Missão militar lançada desde o Centro Espacial Kennedy

Uma nova missão militar norte-americana foi lançada a 22 de Agosto de 2025.

A missão USSF-36/OTV-8 foi lançada às 0350UTC pelo foguetão Falcon 9-519 (B1092.6) a partir do Complexo de Lançamento LC-39A do Centro Espacial Kennedy, Ilha de Merritt, Florida. O primeiro estágio foi recuperado na Zona de Aterragem LZ-2 (Landing Zone 2) no Cabo Canaveral SFS, Florida.

Juntamente com o X-37B-1, que recebeu a designação militar “USA-555”, foi colocado em órbita um pequeno satélite denominado “LIMASAT”.

Esta é a quarta missão orbital do veículo X-37B-1 depois de ter sido lançado a 22 de Abril de 2010, 11 de Dezembro de 2012 e a 16 de Maio de 2020.

Sendo uma missão militar, o voo do OTV-8 tem muitos objectivos secretos, porém foram divulgadas algumas experiências que serão realizadas na missão, tais como uma demonstração de comunicações laser intersatélites de alta largura de banda, e outra experiência relacionada com navegação melhorada sem GPS utilizando o sensor inercial quântico de maior desempenho no espaço.

Esta missão contribuirá para melhorar a resiliência, a eficiência e a segurança das arquiteturas de comunicações espaciais dos Estados Unidos, realizando demonstrações de comunicações laser envolvendo redes de satélites comerciais proliferadas na órbita terrestre baixaa.

As comunicações laser são essenciais para o futuro das comunicações espaciais, dado que o menor comprimento de onda da luz infravermelha aumenta a quantidade de dados que podem ser enviados com cada transmissão. Além disso, são mais seguras do que as transmissões tradicionais de radiofrequência devido à natureza mais direcionada dos feixes laser. A utilização de redes de retransmissão proliferadas aumenta a resiliência das arquiteturas espaciais dos EUA, garantindo que não contêm um único ponto de falha.

Estas experiências fazem parte de um esforço mais amplo da Força Espacial dos EUA para manter a segurança do domínio espacial, melhorando a resiliência e a flexibilidade dos sistemas orbitais dos EUA. Comentando a importância desta demonstração, o Chefe de Operações Espaciais, General Chance Saltzman, declarou: “A demonstração de comunicações laser do OTV-8 marcará um passo importante na capacidade da Força Espacial dos EUA de alavancar redes espaciais proliferadas como parte de arquiteturas espaciais diversificadas e redundantes. Ao fazê-lo, reforçará a resiliência, a fiabilidade, a adaptabilidade e as velocidades de transporte de dados da nossa arquitectura de comunicações por satélite.”

Além disso, a missão demonstrará o sensor inercial quântico de maior desempenho do mundo alguma vez utilizado no espaço. Esta demonstração fornecerá informações precisas sobre a navegação sem ajuda no espaço, detectando a rotação e a aceleração dos átomos sem depender de redes de satélite como o GPS tradicional. Esta tecnologia é útil para a navegação em ambientes sem GPS e, consequentemente, aumentará a resiliência da navegação das naves espaciais americanas face às ameaças atuais e emergentes. Tal como os sensores inerciais quânticos seriam úteis para a navegação no espaço cislunar, também prometem expandir as fronteiras tecnológicas das viagens e explorações espaciais de longa distância.

Falando sobre a demonstração do sensor inercial quântico, o Coronel Ramsey Horn, comandante do Space Delta 9, afirmou: “A demonstração do sensor inercial quântico do OTV-8 é um avanço bem-vindo para a resiliência operacional no espaço. Quer se trate de navegar para além das órbitas terrestres no espaço cislunar ou de operar em ambientes sem GPS, a deteção inercial quântica permite recursos de navegação robustos quando a navegação GPS não é possível. Em última análise, esta tecnologia contribui significativamente para o nosso impulso dentro do Quinto Esquadrão de Operações Espaciais e em toda a Força Espacial, garantindo movimento e manobrabilidade mesmo em ambientes sem GPS.” O Quinto Esquadrão de Operações Espaciais, dentro do Delta 9 da USSF, conduz as operações diárias em órbita do X-37B em parceria com o Gabinete de Capacidades Rápidas da Força Aérea.

O X-37B é uma nave espacial dinâmica e responsiva, responsável por conduzir uma série de testes e experiências que aceleram o desenvolvimento de tecnologias críticas de próxima geração e conceitos operacionais para capacidades espaciais reutilizáveis.

Segundo a Força Aérea dos Estados Unidos, o X-37B é um programa de teste experimental destinado a demonstrar as tecnologias para o desenvolvimento de uma plataforma de teste espacial fiável, reutilizável e não tripulada. Os principais objectivos do programa são a demonstração de tecnologias reutilizáveis para o futuro programa espacial dos Estados Unidos e a realização de experiências que podem ser recuperadas e examinadas na Terra.

Baseado num desenho da NASA, o X-37B é o mais recente e mais avançado veículo espacial capaz de regressar da órbita terrestre. O veículo é desenhado para ser lançado na vertical para uma órbita terrestre baixa onde pode realizar experimentação e teste espacial de longa duração. Após receber comandos enviados do solo, o OTV reentra na atmosfera terrestre de forma autónoma, descendo e aterrando de forma horizontal numa pista de aterragem. Assim, o X-37B é o primeiro veículo desde o vaivém espacial da NASA com a capacidade de trazer de volta para a Terra para posterior inspecção e análise, mas tendo um tempo de vida em órbita de até 270 dias, o X-37B pode permanecer no espaço por muito mais tempo.

As tecnologias que estão a ser testadas neste programa incluem sistemas avançados de orientação, navegação e controlo, bem como sistemas de protecção térmica, aviónicos, selos e estruturas capazes de resistir a altas temperaturas, sistemas isoladores reutilizáveis, sistemas de voo electromecânicos ultra-leves, e o voo orbital, reentrada e aterragem autónomos.

X-37B-roboticO Air Force Rapid Capabilities Office lidera o programa do OTV para o Departamento de Defesa dos Estados Unidos, estando na direcção do Subsecretário da Defesa para a Aquisição, Tecnologia e Logística do Secretário da Força Aérea. O esforço do OTV utiliza vastos investimentos de empresas e do governo no programa X-37 por parte da Força Aérea dos Estados Unidos, da NASA e da agência DARPA (Defense Advanced Research Projects Agency) para continuar o desenvolvimento deste veículo.

O programa original do X-37 da NASA iniciou-se em 1999 e prolongou-se até Setembro de 2004 quando a NASA transferiu o programa para a DARPA. A NASA tinha como objectivo a construção de dois veículos, um veículo ALTV (Approach and Landing Test Vehicle), para testar os sistemas na aterragem e o seu comportamento em voo atmosférico, e um veículo orbital OV. O ALTV validou a dinâmica de voo e prolongou o voo para lá dos testes a baixa velocidade e altitude conduzidos pela NASA entre 1998 e 2001 com o X-40A, uma versão de menor escala do X-37 desenvolvido pelo Air Force Research Labs. A DARPA finalizou a porção do programa do X-37 em Setembro de 2006 ao executar com sucesso uma série de voos rebocados e livres. O X-37 OV da NASA nunca foi construído, mas o seu desenho serviu como ponto de partida para o programa do X-37B.

O X-37B foi construído pela Boeing e tem um comprimento de 8,9 metros, 2,9 metros de altura e uma envergadura de 4,5 metros. No lançamento tem um peso de 4.990 kg. A sua energia é fornecida por painéis solares compostos por células de gálio e arsénio, e por baterias de lítio.

Historial das missões OTV

Missão OTV Veículo Desig. Int. NORAD Data e Hora de lançamento Local de lançamento Lançador Data de regresso Duração (dias) Local de regresso
1 USA-212 1 (1) 2010-015A 36514 22/Abr/10 23:52:00.242 C. Canaveral SLC-41 Atlas-V/501 AV-012 03/Dez/10 225 Vandenberg
2 USA-226 2 (1) 2011-010A 37375 05/Mar/11 22:46 C. Canaveral SLC-41 Atlas-V/501 AV-026 16/Jun/12 469 Vandenberg
3 USA-240 1 (2) 2012-071A 39025 11/Dez/12 18:03 C. Canaveral SLC-41 Atlas-V/501 AV-034 17/Out/14 675 Vandenberg
4 USA-261 2 (2) 2015-025A 40651 20/Mai/15 15:05:05 C. Canaveral SLC-41 Atlas-V/501 AV-054 07/Mai/17 718 CE Kennedy
5 USA-277 2 (3) 2017-052A 42932 07/Set/17 14:00 CE Kennedy LC-39A Falcon-9 (B1040) 27/Out/19 780 CE Kennedy
6 USA-299 1 (3) 2020-029A 45606 16/Mai/20 12:24 C. Canaveral SLC-41 Atlas-V/501 AV-081 12/Nov/22 909 CE Kennedy
7 USSF-52 2 (4) 2023-210A 58666 29/Dez/23 01:07 CE Kennedy LC-39A Falcon Heavy 09 07/Mar/25 434 CE Kennedy
8 USSF-36 1 (4) 2025-183A   22/Ago/25 03:50 CE Kennedy LC-39A Falcon-9 (B1092)    

Lançamento da missão USSF-36

A cerca de dez horas do lançamento procedeu-se à activação eléctrica do foguetão Falcon-9. Tanto o lançador como a sua carga são submetidos a uma série de verificações testes antes do início do abastecimento do querosene RP-1. O Director de Voo consulta os controladores a T-38m, determinando assim se tudo está pronto para o início do abastecimento do lançador. O processo de abastecimento de RP-1 inicia-se a T-35m no primeiro estágio, seguindo-se o início do abastecimento do oxigénio líquido (LOX) na mesma altura. O abastecimento de LOX ao segundo estágio inicia-se a T-16m.

A fase terminal da contagem decrescente inicia-se com os motores a serem condicionados termicamente para o lançamento a T-7m. A T-1m é enviado um comando para o computador de voo para iniciar as verificações pré-lançamento e o sistema de supressão sónica é activado na plataforma de lançamento inundada por milhões de litros de água. Por esta altura os tanques de propelente também são pressurizados. A T-45s o Director de Lançamento da SpaceX verifica se todos os parâmetros estão prontos para a missão, sendo também verificado que o espaço aéreo está pronto para o lançamento. A sequência de ignição é iniciada a T-3s. A T=0s o foguetão abandona a plataforma.

Abandonando a plataforma de lançamento, o Falcon-9 inicia uma série de manobras para se colocar na trajectória de voo correcta.

Tempo (h:m:s) Evento
00:01:12 Máxima pressão dinâmica (MaxQ)
00:02:14 Final da queima do 1.º estágio (MECO)
00:02:18 Separação entre o 1.º e o 2.º estágio
00:02:25 Ignição do 2.º estágio (SES-1)
00:02:31 Início da manobra de regresso do 1.º estágio
00:02:46 Separação da carenagem de protecção
00:03:16 Fim da manobra de regresso do 1.º estágio
00:06:53 Início da queima de reentrada do 1.º estágio
00:07:18 Final da queima de reentrada do 1.º estágio
00:08:06 Início da queima de aterragem do 1.º estágio
00:08:34 Aterragem do 1.º estágio
Dados não revelados Final da primeira queima do 2.º estágio (SECO-1)
Dados não revelados Separação do OTV-8

 

 

O foguetão Falcon-9

Baptizado em nome da nave Millenium Falcon da saga cinematográfica “Guerra das Estrelas”, o foguetão Falcon-9 v1.1 foi um lançador a dois estágios projectado e fabricado para o transporte seguro e fiável de satélites e do veículo Dragon para a órbita terrestre. Sendo o primeiro foguetão completamente desenvolvido no Século XXI, este lançador foi projectado desde o início para ter a máxima fiabilidade. A sua simples configuração de dois estágios minimiza o número de eventos de separação (staging) e com nove motores no primeiro estágio, pode completar a sua missão em segurança mesmo na possibilidade de perda de um motor.

O Falcon-9 fez história em 2012 quando colocou a cápsula Dragon na órbita correcta para uma manobra de encontro com a estação espacial internacional. Desde então, foram realizadas múltiplas missões para a ISS transportando e recolhendo carga para a NASA. O Falcon-9, bem como a cápsula Dragon, foram desenhados na base do desenvolvimento de um sistema de transporte de astronautas para o espaço.

O foguetão Falcon-9 Upgrade, ou Falcon-9 FT, (a seguir designado simplesmente como “Falcon-9”) representa a mais recente evolução deste lançador. De forma geral, o Falcon-9 tem 68,4 metros de comprimento, 3,7 metros de diâmetro e uma massa de 541.300 kg. O veículo é capaz de colocar uma carga de 13.150 kg numa órbita terrestre baixa ou 4.850 kg numa órbita de transferência geossíncrona.

O primeiro estágio do Falcon-9 está equipado com nove motores Merlin (Merlin-1D) e tanque de liga de alumínio e lítio que contêm oxigénio líquido e querosene RP-1. Após a ignição, um sistema de segurança fixa o veículo na plataforma de lançamento e garante que todos os motores são verificados como estando na força máxima antes de libertar o foguetão para o seu voo. Então, com uma força superior a cinco aviões Boeing 747 em potência máxima, os motores Merlin lançam o foguetão para o espaço. Ao contrário dos aviões, a força de um foguetão vai aumentando com a altitude – o Falcon-9 gera 6.806 kN ao nível do mar, mas atinge 7.426 kN no vácuo espacial. Os motores do primeiro estágio vão sendo aumentados em potência perto do final da queima do estágio para assim limitar a aceleração do veículo à medida que a massa do lançador diminui com a queima do combustível. O tempo total de queima do primeiro estágio é de 162 segundos.

Com os seus nove motores agrupados juntos na configuração ‘octaweb’, o Falcon-9 pode aguentar a falha de até dois motores durante o lançamento e mesmo assim conseguir atingir a órbita terrestre com sucesso. O Falcon-9 é o único lançador na sua classe com esta característica chave.

O motor Merlin vai encontrar as suas raízes aos motores das missões Apollo, nomeadamente o sistema de injecção baseado no motor do módulo lunar. O propelente é alimentado por uma única conduta, com uma turbo bomba de dupla pá que opera num ciclo de gerador a gás. A turbo bomba também fornece o querosene a alta pressão para os actuadores hidráulicos, que depois recicla para a entrada a baixa pressão. Isto elimina a necessidade de um sistema hidráulico separado e significa que não é possível ocorrer uma falha no controlo de vector de força por falta de fluido hidráulico. Uma terceira utilização da turbo bomba é o fornecimento de controlo de rotação ao actuar no escape da turbina de exaustão (no segundo estágio). Combinando-se estas características num só dispositivo aumenta-se assim de forma significativa o nível de fiabilidade do sistema.

O motor é capaz de desenvolver uma força de 654 kN ao nível do mar, 716 kN no vácuo, com um impulso específico de 282 segundos (nível do mar) e 311 segundos (vácuo).

A secção interestágio é uma estrutura compósita que liga o primeiro e o segundo estágio e alberga os sistemas de libertação e separação. O Falcon-9 utiliza um sistema de separação totalmente pneumático para uma separação de baixo impacto e altamente fiável que pode ser testado no solo, ao contrário dos sistemas pirotécnicos utilizados na maior parte dos lançadores.

O segundo estágio é propulsionado por um único motor Merlin de vácuo e coloca a carga a transportar na órbita desejada. O motor do segundo estágio entra em ignição poucos segundos após a separação entre o segundo e o primeiro estágio, e pode ser reiniciado várias vezes para colocar múltiplas cargas em diferentes órbitas. Para máxima fiabilidade, o segundo estágio está equipado com sistemas de ignição redundantes. Tal como o primeiro estágio, o segundo estágio é feito a partir de uma liga de alumínio e lítio.

O motor Merlin de vácuo (Merlin-1D de vácuo) desenvolve uma força de 934 kN e o seu tempo de queima é de 397 segundos.

A carenagem compósita é utilizada para proteger a carga durante a passagem do Falcon-9 pelas camadas mais densas da atmosfera. Quando a missão do Falcon-9 é o lançamento do veículo de carga Dragon, a carenagem não é utilizada, pois a cápsula possui o seu próprio sistema de protecção.

A carenagem tem 13,1 metros de comprimento e 5,2 metros de diâmetro. Fabricada em fibra de carbono, separa-se em duas metades utilizando um sistema de separação de actuadores pneumáticos semelhantes aos que são utilizados para a separação entre o primeiro e o segundo estágio.

A sequência de lançamento para o Falcon-9 é um processo de precisão ditada pela janela de lançamento tendo em conta a posição orbital a ser ocupada pela carga a bordo. Se a janela de lançamento é perdida, a missão é então adiada para a próxima janela de lançamento disponível.

Cerca de quatro horas antes do lançamento, inicia-se o processo de abastecimento – primeiro oxigénio líquido seguindo-se o querosene altamente refinado (RP-1). O vapor observado a sair do lançador durante a contagem decrescente é na realidade oxigénio a ser liberto dos tanques, sendo esta a razão pela qual o abastecimento de oxigénio líquido se mantém até quase ao final da contagem decrescente.

Lançamento Veículo 1.º estágio Local Lançamento Data Hora (UTC) Carga Recuperação
2025-158 510 B1075.19 VSFB, SLC-4E 27/Jul/25 04:30:50 Starlink G17-2 OCISLY
2025-161 511 B1069.26 CCSFS, SLC-40 30/Jul/25 03:37:50 Starlink G10-29 JRTI
2025-165 512 B1071.27 VSFB, SLC-4E 31/Jul/25 18:35:09 Starlink G13-4 USA-549 USA-550 OCISLY
2025-166 513 B1094.3 KSC, LC-39A 01/Ago/25 15:43:42 Endeavour USCV-11 LZ-1
2025-167 514 B1020.21 CCSFS, SLC-40 04/Ago/25 07:57:50 Starlink G10-30 JRTI
2025-171 515 B1091.1 CCSFS, SLC-40 11/Ago/25 12:35 Kuiper KF-02 ASOG
2025-175 516 B1093.5 VSFB, SLC-4E 14/Ago/25 05:05:37 Starlink G17-4 OCISLY
2025-176 517 B1085.10 CCSFS, SLC-40 14/Ago/25 12:29:30 Starlink G10-20 JRTI
2025-179 518 B1088.9 VSFB, SLC-4E 18/Ago/25 16:26:49 Starlink G17-5 OCISLY
2025-183 519 B1092.6 KSC, LC-39A 22/Ago/25 03:50 USSF-36 (OTV-8) LZ-2

Imagens: Empresa lançadora



Comente este post