O Japão realizou o lançamento inaugural do foguetão H3 no dia 7 de Março de 2023, mas infelizmente a sua missão não foi bem sucedida.
O lançamento do foguetão H3-22S (TF#1) teve lugar às 0137:55UTC a partir da Plataforma de Lançamento LP-2 do Complexo de Lançamento Yoshinobu do Centro Espacial de Tanegashima. A fase inicial de propulsão do primeiro estágio decorreu sem problemas, porém o segundo estágio não entrou em ignição levando à perda do lançador e da sua carga. Os contrioladores no Centro Espacial de Tanegashima optaram por activar o sistema de finalização de voo que destruiu o segundo estágio após se tornar evidente que este não iria conseguir finalizar a sua missão.
O lançamento decorreu depois do adiamento ocorrido a 17 de Fevereiro. Neste dia, os motores do primeiro estágio entraram em ignição, mas um problema técnico levou à sua desactivação antes da ignição dos propulsores laterais de combustível sólido. O lançamento não ocorreu devido a um transiente de voltagem (em tensão) no controlador do primeiro estágio do lançador.
O foguetão H3
O foguetão H3 é o novo lançador espacial do Japão cujo objectivo é tornar-se um sistema de lançamento de alta flexibilidade, alta fiabilidade e com um desempenho de alto custo. O seu desenvolvimento foi autorizado a 17 de Maio de 2013, tendo como objectivo um lançamento inaugural em 2020.
O lançador tem várias versões dependendo da escolha da carenagem, do número de motores no primeiro estágio e do número de propulsores laterais, possibilitando assim o lançamento de cargas de vários tamanhos para diferentes tipos de órbitas. A sua capacidade para atingir a órbita geoestacionária será a maior alguma vez conseguida pelo Japão, excedendo as capacidades dos lançadores H-IIA e H-IIB.
Sendo um sucessor dos foguetões H-IIA e H-IIB, o H3 foi desenvolvido para o Japão poder manter uma cesso autónomo ao espaço para o lançamento de satélites e sondas não tripuladas, incluindo importantes missões governamentais, além de satélites comerciais.
O novo foguetão foi desenvolvido pela agência espacial japonesa, JAXA, e pela Mitsubishi Heavy Industries (MHI), além de outras empresas, produzindo um lançador de baixo custo, flexível e fiável.
O H3 foi desenvolvido para atingir três objectivos principais: alta flexibilidade, alta fiabilidade e desempenho de alto custo.
O lançador conseguirá proporcionar um preço de lançamento apropriado e capacidade para as necessidades de cada cliente, ao preparar várias configurações de lançamento. O veículo será também capaz de responder de forma rápida aos requisitos dos clientes para o lançamento das suas cargas ao reduzir o período de preparação para a missão.
Por seu lado, ao herdar o nível de sucesso do foguetão H-IIA, o novo H3 será também um lançador fiável e o preço do serviço de lançamento será inferior se comparado com o preço praticado com o foguetão H-IIA.
O foguetão H3 proporciona dois tipos de carenagens de protecção, duas ou três unidades de propulsão para os motores do primeiro estágio (LE-9) e a possibilidade de ser lançado sem propulsores laterais ou com dois ou quatro propulsores laterais de combustível sólido (SRB-3) para assim poder lançar cargas de vários tamanhos para diferentes órbitas. O novo lançador tem também uma alta capacidade de lançamento para a órbita de transferência para a órbita geossíncrona, excedendo as capacidades dos foguetões H-IIA e H-IIB.
As principais características do lançador H3 ‘standard’ – H3 (H3-24L) – são um comprimento de 63 metros, uma massa total de 574.000 kg (sem cargas) e a utilização de um sistema de orientação inercial como sistema de orientação.
O foguetão H3 é um lançador a dois estágios que pode utilizar uma combinação de propulsores laterais de combustível sólido na fase inicial do lançamento.
Dependendo do seu modelo, o H3 consegue colocar uma carga de 4.000 kg numa órbita sincronizada com o Sol, ou uma carga de 4.000 kg a 7.900 kg numa órbita de transferência para a órbita geossíncrona.
O primeiro estágio consome oxigénio líquido (LOX) e hidrogénio líquido (LH2), podendo ainda ser auxiliado por dois ou quatro propulsores laterais de combustível sólido (SRBs) sendo derivados dos propulsores SRB-A utilizados no foguetão H-IIA. Estes propulsores consomem um combustível tendo por base polibutadieno. O H3 pode também ser lançado sem qualquer propulsor lateral de combustível sólido.
O primeiro estágio pode ser propulsionado por dois ou três motores LE-9 que utilizam um desenho de ciclo expandido semelhante ao utilizado nos motores LE-5B. A massa do combustível e do oxidante do primeiro estágio é de 225.000 kg. Dependendo do número de motores, o primeiro estágio desenvolve uma força de 2.942 kN ou 4.413 kN, com um impulso específico de 425 s e um tempo de queima de 300 s. Com um diâmetro de 5,2 metros, o primeiro estágio tem 37 metros de comprimento. Os propulsores laterais SRB-3 desenvolvem uma força de 2.158 kN, com um impulso específico de 283,6 s. O tempo de queima dos SRB-3 é de 110 s. Com um diâmetro de 2,5 metros, os propulsores laterais têm 15 metros de comprimento.
O segundo estágio é propulsionado por um único motor que é uma versão melhorada do motor LE-5B (LE-5B-3). A massa do combustível e do oxidante do primeiro estágio é de 23.000 kg. Desenvolve uma força máxima de 137 kN e tem um impulso específico de 448 s e um tempo de queima de 686 s. Com um diâmetro de 5,2 metros, o segundo estágio tem 12 metros de comprimento.
O satélite ALOS-3
O satélite Advanced Land Observing Satellite-3(ALOS-3) – “Daichi-3” – era o sucessor da missão óptica do satélite Advanced Land Observation Satellite (ALOS). O sensor a bordo do ALOS-3 foi projectado para obter uma melhorada resolução no solo (0,8 metros) e um alargo varrimento (70 km) de forma simultânea ao se expandir o tamanho e melhorando o seu desempenho relativamente aos satélite ALOS. As observações do ALOS-3 iriam cobrir de forma regular toda a massa terrestre não só do Japão, mas também em toda a superfície da Terra.
O ALOS-3 tinha por objectivo tornar-se uma das chaves principais para a gestão de desastres e de contramedidas dos governos centrais e locais; assim, o ALOS-3 estará sempre pronto para a realização de observações urgentes de áreas afectadas por desastres. Adicionalmente, um sistema para a distribuição de produtos foi também desenvolvido para a entrega de imagens de forma rápida das áreas afectadas antes e depois dos desastres.
Os dados de observação do ALOS-3 deveriam levar a progressos em vários campos devido às suas capacidades de observação únicas; com contribuições significativas para a melhoria da informação geoespacial global e nas áreas da investigação e aplicação na monitorização do ambiente costeiro e da vegetação.
Com uma massa de cerca de 3.000 kg, o ALOS-3 foi desenvolvido pela Mitsubishi Electric Corporation e seria operado pela JAXA. As suas dimensões eram: 5,0 x 16,5 x 3,6 metros. A sua missão deveria ter uma duração de sete anos.
O instrumento a bordo do ALOS-3 era um sistema de observação de largo varrimento e alta resolução óptica, funcionando em modo pancromático com uma resolução de 0,8 metros e uma largura de varrimento de 70 km (nadir), bem como em multibanda (cor) com uma resolução de 3,2 metros e uma largura de varrimento de 70 km (nadir).
Um folheto sobre o ALOS-3 pode ser obtido aqui.
Lançamento do ALOS-3
O foguetão H3-22S (TF1) foi transportado para a plataforma de lançamento a 6 de Março de 2023, iniciando-se os preparativos para a missão. Com a contagem decrescente a decorrer sem problema, a ignição dos motores do primeiro H3 ocorre às 0137UTC do dia 17 de Fevereiro.
Após abandonar a plataforma de lançamento, o H3 inicia um voo vertical e logo de seguida orienta-se no seu azimute de voo. A separação dos propulsores laterais de combustível sólido ocorre a T+1m 56s. A separação da carenagem de protecção da carga ocorre a T+3m 34s.
O final da queima do primeiro estágio ocorre a T+4m 58s e a separação entre o primeiro e o segundo estágio tem lugar a T+5m 5s. A primeira ignição do segundo estágio deveria ocorrer a T+5m 17s e termina a T+16m 36s.
A separação do satélite Daichi-3 (ALOS-3) ocorreria a T+16m 57s.
A T+1h 47m 13s, o segundo estágio realizaria uma manobra para se afastar da órbita onde o Daichi-3 foi colocado. Esta manobra consistiria numa queima com uma duração de 17 segundos.
Dados estatísticos e próximos lançamentos
– Lançamento orbital: 6380
– Lançamento orbital Japão: 128 (2,01%)
– Lançamento orbital Tanegashima: 86 (1,35% – 67,19%)
Os próximos lançamentos orbitais previstos são (hora UTC):
6381 – 08 Mar (1835:??) – Cabo Canaveral SFS, SLC-16 – Terran-1 – #GLHF (#GoodLuckHaveFun)
6382 – 09 Mar (1913:??) – Cabo Canaveral SFS, SLC-40 – Falcon-9 (B1073.7) – OneWeb-L17 (x40)
6383 – 09 Mar (2150:??) – Taiyuan, LC9 – Chang Zheng-4C – ??
6384 – 11 Mar (230:??) – MARS Wallops Ils., LA-0C (LC-2) – Electron/Curie (F34 “Stronger Together”) – Capella-9, Capella-10
6385 – 12 Mar (????:??) – Baikonur, LC200 PU-39 – 8K82KM Proton-M/Briz-M – Olymp-K n.º 12L