O Peregrino moribundo

A missão Peregrine-1 está moribunda a caminho da Lua após o lançamento bem sucedido no dia 8 de Janeiro de 2024.

Cerca de 40 minutos após a separação do estágio superior Centaur, o veículo Peregrine-1 foi activado e começou a receber sinais do centro de controlo da missão da Astrobotic Technology através da Deep Space Network, da NASA, uma rede que permite comunicações de longa distância com as diversas sondas em diferentes pontos do Sistema Solar. Os sistemas aviónicos da Astrobotic, incluindo a unidade de processamento de comandos e dados, bem como os sistemas de controlo térmico, de propulsão e de gestão de energia, foram activados com sucesso. A Peregrine-1 encontrava-se então num estado totalmente operacional. Logo a seguir, realizaram-se com sucesso pequenas manobras de ajuste na órbita da Terra para verificar os sistemas para a descida na superfície lunar. Após estas manobras, o veículo tentou orientar os seus painéis solares em direção ao Sol para carregar a sua bateria durante a longa viagem até a Lua. Porém, nesta altura ocorreu uma anomalia que o impediu de realizar toda a manobra de orientação.

Após receber dados provenientes do veículo, a equipa da Astrobotic concluiu que uma anomalia no sistema de propulsão causava uma orientação instável relativamente ao Sol. Num comunicado, a empresa aeroespacial referia que esta situação “ameaçava a capacidade de se proceder à alunagem”. Uma manobra improvisada antes da primeira zona sem comunicações, acabaria por ser bem sucedida e a Peregrine-1 conseguiria orientar os seus painéis solares para o Sol, permitindo assim que as suas baterias fossem recarregadas.

Continuando a receber dados provenientes do veículo, a empresa chegaria à conclusão que a falha no sistema de propulsão estava associada a uma fuga crítica de combustível. Nesta altura, e apesar de tentarem estabilizar a perda de combustível, a equipa da Astrobotic decidia dar prioridade à obtenção da maior quantidade de dados científicos possível, tentando elaborar perfis de missão alternativos.

Recebendo a primeira imagem do veículo, a equipa de controlo referia que a fuga de combustível levava a que os motores do sistema de controlo de atitude operassem a um nível para lá dos seus ciclos de operação para manter o veículo controlável. Com os pequenos motores a funcionar, o Peregrine-1 poderá manter uma atitude estável durante 40 horas. Assim, o objectivo será levar o veículo o mais próximo da Lua possível antes de se perder a capacidade de controlar o Peregrine-1 na sua orientação relativamente ao Sol e impedindo a perda de energia.

O veículo lunar Peregrine-1

O veículo lunar Peregrine-1 foi desenvolvido pela empresa Astrobotic Technology, sendo inicialmente um concorrente no Google Lunar-X-Prize. Posteriormente, tornou-se numa missão comercial, transportando cargas para o programa Commercial Lunar Payload Services (CLPS) da NASA e para outros clientes.

O Peregrine-1 transporta 35 kg de cargas, incluindo os instrumentos (NASA) LRA, LETS, NIRVSS, NSS, PITMS e NDL, além do veículo de superfície Iris (Universidade Carnegie Mellon) e de cinco pequenos rovers Colmena (Agência Espacial Mexicana). Ainda a bordo encontra-se o detector de radiação M-42 da Agência Espacial Alemã.

Desenvolvido pelo Centro de Voo Espacial Goddard da NASA, o Laser Retroreflector Array (LRA) é um instrumento óptico passivo e funcionará como um marcador fiducial permanente (ou seja, de localização) na Lua nas próximas décadas.

O Linear Energy Transfer Spectrometer (LETS) é um sensor de radiação que irá recolher informação acerca do ambiente de radiação lunar e foi desenvolvido tendo por base equipamentos que voaram a bordo da cápsula espacial Orion em 2014. O LETS foi desenvolvido pelo Centro de Voo Espacial Johnson da NASA.

O Near-Infrared Volatile Spectrometer System (NIRVSS) foi desenvolvido pelo Centro de Investigação Ames. O NIRVSS irá medir a hidratação à superfície e na subsuperfície, além do dióxido de carbono e metano – sendo estes recursos que podem potencialmente vir ser a ser minados na Lua – enquanto mapeia a temperatura à superfície e as alterações no local de alunagem.

Também desenvolvido pelo Centro de Investigação Ames, o Neutron Spectrometer System (NSS) irá procurar por indicações de gelo de água perto da superfície lunar ao medir a quantidade de materiais contendo hidrogénio no local de alunagem, bem como determinar a composição do rególito lunar.

O instrumento PROSPECT Ion-Trap Mass Spectrometer (PITMS) irá caracterizar a exosfera lunar após a descida e alunagem, e ao longo do dia lunar para compreender a libertação e movimento de voláteis. O instrumento foi previamente desenvolvido para a missão Rosetta da agência espacial europeia e foi modificada para esta missão pelo Centro Goddard da NASA.

O NDL (Navigation Doppler Lidar), é um sensor tendo por base a tecnologia LIDAR (Light Detection and Ranging) que será utilizado na descida e posterior alunagem.

Ainda a bordo do Peregrine-1 encontra-se o veículo Iris com uma massa de 2 kg. O pequeno rover foi projetado por estudantes universitários da Universidade Carnegie Mellon e cinco minúsculos picorovers denominados “Colmena” que foram desenvolvidos pela Agência Espacial Mexicana. Os pequenos robôs, pesando menos de 60 gramas cada e medindo 12 centímetros de diâmetro, serão catapultados para a superfície lunar.

O Peregrine-1 transportar também treze cápsulas memoriais passivas, comerciais e artísticas, incluindo cápsulas de “enterro espacial” para a Celestis (Celestis 19, Luna-02) e para a Elysium Space, transportando amostras de cinzas humanas.