Apesar de não ter sido projectado para mapear mudanças na gravidade da Terra ao longo do tempo, o extraordinário satélite da ESA mostrou que o gelo perdido no oeste da Antárctida nos últimos anos deixou a sua assinatura.
Mais do que ter duplicado a sua vida em órbita, o GOCE passou quatro anos a medir a gravidade da Terra com um detalhe sem precedentes.
Os cientistas têm agora o modelo de gravidade mais preciso já produzido. Isto tem levado a uma muito melhor compreensão de muitas facetas do nosso planeta – da fronteira entre a crosta terrestre e o manto superior até à densidade da atmosfera superior.
A gravidade na superfície da Terra varia subtilmente de ponto para ponto, devido a factores como a rotação do planeta e a localização de montanhas e de fossas oceânicas.
Mudanças na massa de grandes mantos de gelo também podem causar pequenas variações locais de gravidade.
Recentemente, as medidas de alta resolução do GOCE sobre a Antárctica entre Novembro de 2009 e Junho de 2012 foram analisadas por cientistas do Instituto de Investigação Geodésica da Alemanha, a Universidade Técnica de Delft, na Holanda, o Laboratório de Propulsão a Jacto, nos EUA, e da Universidade Técnica de Munique, na Alemanha.
Surpreendentemente, os cientistas descobriram que a diminuição da massa de gelo durante este período foi detectada nas medidas do GOCE, embora a missão não tenha sido desenhada para ver mudanças ao longo do tempo.
O uso de dados da força de gravidade para avaliar mudanças nas massas de gelo não é nova. O satélite da NASA-Alemanha Grace, que foi projectado para medir mudanças, tem vindo a fornecer esta informação há mais de 10 anos.
Mas como as medidas do Grace são muito mais grosseiras do que as do GOCE, o satélite da NASA-Alemanha não pode ser usado para ver características como as das ‘bacias hidrográficas’ mais pequenas da Antárctida.
Para fins científicos, a camada de gelo da Antárctida é frequentemente dividida em bacias hidrográficas de forma a que possam ser feitas medidas comparativas para descobrir como é que o gelo em cada bacia está a mudar e a qual é a descarga de gelo para os oceanos. Algumas bacias são muito maiores do que outras.
Através da combinação de medidas de alta resolução do GOCE com informações do Grace, os cientistas podem agora olhar para as alterações na massa de gelo em pequenos sistemas glaciais – obtendo assim maior conhecimento sobre a dinâmica das diversas bacias da Antárctida.
Os cientistas descobriram que a perda de gelo da Antárctida Ocidental entre 2009 e 2012 causou um declive no campo gravitacional sobre a região.
Além disso, os dados do GOCE podem ser usados para ajudar a validar as medidas de altimetria por satélite para se perceberem melhor as mudanças no manto de gelo e do nível do mar.
O satélite CryoSat da ESA, que tem um radar-altímetro, mostrou recentemente que desde 2009 a taxa de perda de gelo no manto da Antárctida Ocidental tem aumentado três vezes por ano.
E, entre 2011 e 2014, a Antárctida como um todo tem vindo a diminuir de volume em 125 quilómetros cúbicos por ano.
Johannes Bouman do Instituto de Investigação Geodésica da Alemanha disse: “Estamos agora a trabalhar com uma equipa interdisciplinar para estender a análise dos dados do GOCE a toda a Antárctida.
“Isto vai-nos ajudar a melhorar a comparação com os resultados do CryoSat para desenharmos um quadro ainda mais confiável das mudanças reais na massa de gelo.”
Esta nova investigação sobre dados de gravidade do GOCE revelando perda de gelo ao longo do tempo está a ser realizada através do projecto Apoio ao Elemento Ciência do programa de Observação da Terra da ESA.
Notícia e imagem: ESA