A Coreia do Norte levou a cabo o seu primeiro lançamento orbital em Setembro de 1998 após ter supostamente iniciado o seu programa de desenvolvimento de um satélite artificial nos anos 80 do século XX após um anuncio por parte de Kim Il-sung.
Devido à natureza do regime norte-coreano, é difícil estabelecer os limites entre o desenvolvimento de um programa espacial e um programa de desenvolvimento de mísseis balísticos intercontinentais, sendo verdade que o desenvolvimento do primeiro é uma consequência directa do segundo.
A Coreia do Norte tenta orbitar o Kwangmyongsong-1
Anunciado como um sucesso da tecnologia do espacial do regime, o lançamento levado a cabo às 0307UTC do dia 30 de Agosto de 1998 não resultou na colocação em órbita de qualquer satélite. O lançamento foi levado a cabo por um foguetão Paektusan-1 (uma versão do míssil Taepodong-1) a partir da Base de Lançamento de Satélites de Tonghae – Musudan-ri, em Hwadae-gun província de Hamgyong Norte.
O lançamento estava inicialmente previsto para ter lugar a 30 de Agosto, mas as más condições meteorológicas levaram a que fosse sucessivamente adiado. Os serviços secretos norte-americanos esperavam a realização de um teste de um míssil balístico intercontinental, tendo observado os preparativos para o lançamento. Porém, o facto de o lançador estar equipado com um terceiro estágio de combustível sólido surgiu como uma surpresa, revelando assim a intenção de a Coreia do Norte colocar um satélite em órbita.
As fases iniciais do lançamento decorreram como previsto, porém um problema ocorreu durante a ignição do terceiro estágio, levando a que o Kwangmyongsong-1 (광명성 1호) reentrasse na atmosfera logo após atingir a velocidade orbital.
O lançamento foi anunciado pela Agência Central de Notícias da Coreia a 4 de Setembro.
Para o desenvolvimento do Kwangmyongsong-1 a Coreia do Norte teve o auxílio da Administração Espacial Nacional da China e o satélite seria um poliedro de 72 faces, semelhante ao primeiro satélite da China, o Dongfanghong-1.
Apesar da propaganda interna, o lançamento foi declarado um fracasso e nem mesmo a China reconheceu a existência de um satélite em órbita. Apesar disso, a 13 de Setembro a Agência Central de Notícias da Coreia referia que o Kwangmyongsong-1 completara a sua 100.ª órbita em torno da Terra. O satélite estaria numa órbita com um perigeu a 218,8 km de altitude, apogeu a 6.978,2 km de altitude e período orbital de 165,1 minutos.
O Musudan-ri estaria a transmitir os temas “Música do General Kim Il-sung”, “Música do General Kim Jong-il” e “Coreia Juche” em código morse numa frequência de 27 MHz. O satélite teria transmitido dados relativos à temperatura, pressão e sobre o estado da sua fonte de energia.
O lançamento do Kwangmyongsong-2
Às 0220:15UTC do dia 5 de Abril de 2009 a Coreia do Norte levou a cabo a segunda tentativa de colocar em órbita um satélite artificial.
Depois do «sucesso» do lançamento do Kwangmyongsong-1, o Kwangmyongsong-2 era lançado por um foguetão Unha-2 a partir da Base de Lançamento de Satélites de Tonghae. Os resultados deste lançamento foram desastrosos, com lançador e a sua carga a despenharem-se no Oceano Pacífico.
O lançamento havia sido anunciado a 24 de Fevereiro pela Agência Central de Notícias da Coreia aparentemente após uma visita de Kim Jong-il e após um anuncio por parte do Comité de Tecnologia Espacial Coreano. Este anunciou deu origem a múltiplos protestos por parte da comunidade internacional devido à suposta violação por parte da Coreia do Norte da Resolução 1718 das Nações Unidas.
A fase inicial do lançamento correu como previsto com o lançador a sobrevoar o Japão a uma altitude de 300 km. Porém, um problema durante a separação do terceiro estágio fez com que o resto do lançador se despenhasse nas águas do Pacífico a 3.200 km do local de lançamento.
O lançamento foi mais uma vez declarado um sucesso por parte da Coreia do Norte, referindo que o Kwangmyongsong-2 se encontrava numa órbita com um perigeu a 490 km de altitude, apogeu a 1.426 km de altitude, inclinação orbital de 40,6.º e período orbital de 104,2 minutos. Segundo o Comité de Tecnologia Espacial Coreano, o satélite seria destinado à retransmissão de comunicações e ter-se-ia separado a T+9m 2s e começado a transmitir os temas “Música do General Kim Il-sung” e “Música do General Kim Jong-il” numa frequência de 470 MHz.
O lançamento do Kwangmyongsong-3
A Coreia do Norte levou a cabo o lançamento do foguetão Unha-3 com o satélite Kwangmyongsong-3 às 2238:55UTC do dia 12 de Abril de 2012 utilizando o foguetão Unha-3 (73990902) que se desintegrou entre a T+1m 30s, com os destroços a despenharem-se no Mar Amarelo perto de Gunsan, Coreia do Sul. O lançamento foi levado a cabo a partir da Estação de Lançamento de Satélites de Sohae, em Cholsan.
Com o lançamento inicialmente previsto para ter lugar a 12 de Abril mas adiado devido às más condições meteorológicas, o Kwangmyongsong-3 foi definido como sendo um satélite científico, no entanto muitos analistas duvidam da verdadeira utilidade do satélite.
Muito se especulou sobre o verdadeiro objectivo deste lançamento norte-coreano. O foguetão Unha-3, uma versão melhorada do foguetão Unha-2 utilizado em Abril de 2009 para tentar colocar em órbita o satélite Kwangmyongsong-2, é um foguetão espacial mas também um meio para testar a tecnologia que poderá ser utilizada para o desenvolvimento de um míssil balístico intercontinental. Assim, o Kwangmyongsong-3 poderia ser apenas uma fachada para um teste militar da Coreia do Norte que segundo algumas fontes sul-coreanas, que na altura se preparava também para realizar um novo teste atómico.
Vários observadores têm tentado explicar o satélite Kwangmyongsong-3, havendo mesmo quem se refira ao satélite como apenas uma caixa oca sem qualquer utilidade. De facto, tornava-se complicado fazer a autópsia do satélite sem se conseguir ver o seu interior e os dispositivos protuberantes pouco ajudam na análise, podendo no entanto tratar-se de sensores e câmaras de observação. A Coreia do Norte referiu que o satélite seria utilizado como um posto de observação meteorológica, fornecendo também dados sobre os recursos naturais do país. O satélite deveria ser colocado numa órbita polar.
Coberto por painéis solares fixos, o satélite não tinha qualquer meio de propulsão ou de correcção de atitude próprio, podendo no entanto estar equipado com um mastro que após a sua entrada em órbita seria colocado em posição fornecendo assim um gradiente de gravidade para o estabilizar. Segundo fontes norte-coreanas as suas dimensões seriam 1372 x 602 x 732 mm.
Apresentado ao mundo no dia 8 de Abril, muito se conjecturou sobre o verdadeiro objectivo deste lançamento. Se por um lado a Coreia do Norte se esforçou em reforçar as suas declarações sobre os objectivos pacíficos do Unha-3, muitos países referem a propaganda do regime norte-coreano que procura insistentemente esconder o seu verdadeiro objectivo de desenvolver um meio de transporte capaz de enviar armas de destruição maciça a meio mundo de distância.
De facto, a Coreia do Norte está impedida por várias resoluções das Nações Unidas de desenvolver tecnologias que sejam aplicadas no desenvolvimento de mísseis balísticos intercontinentais. Por outro lado, a Coreia do Norte sempre fez tábua rasa dessas resoluções, fazendo salientar o seu direito legítimo ao desenvolvimento destas tecnologias como forma de garantir a sua independência e segurança.
Então surge a questão: O que é o Unha-3 – um foguetão pacífico ou um míssil ameaçador? Na verdade é um pouco de ambos. Na altura, Ryu Gum Chol, Director Executivo da Exploração Espacial no Departamento de Tecnologia Espacial da Coreia do Norte, referiu que o Kwangmyongsong-3 pesava somente 100 kg e que para uma arma, este peso seria pouco eficaz. Por outro lado, sublinhou que o lançamento de um míssil balístico intercontinental necessitaria de uma tecnologia mais avançada e que não teria lugar de uma posição fixa. Ora, a referência à massa do Kwangmyongsong-3 como forma de justificar a veia pacífica desta lançamento pode levar em erro, pois um míssil balístico de dois estágios baseado no Unha-3, teria uma capacidade de carga muito superior a 100 kg. Sabendo que os Estados Unidos possuem ogivas nucleares com uma massa de cerca de 100 kg e admitindo que a Coreia do Norte ainda não foi capaz de fabricar ogivas deste tipo, logo este míssil desenvolvido a partir do Unha-3 poderá ser utilizado para o transporte destas ogivas mais pesadas. A referência à necessidade de se proceder a um lançamento a partir de uma posição móvel para se justificar a natureza militar de um vector deste tipo, também é enganadora. Tanto a União Soviética (R-7, etc.) como os Estados Unidos (Redstone, Atlas, Titan, etc.) desenvolveram mísseis balísticos intercontinentais que eram lançados a partir de posições fixas.
Lançamento do Kwangmyongsong-3 (2)
A Coreia do Norte levou a cabo com sucesso o lançamento e a colocação em órbita do satélite Kwangmyongsong-3 (2) às 0049:46UTC do dia 12 de Dezembro de 2012. O satélite foi lançado por um foguetão Unha-3 a partir da Estação de Lançamento de Satélites de Sohae.
Este foi um grande feito para aquele país asiático e um verdadeiro ‘momento Sputnik’ para o mundo ocidental e em especial para os Estados Unidos que não anteciparam este lançamento.
Inicialmente previsto para ter lugar entre 9 e 21 de Dezembro, o lançamento havia sido supostamente adiado para o período entre 16 e 29 de Dezembro para os especialistas coreanos levarem a cabo reparações no sistema de controlo do primeiro estágio do lançador. Crê-se agora que tudo não terá passado de má interpretação ou de uma manobra evasiva por parte da Coreia do Norte.
O Kwangmyongsong-3 (2) ter-se-à separado do terceiro estágio do foguetão Unha-3 às 0059:13UTC e foi colocado uma órbita com um perigeu de 499,70 km de altitude, apogeu a 584,18 km de altitude, inclinação orbital de 97,4.º e um período orbital de 95,48 minutos.
A Coreia do Norte referiu que o Kwangmyongsong-3 (2) era a segunda unidade do satélite Kwangmyongsong-3, sendo semelhante ao satélite que foi perdido em Abril de 2012.
O Kwangmyongsong-3 (2) teria uma forma de paralelepípedo com quatro das suas seis faces cobertas por células solares para o fornecimento de energia. Como sistema de estabilização poderá utilizar um mastro para estabilização por gradiente de gravidade ou um sistema de torques magnéticos.
As informações que circularam relativas ao facto de o satélite estar descontrolado em órbita, foram emitidas por fontes norte-americanas e que podem estar enviesadas com o intuito de desvalorizar o lançamento do satélite, dando ênfase ao que crêem ter sido o principal objectivo deste lançamento, isto é, o teste da tecnologia necessária para a construção de mísseis balísticos intercontinentais.
Lançamento do Kwangmyongsong-4
Apesar de proibida pelas Resoluções 1718 e 1874 das Nações Unidas que claramente e de forma inequívoca a impedem de levar a cabo lançamentos que utilizam tecnologia de mísseis balísticos intercontinentais, a Coreia do Norte levou a cabo a 7 de Fevereiro de 2016 o lançamento do satélite Kwangmyongsong-4 (광명성 4호) utilizando o foguetão então designado Kwangmyongsong (na verdade um foguetão Unha-3).
O lançamento teve lugar às 0030:00UTC e foi levado a cabo a partir da Estação de Lançamento de Satélites de Sohae.
Mais uma vez, o lançamento deste novo satélite mereceu a reprovação por parte da maior parte da comunidade internacional preocupada com o desenvolvimento deste tipo de tecnologia por parte da Coreia do Norte.
Segundo as autoridades norte-coreanas, o Kwangmyongsong-4 é um satélite de observação da Terra, estando equipado com dispositivos de comunicações e dispositivos de obtenção de imagens. O satélite entrou em órbita terrestre às 0039:46UTC, tendo ficado colocado numa órbita com um perigeu a 494,6 km, apogeu a 500 km, inclinação orbital de 97,4.º e período orbital de 94 minutos e 24 segundos.
O foguetão Unha-3
A Coreia do Norte está impedida por várias resoluções das Nações Unidas de desenvolver tecnologias que sejam aplicadas no desenvolvimento de mísseis balísticos intercontinentais. Por outro lado, a Coreia do Norte sempre fez tábua rasa dessas resoluções, fazendo salientar o seu direito legítimo ao desenvolvimento destas tecnologias como forma de garantir a sua independência e segurança.
O que é o Unha-3 (은하-3), lendo-se ‘Un-ha’, – um foguetão pacífico ou um míssil ameaçador? Na verdade é um pouco de ambos. Ryu Gum Chol, Director Executivo da Exploração Espacial no Departamento de Tecnologia Espacial da Coreia do Norte, referiu que o Kwangmyongsong-3, colocado em órbita a 12 de Dezembro de 2012, pesava somente 100 kg e que para uma arma, este peso seria pouco eficaz. Por outro lado, sublinhou que o lançamento de um míssil balístico intercontinental necessitaria de uma tecnologia mais avançada e que não teria lugar de uma posição fixa. Ora, a referência à massa do Kwangmyongsong-3 como forma de justificar a veia pacífica deste lançador pode levar em erro, pois um míssil balístico de dois estágios baseado no Unha-3 teria uma capacidade de carga muito superior a 100 kg. Sabendo que os Estados Unidos possuem ogivas nucleares com uma massa de cerca de 100 kg e admitindo que a Coreia do Norte ainda não foi capaz de fabricar ogivas deste tipo, logo este míssil desenvolvido a partir do Unha-3 poderá ser utilizado para o transporte destas ogivas mais pesadas. A referência à necessidade de se proceder a um lançamento a partir de uma posição móvel para se justificar a natureza militar de um vector deste tipo, também é enganadora. Tanto a União Soviética (R-7, etc.) como os Estados Unidos (Redstone, Atlas, Titan, etc.) desenvolveram mísseis balísticos intercontinentais que eram lançados a partir de posições fixas.
O Unha-3 (ou o Kwangmyongsong) é um lançador a três estágios com um comprimento de 32 metros e uma massa de cerca de 85.000 kg no lançamento. O primeiro estágio tem um diâmetro de 2,40 metros e um comprimento de 15 metros, o segundo estágio um diâmetro de 1,5 metros e um comprimento de 9,3 metros (valor estimado), e o terceiro estágio um diâmetro de 1,2 metros e um comprimento de 3,7 metros (valor estimado). O compartimento de transporte de carga tem um comprimento de 2 metros. É muito semelhante ao foguetão Unha-2 utilizado em Abril de 2009, com a excepção do terceiro estágio parecer ligeiramente mais alongado.
Possivelmente o primeiro estágio está equipado com quatro motores Nodong derivados dos motores Scud, com o segundo estágio a utilizar tecnologia derivada do míssil balístico R-27. Aparentemente o terceiro estágio do Unha-3 é semelhante ao segundo estágio do foguetão iraniano Safir que está equipado com dois motores orientáveis.
Todos os estágios do Unha-3 consomem UDMH/N2O4 em vez de UDMH/AK-27 como acontecia com o Unha-2, sendo os motores de maior potência. A força que desenvolve no lançamento será de 1.1312 kN em vez dos 1.137 kN como acontecia com o Unha-2.