Uma estação terrestre da ESA desmantelada na Austrália voltará ao serviço nos Açores, com destaque para uma reutilização inovadora que beneficia tanto a Agência como a indústria Europeia.
Em Dezembro de 2015, uma antiga estação terrestre de monitorização da ESA, com 30 anos, localizada em Perth, Austrália Ocidental, teve de ser fechada devido a restrições de espectro de rádio impostas pela autoridade nacional de telecomunicações.
O encerramento vem num momento em que a rede de estações terrestres Estrack da ESA – que compreende uma mistura de três modernas estações do espaço profundo de 35m e uma mistura de estações terrestres mais antigas de 15m e menores – se está a adaptar às pressões evolutivas, especialmente a necessidade de aumentar a capacidade de descarregar os dados científicos para futuras missões de exploração, como Juice, Euclides e BepiColombo.
“Ao mesmo tempo, há uma necessidade de apoiar o desenvolvimento de capacidades de serviço de monitorização comerciais dentro da indústria Europeia”, diz Manfred Lugert, responsável pela rede Estrack no centro de controlo ESOC da ESA em Darmstadt, Alemanha.
“A rede Estrack deve, contudo, manter e desenvolver capacidades específicas para a monitorização de satélites recém-lançados e foguetões, e fornecer um apoio dedicado em caso de eventuais contingências das naves espaciais.”
Os custos estimados para simplesmente demolir a estação de Perth foram significativos, de modo que a situação exigia uma solução inovadora que beneficiasse tanto a ESA como a indústria Europeia.
Uma solução no Oceano Atlântico
Durante quase uma década, a ESA tem trabalhado em estreita cooperação com Portugal para manter e operar uma antena de monitorização de foguetões de 5.5m, na ilha de Santa Maria, nos Açores. A localização a meio do Atlântico da ilha é ideal para a monitorização de foguetões, tais como Soyuz e Ariane, que decolam do Porto Espacial Europeu em Kourou, na Guiana Francesa.
Esta cooperação permitiu aos parceiros industriais locais desenvolver e expandir a sua capacidade de fornecer serviços de monitorização, e Portugal, um estado-membro da ESA, estava ansioso para expandir estes serviços, se possível.
Em Dezembro de 2015, Portugal manifestou o desejo de adquirir a antena Perth com o objectivo de modernização e reabertura da mesma na estação de Santa Maria, proporcionando novas oportunidades para a indústria nacional portuguesa.
“A ESA concordou, em princípio, e nós trabalhámos com os nossos parceiros portugueses para desenvolver um plano no qual a antena possa ser usada para fornecer serviços de monitorização para uma gama de clientes, incluindo as próprias missões científicas da Agência, a transferência dos dados de observação da Terra e, potencialmente, o acompanhamento da missão Proba-3”, diz Thomas Beck, responsável pelos serviços externos que envolvem a rede Estrack.
“Isso vai ajudar a fornecer uma expansão de oportunidades comerciais e científicas para a indústria Portuguesa, permitindo também à ESA adquirir serviços de monitorização, quando necessário, por isso é, na realidade, uma solução em que ambos saem a ganhar.”
Relocalização a longa distância
A antena de Perth e os equipamentos associados serão transferidos sem nenhum custo para Portugal; o desmantelamento em Perth, transporte para Santa Maria e reconstrução da antena será realizada mediante um contrato da ESA, financiado quase na totalidade por Portugal. O governo regional dos Açores irá fornecer alguma da nova infraestrutura local para acomodar a grande antena.
A 29 de Agosto, o Ministro Português da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior, Manuel Heitor, e o Director Geral da ESA Jan Woerner formalizaram a intenção de Portugal em adquirir a antena através da assinatura do correspondente documento na sede da ESA, em Paris.
Para a ESA, a iniciativa significa que a rede Estrack da Agência, que num ano normal fornece mais de 50 000 horas de serviços de monitorização, através de nove estações centrais em sete países, para apoiar cerca de duas dúzias de naves espaciais, terá acesso a um valioso recurso adicional de monitorização externa.
“Embora seja importante para a ESA desenvolver e manter uma gama completa de capacidades e competências de voo espacial, também é importante para nós ajudar os nossos Estados-Membros e a indústria Europeia a desenvolverem competências com valor comercial”, diz Rolf Densing, Director de Operações da ESA.
“Estamos encantados que a venerável infraestrutura da ESA possa ser utilizada por Portugal, dando um impulso na competitividade Europeia no espaço.”
Notícia e imagens: ESA
Texto corrigido para Língua Portuguesa pré-AO90