O primeiro teste tripulado do Programa Gemini foi levado a cabo na missão Gemini-III. Esta foi uma missão curta de apenas três órbitas em torno da Terra, mas serviu para iniciar uma série de voos tripulados durante os quais os astronautas americanos ensaiaram todos os passos necessários para a conquista lunar. Nesta missão os dois homens utilizaram os motores de manobra da cápsula para levar a cabo alterações da sua órbita e do plano orbital.
Preparando os voos tripulados
Durante os primeiros dias de Março de 1965 a OMSF (Office of Manned Space Flight) levou a cabo a denominada DCR (Design Certification Review). Decorrendo em Washington, a DCR analisou o estado dos preparativos para a missão, consultando todas as empresas contratadas. Mais tarde a FRR (Flight Readiness Review) revelou problemas menores que foram rapidamente resolvidos. O foguetão lançador Titan-II passou os seus testes finais, por uma simulação de voo, a 18 de Março e a sua FRR foi levada a cabo a 20 de Março. Quando o conselho consultivo MRB (Mission Review Board) levou a cabo a sua reunião a 20 de Março, o estado do tempo era o único factor que poderia impedir o lançamento. Na manhã do dia 21 de Março os responsáveis pelo lançador confirmaram que o veículo estava pronto para o lançamento e pouco depois o FSRB (Flight Safety Review Board) dava luz verde para o lançamento. O abastecimento do lançador teve início às 2322UTC do dia 22 de Março, terminando pelas 0422UTC. A contagem decrescente final teve início às 2100UTC. Incluídas na contagem decrescente encontravam-se os testes estáticos dos sistemas de propulsão da cápsula e do lançador. Estes testes foram a causa de uma acesa disputa entre os astronautas e os responsáveis pelo programa que acabaram por concordar na realização de um ensaio do sistema de controlo de reentrada, deixando de parte o ensaio do sistema OAMS. Os responsáveis preferiam testar os motores laterais da Gemini-III, mas os astronautas queriam testar também os motores posteriores. O assunto acabou por ser resolvido em Maio de 1964 quando o director da NASA responsável pelo Programa Gemini acabou por decidir que ambos os testes seriam levados a cabo.
Virgil Ivan ‘Gus’ Grissom Nascido a 3 de Abril de 1926, Virgil Ivan ‘Gus’ Grissom foi o segundo astronauta americano a viajar no espaço durante um voo sub-orbital realizado a 21 de Julho de 1961 tripulando a missão MR-4 Liberty Bell-7. Esta missão teve uma duração de 15 minutos e 37 segundos. Virgil Grissom foi o 4.º ser humano a viajar no espaço. Foi Comandante da missão Gemini-III lançada a 23 de Março de 1965, o primeiro voo tripulado do Programa Gemini. A missão teve uma duração de 4 horas 53 minutos e 00 segundos. Grissom foi o primeiro astronauta americano e o primeiro ser humano a realizar dois voos espaciais, apesar deste ter sido o seu primeiro voo orbital. Virgil Grissom viria a falecer a 27 de Janeiro de 1967 durante um ensaio a bordo da cápsula Apollo AS-204 (Apollo-1) juntamente com os astronautas Edward Huggins White 2nd e Roger Chaffee. |
Virgil Grissom e John Young, que haviam levado a cabo uma revisão do seu plano de voo e iniciaram o seu período de descanso às 0100UTC, foram despertados às 1000UTC. Após o pequeno-almoço, foram conduzidos desde as instalações localizadas em Merrit Island para a Plataforma de Lançamento LC-16 onde se localizada a sala de preparação para o voo. Os dois homens chegaram às LC-16 por volta das 1100UTC e pelas 1145UTC já haviam envergado os seus fatos espaciais. Pouco após as 1200UTC, os dois astronautas foram transportados para a Plataforma de Lançamento LC-19. Após chegarem à plataforma de lançamento os astronautas entraram no elevador de acesso ao 11.º piso e pelas 1930UTC já se encontravam no interior da Gemini-III com as escotilhas de acesso encerradas e seladas. Devido ao facto de a contagem decrescente decorrer quase sem problemas, os controladores acabaram por ficar vinte minutos adiantados em relação ao plano inicial. Após a missão John Young queixou-se por este facto, pois estar tanto tempo deitado de costas no interior de um fato espacial não era muito confortável e a espera inicial já era má demais.
Lançamento
Durante a contagem decrescente as condições atmosféricas foram sempre o grande ponto de interrogação para o lançamento. Esperava-se que as condições atmosféricas melhorassem durante a contagem decrescente, mas tal não aconteceu. Estando dentro da cápsula quase uma hora, foi com insatisfação de os dois homens ouviram que a contagem decrescente seria interrompida a T-35 minutos devido a uma fuga numa conduta de oxidante no primeiro estágio do lançador. O problema acabou por ser resolvido manualmente, mas a contagem decrescente acabou por ser adiada por mais 24 minutos de forma a se verificar que a fuga estava extinta. Quando a contagem decrescente foi retomada, as condições atmosféricas haviam melhorado e as nuvens sobre o Cabo Canaveral começavam a se dissipar. Às 1424UTC os motores do Titan-II GLV-3 entraram em ignição e escutavam-se as palavras “You’re on your way, Molly Brown!!”, proferidas pelo astronauta Leroy Gordon Cooper que tinha a tarefa de CapCom (Capsule Comunicator).
Oficialmente conhecida como Gemini-III, de forma não oficial esta foi a viagem da Molly Brown. Durante o Projecto Mercury, cada astronauta baptizara a sua cápsula espacial, apesar de Gordon Cooper ter tido dificuldade em convencer a NASA em deixá-lo baptizar a sua cápsula coma designação ‘Faith 7’. Da mesma forma, Grisson e Young tiveram dificuldade em convencer a NASA em deixar baptizar a sua cápsula com a designação ‘Molly Brown’. Virgil Grissom perdeu a sua primeira cápsula, ‘Liberty Bell 7’ após o seu voo suborbital de 15 minutos devido à inesperada abertura da escotilha quando a cápsula ainda se encontrava no oceano sem estar segura pelo helicóptero de resgate. ‘Molly Brown’ era a infundável heroína de um musical da Broadway, e parecia a escolha perfeita para designar esta sua segunda missão. A NASA achou que esta era uma designação sem dignidade, mas devido ao facto de a segunda escolha de Grissom (‘Titanic’!!) não ser muito apelativa, consentiram que a designação ‘Molly Brown’ permanecesse de forma não oficial. Mais tarde todas as cápsulas Gemini foram designadas por um numeral romano, apesar de algumas outras terem sido também baptizadas pelos seus tripulantes.
John Watts Young Nascido a 24 de Setembro de 1930, John Watts Young realizou o seu baptismo espacial a bordo da Gemini-III. Posteriormente foi suplente de Thomas Patten Stafford na missão Gemini-VIA e Comandante da missão Gemini-X lançada a 18 de Julho de 1966. Juntamente com o astronauta Michael Collins, Young realizou uma missão de 2 dias 22 horas 46 minutos e 39 segundos. Foi o 5.º astronauta dos Estados Unidos e o 5.º ser humano a realizar dois voos espaciais orbitais. O seu terceiro voo espacial foi a bordo da Apollo-10 entre 18 e 26 de Maio de 1969. Numa missão de 8 dias 0h 3 minutos e 23 segundos, Young e os astronautas Thomas Patten Stafford e Eugene Andrew Cernan, ensaiaram os passos finais antes da missão Apollo-11. Young tornou-se no 3.º astronauta dos Estados Unidos e no 3.º ser humano a realizar três voos espaciais orbitais. John Young voltaria à Lua como Comandante da missão Apollo-16 entre 16 e 27 de Abril de 1972. Juntamente com Charles Moss Duke, Jr. levou a cabo três actividades extraveículares na superfície lunar. Esta missão teve uma duração de 11 dias 1 hora 51 minutos e 5 segundos, com Young a tornar-se no 2.º astronauta americano e no 2.º ser humano a realizar quatro missões espaciais orbitais. O quinto voo de Young foi como Comandante da missão STS-1, o voo inaugural do programa dos vaivéns espaciais a bordo do veículo OV-102 Columbia. Lançado a 12 de Abril de 1981 este voo teve uma duração de 2 dias 6 horas 20 minutos e 53 segundos. Juntamente com Robert Laurel Crippen, Young testou todos os sistemas do vaivém espacial ao mesmo tempo que se tornava no primeiro a realizar cinco voos no espaço. A sexta e última missão de Young iniciou-se a 28 de Novembro de 1983 como Comandante da missão STS-9 Spacelab-1 a bordo do Columbia. Este voo de 9 dias 7 horas 47 minutos e 24 segundos levou a cabo uma série de experiências científicas a bordo do laboratório europeu alojado no porão do vaivém. |
O lançamento da Molly Brown foi tão suave que nem Grissom nem Young se aperceberam, ficando espantados quando o cronómetro de bordo começou a contar o tempo de voo no painel de instrumentos ao mesmo tempo que a voz de Cooper anunciava o início da missão. Havia muito menos ruído do que o que tinha sido escutado nos simuladores de voo. Quando se deu o final da queima do primeiro estágio do lançador, as forças de aceleração caíram abruptamente de 6 g para 1g. O segundo estágio entrou então em ignição, inundando a cápsula com uma luz laranja amarelada que desconcertou Young no momento em que este olhou pela escotilha, apercebendo-se que este era a consequência normal da ignição do segundo estágio antes da separação do primeiro (este facto é denominado “Fire-in-the hole staging” pelos astronautas). O veículo lançador havia excedido ligeiramente a sua força prevista, mas um aviso por parte de Cooper preparou os dois homens para uma maior aceleração quando o segundo estágio entrou em ignição. Este foi o primeiro voo espacial de Young, que ficou maravilhado pela visão do horizonte terrestre e pela sensação de movimento rápido à medida que a força de propulsão do segundo estágio ia aumentando.
A queima do segundo estágio terminava cinco minutos e meio após o lançamento de Cabo Canaveral. A cápsula foi separada do segundo estágio pela explosão de pequenas cargas pirotécnicas e logo após Grissom accionou os propulsores posteriores para proporcionar o impulso final para a órbita terrestre. Porém, Grissom perdeu a noção do tempo e permitiu que a ignição tivesse uma duração superior ao previsto. Isto fez com que no painel de instrumentos surgisse um ‘2’, indicando uma velocidade ligeiramente superior à prevista. A cápsula ficou colocada numa órbita com um apogeu a 175 km de altitude e um perigeu a 122 km de altitude.
Tudo tinha corrido bem até este ponto, iniciando-se assim uma missão quase sem problemas. Porém, nem tudo era perfeito e cerca de 20 minutos após entrar em órbita terrestre, e logo após a Molly Brown sair da cobertura proporcionada pela estação das Ilhas Canárias, o indicador de pressão do oxigénio do sistema de controlo ambiental, indicava uma queda abrupta. Young, que tinha como responsabilidade vigiar este indicador, assumiu de forma natural que algo estava mal com o sistema. Porém, uma observação rápida mostrou leituras estranhas em vários outros indicadores e levou à sugestão que o problema se deveria encontrar no sistema de abastecimento eléctrico do painel de instrumentos. Young decidiu então alterar para o sistema secundário de fornecimento de energia e o problema acabou por desaparecer. Todo este episódio, desde a altura em que Young notou a leitura anómala até à alteração para o sistema secundário de fornecimento de energia, demorou 45 segundos, numa clara demonstração dos resultados do treino intensivo levado a cabo antes do voo.
Durante o voo foram levadas a cabo algumas experiências com resultados distintos. A tentativa de Grissom de levar a cabo uma experiência relacionada com o crescimento de células não foi bem sucedida devido ao facto de, tal como mais tarde relatou, ‘ter adrenalina a mais nas suas veias!!!’ levando a que accionasse com demasiada força um comando necessário para a experiência, fazendo com que se partisse. Outra experiência, desta vez relacionada com a radiação espacial, deu muito trabalho a Young, mas este conseguiu realizá-la com sucesso. No entanto, os resultados apesar de sugestivos foram inconclusivos. Expostos a doses quase iguais de radiação, as amostras de sangue a bordo mostraram mais danos do que as amostras de controlo que ficaram no solo. Apesar do efeito ser pequeno, a experiência apontou para uma interacção entre a radiação e alguma espécie de aspecto relacionado com o voo espacial, apesar de não poder ser descortinado qual era esse aspecto e de que forma actuava. Tanto Grissom como Young afirmaram que a maior parte dos problemas com as experiências resultava da diferença entre os materiais que se encontravam a bordo e os materiais com os quais haviam treinado antes do voo. Porém, também admitiram que não se encontravam fascinados com o facto de levar a cabo as experiências e que queriam concretizar, pelo contrário, alguns recordes espaciais.
Um recorde espacial
Grissom e Young tiveram a oportunidade de levar a cabo o seu recorde espacial quando realizaram a primeira alteração orbital. A primeira queima do OAMS foi levada a cabo 90 minutos após o lançamento e teve uma duração exacta de 75 segundos, diminuindo a velocidade da Gemini-III em 15 m/s fazendo com que baixasse para uma órbita quase circular. Quarenta e cinco minutos mais tarde, durante a segunda órbita da missão, o sistema foi de novo activado por Grissom desta vez para testar a capacidade translacional da cápsula e alterar o plano orbital em 1/5 de grau. Durante a terceira órbita, Grissom finalizou o plano de testes com uma queima de 170 segundos que fez baixar o perigeu orbital para uma altitude de 72 km, garantindo assim uma reentrada segura mesmo que os retro-propulsores falhassem.
Os retro-propulsores da Gimini-III funcionaram sem qualquer problema. À medida que a missão se aproximava do seu fim, Grissom e Young percorreram a lista de procedimentos da manobra. Estando tudo pronto, o Piloto accionou os sistemas pirotécnicos que fizeram com que o adaptador se separasse do módulo de reentrada, propulsionando aos dois astronautas o maior abanão da missão. Posteriormente, o interruptor do sistema de retro-travagem foi armado. Um após outro, os quatro motores do sistema foram accionados. Outro conjunto de sistemas pirotécnicos separou o conjunto de propulsores à medida que a Gemini-III levava a cabo uma manobra em arco em direcção à Terra.
Ao lado: O foguetão Titan-II GLV (GT-3) no Complexo de Lançamento LC19 do Cabo Canaveral. Imagem. NASA Centro Espacial Johnson.
A reentrada foi surpreendente para os dois astronautas, tendo no entanto sido semelhante às longas simulações levadas a cabo antes da missão mesmo nas cores que foram observadas e nos padrões do plasma que se formava em torno da cápsula. Young accionou o interruptor que iniciou as experiências de comunicação durante a fase de reentrada um minutos após a formação do plasme em torno da cápsula que impediu as comunicações. Os resultados foram animadores: a grandes níveis de fluxo, os sinais de UHF e em banda-C provenientes da cápsula foram captados por algumas estações terrestres no solo.
Ao lado: A cápsula Gemini-III é recuperada das águas do Oceano Atlântico pelo USS Intrepid durante as operações de recolha. Note-se que a Gemini-III ainda tem o colar de flutuação fixado. Imagem: NASA Centro Espacial Johnson.
No entanto, a Molly Brown parecia ligeiramente fora da sua trajectória prevista. As leituras iniciais mostraram que a cápsula iria amarar a mais de 69 km do ponto inicialmente previsto e os melhores esforços de Grissom para reduzir esta distância não produziram qualquer resultado. Teoricamente, as cápsulas Gemini possuíam uma capacidade suficiente para originar uma capacidade de sustentação que permitissem ser pilotadas para uma aterragem precisa. No entanto, esta capacidade de sustentação ficou aquém do que havia sido previsto nos túneis de vento. Como resultado a Gemini-III encontrava-se a 84 km do ponto de amaragem. Os dois astronautas sofreram outro abanão quando a cápsula assumiu a sua atitude de amaragem. Antes da abertura do pára-quedas principal, a cápsula encontrava-se literalmente pendurada na vertical com a sua parte frontal e com um ponto de sustentação. Antes da amaragem, a posição da cápsula foi alterada para uma posição na qual se encontrava suspensa com dois pontos de sustentação, tendo a sua parte frontal elevada 35.º em relação ao horizonte. Quando a Gemini-III ficou na sua posição de amaragem, a alteração foi tão abrupta que fez com que os dois homens embatessem no painel de instrumentos, partindo o vidro do capacete de Grissom e arranhando o visor de Young.
Em comparação a amaragem foi suave. A apesar das cápsulas Gemini terem sido desenhadas para flutuar, tudo o que Grissom via na sua escotilha era água!!!! Foi então que se apercebeu que o pára-quedas que ainda permanecia ligado à cápsula estava a ser arrastado pelo vento fazendo com que o nariz da Molly Brown mergulhasse na água. Tendo presente a sua primeira missão, Grissom decidiu separar o pára-quedas fazendo com que a cápsula voltasse à superfície. O plano da missão previa que a tripulação permanecesse a bordo até que a cápsula fosse recolhida no que seria uma curta espera se o porta-aviões Intrepid se encontrasse a 8 km de distância tal como os dois homens haviam escutados momentos antes da amaragem. Quando se aperceberam que a distância real era de cerca de 110 km, Grissom solicitou um helicóptero para os recolher e transportar para o porta-aviões. Com a Libery Bell 7 sempre presente, Grissom recusou-se a abrir a escotilha até que os mergulhadores da Marinha dos Estados Unidos colocassem o colar de flutuação em torno da cápsula. A cápsula não se afundaria, mas os dois homens tiverem de esperar uns longos 30 minutos à medida que o veículo ia aquecendo no seu interior e navegava sobre as longas ondas do Oceano Atlântico. Eventualmente, o calor e os movimentos fizeram com que Grissom vomitasse, mas Young foi capaz de conservar o seu pequeno-almoço do estômago. Mal o colar de flutuação foi colocado em torno na Molly Brown e um mergulhador acabou por abrir a escotilha, os dois homens não perderam tempo em sair da cápsula e colocar o colete de resgate que permitiu serem içados para o helicóptero.
Os astronautas Virgil Grissom (centro) e John Young (à esquerda) junto de um simulador Gemini juntamente com um responsável da NASA. Imagem: NASA Centro Espacial Johnson.
Os exames médicos e relatórios foram iniciados mal os dois homens se encontravam a bordo do helicóptero de resgate e duraram vários dias. Um pequeno mal-estar surgiu quando Grissom e Young tiveram pouco a dizer acerca das suas observações aos cientistas. Outras questões foram levantadas relativamente ao fracasso com a experiência de crescimento de células, mas a maioria da culpa foi atribuída a uma experiência mal preparada e que foi instalada na cápsula a apenas uma semana antes do voo. Em todo o caso, a curta missão centrou-se numa avaliação do desempenho da cápsula, com uma calendarização que deixava pouco tempo para trabalhos extra.
As duas tripulações da Gemini-III envergando os fatos espaciais pressurizados. Da esquerda para a direita: John Watts Young (Piloto), Virgil Ivan ‘Gus’ Grissom (Comandante); Walter Marty Schirra, Jr. (Comandante Suplente) e Thomas Patten Stafford (Piloto Suplente). Imagem: NASA Centro Espacial Johnson.
Um pequeno escândalo foi fabricado pela imprensa quando esta soube que uma sanduíche havia sido levada a bordo pelos dois homens sem o consentimento dos directores de voo. Walter Schirra havia comprado a sanduíche no então famoso “Wolfie’s” localizado na Avenida do Atlântico Norte, em Cocoa Beach. Schirra passou a sanduíche a Young que a levou para bordo da Gemini-III. Quando chegou a hora da refeição na qual os dois homens deveriam comer as refeições espaciais que transportavam, Young deu a sanduíche a Grissom que acabou por comer só uma pequena parte, pois não desejava ver a sua nave espacial cheia de migalhas a flutuar. Quando a notícia chegou ao Congresso americano os congressistas não ficaram nada satisfeitos. O que não ficou totalmente claro tanto para os legisladores americanos como para a imprensa, foi o facto de que a comida levada a bordo servia apenas para ser avaliada no que dizia respeito ao seu sabor, conveniência, e propriedades de reconstituição, não tendo nada a ver com objectivos científicos ou médicos da missão. Ninguém esperava aprender muito acerca dos efeitos da comida espacial num voo de tão curta duração. Porém, este facto acabou por originar novas e mais restritas regras sobre o que os astronautas poderiam transportar nas cápsulas em futuras missões.
Virgil Grissom no interior da Gemini-III momentos antes do encerramento da escotilha de acesso. Imagem: NASA Centro Espacial Johnson.
A missão da Gemini-III foi um tremendo sucesso no que diz respeito aos seus objectivos. Não poderia haver mais dúvidas sobre o facto de a Gemini estar pronta para desempenhar o seu papel no programa espacial, pois o tempo de ensaios havia terminado.