CryoSat-2 – Relatório de Missão nº 6

Baseado num original da ESA (Entry 2: CryoSat-2 undergoes surgery).

A tarefa de preparar um satélite para o lançamento por vezes não corre como planeado, tal como a equipa da campanha de lançamento em Baikonur descobriu. Encontrado um problema complicado, foi determinada uma solução engenhosa através dos serviços de uma cirurgiã local.

Previsto para ser colocad em órbita a 25 de Fevereiro, o satélite CryoSat-2 da ESA está a ser submetido a testes no local de lançamento no Cazaquistão. Porém, durante o decorrer de um programa de testes a equipa descobriu que existia uma série queda na energia da antena que será utilizada para enviar os dados preciosos para a Terra. De facto, a corrente eléctrica era muito instável, por vezes caindo para um milésimo do que deveria ser, o que desconcertava a equipa.

A equipa concluiu que a perda de energia tinha de ir para algum lado, e por isso deveria estar a aquecer algo ou alguma zona. O que necessitavam era de uma cãmara de visualização térmica para ver onde é que isto podria estar a acontecer – apesar de isto não ser parte do equipamento de suporte usual utilizado numa campanha de lançamento.

Os membros russos que trabalham nas instalações de lançamento uniram-se aos seus companheiros europeus e de forma notável conseguiram arranjar um novo visualizados térmico compacto. Agora, com a ajuda da câmara, foi detectado um «ponto quente» num «guia de onda» – um tubo estreito que se dirige à antena, mesmo no interior do satélite.

Com a assumpção de que algo estava alojado no rudo de guia de onda, a antena foi subsequentemente removida mas era impossível chegar ao interior do satélite sem o desmontar. Mais uma vez os companheiros russos encontraram a resposta para este problema ao contactarem o hospital local para obterem ajuda. Do hospital veio uma cirurgiã e um endoscópio.

Assim, da mesma maneira que um médico olha para o interior de um corpo humano sem o abrir cirurgicamente, foi levada a cabo uma cirurgia no CryoSat-2. A operação durou por várias horas e foi necessária uma grande perícia e paciência que o cirurgião, vestido com a sua indumentária médica, graciosamente suportou. A operação delicada revelou que de facto havia algo lá e que se encontrava em duas partes.

A cirurgião conseguiu eventualmente remover uma das partes que se mostrou ser um pedaço de ferrite, um material magnético. Esta notícia não era muito boa dado que se tratava de uma parte do satélite que se havia separado, ao contrário de alguma especulação que referia ter sido uma aranha. Para se conseguir remover a segunda parte, a equipa da Astrium fabricou um ‘íman numa vareta’ para arrastar o objecto de forma cónica ao longo do tubo enquanto que a cirurgiã guiava a operação com o auxílio do endoscópio.

Apeasar de o objecto ter sido removido com sucesso, permaneciam perguntas importantes. O que ter-se-á solto? Foi tudo tido em consideração? E, mais importante: será que isto irá requerer outros trabalhos de reparação que irão significar um adiamento do lançamento como consequência?

Mais exames endoscópicos revelaram que o pedaço cónico de ferrite ter-se-ia separado do interior da antena avançada. Presumivelmente foi o resultado de vibrações e pequenos impactos durante o transporte.

A equipa relatou que um voo de Munique que transportou o CryoSat-2 a bordo de um Antonov foi muito suave, mas as três horas de viagem num camião à medida que o comboio se deslocava no cosmodrómo desde o aeroporto para o edifício de integração, já não o tinha sido. Apesar de se limitar a velocidade a um máximo de 15 km/h, a viagem foi distintamente atribulada – a viagem de 40 minutos que a equipa europeia faz todos os dias até ao edifífio de integração, é um recordar diário de que a viagem é cheia se saltos.

A cirurgiã utilizou o seu endoscópio para mostrar aos especialistas do CryoSat-2 que o interior da guia de onda estava escropulosamente limpo, aliviando assim uma grande preocupação.

Consultas intensivas com outros especialistas na Europa revelaram que o papel deste pedaço de ferrite não seria assim tão importante: a antena irá trabalhar bem sem ele, mas melhorava a já boa performance para um nível confortável excedendo as especificações. Pode assim ser dispensada.

Agora era necessário voltar atrás e remover a base da ferrite para impedir quebras posteriores. O fabricante desenvolveu, e enviou, um procedimento para que a antena fosse desmantelada – aqui a diferença de hora entre a Europa e o Cazaquistão foi benéfica. Remover a ferrite foi um trabalho árduo mas os peritos mecânicos conseguiram proceder à sua remoção. A antena foi depois montada de novo.

"Conseguimos concluir que a ferrite se separou durante o transporte, quando a antena foi direccionada para cima, mantendo os pedaços na sua cavidade. Quando o satélite foi rodado 180º para a posição de teste, com a antena apontada para baixo, caiu numa série de cavidades na antena, bloqueando a abertura," explicou Richard Francis, Gestor do Projecto do CryoSat-2 da ESA.

"Mais tarde, quando rodavamos o satélite durante as nossas investigações, os pedaços entraram muito mais na guia de onda. O nosso satélite foi agora retirado dos ‘Cuidados Intensivos’ e foi submetido a uma bateria de testes. Podemos dizer com confiança que o paciente fez uma recuperação total. Estamos agora de volta ao plano e, como fomos capazes de prosseguir com o programa de testes em paralelo, não perdemos tempo algum e o lançamento ainda está previsto para 25 de Fevereiro. Isto mostra a importãncia de testar tudo antes do lançamento," concluiu Francis.