O cosmonauta Mikhail Korniyenko e o astronauta Scott Kelly regressaram à Terra após uma viagem de 340 dias a bordo da estação espacial internacional.
Acompanhados pelo cosmonauta Sergei Volkov, os dois homens aterraram às 04:25UTC do dia 2 de Março de 2016 nas estepes do Cazaquistão, marcando assim o final de uma odisseia a bordo da ISS.
Mikhail Korniyenko e Scott Kelly haviam sido lançados a bordo da Soyuz TMA-16M a 27 de Março de 2015. A missão dos dois homens teve uma duração de 340 dias 8 horas 42 minutos e 30 segundos, enquanto que a missão de Sergei Volkov teve uma duração de 181 dias 23 horas 47 minutos e 44 segundos.
A escotilha entre a ISS e a Soyuz TMA-18M foi encerrada às 21:48UTC do dia 1 de Março. A separação da Soyuz TMA-18M do módulo MIM2 Poisk teve lugar às 01:02:30UTC do dia 2 de Março e a manobra de retro-travagem, que iniciou a descida para a reentrada atmosférica, ocorreu entre as 03:32:43UTC e terminou às 03:37:23UTC. A separação dos três módulos da Soyuz TMA-20M ocorreu às 03:59:59UTC e a reentrada atmosférica ocorreu às 04:02:48UTC. O controlo aerodinâmico da cápsula inicia-se às 04:04:19UTC.
A tripulação sente a carga máxima devido à desaceleração pelas 04:09:13UTC. A abertura do pára-quedas principal ocorreu às 04:11:03UTC e a aterragem às 04:25:27UTC.
A agência espacial norte-americana sempre publicitou esta missão, ou mais precisamente a missão de Scott Kelly, como uma missão com a duração de um ano. Porém, na realidade o voo de Korniyenko e de S. Kelly teve uma duração de cerca de 341 dias, cerca de duas semanas menos de um ano. De facto, isto foi pela primeira vez conseguido pelos cosmonautas Vladimir Titov e Musa Manarov entre 21 de Dezembro de 1987 e 21 de Dezembro de 1988, com um total de 366 dias pois tratou-se de um ano bissexto!
Quando em Agosto de 1999 terminou a ocupação permanente da estação espacial russa Mir, o porta-voz da NASA esforçou-se por sublinhar que assim terminava uma presença soviética no espaço com uma duração de 3.644 dias, 2 horas e 57 minutos, entre 5 de Setembro de 1989 e 28 de Agosto de 1999. Segundo a NASA, esta não foi uma presença contínua de 10 anos em órbita dado que a aterragem havia ocorrido oito dias antes de completar esse marco.
Assim, e utilizando a mesma lógica da NASA, como pode a agência espacial norte-americana se referir a uma missão de cerca de 340 dias como uma missão que teve uma duração de um ano? Será que tal acontece por estar envolvido um astronauta da NASA? Assim parece!
Recordes de permanência em órbita
O voo mais longo levado a cabo até agora pertence a Valeri Vladimirovich Polyakhov com um total de 437 dias 17 horas 58 minutos e 17 segundos, seguindo-se Sergei Vasiliyevich Avdeyev com um voo de 379 dias 14 horas 51 minutos e 10 segundos. Vladimir Titov e Musa Manarov permaneceram em órbita durante 365 dias 22 horas 38 minutos e 38 segundos.
O recorde acumulado de permanência em órbita terrestre pertence a Gennadi Ivanovich Padalka com um total de 878 dias 11 horas e 31 minutos. A seguir é a lista dos 10 recordistas:
- Gennadi Ivanovich Padalka – 878 dias 11 horas 29 minutos 48 segundos
- Sergei Konstantinovich Krikalev – 803 dias 9 horas 38 minutos 31 segundos
- Alexander Yurievich Kaleri – 769 dias 6 horas 35 minutos 1 segundo
- Sergei Vasiliyevich Avdeyev – 747 dias 14 horas 12 minutos 27 segundos
- Valeri Vladimirovich Polyakhov – 678 dias 16 horas 33 minutos 4 segundos
- Anatoli Yakovlevich Solovyov – 651 dias 0 horas 0 minutos 44 segundos
- Yuri Ivanovich Malenchenko – 641 dias 11 horas 11 minutos 22 segundos
- Viktor Mikhailovich Afanasiyev – 555 dias 18 horas 33 minutos 53 segundos
- Yuri Vladimirovich Usachyov – 552 dias 22 horas 24 minutos 34 segundos
- Pavel Vladimirovich Vinogradov – 546 dias 22 horas 32 minutos 1 segundo
O regresso à Terra
As cápsulas Soyuz TMA-M separam-se dos módulos aos quais estão acopladas após a tripulação ter executado a verificação da não existência de fugas na área do vestíbulo entre o módulo e a cápsula espacial, dos seus fatos espaciais pressurizados e da escotilha entre o Módulo Orbital e o Módulo de Descida.
Em preparação para o regresso à Terra, a tripulação enverga o fato angi-G Kentvar por debaixo dos fatos espaciais pressurizados Sokol. O vestuário Kentvar é um fato de protecção que consiste de calções, polainas, cuecas, meias e um casaco, que agem como uma contra-medida para distúrbios circulatórios, previne a sobrecarga de um tripulante durante a descida e aumenta a tolerância ortostática durante a adaptação após o voo. Os tripulantes são também aconselhados a ingerirem fluidos com aditivos de electrólitos para preparar os seus corpos para os rigores do regresso. Estes fluidos são constituídos por três tabletes de cloreto de sódio ao pequeno-almoço e após o almoço, juntamente com 300 ml de fluído e duas pastilhas durante a refeição a bordo da Soyuz TMA-M antes da retro-travagem.
Os três tripulantes dedicaram especial atenção à colocação do cinto médico com sensores, assegurando-se de um bom contacto entre os sensores e o corpo. Durante os preparativos para o regresso, antes da reentrada atmosférica, os tripulantes sentam-se confortavelmente nos assentos Kazbek, apertam os cintos de segurança e asseguram-se de um contacto justo entre o corpo e os assentos.
Com a estação espacial internacional a entrar em derive livre, a cápsula separa-se da estação espacial após ter sido enviado de forma manual pela tripulação um comando manual para a separação e após se terem aberto os ganchos de fixação. A primeira queima de separação ocorre entre cerca de 15 a 20 metros de distância, com uma queima de 15 segundos de duração que altera a velocidade do veículo em 0,57 m/s utilizando dois motores DPO-B1.
Após a primeira queima de separação a tripulação activa o computador de bordo do sistema digital BTsVK e o sistema de controlo VTsVK ‘Chaika’, introduzindo os mais recentes parâmetros de orientação. A cápsula vai-se afastando da estação espacial até esta se tornar um ponto no espaço.
A descida é iniciada com a manobra de retro-travagem. Os três módulos separam-se de forma simultânea com a separação a ter lugar a cerca de 140 km de altitude. Após a separação dos três módulos, o módulo de propulsão e instrumentação é colocado numa ângulo de -79,5º em relação ao eixo de referência dezasseis segundos após a separação dos módulos. Nesta posição, e caso este módulo não se tivesse separado do módulo de descida, o calor da reentrada iria derreter as ligações entre os dois módulos. O computador principal TsVM-101 é desactivado 266 segundos após a orientação do veículo e a reentrada atmosférica inicia-se a cerca de 117 km de altitude.
A fase de orientação inicia-se a uma altitude de 81,1 km. O primeiro sinal da reentrada atmosférica surge quando as partículas de poeira começam a assentar no módulo de descida. A partir desta altura os três elementos têm de prestar atenção, pois as cargas gravíticas começam a aumentar rapidamente. A bordo a sensação da força gravítica no corpo vai-se instalando, tornando os corpos mais pesados e dificultando a respiração e a fala. Estas são sensações normais e os tripulantes são aconselhados a lidarem com elas calmamente. Muitos cosmonautas sentem a sensação de um alto na garganta, mas isto não é caso para ficarem nervosos, pois esta é uma sensação frequente e não deve ser contrariada. A melhor solução é “tentar não engolir e falar nesta altura”. Os tripulantes devem prestar atenção à função visual e, caso ocorra algum distúrbio, criar uma tensão adicional de pressão abdominal e nos músculos das pernas.
A máxima carga gravítica sobre os tripulantes ocorre a uma altitude de cerca de 33 km. A abertura dos pára-quedas é ordenada a uma altitude de cerca de 10,7 km. Dois pára-quedas piloto (de 0,62 m2 e 4,5 m2) extraem o pára-quedas de travagem com uma área de 16 m2. Este pára-quedas reduz a velocidade de descida de 230 m/s para 80 m/s e auxilia na estabilização da cápsula ao original uma ligeira rotação da mesma. O pára-quedas de travagem acaba por se separar com a abertura do pára-quedas principal (518 m2) que reduz a velocidade de descida para 7,2 m/s. Inicialmente, a cápsula encontra-se suspensa com um ângulo de 30º em relação ao horizonte, colocando-se na vertical pouco antes da aterragem.
Durante as diferentes fases de abertura dos pára-quedas, os tripulantes sentem alguns «abanões» no interior do módulo de descida. Estes não devem estar preocupados, mas devem estar preparados para o facto de que aquando da abertura do pára-quedas principal na posição assimétrica, ocorrem movimentos de balanço e de rotação que podem original irritações vestibulares. É assim importante manter os sistemas de fixação bem apertados na pélvis e no arco peitoral. A irritação vestibular pode ocorrer em diferentes formas tais como vertigens, hiperidrose (transpiração anormalmente aumentada), ilusões posturais, desconforto geral e náusea. Para prevenir a irritação vestibular a tripulação deve limitar os movimentos da cabeça e dos olhos, bem como fixar a visão em objectos imóveis.
Mesmo antes da aterragem (que é suavizada pela ignição de seis motores sólidos que se encontram por detrás do escudo térmico entretanto descartado), a tripulação deve se preparar para o impacto com o solo. Os seus corpos devem estar fixos ao longo da superfície dos assentos personalizados. A velocidade de aterragem é de cerca de 9,9 m/s.
A tripulação não se deve levantar de imediato após a aterragem. São assim aconselhados a permanecer no interior sentados nos assentos Kazbek durante alguns minutos e somente depois se devem levantar. Ao se levantarem, devem limitar os movimentos da cabeça e dos olhos para evitar assim movimentos excessivos, procedendo de forma calma e lenta. Os seus corpos não se devem adaptar à gravidade terrestre na posição vertical de forma muito rápida. Para tal são colocados em assentes reclináveis logo após serem removidos do interior do módulo de descida. Mais tarde são transportados para uma tenda médica ou de imediato para um helicóptero que os transportam para um local seguro.