A Rússia realizou o lançamento de um novo foguetão Angara-A5/Briz-M no dia 19 de Junho de 2025 a partir do Cosmódromo GIK-1 Plesetsk.
O lançamento teve lugar pelas 0349UTC e foi realizado a partir do Complexo de Lançamento LC35/1. Todas as fases da missão decorreram como previsto e a carga, composta por vários satélites (segundo o Ministério da Defesa da Rússia), foi colocada nas órbitas previstas.
Segundo o analista Bart Hendricks, “tudo aponta para a possibilidade de a carga útil ser de facto um satélite do tipo 14F166A ou 14F166. Estes são satélites construídos pela ISS Reshetnev com base na plataforma Ekspress-2000, mas existem fortes indícios de que o projeto envolve também o instituto CNIIHM, responsável pela construção de satélites de inspeção e armas contramedidas espaciais. A explicação mais plausível é que o satélite da ISS Reshetnev transporta um subsatélite CNIIHM que será libertado após atingir a órbita geoestacionária. Isto está em linha com o anúncio de lançamento do Ministério da Defesa, que mencionava a existência de “satélites a bordo”.
Os satélites 14F166(A) foram concebidos para serem colocados numa órbita de transferência supersíncrona pelo estágio superior Briz-M. Esta é uma órbita de transferência com um apogeu superior à altitude geoestacionária de 36.000 km. Depois disso, os satélites utilizam os seus próprios propulsores elétricos para se deslocarem para a órbita operacional, um processo que pode demorar vários meses.
A inserção na órbita de transferência requer múltiplas queimas do estágio Briz-M e só é concluída muito mais tarde, após o lançamento.”
A 26 de Junho foi catalogado um terceiro objecto resultante deste lançamento numa órbita muito próxima da carga principal. Isto significa que o satélite “inspector” que se esperava a bordo do Cosmos 2589 já se teria separado deste (terá possivelmente a designação “Cosmos 2590”).
No dia 28 de Junho, o Cosmos 2590 alterou a sua órbita (indicando assim ser uma carga activa). No dia 27 de Junho, o Cosmos 2589 encontrava-se numa órbita com um perigeu a 20.270 km e apogeu a 51.109 km, mantendo esta órbita no dia seguinte. Por seu lado, no dia 27 de Junho, o Cosmos 2590 encontrava-se numa órbita com um perigeu a 20.265 km e apogeu a 51.088 km, enquanto no dia seguinte havia manobrado para uma órbita com um perigeu a 20.271 km e apogeu a 51.200 km.
A 29 de Junho ambos os satélites acabariam por alterar novamente as suas órbitas com o Cosmos 2589 a ficar colocado numa órbita com um perigeu a 20.359 km e apogeu a 51.223 km, enquanto o Cosmos 2590 ficou colocado numa órbita com um perigeu a 20.279 km e apogeu a 51.291 km. Os respectivos períodos orbitais eram de 1.436,33 minutos e 1.436,01 minutos.
Os satélites 14F166A e 14F166
Os satélites 14F166A e 14F166 são baseados na plataforma Ekspress-2000 da ISS Reshetnev e têm uma vida útil projetada de 10 anos (menos do que a vida útil habitual de 15 anos prevista para estes satélites). Ambos partilham a mesma plataforma de satélite, mas possuem cargas úteis diferentes (cuja natureza não foi revelada). O sistema de propulsão é constituído por quatro propulsores de efeito Hall SPD-100V consumindo xénon (para correções de órbita); oito propulsores a gás consumindo xénon (para orientação e estabilização) e oito propulsores de hidrazina, sendo quatro principais e quatro reservas (para orientação).
Ambos os satélites são abastecidos com 350 kg de xénon. Por alguma razão, o 14F166A transportará menos 60 kg de hidrazina do que o 14F166 (100 kg em relação a 160 kg).
O lançamento destes satélites a partir de Plesetsk baseia-se na utilização de uma órbita supergeossíncrona. Após a separação do terceiro estágio do foguetão Angara-A5 (que é suborbital e posteriormente cai no Ocrano Pacífico), o Briz-M coloca inicialmente os satélites numa órbita de parqueamento de 63,3°, com um perigeu de 180,9 km e um apogeu de 196,9 km. Cerca de dez minutos depois, inicia uma série de manobras (queimas) para inserir os satélites na chamada órbita de transferência geoestacionária supersíncrona, com uma inclinação de 1,3°. O perigeu e o apogeu da órbita serão diferentes para 14F166A e 14F166, sendo de 18.858 x 52.728 km (14F166A) e 25.206 x 46.380 km (14F166).
O Briz-M irá então separar-se dos satélites e colocar-se numa órbita cemitério com os seguintes parâmetros: 17.047,1 x 52.264,7 km, 1,655° (14F166A) ou 23.077,5 x 45.899,0 km, 1,58°(14F166).
Os satélites irão posteriormente deslocar-se para a órbita geoestacionária utilizando os seus propulsores SPD-100V. Após o término das suas missões, colocar-se-ão em órbitas cemitério a cerca de 200 km acima da cintura geoestacionária. A trajectória “supersíncrona” foi utilizado pela primeira vez pela Rússia para o lançamento dos satélites Ekspress-AM5 e Ekspress-AM6 (também plataformas Ekspress-2000) em 2013 e 2014, respectivamente. O tanque de alta pressão de xénon KBVD de grande capacidade foi desenvolvido pela ISS Reshetnev exatamente para permitir que os satélites se movam da órbita geoestacionária supersíncrona para a órbita geoestacionária. Segundo informações da ISS Reshetnev, os satélites Ekspress-2000 que utilizam este perfil de lançamento podem ter uma massa superior a 3,25 toneladas (incluindo uma carga útil até 1,1 toneladas).
O foguetão 14A127 Angara-A5
O foguetão 14A127 Angara-A5 é o mais potente da família de lançadores modular Angara. O foguetão é composto por quatro propulsores laterais URM-1 em torno de um módulo central URM-1 (segundo estágio), sendo todos equipados com o motor RD-191. O terceiro estágio é composto por um módulo URM-2. Todos estes componentes foram testados no voo sub-orbital do foguetão Angara-1.2PP que teve lugar em Julho de 2014.
No estágio superior (quarto estágio) pode ser utilizado o Briz-M ou o KVTK. O estágio Briz-M utiliza propelentes hipergólicos, com o estágio KVTK a utilizar propelentes criogénicos.
O estágio URM-1 consome querosene e oxigénio líquido no seu motor RD-191. O estágio tem 2,9 metros de diâmetro, 25,695 metros de comprimento e uma massa de 9.800 kg sem propelente. A massa do propelente é de 132.600 kg, atingindo uma massa de 142.400 kg no lançamento.
O motor RD-181 está colocado num sistema de suspensão que lhe permite rodar até 8.º para dirigir o lançador nos eixos vertical e lateral. A rotação do veículo é controlada através de dois estabilizadores aerodinâmicos e quatro propulsores instalados na parte inferior do lançador e alimentados pelo gás quente gerado pelo motor. O RD-191 desenvolve uma força de 1.922 kN (nível do mar) ou 2.085 kN (vácuo), tendo um impulso específico de 311,4 segundos (nível do mar) ou 337,5 segundos (vácuo). O seu tempo de queima é de 214 segundos (propulsor lateral) ou 325 segundos (módulo central).
O estágio URM-2 tem 3,6 metros de diâmetro e 6,87 metros de comprimento, transportando 35.800 kg de propelente (25.100 kg de LOX e 10.700 kg de querosene) e tendo uma massa de 4.000 kg sem propelentes (no lançamento tem uma massa total de 39.800 kg). Tal como o URM-1 consome querosene e oxigénio líquido que são consumidos pelo motor RD-0124A.
O RD-0124A desenvolve uma força de 294,3 kN (vácuo), tendo um impulso específico de 359 segundos (vácuo). O seu tempo de queima é de 424 segundos.
No lançamento o Angara-A5 tem uma massa de cerca de 773.000 kg (Briz-M) ou 790.000 (KVTK). Lançado desde o Cosmódromo de Plesetsk, este lançador é capaz de colocar uma carga de 24.500 kg numa órbita terrestre baixa a 200 km de altitude e com uma inclinação de 63,1º. Utilizando o estágio Briz-M é capaz de colocar uma carga de 5.400 kg numa órbita de transferência geoestacionária ou de 3.000 kg directamente para a órbita geoestacionária. Com o estágio KVTK, o Angara-A5 é capaz de colocar uma carga de 7.500 kg numa órbita de transferência geoestacionária ou de 4.600 kg directamente para a órbita geoestacionária.
De forma geral, o Angara-A5 tem um comprimento de 55,4 metros (Briz-M) ou 64,0 metros (KVTK), tendo um diâmetro no módulo central de 2,9 metros e uma envergadura de 8,86 metros.
O estágio Briz-M tem um comprimento de 2,61 metros e um diâmetro de 4,10 metros. No lançamento tem uma massa de 22.170 kg, dos quais 19.800 kg são propelente (2.370 kg sem propelente). O seu motor S5.98M consome UDMH e N2O4. Desenvolve uma força de 19,6 kN, tendo um impulso específico de 326 segundos e um tempo de queima de 3.000 segundos.