A 24 de Janeiro de 2021 o principal responsável pela Agência Espacial do Irão, Morteza Barari, anunciou que a cápsula espacial tripulada desenvolvida pelo Instituto de Investigação Aeroespacial do Irão (Pazhuheshgah-e Havafaza) iria ser entregue à agência espacial em Fevereiro de 2021, podendo ser lançada num voo sub-orbital em Junho de 2022.
O desenvolvimento do programa espacial tripulado do Irão tem sido levado a cabo de forma quase despercebida e por vezes é visto como mero motor de propaganda.
A verdade, é que a república islâmica tem executado os diversos passos no desenvolvimento deste programa que rotula como civil, se bem que são evidentes as ligações ao sector militar. O actual director do Instituto de Investigação Aeroespacial, Abdolfattah Omi, está no grupo de desenvolvimento do projecto Ghahem e o anterior director, Reza Ebrahimi, participou no desvalimento do programa nuclear antes de 2003.
As raízes do programa espacial tripulado podem ser encontradas em 2006 e em 2008 quando o Instituto de Investigação Aeroespacial levou a cabo o lançamento de dois foguetões-sonda cujos desenhos eram baseados no pequeno míssil Nazeat. O objectivo destas missões foi o de obter experiência básica no lançamento de foguetões-sonda e equipamento associado.
Em 2010, o Irão lançou os primeiros seres vivos (um rato, uma tartaruga e vermes) até altitudes de 55 km utilizando foguetões-sonda Kavoshgar-3 e no ano seguinte é apresentado o Kavoshgar-4 derivado do míssil de propulsão sólida Fateh-110. Este novo vector permite o lançamento de bio-cápsulas mais pesadas com sistemas de suporte de vida mais avançados. Os primeiros testes são levados a cabo com macacos de peluche!
Macacos vivos são utilizados em 2011 em em 2012 em testes com os foguetões-sonda Kavoshgar-5 e Kavoshgar-6. Porém, os resultados são desastrosos e os animais acabam por morrer. Em Janeiro de 2013 o Irão leva a cabo um lançamento suborbital com um macaco a bordo. Um foguetão-sonda Kavoshgar-5 é lançado transportando o macaco Pishgam a bordo de uma biocápsula que é recuperada com sucesso. Na altura, Hamid Fazeli, então responsável pela agência espacial do Irão, referia que o plano de enviar criaturas vivas para o espaço fazia parte de um programa a longo prazo que tinha como objectivo lançar seres humanos para lá dos limites da atmosfera terrestre dentro de cinco a oito anos.
A 14 de Dezembro de 2013, é levado a cabo o lançamento da missão Kavoshgar-e Pajuhesh (کاوشگر پژوهش), também denominada Kavoshgar-7, contendo o macaco Fargam a bordo. O lançamento foi levado a cabo desde o Centro Espacial Iman Khomeini e o voo teve uma duração de 120 minutos atingindo uma altitude de 120 km. O macaco foi recuperado com sucesso. Segundo os especialistas iranianos, o voo proporcionou informação necessária para o futuro desenvolvimento do programa espacial tripulado do Irão.
Num esforço para o desenvolvimento do programa espacial tripulado, o Irão levou a cabo o lançamento de oito Kavoshgar em 2016 e 2018, atingindo altitudes entre 175 km e 200 km. Estas missões tinham como objectivo o desenvolvimento das tecnologias necessárias para a sobrevivência de um ser humano no espaço. Numa aprendizagem faseada, os conhecimentos adquiridos seriam posteriormente aplicados no desenvolvimento de uma cápsula espacial tripulada que possivelmente seria lançada ou por uma versão do foguetão Safir-1 ou do lançador Simorgh.
No entanto, o lançamento dos veículos Kavoshgar parou de forma repentina em 2013 simplesmente por falta de fundos. O programa espacial tripulado não seria cancelado, mas o seu desenvolvimento tornar-se-ia muito lento com alguma investigação a ser levada a cabo e com o Irão a exibir modelos da cápsula espacial tripulada em várias ocasiões. Este abrandamento terá sido o resultado de decisões por parte do novo governo de Hassan Rohani que terá cortado os fundos para o desenvolvimento de todo o programa espacial Iraniano.
Em 2018 parece no entanto ter havido uma alteração nas decisões governamentais que foram visíveis com as tentativas de lançamento orbital realizadas a 15 de Janeiro de 2019 – com a perda do satélite Payam-e Amirkabir (پيام اميركبير) devido a problemas com o foguetão Simorgh, a 5 de Fevereiro de 2019 – com a perda do satélite Doosti (دوستی) devido a problemas com o foguetão Safir-1B, e em Agosto de 2019 com a tentativa de lançamento do satélite Nahid-1 que não foi realizada porque o foguetão Safir-1B explodiu na plataforma de lançamento do Centro Espacial Iman Khomeini durante os preparativos para a missão. Uma nova tentativa para colocar um satélite em órbita, o Zafar-1, falharia a 9 de Fevereiro de 2020 devido mais uma vez a problemas com o foguetão Simorgh. No entanto, a 22 de Abril de 2020, o satélite Noor-1 era colocado em órbita utilizando um foguetão Qased a partir de Shahroud.
Em Fevereiro de 2020 o ministro da informação Iraniano, Mohammad Javad Azari Jahromi, anunciava que o Irão iria construir cinco cápsulas espaciais tripuladas. Numa nota cómica, o anuncio vinha acompanhado por uma fotografia de uma criança diante da bandeira Iraniana, vestindo um fato de Carnaval.
Assim, com o recente anuncio por parte de Morteza Barari parece que o Irão retomou o seu caminho no desenvolvimento do programa espacial tripulado que deverá antecipar a sua primeira missão em Junho de 2022.