Quando escrevo este artigo chove muito em Braga e sopra um vento forte que se faz ouvir de encontro às janelas. Lá fora, as árvores abanam e as folhas rodopiam no ar, açoitadas pelo vento. No meu colo, está o Satan, o gato macho alfa que dorme pachorrento. Para ele (e para mim) uma noite normal… lá fora é o ‘fim do mundo’, como se diz em noites de borrasca.
Este dia 21 de Dezembro de 2012 tem nesta altura 55 minutos de duração… tudo calmo e sossegado. Dizem que a Nova Zelândia e a Austrália ainda lá estão. No entanto, segundo os vigaristas, já tudo deveria estar em fanicos… mas parece que o fim do mundo terá hora marcada. Será o solstício… afinal ainda tenho de esperar um pouco mais… Há um vulcão em erupção não é?… Chiça, espero que os Capelinhos se mantenham calmos… e daí talvez não! Era só o que mais faltava nós não termos um vulcão que ajudasse a espatifar isto tudo! Estamos em crise, mas também podemos ajudar no fim do mundo!!!…
Hoje começa o Inverno! Dizem que é nesta altura que faz frio e que chove ainda mais… enfim, é o fim do mundo! O Inverno. Mas, pá, isto não vende livros! Nem muito menos faz furos no Canal História e no Odisseia com programas com pseudo cientistas a querer dar valor a teorias parvas sobre calendários dos Maias e tal… até acho que os Sumérios também tinham alguma coisa a dizer sobre o fim do mundo… mas aquela escrita, pá! Enfim… são 1:10 e tudo está calmo… isto é, tirando a chuva que continua a cair.
Como seria de esperar nada acontece neste dia… tirando as coisas que acontecem todos os dias. No entanto, infelizmente, é em dias como este que vemos a que ponto estamos a chegar como sociedade. No fundo, somos uma sociedade de informação e com informação… o problema é que não sabemos o que fazer com tanta informação. Falta a muita gente aquilo a que chamamos ‘espírito crítico’ e ‘literacia científica’. Para muitos, a Ciência que desenvolveu este teclado onde agora escrevo é a mesma que a «patranhada» astrológica pelas manhãs nas TV’s. A tecnologia que nos leva aos outros planetas é a mesma que lhes permite «analisar» as cartas astrológicas. No fundo, muitos acreditam nas palermices apocalípticas que lhes impingem da mesma forma que acreditam que o Sol vai «nascer» no dia seguinte!
Poderíamos esperar que o nosso sistema de ensino tivesse a tendência de preparar cidadãos e cidadãs para um futuro tecnológico e cientificamente mais avançado. Não digo que todos temos de ser cientistas, mas deveríamos estar minimamente preparados para diferenciar o real e a verdade, da ilusão e da mentira. No entanto, o facto de os jornais diários continuarem a ter colunas dedicadas às falsas ciências (como a Astrologia) bem como as televisões (que não dedicam o mesmo tempo à Ciência e à Educação Científica), é o reflexo da sociedade mediocramente científica a que nos vão habituando, uma sociedade permeável aos vigaristas que alimentam os medos seculares em prol do seu enriquecimento ilícito e fraudulento.
Em suma, uma sociedade iliterada cientificamente é apenas uma parte de uma sociedade iliterada e que age como carneiros, deixando-se iludir por mentiras e artimanhas à mercê da vigarice.
São 1:21… a chuva parou… e o fim do mundo segue dentro de momentos… o Satan continua a dormir, pachorrento…
Imagem: Rui C. Barbosa