Lançada missão da ESA que irá mapear mil milhões de estrelas

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A missão Gaia da ESA descolou esta manhã num foguete Soyuz, do Porto Espacial Europeu, em Kourou, na Guiana Francesa, numa importante missão de estudo de mil milhões de sóis. 

A missão Gaia destina-se a criar o mapa mais preciso de sempre da Via Láctea. Fazendo medições exactas das posições e movimento de 1% da população total de cerca de 100 mil milhões de estrelas, irá responder a questões sobre a origem e evolução da nossa Galáxia. 

O lançador Soyuz, operado pela Arianespace, descolou às 09:12 GMT (10:12 CET). Cerca de dez minutos mais tarde, depois da separação dos primeiros três andares, a parte superior Fregat acendeu-se, levando o satélite até uma órbita temporária a uma altitude de 175 km. 

Um segundo disparo do Fregat, 11 minutos depois, levou Gaia até à sua órbita de transferência. A separação do andar superior aconteceu 42 minutos depois da descolagem. A telemetria no solo e o controle da atitude foram estabilizados pelos controladores no centro de operações da ESA em Darmstadt, Alemanha, e o satélite começou a activar os seus sistemas.  

O escudo solar, que mantém Gaia na sua temperatura de funcionamento e transporta os painéis solares que alimentam o satélite, foi desenrolado numa sequência automática de 10 minutos, concluída cerca de 88 minutos depois do lançamento.  

Gaia está agora a caminho, em direcção a uma rota estável gravitacionalmente em torno do ponto virtual chamado L2, a cerca de 1,5 milhões de quilómetros da Terra.  

Amanhã, os engenheiros irão ordenar ao satélite que faça o primeiro de dois disparos do sistema de propulsão para garantir que está na trajectória certa em direcção à órbita no L2. Cerca de 20 dias depois do lançamento, será feito o segundo disparo, inserindo-o na sua órbita operacional em redor do L2. 

Uma fase de comissionamento de quatro meses irá começar a caminho do L2, durante a qual todos os sistemas e instrumentos serão ligados, verificados e calibrados. Depois disso, Gaia estará pronto para começar a sua missão científica de cinco anos. 

O seu escudo solar irá bloquear o calor e a luz do Sol e da Terra, fornecendo o ambiente estável necessário, para que os seus sofisticados instrumentos possam fazer um censo extraordinariamente sensível e preciso das estrelas da Via Láctea.  

 “A Gaia segue-se ao legado deixado pela primeira missão de mapeamento de estrelas da ESA, a Hopparcos, lançada em 1989, para revelar a história da galáxia em que vivemos,” diz Jean-Jacques Dordain, Diretor Geral da ESA.

“É graças à perícia da indústria espacial europeia e à comunidade científica que esta missão de próxima geração está a caminho de fazer descobertas revolucionárias sobre a nossa Via Láctea.  ”  

 

Examinando o céu repetidamente, Gaia irá observar cada uma das mil milhões de estrelas, uma média de 70 vezes, ao longo dos cinco anos. Irá medir a posição e as principais propriedades físicas de cada uma das estrelas, incluindo o seu brilho, a temperatura e composição química. 

Tirando partido da ligeira mudança de perspectiva que ocorre ao longo de um ano, enquanto o satélite dá a volta ao Sol, o equipamento irá medir a distância entre as estrelas. Observando-as pacientemente ao longo de toda a missão, irá ainda estudar o seu movimento no céu. 

A posição, movimento e propriedades de cada estrela fornecem-nos pistas sobre a sua história e o enorme censo feito pela missão Gaia irá permitir aos cientistas montar a ‘árvore genealógica’ da nossa Galáxia. 

Os movimentos das estrelas podem ser ‘rebobinados’ de forma a aprendermos como estas se formaram e como se montou a Via Láctea ao longo de milhares de milhões de anos, a partir da fusão das galáxias mais pequenas. Também é possível avançar mais rapidamente, de forma a conhecer-se o seu destino final.  

 “A Gaia representa um sonho dos astrónomos, ao longo da história, desde os tempos das observações pioneiras feitas pelos gregos antigos, como Hipparchus, que catalogou as posições relativas de milhares de estrelas com observações a olho nu e geometria simples”, diz Alvaro Giménez, Director de Ciência e Exploração Robótica da ESA. 

Mais de dois mil anos depois, Gaia não irá apenas produzir um censo estelar sem par, mas tem também o potencial de descobrir novos asteróides, planetas e estrelas em fim de vida.” 

Pela comparação dos repetidos scans ao céu, Gaia irá também descobrir centenas de milhares de supernovas, os gritos de morte das estrelas à medida que elas atingem o fim das suas vidas e explodem. E ligeiras oscilações nas posições de algumas estrelas deverão revelar a presença de planetas em órbita destas estrelas, à medida que estes arrastam as estrelas de um lado para o outro. 

A Gaia também irá descobrir novos asteróides no nosso Sistema Solar e refinar as órbitas dos já conhecidos, testando com precisão a famosa Teoria Geral da Relatividade de Einstein. 

Ao fim de cinco anos, o arquivo de dados irá exceder um milhão de Gigabytes, o equivalente a cerca de 200 mil DVD de dados. A tarefa de processar e analisar esta montanha de dados ficará a cargo do Consórcio Gaia Data Processing and Analysis, que envolve mais de 400 indivíduos em institutos científicos de toda a Europa.

“Enquanto Hipparcos catalogou 120 000 estrelas, Gaia irá examinar 10 000 mais e com cerca de 40 vezes mais precisão,” diz Timo Prusti, cientista de projecto da ESA para a missão Gaia. 

«Em conjunto com dezenas de milhares de outros objectos celestes, este vasto tesouro irá dar-nos uma nova visão dos nossos vizinhos cósmicos e da sua história, permitindo-nos explorar as propriedades fundamentais do nosso Sistema Solar e da Via Láctea, e o nosso lugar no Universo mais vasto.» 

“Depois de anos de trabalho duro e determinação de todas as pessoas envolvidas na missão, estamos encantados por ver a nossa máquina de descobertas Gaia a caminho do L2, onde prosseguiremos com a nobre tradição europeia de mapear as estrelas, decifrando a história da Via Láctea,” acrescenta Giuseppe Sarri, gestor de projecto da ESA para a missão Gaia.

A nave foi desenhada e construída pela Astrium, com uma equipa principal composta pela Astrium França, Alemanha e Reino Unido.

Notícia e imagem: ESA