O Projecto Manhigh

Por John C. Keel, M. D., com permissão de Mark Wade[1]

O Projecto Manhigh foi estabelecido em Dezembro de 1955 para obter dados científicos acerca do comportamento de um balão num ambiente acima de 99% da atmosfera terrestre e para investigar os raios cósmicos e os seus efeitos no Homem. Estes voos em balão aos limites do espaço foram levados a cabo durante o programa: Manhigh-I elevou-se a 29 km de altitude e foi tripulado pelo Capitão Joseph Kittinger a 2 de Junho de 1957; o voo Manhigh-II elevou-se a 30,95 km e foi tripulado pelo Major David Simons nos dias 19 e 20 de Agosto de 1957[2]; e o voo Manhigh-III elevou-se a 29,9 km de altitude e foi tripulado pelo Tenente Clifton McClure a 8 de Outubro de 1958.

Na imagem em cima Joseph Kittinger no interior da Manhigh-I a 2 de Junho de 1957 momentos antes do encerramento da escotilha. Imagem: Stratocat (http://stratocat.com.ar)

Desenvolvimento

Anos antes dos cosmonautas – e mesmo antes da NASA – existiram homens que tocaram os limites do espaço. Estes valorosos exploradores foram os «pré-astronautas» do Projecto Manhigh.

Durante os anos 50, os balões de grande altitude eram capazes de atingir altitudes superiores a 99% da atmosfera terrestre. Como um primeiro passo para enviar o Homem para o espaço, a Força Aérea dos Estados Unidos levou a cabo uma série de voos tripulados a grande altitude a bordo de balões entre 1957 e 1958. Estas missões testaram vários equipamentos tais como cápsulas espaciais, fatos espaciais e sistemas de telemetria e comunicações. Acima de tudo, o Projecto Manhigh testou a capacidade do ser humano para funcionar nos ambientes extremos das grandes altitudes, onde os céus azuis terminam e o espaço começa.

Manhigh

Os voos Manhigh-I e Manhigh-II foram levados a cabo em Junho e Agosto de 1957 por Joseph Kittinger e David Simons, respectivamente. Para a terceira missão, foram estabelecidos novos requerimentos para a selecção do piloto, incluindo testes psicológicos e de stress, além de testes físicos tais como a utilização de centrifugadoras. Sendo o primeiro a ultrapassar este conjunto rigoroso de testes que posteriormente seriam utilizados para seleccionar os astronautas do Projecto Mercury, Clifton McClure foi lançado a bordo do Manhigh-III a 8 de Outubro de 1958.

Preparativos para o lançamento da Manhigh-II a 19 de Agosto de 1957 com o Major David Simons a bordo. Imagem: Stratocat (http://stratocat.com.ar)

Numa cápsula selada equipada com oxigénio, nitrogénio e hélio, McClure viajou até uma altitude de 29,9 km sobre Tularosa Basin, Novo México. Clifton McClure resistiu a várias avarias de equipamento que poderiam ter sido desastrosas. O seu pára-quedas soltou-se, mas de forma incrível o tripulante foi capaz de o dobrar novamente à mão nos confins da sua gôndola. De forma mais impressionante, o sistema de arrefecimento da sua cápsula sofreu uma avaria e a temperatura do seu interior atingiu níveis elevados, pois a cápsula estava para lá do escudo protector da radiação da atmosfera. A temperatura corporal de McClure atingiu os 42,5ºC, mas o piloto permaneceu consciente e recuperou completamente.

Local de aterragem do voo Manhigh-II a 20 de Agosto de 1957. Imagem: Stratocat (http://stratocat.com.ar)

Tendo frequentado a Escola Superior Anderson High and Clemson, Clifton McClure tornou-se posteriormente membro da Guarda Nacional Aérea da Carolina do Sul. Voou a bordo dos F-104 no 157º Esquadrão de Intercepção (agora o 157º Esquadrão de Caças estacionado no McEntire JNGS em Eastover – Carolina do Sul). Serviu em Espanha durante a resposta à Crise de 1962 em Berlim, tendo falecido em Janeiro de 2000. McClure foi incluído no International Space Hall of Fame em 2001.

As missões a bordo de balões continuaram após o Projecto Manhigh, com o Programa Excelsior e Stargazer, mas seriam ofuscados pela NASA e estão quase esquecidos na História da Conquista do Espaço.

O Tenente Clifton McClure a 8 de Outubro de 1958 antes de iniciar a terceira e última missão do projecto Manhigh. Imagem: Stratocat (http://stratocat.com.ar)

Foram publicados alguns livros[3] que documentam os seus feitos, tais como “The Pré-Astronauts: Manned Ballooning on the Edge of Space”, por Craig Ryan, e “Touching Space”, por Gregory P. Kennedy. O Canal Discovery já emitiu um documentário relacionado com estes programas e aguarda-se a realização de um filme que irá retratar os feitos destes programas.

Assim, recordemos os feitos inspiradores e notáveis de McClure e dos pré-astronautas. Foram os homens do Projecto Manhigh os primeiros a ver a curvatura da Terra contra o negro do espaço. À medida que os programas espaciais se preparam para os próximos passos, lembremos aqueles que lançaram as sementes para nós possamos atingir os sonhos mais antigos da Humanidade[4].

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[1] Publicado na versão original em Inglês na Enciclopédia Astronáutica em http://www.astronautix.com/craft/manhigh.htm com o título “50th anniversary of a forgotten space mission: Project Manhigh”.

[2] Este voo teve uma duração de 32 horas (Nota do Editor).

[3] Outra obra sobre o Projecto Manhigh é “Manhigh” escrito por David G. Simons e Don A. Schanche (Nota do Editor).

[4] Descrições mais pormenorizadas das três missões do Projecto Manhigh estão disponíveis em http://stratocat.com.ar/fichas/1957/FMN-19570602.htm (Manhigh-I), http://stratocat.com.ar/fichas/1957/CBY-19570819.htm (Manhigh-II) e http://stratocat.com.ar/fichas/1958/HMN-19581008.htm (Manhigh-III).