vários problemas ao mesmo tempo. É nesta situação que um dispositivo desenhado para activar os sistema a bordo do R-16 numa determinada sequência, é deixado na posição pós-lançamento após a realização de uma série de testes. O pessoal de controlo do voo descobriu que o dispositivo não se encontrava na posição certa e que as baterias em ambos os estágios do míssil já se encontravam activadas devido ao receio de que pudessem não funcionar no clima frio de Baikonur à altura do teste. Por outro lado, as membranas de controlo do combustível e do oxidante do segundo estágio já haviam sido activadas o que significava que as duas componentes do propolente hipergólico só se encontravam separadas da câmara de combustão do motor do segundo estágio por uma válvula.

Às 2245UTC um técnico no centro de controlo activou uma ligação que regulava uma válvula pneumática que controlava a ignição do motor do segundo estágio do míssil. Neste momento o motor do segundo estágio entrou em ignição quando mais de 250 pessoas ainda se encontravam nas proximidades da plataforma de lançamento. As chamas que saiam do motor do segundo estágio rapidamente romperam o tanque de combustível do primeiro estágio, originando uma enorme explosão do míssil R-16 totalmente abastecido. Em segundos uma bola de fogo envolveu toda a plataforma de lançamento, incinerando instantaneamente muitas pessoas enquanto outras tentavam fugir do inferno que se seguiu. Técnicos com o corpo completamente em chamas fugiam do epicentro da Área-41, enquanto outros lutavam por se desembaraçar das autênticas muralhas de arame farpado nas quais os seus corpos em chamas se haviam emaranhado. Muitos tentavam fugir das temperaturas de 3.000ºC, saltando da plataforma de lançamento, enquanto muitos corpos a arder ficavam pendurados na torre de serviço. Várias pessoas que se encontravam no solo ficaram presas no alcatrão derretido que agora rodeava a plataforma e muitos morreram devido aos fumos tóxicos da combustão.

Num bunker a partir do qual se controlavam os preparativos para o lançamento do R-16 foi ordenado que ninguém tocasse no painel de controlo por forma a conservar todos os interruptores na posição na qual se encontravam na altura da explosão. A dado momento um técnico completamente queimado irrompeu pelo bunker, sendo auxiliado pelos presentes. Todos os presentes, utilizando agora máscaras de gás, abandonaram o bunker devido às explosões que se seguiram.

Num momento de sorte, minutos antes da explosão, Yangel foi convidado por um oficial, que tencionava deixar de fumar, a fumar um último cigarro no interior de um bunker de segurança na plataforma. Segundos após entrarem no bunker deu-se a explosão do R-16.

Muitas das vítimas da explosão ficaram queimadas de tal maneira que foi impossível realizar qualquer identificação dos cadáveres. O próprio corpo de Nedellin foi totalmente consumido, sendo somente identificado algumas partes. Um total de 84 vítimas do desastre foram enterradas numa vala comum no que é hoje conhecido como o Parque dos Soldados localizado na Área 10.

O desastre de Nedellin foi mantido em segredo por dezenas de anos e oficialmente Nedellin havia falecido no decorrer de um acidente de aviação. Aos familiares foi dito que as vítimas haviam falecido num acidente de aviação e somente três anos após o desastre foi colocado um memorial às vítimas deste acidente.

O míssil balístico R-16 era servido pelo edifício de processamento MIK-42 (Obekt 374 ou Soruzhenie 1) situado na Área 42. A Área 43 é ocupada pelo complexo residencial originalmente construído para o pessoal de serviço na área destinada ao R-16, além de existirem edifícios de armazenamento e uma estação de controlo denominada IP-2 (originalmente designada IP-1B), que anteriormente se encontrava na Área 44. Actualmente servem as equipas de serviço ao lançador 11K77 Zenit-2.

Baikonur 12O complexo de lançamento para o foguetão 11K77 Zenit-2, cujo desenvolvimento foi autorizado a 16 de Março de 1976, encontra-se na Área 45. Estas plataformas foram construídas em 1979, sendo a plataforma 45/1 concluída em 1984 e a plataforma 45/2 concluída em 1990. A plataforma 45/2 foi destruída a 4 de Outubro de 1990 durante o lançamento do 14º Zenit-2, tendo este explodido 5 segundos após a ignição.

A Área 45 é um dos complexos mais sofisticados que existem em Baikonur, permitindo um processamento automático do veículo numa zona que é considerada ecologicamente limpa comparadas com outras áreas do Cosmódromo. A automatização do complexo permite que um foguetão seja lançado 90 minutos após ter sido entregue na plataforma de lançamento. O foguetão é colocado de forma automática na plataforma de lançamento e todas as tarefas seguintes, entre as quais a conexão dos sistemas de abastecimento ao lançador, são feitas automaticamente.

Apesar de não ser necessária a presença humana durante a fase de preparação do 11K77 Zenit-2, as duas plataformas de lançamento estavam equipadas com torres de serviço móveis que permitiam o acesso aos lançadores. Em certa altura chegou-se a projectar que o 11K77 Zenit-2 iria colocar em órbita veículos tripulados substituindo assim o 11A511U Soyuz-U. As torres estavam também equipadas com sistema de fuga de emergência para as tripulações.

O primeiro lançamento a ter lugar desde a Área 45 deu-se a 13 de Abril de 1985. Porém este foi um lançamento fracassado a partir da plataforma 45/1, falhando a colocação em órbita de um veículo GVM. A 21 de Junho de 1985 deu-se um novo lançamento desde o complexo LC45, que no entanto deveria ser um lançamento sub-orbital. Porém, crê-se que algumas partes do foguetão lançador tenham atingido a órbita terrestre. Este lançamento pretendia testar um veículo GVM (ao veículo GVM não foi dado qualquer Número de Catálogo NORAD, mas foi atribuída uma Designação Internacional “1985-053” ao lançamento). O primeiro satélite a ser colocado em órbita pelo 11K77 Zenit-2 (e o primeiro lançamento orbital a partir do complexo LC45) foi o Cosmos 1697 Tselina GVM no dia 22 de Outubro de 1985.

Baikonur 13A Área 45 seria também testemunha de um dos acidentes mais violentos registados em Baikonur. No dia 4 de Outubro de 1990 um foguetão 11K77 Zenit-2 deveria colocar em órbita um satélite Tselina-2 a partir da plataforma LC45/2. Os problemas com o lançador começaram a verificar-se 3 s após a ignição e a 5 s deu-se a falha total do primeiro estágio do 11K77 Zenit-2. O veículo elevou-se a uma altitude de 70 metros acima da plataforma e perdeu força, começando a cair com as chamas a irromperem pela secção lateral da parte traseira do foguetão. O lançador acabou por cair no fosso das chamas da plataforma de lançamento, originando uma violenta explosão e uma onda de choque que fez com que uma estrutura e metal com um peso de 1.000 t se eleva-se no ar a uma altitude de 20 metros. Os destroços do Zenit-2 atingiram zonas situadas a mais de 3 km da plataforma de lançamento, ficando esta totalmente destruída.

A Área 51 inclui uma única plataforma de lançamento para o míssil balístico 8K75 R-9 (SS-8 Sasin) e para o míssil balístico orbital GR-1, ambos desenvolvidos por Serguei Korolev Esta área é apoiada pela Área 52, onde está situada a estação de controlo RUP para os lançamentos do R-9. Estas instalações começaram a ser construídas em 1960. Inicialmente designada PU-5, esta designação foi posteriormente atribuída à Plataforma ‘Gagarinskiy Start’.

Baikonur 14A plataforma do GR-1 está localizada a 400 metros da plataforma PU-1 (actual PU-5) e era servida pelo mesmo pessoal que trabalhava com o R-7 (utilizando também o edifício MIK-2 para a preparação do R-9). Os testes do R-9 foram posteriormente transferidos para silos subterrâneos e a Área 51 foi destinada ao teste do míssil GR-1 que acabou por ser cancelado.

A estação de controlo de rádio e o complexo de antenas de rasteio e comunicação, estão situados na Área 53, juntamente com as estações Signal e Zarya utilizadas para o suporte das missões espaciais tripuladas e para os testes levados a cabo com o R-9.

O complexo de três silos (PU-6, PU-7 e PU-8) Shesna destinados ao lançamento dos mísseis balísticos 8K67 R-16 está localizados na Área 60 situada a 30 km Este da Área 41. Não muito longe está situada a Área 67 construída em 1962 e que contém duas plataformas terrestres utilizadas para o lançamento do míssil balístico R-36. A construção do complexo de lançamento para o 8K67 R-36 (Complexo 8P867) foi iniciada em 1962. Em 1965 o complexo foi adaptado para o míssil 8K69 R-36O e foi designado 8P869. As duas plataformas PU-21 e PU-22 foram já desmanteladas e o complexo abandonado. A Área 68 é ocupada pela estação de controlo RUP e a Área 69 contém dois silos para o lançamento do 11K69 Tsyklon-2, também já destruídas. As instalações Desna-V, um complexo de silos para o lançamento do R-9, estão localizadas na Área 70 e foram inaugurados a 27 de Setembro de 1963 com o lançamento de um míssil R-9A. A Área 71 é um complexo residencial. O míssil R-9 foi testado no complexo Desna-N situado na Área 75 e cuja construção foi iniciada em 1961, contendo inicialmente duas plataformas às quais mais tarde se juntou uma terceira de forma a acelerar o processo de processamento dos mísseis. A Área 75 continha também instalações de suporte com dois postos de comando e dois edifícios de processamento protegidos. O complexo Desna-N provou-se ineficaz e em 1962 foram construídas novas instalações (Dolina) das quais o primeiro míssil R-9A foi lançado em 22 de Fevereiro de 1963.

A Área 80 é um complexo de três silos destinados ao míssil balístico R-16, sendo reformulado em 1964 para a execução de testes comparativos dos mísseis R-16U, UR-200 e R-36. Este complexo foi construído em 1960.

As duas primeiras plataformas construídas para o lançamento do foguetão 8K82 Proton, encontram-se na Área 81 (Obekt 333) e são designadas PU-23 e PU-24 (muitas vezes surge a designação LC81L para a plataforma PU-23, L – Left, e LC81R para a plataforma PU-24, R – Right). Um posto de comando suplente ocupa a Área 82. A Área 95 é a chamada “Cidade Proton” que alberga o pessoal de serviço à Área 81.

Baikonur 16A plataforma PU-24 é a mais antiga e foi a primeira a ser utilizada para o primeiro lançamento do foguetão 8K82 Proton a 16 de Julho de 1965. Por seu lado a plataforma PU-23 entrou ao serviço em 1966.

A Área 90 contém duas plataformas construídas para o míssil UR-200, posteriormente modificadas para o lançador 11K69 Tsyklon-2. A Área 91 é a estação de abastecimento 11G141 e a Área 92 é a zona de processamento utilizada para o míssil UR-200, para o lançador 8K82 Proton (MIK 92-1) e para os lançadores Tsyklon (MIK 92-2). O edifício 92A-50 é utilizado para a integração das cargas a colocar em órbita.

Um dos edifícios mais sofisticados existentes em Baikonur é o edifício 92A-50 no qual quase todas as cargas que são lançadas pelo poderoso 8K82KM Proton-M, são processadas e preparadas para o lançamento. Após serem preparadas para viajar no Proton-M, as cargas são integradas com o estágio superior do lançador (Block D / Briz-M) e colocadas sobre a ogiva de protecção, sendo posteriormente transferida para o edifício 92-1 via caminho de ferro e onde todos os estágios do lançador são montados. Neste edifício procede-se então ao teste do lançador antes de ser colocado sobre um transporte especial que o leva para as plataformas de lançamento.

A Área 93 alberga o armazém de produtos pirotécnicos e a Área 97 é ocupada pela estação de controlo terrestre IP-3.

Baikonur 17aAs Áreas 102 a 109 foram utilizadas para o lançamento do míssil balístico R-36. A Área 102 contém o silo 15P718M que foi destruído por uma explosão em 1996. O silo localizado na Área 109 foi utilizado no dia 21 de Abril de 1999 para o lançamento de um foguetão Dnepr-1. O posto de comando utilizado nos lançamentos do R-36 está situado na Área 111. As Áreas 140, 141 e 142 também foram utilizadas para o lançamento do míssil R-36, contendo silos subterrâneos.

A Área 110 contém as duas plataformas (complexo 11P825) destinadas ao lançamento do foguetão 11K25 Energia, sendo anteriormente utilizadas para o foguetão lunar N-1 (Complexo Raskat) . As instalações de processamento 11P591 para o N-1 estão Baikonur 18localizadas na Área 112, sendo mais tarde reconstruídas para serem utilizadas pelo foguetão 11K25 Energia. Estas instalações contêm uma estação de pressurização, um armazém de artigos pirotécnicos, várias estações de abastecimento e montagem (11P593, também designado Área 112A) e estações de neutralização e abastecimento (11G131). A Área 113 era a área residencial para o pessoal de serviço ao N-1 e posteriormente ao Energia, tais como a Área 118 e Área 119 que serviam também de complexo de armazenagem. O Buran foi lançado desde a plataforma LC110L no dia 15 de Novembro de 1988. A reconversão destas instalações para serem utilizadas pelos sistema Energia/Buran foi recomendada em Outubro de 1977, com os trabalhos a serem iniciados no ano seguinte.

Baikonur 19A Área 131 contém um silo para o lançamento do míssil UR-100 ou do foguetão Rockot que pode também ser lançado a partir da Área 175 e da Área 182.

Os testes do míssil orbital 8K69 R-36-O foram levados a cabo da Área 160 que tal como a Área 161 continha o posto de comando. As Áreas 162 a 165 contêm silos utilizados pelo R-36-O. Outras áreas destinadas ao R-36-O são as Áreas 191 a 196, estando também localizado um posto de comando na Área 191, e as Áreas 241 a 246.

A Área 200 contém duas plataformas (PU-39 e PU-40) para o lançamento do foguetão Proton-M. Também conhecidas como Obekt 548, estas instalações começaram a ser construídas em 1970 com a plataforma PU-39 a ser inaugurada em 1980 e a plataforma PU-40 a ser inaugurada em 1977.

Baikonur 20A Área 250 (UKSS 17P31) foi utilizada para os testes fixos do foguetão Energia, sendo também utilizada para o primeiro lançamento deste veículo a 15 de Maio de 1987. A Área 251 (11P72) contém o aeroporto Yubileiniy que serviu como pista de aterragem para o único voo do vaivém espacial Buran. O Buran tinha as suas instalações de processamento (11P592) na Área 254, que serve também de área de processamento e manutenção dos módulos a lançar para a ISS, bem como dos veículos Soyuz TMA-M e dos cargueiros Progress M-M e Progress-MS.

O Complexo UKSS foi construído após Valentin Glushko o ter posto como condição perante o governo Soviético, servindo para testar o foguetão 11K25 Energia. A falta de um complexo como o UKSS foi uma das causas apontadas para o fracasso no foguetão N-1 que nunca chegou a ser testado no solo com todos os seus motores a funcionar. O UKSS é a maior estrutura em Baikonur, montada junto de um fosso com mais de 40 metros de profundidade e para onde o resultado da combustão dos motores do foguetão eram enviados. O complexo foi desenhado para suportar uma pressão originada pelos motores em funcionamento com uma força de mais de 4.000 t durante dezenas de segundos. O centro de controlo do complexo (Área 250A) está localizada a 3 km do UKSS, sendo preparada para suportar uma violenta explosão em caso de acidente no local de testes. Os depósitos de combustível foram colocados a 6 km da plataforma e têm a capacidade de armazenar mais de 3.600 t de LOX, 3.000 t de LH2 e 3.000 t de N2.

Após duas missões do Energia, o programa deixou de ser financiado e em 1992 todo o projecto deixou de ter um carácter militar para passar a ser considerado como civil e sobre a responsabilidade da Agência Espacial Russa que pouco depois decidiu abandonar todo o projecto. Todas as instalações foram abandonadas e o orgulho do programa espacial soviético simbolizava agora a decadência do programa espacial russo e era uma memória das glórias passadas.

Baikonur 21As instalações de processamento do Energia e do Buran ficaram sobre a responsabilidade da empresa RKK Energiya para onde transferiu as operações associadas à preparação dos veículos Soyuz e Progress com destino à estação espacial Mir e ISS. No mesmo edifício a RKK Energiya prepara os estágios superiores a serem utilizados pelo foguetão 8K82KM Proton-M. O edifício na Área 112 foi ocupado pela empresa russo-francesa Starsem. Este edifício, designado MIK 112, transformou-se também no local de armazenamento de muitas partes do Buran, do próprio vaivém espacial, sendo muitas vezes designado como o “…local de enterro do Buran”, e de pelo menos quatro foguetões Energia. No interior do edifício o Buran encontrava-se acoplado a um foguetão lançador Energia e tornara-se num local de passagem obrigatória para todos os que visitavam Baikonur. O vaivém permanecera como um mito dentro do programa espacial russo e por várias vezes surgiram notícias acerca da reactivação do programa. Porém, a realidade viria tornar-se mais negra em 2002. Com uma degradação cada vez mais evidente, por várias vezes foi notada a infiltração de água nas paredes do edifício nos dias de chuva ou na altura do degelo após o inverno quando a neve se acumulava no telhado do MIK 112. A presença destas infiltrações tornava necessária a frequente visita de equipas de reparação no telhado do edifício. Cada vez era mais difícil o aparecimento de fundos para manter a estrutura e no dia 12 de Maio de 2002 acabaria por entrar em colapso. A queda da estrutura pôs um fim na história do Buran que acabou por ser destruído no acidente.

Uma versão do Buran foi deixada na Área 254 junto da plataforma de lançamento. A certa altura chegou-se a considerar a hipótese de o transferir para a cidade de Baikonur onde seria transformado num monumento, porém devido ao facto de ser um veículo muito grande era impossível ser transportado por comboio devido à altura insuficiente das pontes que atravessam o caminho-de-ferro entre Moscovo e Tashkent. Actualmente este veículo encontra-se junto da entrada do Museu de Baikonur existente no Cosmódromo.

__

Adaptado do artigo “Os Cosmódromos Secretos”, por Rui C. Barbosa, publicado pela primeira vez a 25 de Dezembro de 2002 no n.º 21 do BOletim Em Órbita.