A 16 de Março de 1962, a União Soviética colocou em órbita o satélite Cosmos-1 que seria o primeiro da mais longa série de satélites alguma vez colocada em órbita.
Porém, a designação que inicialmente serviu para mostrar o empenho na exploração científica do cosmos, rapidamente se tornou um engodo para disfarçar a verdadeira natureza de muitos satélites militares e encobrir muitos fracassos em órbita. Esta série de engodos começaria com o satélite Cosmos-4.
Os satélites 11F61
Desenvolvidos paralelamente às cápsulas espaciais tripuladas Vostok que transportariam os primeiros cosmonautas Soviéticos: Os satélites 11F61 Zenit-2 partilhavam a mesma estrutura numa imposição a Sergei Korolev para que este pudesse levar a cabo o desenvolvimento paralelo dos dois programas.
Apesar de semelhantes na sua base, as diferenças eram óbvias entre veículos tripulados (Vostok) e não tripulados (Zenit-2). As cápsulas Zenit-2 possuíam uma secção cilíndrica externa no módulo de instrumentação e propulsão, não estando equipados com a antena de comunicação posterior existente nas cápsulas Vostok. Da mesma forma, a cápsula de regresso e o módulo de instrumentação e propulsão estavam equipadas com uma antena que era utilizada para o envio em segurança de comandos de rádio.
Sendo um veículo não tripulado, as cápsulas Zenit-2 não estavam equipadas com a instrumentação e sistemas de suporte de vida necessários para manter um cosmonauta em segurança, albergando, no entanto, sistemas de inteligência electrónica, sistemas de telemetria e sistemas electrónicos de controlo de informação. As cápsulas estavam equipadas com sistemas de orientação por rádio, pois seria necessário o envio de instruções para o programa de observação e de obtenção de fotografia sobre o território inimigo, sendo essa informação encriptada enviada durante a passagem sobre o território Soviético. Apesar de a bordo não existir um sistema de suporte de vida, o controlo da temperatura no interior era fundamental para manter os sistemas ópticos em bom funcionamento.
Os Zenit-2 necessitavam de um controlo de estabilização de alta precisão em relação aos seus três eixos espaciais, necessitando de determinar com precisão a sua posição em órbita e apontar a sua câmara de observação para o alvo a fotografar.
A segurança do equipamento a bordo era garantida com a instalação do sistema de destruição automática APO-2 que poderia ser operado pelos controladores ou de forma automática caso não fossem cumpridos determinados parâmetros.
Todo o equipamento secreto (câmara fotográfica, sistema de foto-televisão, sistema de rádio) encontrava-se a bordo da cápsula de regresso. A câmara fotográfica estava montada perpendicularmente ao longo do eixo do veículo. A obtenção das fotografias era feita utilizando várias lentes através de uma das duas escotilhas disponíveis.
Os primeiros satélites estavam equipadas com a câmara SA-20 com uma distância focal de 1 metro, com uma câmara SA-10 com uma distância focal de 0,2 metros, com o dispositivo de foto-televisão Baikal e o sistema de rádio Kust-12M. O dispositivo Baikal foi utilizado nos satélites Cosmos-4, Cosmos-7, Cosmos-9 e Cosmos-15. No entanto, o sistema não fornecia a qualidade de imagens pretendida, sendo substituído pelo dispositivo Ftor-2P que combinado com os restantes dispositivos, formava um único sistema. O Ftor-12P havia sido projectado para obter 1.500 fotografias a partir de altitudes entre os 180 km e os 200 km. Cada fotografia cobria uma área de 60 x 60 km, podendo não só obter imagens no Nadir, mas também em ângulos ao lado da linha de voo.
Cosmos-4
O primeiro satélite Zenit-2, o Zenit-2 n.º 1, foi lançado às 0932:09UTC do dia 11 de Dezembro de 1961. O lançamento foi levado a cabo pelo foguetão 8K72K Vostok (Е10321) a partir do Complexo de Lançamento LC1/1 do Cosmódromo NIIP-5 Baikonur. O lançamento parecia correr sem problemas com a separação dos quatro propulsores laterais a ocorrer como previsto, bem como a queima e propulsão do estágio central. Porém, um problema com um motor do terceiro estágio levou a que o sistema APO-2 fosse activado, destruindo o satélite.
A segunda tentativa para colocar em órbita um satélite Zenit-2 ocorreria a 26 de Abril de 1962. O foguetão 8K72K Vostok (E10320) era lançado às 1002:55UTC a partir do Complexo de Lançamento LC1/1 e desta vez tudo correria como previsto, colocando em órbita o satélite Zenit-2 n.º 2 que receberia a designação Cosmos-4, recebendo a Designação Internacional 00287.
O satélite ficou colocado numa órbita com um perigeu a 285 km, apogeu a 317 km, inclinação orbital de 65,00.º e período orbital de 90,50 minutos. O lançamento do Cosmos-4 foi testemunhado pelos cosmonautas Andrian Nikolayev e Pavel Popovich que se encontravam a preparar para as suas missões espaciais Vostok-3 e Vostok-4, respectivamente.
A missão do Cosmos-4 viu-se afectada devido à ocorrência de uma fuga num dos tanques de oxigénio do sistema de orientação do satélite. Com uma capacidade de controlo reduzida, a missão teve apenas uma duração de três dias durante os quais levou também a cabo medições da radiação resultantes do teste nuclear Norte-americano, Starfish Prime. O regresso à Terra ocorreria a 29 de Abril de 1962.
O seguinte satélite Zenit-2, Zenit-2 n.º 3, seria destruído devido a um problema com o seu foguetão lançador 8A92 Vostok (E15000-01) logo após abandonar a plataforma de lançamento às 0937: 52UTC do dia 1 de Junho de 1962.