O satélite de detecção remota CSG-2 foi colocado em órbita às 2311:14UTC do dia 31 de Janeiro de 2022 pelo foguetão Falcon 9-138 (B1052.3) da empresa norte-americana SpaceX. O lançamento teve lugar a partir do Complexo de Lançamento SLC-40 do Cabo Canaveral SFS, após a realização de um teste estáctico bem sucedido a 23 de Janeiro.
O lançamento estava previsto para ter lugar a 27 de Janeiro, mas foi adiado devido às más condições meteorológicas em dias sucessivos. No dia 30 de Janeiro o adiamento ficaria a dever-se à violação da zona de segurança por parte de um navio de cruzeiro.
Apesar de ser a terceira utilização do primeiro estágio B1052 – tendo sido anteriormente utilizado em duas missões do Falcon Heavy – esta é a primeira vez que é utilizado como primeiro estágio numa missão individual. Por seu lado, uma das metades da carenagem de protecção já foi anteriormente urilizada na missão Transporter-1 e Transporter-2, e numa missão Starlink, com a outra metade a ter sido utilizada no lançamento do satélite SAOCOM-1B, na missão Transporter-2 e numa missão Starlink.
O CSG-2 (COSMO-SkyMed second generation – Constellation of Small Satellites for Mediterranean basin observation) é o segundo de uma série de satélites de observação da Terra da Agência Espacial Italiana para substituir a primeira geração de satélites do sistema COSMO-SkyMed. O satélite tem uma dupla utilização civil e militar.
O satélite foi desenvolvido pela Thales Alenia Space sendo baseado na plataforma Prima Bus, tendo uma massa de 2.205 kg. Está equipado com o radar SAR CSG-SAR (COSMO-SkyMed Second Generation Synthetic Aperture Radar) operando a 9,6 GHz. A segunda geração destes satélites foi reduzida para dois veículos, sendo estes versões melhoradas do desenho original.
O CSG-1 foi colocado em órbita a 18 de Dezembro de 2019 pelo foguetão 372RN21A Soyuz-ST-A/Fregat-M (VS23/R15000-008/133-12) a partir do Complexo de Lançamento ELS do CSG Kourou, Guiana Francesa.
Lançamento
A cerca de dez horas do lançamento procede-se à activação eléctrica do foguetão Falcon-9. Tanto o lançador como a sua carga são submetidos a uma série de verificações testes antes do início do abastecimento do querosene RP-1. O Director de Voo consulta os controladores a T-38m, determinando assim se tudo está pronto para o início do abastecimento do lançador. O processo de abastecimento de RP-1 inicia-se a T-35m no primeiro estagio, seguindo-se o início do abastecimento do oxigénio líquido (LOX) na mesma altura. O abastecimento de LOX ao segundo estagio inicia-se a T-16m.
A fase terminal da contagem decrescente inicia-se com os motores a serem condicionados termicamente para o lançamento a T-7m. A T-1m é enviado um comando para o computador de voo para iniciar as verificações pré-lançamento e o sistema de supressão sónica é activado na plataforma de lançamento que é inundada por milhões de litros de água. Por esta altura os tanques de propelente também são pressurizados. A T-45s o Director de Lançamento da SpaceX verifica se todos os parâmetros estão prontos para a missão, sendo também verificado que o espaço aéreo está pronto para o lançamento. A sequência de ignição é iniciada a T-3s. A T=0s o foguetão abandona a plataforma.
Abandonando a plataforma de lançamento, o Falcon-9 inicia uma série de manobras para se colocar na trajectória de voo correcta. A fase MaxQ, de máxima pressão dinâmica, é atingida a T+1m 12s. É nesta altura que o lançador atinge o ponto mais elevado de ‘stress’ mecânico na sua estrutura.
O final da queima do primeiro estágio (MECO – Main Engine Cut-Off) ocorre a T+2m 15s, dando-se quatro segundos depois a separação entre o primeiro e o segundo estágio, com este a entrar em ignição pela primeira vez a T+2m 27s. A queima da manobra de regresso do primeiro estágio ocorre entre T+2m 32s e T+3m 20s. A ejecção da carenagem de protecção ocorre a T+3m 45s. A queima de reentrada do primeiro estágio ocorre entre T+6m 11s e T+6m 32s, enquanto a queima de aterragem ocorre a T+7m 22s, aterrando na Landing Zone-1 do Cabo Canaveral a T+7m 56s.
O final da primeira queima do segundo estágio (SECO) ocorre a T+8m 44s. No final desta queima, o segundo estágio atinge uma órbita de parqueamento onde irá permanecer até T+56m 1s, altura em que inicia a seua segunda queima que terminará (SECO-2) a T+56m 4s. A separação do satélite CSG-2 a ocorre a T+1h 00m 5s.
O foguetão Falcon-9
Baptizado em nome da nave Millenium Falcon da saga cinematográfica “Guerra das Estrelas”, o foguetão Falcon-9 v1.1 é um lançador a dois estágios projectado e fabricado pela SpaceX para o transporte seguro e fiável de satélites e do veículo Dragon para a órbita terrestre. Sendo o primeiro foguetão completamente desenvolvido no Século XXI, este lançador foi projectado desde o início para ter a máxima fiabilidade. A sua simples configuração de dois estágios minimiza o número de eventos de separação (staging) e com nove motores no primeiro estágio, pode completar a sua missão em segurança mesmo na possibilidade de perda de um motor.
O Falcon-9 fez história em 2012 quando colocou a cápsula Dragon na órbita correcta para uma manobra de encontro com a estação espacial internacional, fazendo da SpaceX a primeira companhia comercial a visitar a ISS. Desde então, a SpaceX realizou múltiplas missões para a ISS transportando e recolhendo carga para a NASA. O Falcon-9, bem como a cápsula Dragon, foram desenhados na base do desenvolvimento de um sistema de transporte de astronautas para o espaço e num acordo com a NASA, a SpaceX está activamente a trabalhar para atingir esse objectivo.
O foguetão Falcon-9 Upgrade, ou Falcon-9 FT, (a seguir designado simplesmente como ‘Falcon-9’) representa a mais recente evolução deste lançador. De forma geral o Falcon-9 tem 68,4 metros de comprimento, 3,7 metros de diâmetro e uma massa de 541.300 kg. O veículo é capaz de colocar uma carga de 13.150 kg numa órbita terrestre baixa ou 4.850 kg numa órbita de transferência geossíncrona.
O primeiro estágio do Falcon-9 está equipado com nove motores Merlin (Merlin-1D) e tanque de liga de alumínio e lítio que contêm oxigénio líquido e querosene RP-1. Após a ignição, um sistema de segurança fixa o veículo na plataforma de lançamento e garante que todos os motores são verificados como estando na força máxima antes de libertar o foguetão para o seu voo. Então, com uma força superior a cinco aviões Boeing 747 em potência máxima, os motores Merlin lançam o foguetão para o espaço. Ao contrário dos aviões, a força de um foguetão vai aumentando com a altitude – o Falcon-9 gera 6.806 kN ao nível do mar mas atinge 7.426 kN no vácuo espacial. Os motores do primeiro estágio vão sendo aumentados em potência perto do final da queima do estágio para assim limitar a aceleração do veículo à medida que a massa do lançador vai diminuindo com a queima do combustível. O tempo total de queima do primeiro estágio é de 162 segundos.
Com os seus nove motores agrupados juntos na configuração ‘octaweb’, o Falcon-9 pode aguentar a falha de até dois motores durante o lançamento e mesmo assim conseguir atingir a órbita terrestre com sucesso. O Falcon-9 é o único lançador na sua classe com esta característica chave.
O estágio B1052 Para esta missão a SpaceX utilizou o foguetão Falcon-9 (B1052.3), o que significa que esta é a 3.ª missão do primeiro estágio B1052. Este primeiro estágio nunca foi utilizado de forma individual, tendo servido como propulsor em duas missões do foguetão Falcon Heavy. A sua primeira utilização teve lugar a 11 de Abril de 2019 quando às 2235:00,526UTC foi lançado a partir do Complexo de Lançamento LC-39A do Centro Espacial Kennedy. Nesta missão, o foguetão Falcon Heavy-02 (B1052.1, B1053.1, B1055.1) colocou em órbita o satélite de comunicações Arabsat-6A, sendo então recuperado na LZ-1 do Cabo Canaveral. A sua segunda utilização teve lugar a 25 de Junho de 2019 quando às 0630UTC foi lançado a partir do Complexo de Lançamento LC-39A do Centro Espacial Kennedy. Nesta missão, o foguetão Falcon Heavy-03 (B1052.2, B1057.1, B1053.2) colocou em órbita a missão STP-2 com vários satélites, sendo então recuperado na LZ-1 do Cabo Canaveral. |
O motor Merlin foi desenvolvido internamente pela SpaceX mas vai encontrar as suas raízes aos motores das missões Apollo, nomeadamente o sistema de injecção baseado no motor do módulo lunar. O propolente é alimentado através de uma única conduta, com uma turbo-bomba de dupla pá que opera num ciclo de gerador a gás. A turbo-bomba também fornece o querosene a alta pressão para os actuadores hidráulicos, que depois recicla para a entrada a baixa pressão. Isto elimina a necessidade de um sistema hidráulico separado e significa que não é possível ocorrer uma falha no controlo de vector de força por falta de fluido hidráulico. Uma terceira utilização da turbo-bomba é o fornecimento de controlo de rotação ao actuar no escape da turbina de exaustão (no segundo estágio). Combinando-se estas características num só dispositivo aumenta-se assim de forma significativa o nível de fiabilidade do sistema.
O motor é capaz de desenvolver uma força de 654 kN ao nível do mar, 716 kN no vácuo, com um impulso específico de 282 segundos (nível do mar) e 311 segundos (vácuo).
A secção interestágio é uma estrutura compósita que liga o primeiro e o segundo estágio e alberga os sistemas de libertação e separação. O Falcon-9 utiliza um sistema de separação totalmente pneumático para uma separação de baixo impacto e altamente fiável que pode ser testado no solo, ao contrário dos sistemas pirotécnicos utilizados na maior parte dos lançadores.
O segundo estágio é propulsionado por um único motor Merlin de vácuo e coloca a carga a transportar na órbita desejada. O motor do segundo estágio entra em ignição poucos segundos após a separação entre o segundo e o primeiro estágio, e pode ser reiniciado várias vezes para colocar múltiplas cargas em diferentes órbitas. Para máxima fiabilidade, o segundo estágio está equipado com sistemas de ignição redundantes. Tal como o primeiro estágio, o segundo estágio é feito a partir de uma liga de alumínio e lítio.
O motor Merlin de vácuo (Merlin-1D de vácuo) desenvolve uma força de 934 kN e o seu tempo de queima é de 397 segundos.
A carenagem compósita é utilizada para proteger a carga durante a passagem do Falcon-9 pelas camadas mais densas da atmosfera. Quando a missão do Falcon-9 é o lançamento do veículo de carga Dragon, a carenagem não é utilizada pois a cápsula possui o seu próprio sistema de protecção.
A carenagem tem 13,1 metros de comprimento e 5,2 metros de diâmetro. Fabricada em fibra de carbono, separa-se em duas metades utilizando um sistema de separação de actuadores pneumáticos semelhantes aos que são utilizados para a separação entre o primeiro e o segundo estágio.
A sequência de lançamento para o Falcon-9 é um processo de precisão ditada pela janela de lançamento tendo em conta a posição orbital a ser ocupada pela carga a bordo. Se a janela de lançamento é perdida, a missão é então adiada para a próxima janela de lançamento disponível.
Cerca de quatro horas antes do lançamento, inicia-se o processo de abastecimento – primeiro oxigénio líquido seguindo-se o querosene altamente refinado (RP-1). O vapor que se observa a sair do lançador durante a contagem decrescente é na realidade oxigénio a ser libertado dos tanques, sendo esta a razão pela qual o abastecimento de oxigénio líquido se mantém até quase ao final da contagem decrescente.
Lançamento | Veículo | 1.º estágio | Local Lançamento | Data Hora (UTC) | Carga | Recuperação |
2021-110 | 129 | B1063.3 | VSFB, SLC-4E | 24/Nov/21 06:21:02 | DART LICIACube | OCISLY (Oc. Pacífico) |
2021-115 | 130 | B1060.9 | CCSFS, SLC-40 | 02/Dez/21 23:12 | Starlink 4-3 BlackSky-16 BlackSky-17 | ASOG (Oc. Atlântico) |
2021-121 | 131 | B1061.5 | KSC, LC-39A | 09/Dez/21 06:00 | IXPE | JRTI (Oc. Atlântico) |
2021-125 | 132 | B1051.11 | VSFB, SLC-4E | 18/Dez/21 12:41:40 | Starlink 4-4 | OCISLY (Oc. Pacífico) |
2021-126 | 133 | B1067.3 | CCSFS, SLC-40 | 19/Dez/21 03:58:39 | Türksat-5B | ASOG (Oc. Atlântico) |
2021-127 | 134 | B1069.1 | KSC, LC-39A | 21/Dez/21 10:07:08 | Dragon SpX-24 | JRTI (Oc. Atlântico) |
2022-001 | 135 | B1062.4 | KSC, LC-39A | 06/Jan/22 21:49:10 | Starlink 4-5 | ASOG (Oc. Atlântico) |
2022-002 | 136 | B1058.10 | CCSFS, SLC-40 | 13/Jan/22 15:25:39 | Transporter-3 | LZ-1 |
2022-005 | 137 | B1060.10 | KSC, LC39A | 19/Jan/22 02:02:40 | Starlink 4-6 | ASOG (Oc. Atlântico) |
2022-008 | 138 | B1052.3 | CCSFS, SLC-40 | 31/Jan/22 23:11:14 | CSG-2 | LZ-1 |