Dnepr lança ASNARO e quatro pequenos satélites

Dnepr ASNARO 06

Uma carga de cinco satélites japonese foi colocada em órbita às 0735:55UTC do dia 6 de Novembro de 2014 a partir da Base de Dombarovskiy, Yasniy, região de Orenborg – Rússia. O lançamento foi levado a cabo a partir do Complexo de Lançamento LC370/13 pelo foguetão 15A18 Dnepr (5107681109).

A ignição do contentor de gás que expeliu o míssil para o exterior do silo teve lugar às 0735:49UTC. A bordo encontravam-se os satélites ASNARO, Hodoyoshi-1, Chubusat-1, Tsubame e QSAT-EOS. A missão decorreu sem problemas com os satélites a separarem-se do último estágio do lançador como previsto.

ASNARO microsats 000298

A missão foi comercializada pela empresa russa ISC Kosmotras que foi criada em 1997 com o objectivo de desenvolver e levar a cabo a utilização operacional do sistema de lançamentos espaciais Dnepr baseado na tecnologia do míssil balístico intercontinental SS-18, eliminado de acordo com o tratado de redução de armamentos nucleares START.

Este lançamento foi por várias vezes adiado e esteve em dúvida  por razões políticas devido ao facto de o Japão participar nas sanções económicas a Moscovo devido ao conflito na Ucrânia. No entanto, a autorização para o lançamento foi dada a 3 de Novembro. O foguetão Dnepr foi colocado no interior do silo de lançamento em finais de Agosto após a realização de várias actividades de manutenção devido ao facto de haver uma necessidade de se inspeccionar o tubo de lançamento.

Dnepr ASNARO 01

Dnepr ASNARO 02

Dnepr ASNARO 03

Dnepr ASNARO 04

Dnepr ASNARO 05

Dnepr ASNARO 07

Dnepr ASNARO 08

Os cinco satélites a bordo do Dnepr-1

ASNARO-1O satélite ASNARO, também designado Saske, foi a carga principal a bordo desta missão. O projecto do Advanced Satellite with New system Architecture for Observation, foi iniciado em 2008 com o objectivo de estabelecer uma plataforma de satélite de nova geração (NEXTAR NX-300L) baseada numa arquitectura de metodologias de open technology para assim reduzir de forma drástica os custos e o período de desenvolvimento com a adopção de tecnologias electrónicas actuais. A plataforma do satélite é composta por pequenos blocos com a rede Space Wire e utiliza COTS de alta performance com métodos de verificação avançados.

A primeira missão destina-se à observação da ASNARO microsats 000300Terra com um sensor óptico de alta performance cujo resolução será de menos de 1 metro a altitudes entre 400 km e 600 km. A obtenção de imagens e a orientação do sistema de observação requerem tecnologias de controlo automático do sistema e envio de dados através de um sistema avançado de transmissão de banda-X.

O Hodoyoshi-1 é um micro-satélite experimental de observação da Terra construído e desenvolvido pela Universidade de Tóquio juntamente com a NESTRA. O pequeno satélite tem uma massa de cerca de 50 kg e está equipado com um sistema de observação com uma resolução de 6,8 metros.

Hodoyoshi-1

Também designado por Kinshachi, o Chubusat-1 é um micro-satélite desenvolvido em conjunto pelas Universidades de Nagoya e Daido. O satélite tem como missão proceder à observação de detritos espaciais. A sua massa no lançamento era de cerca de 50 kg.

Chubusat-1

small sat

O satélite Tsubame foi desenvolvido para realizar observações astronómicas e de raios-X. O satélite foi desenvolvido em conjunto pelo Instituto de Tecnologia de Tóquio, pela Universidade de Ciência de Tóquio e pela agência espacial japonesa JAXA. O satélite irá proceder à medição da polarização dos fotões de raios-X fortes (30 – 200 KeV) provenientes de explosões de raios gama utilizando a anisotropia de ângulo azimutal de fotões dispersos (utilizando um polarímetro HXCP – Hard X-Ray Compton Polarimeter – e monitores  WBMs – Wide field Burst Monitors) e demonstrar novas tecnologias. O satélite irá também proceder a observações da Terra com câmaras ópticas de alta resolução e demonstrar em órbita a utilização de micro giroscópios de controlo de momento recentemente desenvolvidos.

Tsubame

Desenvolvido pela Universidade de Kyushu, o Kyushu Satellite for Earth Observation System Demonstration (QSAT-EOS), também designado Tsukushi, é um micro-satélite de observação da Terra. Tal como os satélites anteriores, o lançamento do QSAT-EOS estava originalmente previsto para ter lugar em 2012.

QSAT-EOS

ASNARO microsats 000299

DneprO foguetão Dnepr

A resposta soviética ao sistema anti-míssil americano surgiu com o míssil balístico intercontinental R-36M2, também conhecido como SS-18 Satan (ou 15A18). O míssil também era conhecido com o nome Voevoda (que significa líder de um exército, numa óbvia referência ao seu papel). No entanto o R-36M2 foi colocado em serviço num número limitado de unidades devido ao final da Guerra-Fria.

Em Julho de 1979 são emitidas as especificações técnicas e tácticas para um míssil balístico intercontinental de quarta geração com o objectivo de substituir o míssil R-36MUTTKh e que fosse capaz de derrotar o futuro escudo de defesa espacial americano. Em Junho de 1982 o projecto encontrava-se pronto e apresentava motores melhorados e mais resistentes a ataques nucleares. O projecto para o novo motor RD-274 era finalizado em Dezembro de 1982 e o desenvolvimento do motor é concluído em Maio de 1985, sendo o desenho transferido para a Yuzhnoye para futura produção.

O decreto formal que autoriza o desenvolvimento do míssil é emitido a 9 de Agosto de 1983 e nele se inclui o motor RD-0255 do estágio superior e os quatro motores vernier do segundo estágio. O míssil teria um novo sistema de lançamento a gás frio e os ensaios do veículo contendo o sistema de lançamento de múltiplas ogivas 15F173 teve início a 23 de Março de 1986.

O primeiro lançamento foi um desastre total quando o sistema de lançamento a gás foi activado e o resto da sequência de lançamento falhou, resultando na explosão do míssil no silo de lançamento. A explosão fez com que a cobertura com um peso de 100.000 kg fosse projectada no ar e criando uma enorme cratera no Complexo de Lançamento LC101 em Baikonur. Foi impossível executar qualquer trabalho de reparação no silo.

Em Maio de 1986 foi decidido que o sistema de transporte de uma única ogiva 15F175, de fabrico russo, fosse utilizado em vez do sistema 15F173 que era de origem ucraniana. Os testes com o sistema 17F173 foram finalizados em Março de 1988 enquanto que os testes do sistema 17F175 foram iniciados em Abril de 1988 e finalizados em Setembro de 1989. Finalmente a 11 de Agosto de 1988 o míssil R-36M2 e o sistema de lançamento 17F173 foram aceites para serviço, enquanto que o sistema 17F175 era aceite a 23 de Agosto de 1990.

O R-36M2 utilizava um sistema de consumo de propolente que minimizava os resíduos, proporcionando um impulso total de 8.800 kg (igualando o míssil americano Peacekeeper). A versão equipada com ogivas múltiplas poderia transportar até 36 ogivas com alvos distintos, apesar de somente haver sido planeado utilizar 10 ogivas em serviço. As ogivas eram colocadas numa estrutura especial formando dois ‘círculos de morte’. O módulo de pós-propulsão possuía quatro câmaras orientáveis que funcionavam de forma contínua durante a separação das ogivas. O míssil possuía também um novo conjunto de contra medidas que eram consideradas mais adequadas para enfrentar o sistema anti-míssil americano. O seu sistema de orientação era inercial e era resistente ás radiações nucleares ou aos feixes de partículas, podendo ser lançado mesmo após a ocorrência de deflagrações nucleares nas proximidades dos silos. O sistema de orientação estava equipado com sensores para detectar raios gama e fluxões de neutrões, manobrando o veículo durante a ascensão e afastando-o das explosões nucleares. Todo o veículo encontrava-se protegido por um escudo resistente ao calor, explosões ou raios laser.

No total foram construídos 190 mísseis R-36M2, com a Yuzhnoye a desenvolver programas de melhoria dos veículos de forma a prolongar a sua vida útil. No entanto o R-36M2 deveria ser eliminado de acordo com os tratados de redução de armas nucleares START-2. Em 1992 foi dado início à substituição dos R-36M2 pelos mísseis Topol-M e por volta de 1998 somente existiam 58 silos equipados com os velhos mísseis. A Rússia viu-se assim com um excedente de 150 unidades de R-36M2 que deveriam ser destruídos até 2007, porém foi decidido transformar os mísseis no lançador orbital Dnepr.

Durante os anos 90 uma variedade de versões civis dos mísseis R-36M e R-36M2 foram apresentados como lançadores orbitais comerciais. Estes lançadores utilizavam versões civis dos módulos de transporte de ogivas permitindo o lançamento de múltiplos satélites. Os mísseis que seriam utilizados sem qualquer modificação foram apresentados como RS-20K Konversaya.

A versão Dnepr apresentava modificações nos mísseis incluindo a conversão do veículo num lançador a oxigénio líquido e querosene que utilizava uma plataforma de lançamento em lugar de um silo subterrâneo. Ao contrário do que se pensava o interesse comercial neste tipo de lançadores orbitais foi muito reduzido e a designação Dnepr acabou por ser aplicada a todos os veículos descendentes do R-36M2 lançados a partir de silos em Baikonur.

O Dnepr tem um peso de 211.000 kg, sendo capaz de transportar uma carga de 4.500 kg para uma órbita a 200 km de altitude com uma inclinação de 46,2º em relação ao equador terrestre, ou então uma carga de 3.200 kg para uma órbita a 390 km de altitude com uma inclinação de 51,6º. Tem um comprimento de 42,30 metros e um diâmetro de 3,00 metros, tendo uma envergadura de 3,05 metros.

O veículo utiliza propolentes armazenáveis N2O4 / UDMH nos três estágios, estando o primeiro estágio equipado com um motor RD-274 e o segundo estágio equipado com um motor RD-0225.

O Dnepr é capaz de colocar as suas cargas em órbita com uma precisão de +/- 4,0 km no que diz respeito à altitude orbital e +/- 0,04º no que diz respeito à inclinação orbital, podendo ser lançado para inclinações orbitais de 50,5º; 64,5º; 87,3º e 98,0º. A sua fiabilidade actual é de 97%. Este lançador pode ser referido com uma variedade de nomes nomeadamente: RS-20K, Ikar e 15A18M2.

O Dnepr é ejectado por meio de pressão a gás a partir do seu silo subterrâneo com o motor do primeiro estágio a entrar em ignição após o míssil abandonar o silo.

Dnepr siloredux

Dados Estatísticos e próximos lançamentos

– Lançamento orbital: 5406

– Lançamento orbital com sucesso: 5057

– Lançamento orbital Rússia: 31747

– Lançamento orbital Rússia com sucesso: 2994

– Lançamento orbital desde Dombarovskiy: 9

– Lançamento orbital desde Dombarovskiy com sucesso: 9

A seguinte tabela mostra os totais de lançamentos executados este ano em relação aos previstos para cada polígono à data deste lançamento: 1ª coluna – lançamentos efectuados (lançamentos fracassados); 2ª coluna – lançamentos previstos à data; 3ª coluna – satélites lançados:

Baikonur – 16 (1) / 22 / 24

Plesetsk – 6 / 10 / 10

Dombarovskiy – 2 / 2 / 42

Cabo Canaveral AFS – 15 / 17 / 28

Wallops Island MARS – 3 (1) / 3 / 63

Vandenberg AFB – 3 / 6 / 2

Jiuquan – 5 / 7* / 7

Xichang – 1 / 3 / 1

Taiyuan – 3/ 5* / 5

Tanegashima – 3 / 4 / 14

Kourou – 9 / 11 / 17

Satish Dawan, SHAR – 4 / 4 / 8

Odyssey – 1 / 1 / 1

Palmachim – 1 / 1 / 1

* Valores não precisos

Dos lançamentos bem sucedidos levados a cabo: 32,9% foram realizados pela Rússia; 28,6% pelos Estados Unidos (incluindo ULA, SpaceX e Orbital SC); 12,9% pela China; 12,9% pela Arianespace; 4,3% pelo Japão, 5,7% pela Índia, 1,4% por Israel e 1,4% pela Sea Launch.

Os próximos lançamentos orbitais previstos são (hora UTC):

23 Nov (2059:00) – 11A511U-FG Soyuz-FG (051) – Baikonur, LC1 PU-5 – Soyuz TMA-15M (Союз ТМА-15М)

27 Nov (2124:33) – 8K82KM Proton-M/Briz-M (93549/99552) – Baikonur, LC200 PU-39 – Astra-2G

30 Nov (0424:48) – H-2A/202 (F-26) – Tanegashima, Yoshinobu, LP1 – Hayabusa-2; PROCYON; ARTSAT2-DESPATCH; Shin’en-2

30 Nov (????:??) – 14A14-1B Soyuz-2-1B/Fregat-M – GIK-1 Plesetsk, LC43/4 – GLONASS-K1 n.º 12L

?? Nov (????:??) – CZ-4C Chang Zheng-4C – Jiuquan, Lc43/603 – YG-23 Yaogan Weixing-23 (遥感卫星23号)