O programa espacial tripulado da China em 2021

A construção da estação espacial modular é o próximo grande salto no programa espacial tripulado da China e surge após o aperfeiçoamento sucessivo das diferentes técnicas do voo espacial, nomeadamente o lançamento de um veículo tripulado (Shenzhou-5), o lançamento de uma tripulação (Shenzhou-6 com dois elementos e Shenzhou-7 com três elementos), a realização de actividades extraveículares (Shenzhou-7), a colocação em órbita de um módulo laboratorial do tipo Salyut-1 (Tiangong-1 e Tiangong-2), a ocupação de uma estação espacial e voo de longa duração (Shenzou-9 e Shenzou-10) e o lançamento de um veículo de carga (Tianzhou-1) para o abastecimento regular de estações em órbita.

Em poucos anos, e seguindo um programa devidamente faseado, a China passou do voo espacial tripulado de curta duração para a construção de uma estação espacial modular que irá permitir permanências de seis meses em órbita terrestre, atingindo assim o nível e a capacidade da Rússia e dos Estados Unidos.

O final da construção em órbita da estação espacial Tiangong deverá ocorrer em 2022 após a realização de onze missões, incluindo três lançamentos de diferentes módulos, quatro lançamentos de veículos de carga e quatro lançamentos tripulados.

A estação espacial Tiangong

A estação espacial modular Tiangong será um laboratório orbital do tipo ‘Mir’, sendo constituída por um módulo central ao qual serão acrescentados outros módulos de forma gradual.

A estação será composta numa primeira fase pelos módulos Tianhe-1 (módulo central), pelos módulos científicos Wentian e Mengtian, e pelo Xuntian.

O módulo Tianhe-1 (Harmonia dos Céus) será colocado em órbita pelo foguetão Chang Zheng-5B (Y2) a partir do Centro de Lançamentos Espaciais de Wenchang. Com uma massa de cerca de 20.000 kg, o módulo irá ser colocado numa órbita com uma altitude média de 393 km com uma inclinação orbital de 42º e irá servir de núcleo da estação espacial Tiangong.

O Tianhe-1 está dividido em duas grandes secções cilíndricas, a maior com um diâmetro de 4,2 metros. O seu comprimento total é de 16,6 metros, com uma massa de cerca de 22.000 kg e um volume habitável de cerca de 50 m3.

O módulo nuclear da Tiangong é ainda composto por uma cabe de recursos, uma secção de acoplagem e uma secção cilíndrica com um diâmetro de 2,8 metros com cinco pontos de acoplagem que irão permitir a junção de novos módulos experimentais. Pode albergar três tripulantes e o seu tempo de vida útil é de 15 anos com manutenção orbital. O Tianhe-1 está equipado com os sistemas de suporte de vida para os seus tripulantes.

Os módulos Wentian e Mengtian serão módulos científicos com uma massa de cerca de 20.000 kg, comprimento de 14,4 metros e um diâmetro de 4,2 metros. Serão módulos pressurizados construídos a partir das experiências obtidas com o módulo orbital Tiangong-2 e serão utilizados para levar a cabo experiências nas áreas das ciências da vida, biotecnologia, física, ciências dos materiais, microgravidade, etc. Para além das experiências localizadas no interior pressurizado, ambos os módulos serão capazes de albergar experiências exteriores tanto e plataforma de exposição ao ambiente espacial, como fixadas nas respectivas fuselagens. Os módulos serão acoplados no porto de acoplagem axial do módulo Tianhe-1 e posteriormente transferidos para um porto lateral utilizando um sistema de manipulação remota operado a partir do interior da estação espacial ou de forma remota a partir do centro de controlo.

A zona habitável no Tianhe-1 é de 50 m3, atingindo os 110m3 se se combinar as áreas habitáveis dos outros dois módulos.

O módulo Wentian terá sistemas de controlo adicionais que poderão ser utilizados caso surja algum problema com o Tianhe-1. O módulo Mengtian possui funções similares ao Wentian, mas está equipado com uma escotilha especial para permitir as entrada e saída de carga e instrumentos com o auxílio dos tripulantes ou de forma autónoma utilizando o sistema de manipulação remota.

A representação dos módulos Wentian e Mentian (Space Shuttle Almanac)

Um outro módulo experimental, o Xuntian (Cruzador dos Céus), será um telescópio espacial com um espelho de dois metros de diâmetro. O módulo não estará acoplado ao complexo Tiangong, mas orbitando perto da estação, poderá ser acoplado à mesma para operações de reparação.

A estação espacial será regularmente abastecida com os veículos de carga Tianzhou, cujo primeiro foi lançado em Abril de 2017 para a estação espacial Tiangong-2.

Após o lançamento do módulo Tianhe-1, a China irá lançar o veículo de carga Tianzhou-2 que será colocado em órbita pelo foguetão Chang Zheng-7 (Y3?) a partir do Complexo de Lançamento LC201 do Centro de Lançamentos Espaciais de Wenchang. O Tianzhou-2, que deverá ser lançado em Abril, irá acoplar com o Tianhe-1 de forma automática.

A cápsula espacial tripulada Shenzhou-12 será então lançada pelo foguetão Chang Zheng-2F/G (Y13) a partir do Complexo de Lançamento LC43/91 do Centro de Lançamento de Satélites de Jiuquan para uma missão de vários meses em órbita a bordo da nova estação espacial. O lançamento da Shenzhou-12 está previsto para Junho e deverá transportar três tripulantes que irão permanecer vários meses em órbita.

O veículo de carga Tianzhou-3 será lançado pelo foguetão Chang Zheng-7 (Y4?) a partir de Wenchang em Agosto e a cápsula espacial tripulada Shenzhou-13 deverá ser lançada em Setembro ou Outubro pelo foguetão Chang Zheng-2F/G (Y14). Nesta fase não é certo que a tripulação da Shenzhou-13 venha a substituir a tripulação da Shenzhou-12 ainda em órbita ou se esta irá regressar à Terra antes da chegada da tripulação seguinte. Tanto o veículo de carga Tianzhou-3 como a cápsula espacial tripulada Shenzhou-13 deverão ser lançados ainda em 2021.

O módulo Wentian será o primeiro dos dois módulos científicos a ser colocado em órbita, em 2022, seguindo-se o módulo Mengtian. Ambos serão lançados desde Wenchang por foguetões Chang Zheng-5B.

Como serão as futuras tripulações? 

Nesta altura não será fácil definir como serão compostas as tripulações das próximas missões espaciais Chinesas. Porém, pode-se definir um grupo geral composto der quatro tripulações para voos que terão lugar em 2021 e 2022.

O grupo é composto por Nie Haisheng (que participou nas missões Shenzhou-6 e Shenzhou-10), Deng Qingming, Liu Boming (que participou na missão Shenzhou-7), Liu Wang (que fez parte da missão Shenzhou-9), Zhang Xiaoguang (Shenzhou-10), Chen Dong (que participou na missão Shenzhou-11), Liu Yang (que participou na missão Shenzhou-9), Wang Yaping (Shenzhou-10), Ye Guangfu, Zhang Lu, Tang Hongbo, Cai Xuzhe. Alguns dos taikonautas mais antigos já estarão fora da rotação de voo, mas em reserva ainda se encontram Jing Haipeng (que participou nas missões Shenzhou-7, Shenzhou-9 e Shenzhou-11), Fei Junlong (que participou na missão Shenzhou-6) e Zhai Zhigang (que participou na missão Shenzhou-7).

Já há muito tempo que surge a possibilidade de uma das duas taikonautas (Liu Wang ou Wang Yaping) vir a ser a comandante de uma das missões à estação espacial Tiangong. Por outro lado, o Deng Qingming foi suplente em três missões e possivelmente fará parte de uma das duas missões a ser lançada em 2021, com o lançamento da Shenzhou-12 a ter lugar em Junho de 2021. A missão terá uma duração de 90 dias e durante a permanência em órbita os tripulantes irão realizar várias actividades extraveículares para a instalação de um braço robótico no exterior e outros equipamentos, preparando a estação para novos módulos.

A composição Chen Dong, Wang Yaping e Ye Guangfu, foi referida como podendo vir a ser a tripulação da Shenzhou-12, tendo circulado uma fotografia (cedida por Tony Quine) que mostra Wang Yaping a ingressar na Shenzhou-12 durante uma sessão de treinos.

Se a missão da Shenzhou-12 tiver uma duração de cerca de 90 dias, isso permitirá que a Shenzhou-13 inicie a sua missão em Setembro ou Outubro, tendo uma permanência em órbita mais alargada de cerca de 180 dias e «entregando» a Tiangong à tripulação da Shenzhou-14 a ser lançada em Março de 2022 e assim assistindo à chegada dos novos módulos.

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Créditos:

Fotografia de Wang Yaping a ingressar na Shenzhou-12 cedida por Tony Quine.